Jagadeesh Manohari (Eros Myron) POV:
Decido ir direto para o palácio escolhido para esse ritual, enquanto os servos e funcionários se ocupam com os últimos preparativos, vou para um dos aposentos para aguardar a chegada dos Imperadores, padrinhos, amigos e os convidados.
Aproveito que estou sozinho para fazer algumas breves reflexões.
O atentado que sofri quando era apenas um bebê mudou completamente o meu destino e me afastou dos Imperadores por décadas. O soberano foi aconselhado e convencido de que a única alternativa para preservar a minha vida e segurança seria me mandando para um lugar bem distante, um país onde eu poderia me refugiar e ser amparado, o Brasil.
O Imperador jamais foi me visitar, mas me cercou de cuidados, enviando-me servos fiéis, tais como ama de leite, conselheiros, guerreiros, sacerdotes e outros diversos trabalhadores que garantiram e supriram todas as minhas necessidades ao longo de tantos anos, minha vida foi guardada, protegida e preservada como o bem mais precioso do Império, enquanto o meu povo e toda a nobreza fariam conjecturas a respeito da minha vida e paradeiro.
Jamais passei por privações, na verdade fui criado nos mesmos padrões do Império, com toda a rigidez imposta pelo Imperador para o ensinamento do seu sucessor, sem o direito de ser uma criança ou adolescente, crescendo diante de suas normas e exigências, mesmo a distância, cumprindo todas suas ordens. Nunca me deixaram esquecer dos meus deveres para com o Império, com o meus pais, com meu povo, para com a religião, tradições e costumes, conclui toda a doutrina, conforme a minha obrigação, por isso ganhei alguns benefícios e liberdades, realizando finalmente alguns desejos.
Pouco antes da maioridade recebi uma nova identidade, passei a ser chamado de Eros Myron, como se fizesse parte de uma família grega, parecia um bom disfarce naquele momento. Logo depois recebi permissão para estudar e para escolher uma ocupação, como qualquer pessoa, como mais um entre milhões de brasileiros ou naturalizados.
Eu me graduei pela primeira vez e escolhi montar e gerir uma multinacional indiana, então eu finalmente pude experimentar a incrível sensação de ser sustentado pelo fruto do meu próprio esforço e trabalho, já não precisando dos recursos Imperiais.
Por essa razão, quando completei a maioridade, dispensei todos os meus servos, retornaram ao Império para voltar a servir o soberano, eu estava pronto para resolver minhas questões e cuidar dos meus próprios interesses.
Uma das decisões mais importantes para mim naquele momento foi a de reencontrar a Imperatriz, sentia falta do seu carinho de mãe, mesmo sabendo que não podia me atrever a retornar para Agra e que não era adequado que ela viesse até o Brasil, essas atitudes poderiam por nosso segredo ou meu paradeiro em risco, então nossos breves encontros aconteciam em Dubai, Londres e Inglaterra.
A Imperatriz sempre foi uma mãe amorosa, a todo momento lúcida e coerente, compassiva, misericordiosa, oferecendo seus conselhos preciosos, mas como esposa sempre foi obediente, submissa e cautelosa, por isso se manteve resignada aos mandos e desmandos do soberano.
O Imperador Himanshu sempre foi excessivamente austero, impassível, implacável, impiedoso, a todo o momento impondo a sua vontade acima de tudo e de todos, governava com mãos de ferro. Era raríssimo vê-lo sorrir, demonstrar satisfação ou alegria.
Como pai sempre foi ausente, frio e distante, os muitos filhos que teve lhe serviram para manter seu status, demonstrando sua virilidade e poder. Nas vezes que ele se aproximou de mim foi para me fazer exigências, me ensinar a governar e para exigir que eu cumprisse o que ele esperava de mim, consolidando o seu Império.
O Imperador sempre teve muitas mulheres à sua disposição, minha mãe era sua primeira esposa e por isso recebeu o título de Imperatriz, mas o soberano teve muitas outras esposas e concubinas, seu harém era bem farto. Fui o primeiro filho e o primeiro na linha de sucessão ao trono e sempre sofri intensas cobranças por conta dessa posição.
O Imperador foi agraciado com dezenas de outros filhos e filhas das outras esposas e concubinas, mas apenas as filhas sobreviveram e até hoje pensam que foi a vontade de Bhrama, o deus supremo. Tenho apenas uma irmã legítima, Malikah Banu Begum, infelizmente ela não pode vir ao meu casamento, seu marido jamais permitiria, visto que eles são mulçumanos e ele despreza a relação com hindus.
Pensei que demoraria muitos anos ainda para retornar para o meu povo, mas quando eu conheci a Weenny tudo mudou e uma urgência se instalou em meu coração. Passei a entender que eu era capaz de amar, que deveria permitir que meu coração fizesse escolhas, decidindo meu próprio caminho.
Para isso eu precisaria convencer nada menos que o Imperador, o homem que era considerado um deus pelo meu povo, que deveria ser um deus para minha família e também para mim, alguém que jamais cedeu, senão em favor de seus próprios desejos e deleites, mas eu estava disposto a insistir, persistir e até mesmo entregar a minha vida em favor desse amor... E saí vitorioso dessa minha primeira grande guerra.
Weenny me fez conhecer o verdadeiro amor e dele eu nunca serei capaz de desistir, não importa o que aconteça.
Agora, diante do espelho, depois de um breve banho, penso no Pithi dastoor, que é o importante ritual que vai nos purificar para essa nova jornada juntos.
Dentro de poucos dias o nosso shádi estará concluído, enfim estaremos livres para partir para a nossa lua de mel, quando retornarmos ao Brasil, darei a casa que mandei reformar como um presente para a minha esposa e viveremos lá, ao lado de nossa família.
— Raajakumaar, sab log aa rahe hain, aapako jaldee karana chaahie. (Principe, todos estão chegando, precisa se apressar.) – desperto dos meus pensamentos com a voz de Ravi.
— Main aa raha hoon. (Estou indo.) – aviso.
Os Amigos POV:
Os padrinhos chegam ao palácio escolhido pelo Dulhan e mais uma vez ficam admirados pela grandiosidade, se reúnem para registrar esse momento com uma foto.
Salmaan e Ravi os veem e logo vão recebê-los, fazem questão de levá-los para conhecer os ambientes preparados para esse ritual.
Entram no palácio juntos, passam pelo belo hall de entrada decorado em branco, observam a pequena fonte de mármore que o decora, além das poltronas confortáveis, a monotonia da cor é quebrada apenas pelas almofadas coloridas e folhagens ao redor.
Chegam na entrada do salão do cerimonial que é dividido em três ambientes distintos, a decoração segue o mesmo padrão de cor, apreciam o bonito design no teto, os pilares, lustres, arranjos com flores e tecidos, tudo isso dá um ar requintado e especial aos ambientes.
Notam que os convidados estão chegando, caminham calmamente pelo salão e são direcionados para a outra extremidade do salão, onde estão as três grandes fileiras com centenas de cadeiras para acomodá-los.
Os músicos já estão no palco preparando os instrumentos.
Veem na lateral do salão do cerimonial a área de descanso, que é decorada com espelhos, cortinas, poltronas e pequenas mesas de centro, nas cores branco e azul.
Ficam surpresos com a grandiosidade do mandap principal, decorado com um grande painel, almofadas sobre a poltrona, lustres e grandes pilares floridos, tudo decorado em branco e sobre uma elevação no piso, está em frente ao local onde os convidados estão se acomodando.
Seguem para o salão de convivência, grande, decorado em branco e com muitas poltronas, arranjos de flores e cortinas, conhecem o salão de festas que segue o mesmo padrão de decoração, tem muitas mesas espalhadas por todo o ambiente e grandes arranjos de flores sobre as mesas, em um dos extremos desse salão há o mandap do Dulhan decorado com um grande painel decorado, flores e castiçais.
Eles retornam apressadamente para o salão do cerimonial, ou ouvir algumas instruções no microfone, assumem suas posições, enquanto aguardam a chegada do Dulhan.
Jagadeesh Manohari (Eros Myron) POV:
Pandith pede que eu vá para o salão, o ritual deve começar.
Os Imperadores não virão a esse ritual, querem me deixar mais à vontade com meus padrinhos e convidados, mas Mahana Aala virá, é como uma mãe, já que me criou durante toda a infância e adolescência, tenho grande respeito por ela.
Vou para o salão do cerimonial, cumprimento a todos com o Namastê, sigo para o mandap e algumas pessoas me acompanham, Pandith, Brâmanes, suas esposas, Mahana Aala e algumas de suas servas.
Assumo uma postura mais séria e centrada, sento no lugar que me é destinado, dobro as pernas e espero até que todos se posicionem ao meu redor. Vejo as muitas bandejas sendo colocadas ao meu lado, os sacerdotes iniciam breves pujas e mantras, que tem como finalidade invocar os deuses para esse momento importante e que eles possam influenciar nessa purificação.
A melodia vai mudando suavemente, de cânticos aos deuses, para músicas que expressam a alegria e importância desse momento, nós indianos temos canções para todos os momentos, em especial para cada cerimônia do shádi.
Sento com os joelhos dobrados, os sacerdotes entoam algumas pujas e mantras com a finalidade de preparar o começo da purificação, logo depois os músicos tocam canções alegres.
Pandith estica sua mão direita e alcança um chumaço de ramos verdes que está na bandeja a sua frente, o usa para tocar os meus pés, joelhos, ombros e cabeça, enquanto diz algumas palavras auspiciosas, seguidas dos nomes dos deuses.
Mahana Aala e as esposas dos Brâmanes recebem a autorização para iniciar a aplicação do haldi, molham os dedos na pasta, começando a esfregar em meu rosto e braços, pouco tempo depois preciso retirar a kurta para que a pasta comece a ser passada em meu peito, costas, pescoço, pernas e pés.
Em seguida os padrinhos são convocados para vir sob o mandap e fazer o mesmo, logo depois todos são convidados a vir também para participar ativamente dessa purificação.
Nesse momento começo a brincar com meus amigos e convidados, faço questão de sujá-los com haldi e com a outra pasta passada em meus cabelos, dançamos por algum tempo, então é hora de ir para o banho.
Mahana Aala e as outras mulheres me levam e me banham em leite e em água perfumada até que todo o haldi saia do meu corpo, mãe anciã faz questão de ajudar eu me secar, visto um dhoti e seguimos juntos para o salão do cerimonial.
Então a minha pele começa a ser massageada com óleos aromáticos especiais, esse é o momento propício para mais brincadeiras, mas não sei se meus amigos estão prontos para elas ou se as conhecem.
— Kya shubh din, Rajkumar jald hee shaadee karenge! (Que dia auspicioso, logo o Príncipe estará casado!) - Shri Arnav, um Brâmane diz.
— Itana utsaahit mat ho, aane vaalee dulhan nahin jaanate ki use chaay kaise banaie. (Não se animem tanto, a noiva que vai chegar não saberá preparar seu chai.) - Salmaan diz e todos riem, uns negam e outros concordam.
— Usane jo kaha hai, use mat suno, vah is ghar ka svaad jaanakar aaega! (Não escute o que ele diz, ela vai chegar sabendo o sabor desta casa!) - Ananya, a esposa de Arnav diz.
O meu dever é parecer assustado nesse momento, faço uma expressão de espanto e sorrio em seguida.
— Kya vah Rajkumar se pyaar karega? (Será que ela vai amar o Príncipe?) - Ravi pergunta.
— Mujhe nahin lagata ki vah ise pyaar karane ja rahee hai... (Acho que ela não vai amar...) - Anika, esposa de um Brâmane sorri e diz.
Rio e fujo das mãos que massageiam as minhas costas.
— To koee maamala nahin! (Então não caso!) – digo e todos riem.
— Beshak raajakumaaree aapako pyaar karegee, raajakumaar bahut keematee hai. (É claro que a Princesa vai amá-lo, o Príncipe é muito precioso.) – Surya, esposa de um Brâmane, diz.
Demonstro alívio, sorrio e volto a concordar com o casamento, é isso o que esperam de mim.
Com essas e outras brincadeiras o ritual é finalmente concluído, agora vamos começar a festejar, enquanto meus padrinhos e convidados são levados para o salão de festas, sigo para um dos aposentos.
Esse é o momento de vestir novas roupas e joias, mãe anciã continua ao meu lado, mas não parece feliz com o meu casamento, sei que faz questão de estar ao meu lado, como qualquer mãe estaria, mas sinto que não compartilha da minha felicidade pelo shádi.
Vou para o salão de festas, celebro por muitas horas ao lado dos meus amigos, com muita alegria, músicas e um farto banquete.
Penso na minha Dulhana, como será que ela está se sentindo agora?
Os Amigos POV:
Eles se emocionam com os rituais e auxiliam em tudo o que podem, ficam alegres ao ver a felicidade de Eros e Weenny, tudo está sendo tão bonito, mesmo depois das aulas e das exaustivas explicações, não podiam imaginar que seria tão lindo.
Não deixam a diversão de lado, tratam de brincar com o haldi passando nos rostos e braços dos outros amigos e convidados, é claro que tentando evitar sujar suas roupas.
Logo depois do ritual começam as festas, comemoram a tarde toda, dançam e se fartam com os banquetes.
— Daqui a pouco começará a puja para as deusas Durga e Parvati, a Dulhana a liderará e acontecerá em seu palácio, todos estão convidados a ir. – Amitabh avisa.
— Até os homens? – Enzo pergunta e vê o tradutor concordar.
— Devemos sair agora então? - Guilherme pergunta.
— Melhor senão podemos nos atrasar. Eros virá conosco? – Igor pergunta.
— Não, ele não irá nesta puja. – Amitabh revela.
— Por que não? – Eduardo pergunta.
— Essas deusas são mais cultuadas pelas mulheres, isso justifica o motivo para a Dulhana liderá-lo. – Filipe diz.
— Ah gênio, esqueci que você entende de tudo. – Rafael debocha.
— Essas deusas são importantes para as mulheres por causa de seus significados. Durga é a protetora de lei e da ordem, é a destruidora do mal, a forma feminina e poderosa de Shiva e representa o invencível, é uma deusa guerreira, que elimina sofrimentos. Durga pode ser tanto a guardiã protetora e sempre atenta, quanto uma guerreira feroz no amor. Já Parvati representa a esposa e mãe carinhosa, a fertilidade, maternidade e a energia de Shiva, representando também o casamento ideal. – o tradutor explica.
— Agora entendo por que Weenny invocará essas deusas. – Ricardo diz, satisfeito pela explicação.
— Será então uma cerimônia com uma maior participação feminina, correto? – Victor pergunta.
— Sim liderada pela Dulhana e celebrada pelas mulheres, seremos apenas espectadores respeitosos. Elas irão diante do altar, farão oferendas e pujas e talvez dancem para as deusas. Podemos ir? Os outros tradutores já fizeram a mesma explicação e estão indo para o palácio da Dulhana. – Amitabh diz.
— Dá tempo de passarmos no hotel? – Leonardo pergunta.
— Precisamos tomar um banho rápido e trocar de roupas. – Eduardo diz.
— Prometemos que vai ser rápido. – Enzo diz.
Amitabh concorda e eles partem sem ao menos se despedirem do Dulhan, afinal ele deve estar em um dos aposentos do palácio.
...
Enquanto isso as madrinhas conversam com algumas convidadas:
— Esse palácio é tão grande e luxuoso que Eros podia ter feito todas as cerimônias do casamento aqui. – Cícera diz.
— Tenha toda razão, mãe. Eu sempre disse que isso tudo só para a Weenny é exagero, mas as meninas sempre discordam de mim. – Samara diz.
— Samara, vou ser bem franca, quando você fala assim fica parecendo que você tem inveja da Weenny. – Maria José diz.
— Concordo com você, Maria José. Samara você tem que deixar de ser chata e implicante, meu irmão não gosta de mulheres assim... – Laís começa a dizer e vê que Dani faz um sinal para ela parar, mas ela não se importa.
— Com certeza Eros quis escolher tudo o que havia de melhor e de mais bonito para eles e está certo. – Milena diz.
— Porque o casamento deles precisa ser tão lindo e grandioso quanto o amor que eles têm um pelo outro. – Michele diz e quase todas concordam.
— E tudo está simplesmente perfeito, me emociono demais com as cerimônias. – Ana diz.
— Quem não está gostando ou acha demais é porque está se corroendo de inveja. – Carol diz.
— Agora acontecerá uma cerimônia puja para as deusas Durga e Parvati, a Dulhana a conduzirá. Todas as mulheres irão fazer suas oferendas e pujas particulares para as deusas e a cerimônia será finalizada com uma dança especial. – Tia faz questão de explicar.
— Vejam essas mulheres vestidas com saris amarelos, as roupas e joias são iguais, por quê? – Iara pergunta e aponta para um grupo de mulheres.
— Tia, não somos nós as madrinhas que devemos usar saris iguais? – Vivian, já afetada pelos ciúmes, diz.
— Já não bastam aquelas seis grudadas na Weenny... – Gislaine resmunga.
— Não para cerimônias como essa, nós nos unimos para falar sobre as histórias das deusas, as mulheres que participarão ativamente do ritual costumam vestir roupas iguais, fazemos oferendas e pujas. Essas mulheres que estão com sari amarelo dançarão com a Dulhana no final do ritual. – a tradutora explica.
— Ficou bem mais fácil entender agora. - Mayara diz.
— E os padrinhos e os outros convidados virão? – Carol pergunta e vê Tia concordar.
— Não é uma cerimônia exclusiva para mulheres? – Tatiane pergunta.
— Não. Homens e mulheres participam, apesar de que as mulheres cultuam essas deusas com mais fervor, será interessante que todos vocês vejam essa bonita cerimônia. – Tia diz.
— Estou começando a ficar curiosa. – Dani diz.
— Vocês devem se preparar para essa puja, lembrem-se de que devem usar saris mais claros e poucas joias. Vocês vão sair deste salão e serão levadas para um quarto de vestir e banheiros se precisarem, logo depois serão levadas para o templo neste palácio que fica bem próximo ao jardim e tem uma área extensa e coberta que vai abrigá-los. - Aisha, tradutora das amigas famosas, diz.
Todas agradecem e vão se arrumar, a Dulhana já está longe delas há algum tempo, provavelmente deve estar se preparando para a puja e logo retornará.
Algum tempo depois elas são levadas ao templo, veem que seus lugares estão preparados em um salão enorme, muito bem decorado e coberto, as poltronas estão reservadas, sendo que as mulheres se sentarão nas primeiras fileiras de cadeiras e os homens nas últimas.
Todos se cumprimentam rapidamente e se acomodam ao lado de seus tradutores, agora só há a movimentação de algumas servas indianas, todos aguardam a chegada da Dulhana.