Despertaram no dia seguinte com o som de sinos tocando; Cecília disse logo:
— Foi esse som que Vera ouviu aquela noite na barraca, não foi, Vera?
— Foi — disse Vera. — Isso mesmo.
Ficaram ouvindo uns instantes; depois ouviram uns passos muito leves; eram as aias da princesa que vinham entrando e trazendo chá e pão de mel para as crianças. Todas estavam risonhas, pois esse dia seria uma data memorável na vida dos anões: a do casamento dos príncipes.
Toda a cidade estava em festa; os sinos repicavam, os anões passavam e tornavam a passar pelas ruas com bonitos trajes coloridos; todos estavam alegres. Quando as crianças viram tanta alegria e tanto movimento, até se esqueceram de fugir. Ficaram nas janelas da casa da princesa assistindo àquele vaivém contínuo.
Viram uma fila de anões trazer potes de mel da Casa das Abelhas; da Casa dos Tecidos veio outra fila trazendo os trajes novos da princesa, assim como roupas para as crianças, feitas sob medida. Os calçados próprios também chegaram e os anões, achando enormes os sapatos dos meninos, não se cansavam de olhar.
A festa começaria ao meio-dia. Às dez horas foram todos começar os preparativos. Ninguém tinha visto ainda a princesa, ela só apareceria à hora do casamento.
Vera, Lúcia e Cecília tomaram banho, depois entraram no quarto para se vestir. Vera disse:
— Um dia vou mandar uma caixa de sabonetes finos para a princesa; imagine a gente se esfregando com ervas aromáticas... Não gosto nada disso.
— Que ideia — disse Lúcia. — Pois eu vou mandar café; a princesa disse que tem uma vontade louca de experimentar nosso café.
— E eu vou mandar bombons — disse Cecília. — Imagine Filó comendo bombons com aquela boquinha tão pequenina, deve ser um amor.
— É capaz de achar tão bom que não há de querer outra coisa para o resto da vida — respondeu Vera.
Uma das aias da princesa havia contado, no dia anterior, que os vestidos das meninas seriam lindíssimos, haviam sido encomendados pela própria princesa. O de Vera era cor de sonho; o de Lúcia, cor do céu com todas as estrelinhas (Lúcia havia explicado a Filó como era o céu); o de Cecília, cor do arco-íris, conforme ela mesma havia explicado.
Estavam no quarto quando as aias entraram com os três vestidos nos braços. Vera foi a primeira a se vestir; o vestido cor de sonho tinha todas as cores. Era de gaze vaporosa e ia até os pés; os sapatos eram de veludo revirados nas pontas, acompanhando o vestido. O de Lúcia era azul, cheio de estrelas brilhantes; havia estrelas maiores e menores e o vestido era tão rodado que quando Lúcia dava uma reviravolta o quarto ficava cheio de gaze. O de Cecília tinha as cores do arco-íris: violeta, azul, verde, amarelo, laranja, vermelho, roxo... Os sapatinhos eram de cetim com as pontas reviradas para cima.
A aia da princesa penteou-as com um pente de ouro cravejado de rubis; era tão pesado que as meninas não podiam pentear-se com ele, pois não estavam acostumadas. A aia, que era pequenina e meio velha, sabia manejá-lo e com ele penteava todos os dias os longos cabelos de Filó.
De repente ouviram uma leve batidinha na porta; eram os dois meninos, que haviam se vestido no quarto próximo: Quico estava com meias compridas, calças curtíssimas de veludo amarelo, bem estufadas, uma jaquetinha azul e, sobre a cabeça, uma longa pena de galo garnisé. Estava muito encabulado por causa das pernas de fora; quando ele se movia, a pena de galo balançava de um lado para outro.
Oscar estava vestido quase do mesmo jeito, calças de veludo amarelo e jaqueta cor-de-rosa. Os sapatos eram longos e as pontas reviradas para cima; tinha também uma pena de galo na cabeça.
As meninas bateram palmas quando viram os meninos assim preparados; e estes também as acharam muito elegantes.
O mais engraçado foi quando Pingo e Pipoca apareceram; a princesa havia dado ordens para enfeitarem os dois cachorrinhos e, como a aia mais velha gostava muito de Pingo, ela os enfeitou com carinho. Pingo estava com uma jaqueta vermelha e uma pena amarrada na cabeça; Pipoca tinha jaqueta roxa e pena de galo. Ambos não pareciam satisfeitos com as vestimentas e coçavam-se a todo momento porque as penas lhes faziam cócegas.
Ouviram um sino anunciando a partida do cortejo; por ordem de Filó, saíram e foram para a igreja a fim de esperar os noivos.
Quando estavam a caminho, Oscar disse ao ouvido de cada um:
— Ouvi dizer que depois da cerimônia vai haver um grande banquete no palácio do príncipe; acho que é a melhor hora para fugirmos; estejam todos preparados, eu darei o sinal.
Ficaram combinados. Seguiram para a capela, que estava repleta, quase todos os anões da cidade já estavam lá. As crianças ficaram numa tribuna especial porque eram convidados da princesa; quando o príncipe entrou, vestido de azul-claro, todos olharam para ele e o admiraram; na cabeça carregava uma coroa de brilhantes, tão pesada que o obrigava a andar meio curvado.
O mais bonito de tudo foi a entrada da princesinha Filó, toda de branco, muito vaporosa e risonha. A cauda do seu vestido tinha todo o comprimento da igreja; duas crianças a precederam vestidas inteiramente de ouro. O tapete que forrava a igreja estava coberto de confete de ouro, pois não havia flores. Era uma beleza: os sinos começaram a repicar: dlin! dlon! dlun! dlin! dlon! dlun!
E começou a cerimônia do casamento; um padre anão, depois de fazer um sermão muito comprido, deu a bênção aos noivos.
Vera, Lúcia e Cecília pensaram estar sonhando; Quico e Oscar nem pareciam respirar, olhavam tudo com olhos arregalados de
espanto.
O príncipe e a princesa saíram da capela de braços dados; toda a população da cidade reuniu-se na praça da igreja para aplaudi-los. Bateram muitas palmas quando eles passaram a caminho do palácio do príncipe, onde seria servido o banquete. Os sinos tocavam sem cessar. As crianças, meio atarantadas, tomaram lugar atrás do cortejo, os cachorrinhos iam junto delas. Estavam com muita fome, pois a comida dos anões nunca era suficiente para aplacar o seu apetite.
Entraram no palácio do príncipe, que estava inteiramente enfeitado de ouro e brilhantes; a iluminação também havia sido intensificada, com dezenas de lanternas.