ONDE ESTÁ PINGO?

A princesa Filó chamou a aia e mandou levar as crianças para casa; mas pediu que cada um deixasse os trajes com que haviam assistido à tão linda festa. Um pouco tristes, acompanharam a aia até a casa de Filó; Vera foi a primeira a desembaraçar-se das roupas; tirou o vestido cor de sonho, dizendo:

— Adeus, meu vestido tão bonito!

Cecília e Lúcia também tiraram os vestidos e os sapatos; em seguida Lúcia pediu à aia:

— Faça o favor de guardar meu vestido cor do céu para quando eu voltar aqui; quero vesti-lo outra vez.

A aia prometeu. Cecília também pediu que guardasse num baú de ouro seu vestido de arco-íris. Os dois meninos tiraram as longas meias, as calças curtas e as jaquetas; cada um deles vestiu a roupa que trazia antes. Tiraram as penas de galo da cabeça; nesse instante, Cecília perguntou:

— Onde está Pingo?

Apenas Pipoca estava com eles; cansado de tanta brincadeira, deitou-se num canto do quarto esperando pelas crianças; a jaqueta

foi parar na barriga e a pena já havia desaparecido da cabeça. Procuraram Pingo; assobiaram, chamaram:

— Pingo! Pinguinho!

Viram com assombro que Pingo havia desaparecido; algum anão escondeu o cachorro para ficar com ele. Onde estaria? Lúcia bateu o pé, desesperada:

— Sem meu cachorrinho não vou embora daqui!

— Vamos procurar — propôs Quico.

A aia veio avisar com um ar meio desconfiado:

— Os príncipes estão no palácio esperando para as despedidas...

As crianças nem ouviram; saíram correndo pelas ruas da cidade, mas em vez de irem ao palácio, chamavam o cachorro. A aia gritou de longe:

— Os príncipes estão esperando!

— Só iremos depois de encontrarmos o cachorro — respondeu Oscar.

E toca a procurar. "Pingo! Pingo!" Como já estavam com os sapatos de couro, escorregavam nas lajes de ouro. Cecília foi a primeira: bumba! Vera também caiu ao virar uma esquina: bumba!

Quico gritou:

— Andem com cuidado, como eu ando...

Mal acabou de falar, esparramou-se no chão; Oscar deu uma cabeçada numa porta que estava aberta. Foi espiar para dentro para ver se Pingo estava lá, pan!, bateu com a testa no batente.

A família dessa casa estava jantando à volta da mesa; todos se levantaram e saíram gritando atrás das crianças:

— Eles entraram em nossa casa sem licença! Pega!

Começou a correria. Outros anões saíram das casas e, vendo as crianças correrem daquele jeito, corriam atrás. Foi ajuntando gente. Assobiavam chamando pelo cachorrinho e nada de Pingo aparecer.

Os meninos enfiavam as cabeças em todas as janelas por onde passavam; levaram mais tombos e cabeçadas. Cecília pediu:

— Vamos ao palácio do rei! Vamos contar ao rei!

Os outros responderam:

— Aqui não existe rei, é príncipe!

Lúcia começou a choramingar:

— Quero meu cachorrinho! Quero meu cachorrinho!

A cidade toda ficou alvoroçada; alguns anões queriam segurar as crianças e levá-las para a prisão; outros protestavam dizendo que deviam levar ao conhecimento do príncipe o que estava se passando. Os príncipes haviam tratado tão bem aquelas crianças estrangeiras, agora elas estavam fazendo estripulias na cidade.

Assim, com essa gritaria, chegaram até o palácio. O príncipe e a princesa puseram as cabeças nas janelas para ver o que estava acontecendo nas ruas; já haviam ouvido o barulho; estavam sem as coroas nas cabeças. Quando viram as crianças correrem daquele jeito, ficaram alarmados; um sino começou a tocar anunciando que algum fato esquisito estava acontecendo. Filó perguntou:

— O que foi que aconteceu?

Nesse instante Vera, que ia na frente, tropeçou e caiu, quase esborrachou o nariz. Nem pôde falar; Quico explicou:

— Pingo sumiu. Não podemos ir embora sem nosso cachorrinho.

Vera levantou-se esfregando o nariz; Lúcia começou a chorar. Os anões todos rodearam as crianças dizendo que elas estavam perturbando o sossego daquela cidade; viviam muito bem antes da chegada deles, agora era aquele alvoroço por causa de um animalzinho. Oscar explicou bem alto:

— Mas ele foi roubado; não podemos deixar nosso cachorro, ele é nosso companheiro...

Alguns levantaram os braços protestando:

— Ele está nos chamando de ladrões; aqui ninguém precisa roubar nada, o cachorro não foi roubado; que desaforo desse menino falar que somos ladrões.

Oscar procurou desculpar-se:

— Eu não disse que são ladrões, mas queremos o cachorrinho...

O anão estava zangado:

— Você disse que roubamos; chamou-nos de ladrões...

— Disse! Disse! Disse!

Todos os anões começaram a dizer "disse! disse!" e cada vez o povo ia ficando mais zangado; nisso a caixinha de pulgas que estava nas mãos da princesa (ela estava brincando com as pulgas) caiu da janela e abriu-se no chão. Ela gritou, choramingando:

— Minhas pulgas! Minhas lindas pulgas!

O príncipe deu ordem para que as pulgas fossem procuradas no mesmo instante; quase todos os anões caíram de quatro no chão e começou a caçada. No meio dessa algazarra, Pipoca, que estava entre as crianças, levantou as orelhas para cima e ficou muito atento. Os meninos perguntaram:

— Pipoca! O que é, Pipoca? Procura, Pipoca!

O cachorro parece que entendeu; esgueirou-se por entre as pernas das crianças, pulou por cima de uma porção de anões e dirigiu-se correndo para a casa da princesa...

Os meninos correram atrás dele; parece que tinham ouvido os latidos do Pingo. Pingo estava chamando. Os sinos tocavam sem parar, enquanto em frente ao palácio do príncipe os anõezinhos procuravam as pulgas por todos os recantos. Os meninos empurraram a porta da casa da princesa e entraram; procuraram Pingo em todos os quartos.

A aia, que era tão risonha, apareceu com cara de zanga, toda furiosa; disse que ia contar a Filó e todos iriam parar na prisão. Oscar perguntou:

— Nesta cidade tão bonita também há prisão?

Ela respondeu:

— Não há, mas mandaremos fazer uma para vocês.

— É? — perguntou Cecília. — Que engraçado!

Ih! Ela ficou mais furiosa; andava de um lado para outro arrastando a saia de seda... Pipoca fungava e procurava; afinal chegou em frente a uma porta fechada e latiu como quem diz: aqui! aqui!

Era o quarto da aia. Oscar pediu-lhe que abrisse a porta; ouviram Pingo latindo desesperadamente lá dentro. Ela fez uma cara muito feia, mas afinal abriu a porta dizendo que não sabia como o cachorrinho tinha ido parar lá; decerto porque ele era muito xereta; com todo xereta acontecia o mesmo. Mas ela não sabia de nada.

Lúcia abraçou o cachorrinho; todos festejaram Pingo, que de tão contente lambeu as mãos das crianças e o focinho de Pipoca. Nem agradeceram à aia e foram embora levando os cachorros nos braços; assim voltaram ao palácio, onde continuava a procura das pulgas.