Encontrar com meu Príncipe durante as celebrações me provoca sensações contraditórias. É maravilhoso estar ao seu lado, sentir seu perfume e ouvir sua voz... Mas isso tudo só aguça a saudade e o desejo de tocá-lo, que reprimo ao lembrar que não é adequado que façamos qualquer gesto que demonstre intimidade, além disso não podemos conversar com liberdade, já que estamos cercados por servos, amigos e familiares, devemos manter a boa conduta já que somos hindus e pertencemos a realeza, pelo menos é o que muitos pensam. O que me consola é que temos o privilégio de nos encontrar nessas ocasiões, já que a maioria dos noivos indianos só se encontram na cerimônia de casamento propriamente dita.
Tenho me alimentado cada vez menos, mesmo com todos os cuidados das sudras, a ansiedade e incertezas são crescentes a respeito do meu futuro e das responsabilidades que talvez eu tenha que assumir em breve.
Me emociono com o carinho e respeito dos indianos, parecem ter orgulho de quem eu sou, mesmo que eu esteja confusa com a minha nova identidade.
Só percebo que estamos diante do palácio quando uma das sudras abre discretamente a cortina do palanquim para oferecer ajuda para eu sair.
Entro com certa pressa e vou descansar nos meus aposentos, enquanto as servas preparam meu banho.
Daqui a pouco vai começar a cerimônia Mehendi, que será realizada em alguns dos salões da minha morada provisória. Shiva avisa que as cerimonialistas já estão às portas do palácio para receber as convidadas que chegarão em breve. Sujata, uma das servas responsáveis pela organização dos aposentos, vem avisar que os salões e banquete estão prontos para a recepção, agradeço o empenho delas e dou permissão para que saiam da minha presença.
Madhavi vem para me conduzir até a toalete, Zaara e Shiva removem minhas vestes, Rani e Salima tiram as joias, entro na banheira e elas começam a esfregar a minha pele com esponjas especiais e pétalas de rosas, me delicio com a sensação da água quente e perfumada em meu corpo, minutos depois saio do banho, elas me enrolam em um roupão felpudo e me conduzem para a câmara de vestir, vejo o sari escolhido para a cerimônia pendurado em um cabide.
As sudras enxugam a minha pele com cuidado e a hidratam com o óleo perfumado de sândalo, logo depois me ajudam a vestir o choli rosa e o sari que mescla tons de rosa, dourado e branco, todas as peças são ricamente bordadas.
Ainda é estranho vestir roupas tão luxuosas, mas sei que devo usar essas vestes especiais enquanto sou uma noiva.
Elas cantam alegremente enquanto me adornam com as joias, me fazendo sorrir, em aproximadamente trinta minutos fico pronta.
Salima vem avisar que minhas convidadas, tradutoras e madrinhas já estão me esperando no salão do cerimonial, junto com as profissionais que vão aplicar o mehendi e as esposas dos sacerdotes.
Sigo na companhia das minhas servas pessoais, Salima, Nimat, Rani, Zaara, Shiva e Madhavi, rumo aos salões preparados para o cerimonial.
Adentramos em uma área do palácio ainda desconhecida para mim, fico surpresa com a beleza do hall que vemos, parece um ambiente propício para um conto de fadas, é decorado nas cores lilás, rosa e amarela com muitas flores e folhas, além de luzes e desenhos em 3D, vejo uma longa escadaria branca, coberta por um tapete indiano, subimos para o andar superior.
— Raajkumaaree, kya aap pahale any sailoon dekhana chaahate hain? har koee aupachaarik hol mein usakee prateeksha kar raha hai. (Princesa, quer ver os outros salões primeiro? Todos a aguardam no salão do cerimonial.) – Salima pergunta.
— Haan, main karata hoon. Chalo jaldee jao, main apane mehamaanon ko intajaar nahin karana chaahata. (Sim, eu quero. Vamos rapidamente, não quero deixar minhas convidadas esperando.) – respondo, afinal estou curiosa para ver todos os ambientes reservados para esse cerimonial.
Caminhamos pelo longo e exuberante hall de entrada para o salão de festas, decorado primariamente em rosa, com detalhes em lilás e dourado, amplo e espaçoso, conta com muitas poltronas confortáveis à esquerda e mesas com quatro cadeiras à direita, além de muitos lustres, luminárias e flores que decoram todo o ambiente.
Adentramos o salão de festas e o meu encantamento cresce, a decoração é indescritível de tão linda, observo a decoração em tons de rosa, o carpete e as centenas de mesas que seguem o as mesmas cores, vejo as muitas flores e os lustres que enfeitam o ambiente com primor. Contemplo a pista de dança em um dos extremos do salão e o maravilhoso mandap no outro, não sei para onde dedicar os olhares de admiração, até mesmo o teto tem uma decoração especial formando lindas mandalas coloridas no mesmo padrão de cores.
Avançamos para uma área do salão reservada para a servir o banquete, os garçons e demais funcionários estão posicionados e se surpreendem com a minha presença, ele me saúdam com reverência, mas não ousam me olhar.
Salima me lembra que a cerimônia deve começar em breve, caminhamos com um pouco mais de pressa.
Chegamos ao salão do cerimonial e minha admiração cresce ao ver esse ambiente enorme e requintado, as centenas de cadeiras estão enfeitadas em branco e rosa, o carpete rosa reveste todo o piso, a decoração do teto é muito especial e em tons de lilás e roxo, vejo um palco e sobre ele o mandap, logo atrás há um painel cuja decoração é soberba de tão linda, seguindo o mesmo padrão de cores que tanto aprecio.
Vejo as esposas do Pandith e dos Brâmanes me esperando, Dinah vai liderar a cerimônia, terá auxílio de Anika, Surya e Ananya.
Dinah pega o microfone e anuncia a minha chegada e me convoca para assumir o meu lugar no mandap, então todas as convidadas, madrinhas, tradutoras e mulheres da imprensa se levantam para me receber, enquanto me observam caminhar lentamente pelo vão central com as minhas servas me acompanhando.
Sento no mandap e Dinah dá início a cerimônia com um mantra e uma puja que invocam a proteção dos deuses.
Anika sinaliza para que as profissionais do mehendi se aproximem de nós, para que possam iniciar seu trabalho.
As quatro mulheres me saúdam com reverência, se aproximam e se apresentam, logo depois sentam nos bancos e preparam o material que vão utilizar. Não tenho a opção de escolher um modelo ou um tipo de desenho, mas as profissionais parecem saber o que fazer.
Minha mãe e as esposas dos sacerdotes ficam ao meu lado, falam sobre os bons aspectos do casamento e fazem questão de exaltar as qualidades do meu Príncipe.
Os músicos começam tocar canções que falam sobre a alegria e as benevolências do casamento.
Um movimento chama a minha atenção, vejo cerca de vinte artistas que aplicam o mehendi em pé à esquerda do palco, parecem aguardar alguma orientação. Surya, esposa de um dos Brâmanes, avisa que elas podem começar a atender as madrinhas, então cada artista pega seu material e segue com uma madrinha para a direita, onde estão posicionadas vinte mesas especiais, cada uma delas com duas cadeiras.
Rio ao ver que algumas das minhas convidadas vez por outra levantam tentando observar o trabalho que as mulheres estão fazendo, Anaya percebe que estão curiosas e pede que o telão seja ligado, a fim de exibir os detalhes do trabalho.
Recosto no mandap e fecho os olhos, as músicas elevam meus pensamentos para as próximas cerimônias do shádi, assim como para a sua conclusão.
— Vejam que lindo o mehendi que a Nuria fez. – a voz da Gislaine me desperta dos pensamentos, a procuro e a vejo do meu lado direito.
— Combina com você, realmente está lindo. – digo e sorrio.
Todas as outras madrinhas se aproximam e mostram a arte em suas mãos, Tia faz questão de fotografar as mãos das orgulhosas madrinhas.
— Olha a alegria das convidadas, várias delas também querem fazer esses desenhos de henna, mehendi, né? – Melissa pergunta e eu concordo.
— Mas os desenhos delas devem ser bem mais simples do que o nosso né? – Samara pergunta.
— São sim, vejam lá. – Maria José diz e aponta para um grupo que exibe as mãos para uma foto.
Tia as orienta para lavar as mãos a fim de retirar o excesso de mehendi, existem pequenos lavatórios do lado esquerdo do salão do cerimonial, elas obedecem e a tradutora que faz questão de acompanhá-las.
As artistas são dedicadas e se esmeram para fazer os elaborados desenhos com a henna indiana, que precisam ter símbolos especiais que retratam amor, fertilidade, felicidade, a proteção e adoração aos deuses. Em certo momento elas param e cochicham algo sobre esconder o nome o iniciais do Príncipe.
É uma brincadeira importante e tradicional para os hindus, as artistas costumam esconder as iniciais do nome do Dulhan ou seu primeiro nome no mehendi da Dulhana, dizem que somente se o noivo encontrar as iniciais do nome dele no desenho é que poderá dormir nos aposentos de núpcias, ao lado de sua esposa, caso contrário deverá dormir a céu aberto contando estrelas.
Minhas madrinhas agora permanecem ao meu lado, percebem a animação das artistas ao mencionar que as iniciais do Principe estão escondidas sob o desenho do polegar esquerdo, vejo as letras "JM" escritas de acordo com o alfabeto em hindi (जे एम), no mesmo momento ouço algumas das minhas amigas resmungando da escrita em outro idioma, afinal Eros e eu somos brasileiros.
Me dói não poder revelar a verdade, mas Tia arruma uma desculpa qualquer e as convence.
Demora pelo menos duas horas para que meus antebraços, punhos, mãos, pernas, tornozelos e pés estejam prontos, mas está incrivelmente lindo.
Madhavi traz uma bandeja com água para limpar o excesso de henna e nos assusta ao gritar, parecendo muito emocionada.
— Dekho, raajkumaaree mehandee bahut andhera ho gaya! Yah bahut shubh hai! raajkumaaree ko raajakumaar aur mahaaraanee se bahut pyaar hoga. (Vejam, o mehendi da Princesa ficou muito escuro! É tão auspicioso! A Princesa será muito amada pelo Príncipe e pela Imperatriz.) – ela diz e todas as indianas comemoram.
Tia deve ter traduzido a fala da minha serva para as madrinhas, porque as vejo comemorar com gestos e danças, todas as mulheres começam a celebrar ruidosamente.
Convido-as para celebrar no salão de festas, o farto banquete é servido e dançamos com liberdade por várias horas.
Está chegando o momento de me preparar para o Sangeet, deixo a minha mãe como a anfitriã e me retiro discretamente para os meus aposentos.
Jagadeesh Manohari (Eros Myron) POV:
Saio discretamente e retorno ao hotel com a escolta exigida pelo Imperador, preciso me preparar para a próxima cerimônia, o mehendi.
Servos e servas me aguardam para providenciar tudo o que posso precisar, vejo minhas roupas e joias separadas no closet, uma das sudras avisa que meu banho está preparado e se prepara para me acompanhar, mas dispenso a ajuda.
Aproveito para relaxar um pouco, tenho tempo suficiente para isso. Ravi bate na porta e entra com a minha permissão.
— Rajkumar, main tumhen shaadee kee pragati ke baare mein santusht karane ke lie aata hoon raajakumaaree apane mahal mein hai aur usake samaaroh ke lie sabhee hol usake anurodh par taiyaar hain aur aavashyak har vivaran mein, khatare kee aur aakramanakaariyon kee koee riport nahin hai, sainikon ne yah sunishchit karane ke lie paanch dainik sveep karana jaaree rakha hai ki vah sanrakshit rahegee. (Príncipe, venho lhe dar satisfações sobre o andamento do casamento. A Princesa está em seu palácio e todos os salões para o cerimonial dela estão prontos conforme sua solicitação e em todos o detalhe exigidos, não há relato de perigo e ou de invasores, os soldados continuam fazendo cinco varreduras diárias para garantir que ela continuará protegida.) – ele diz, trazendo seu relatório diário, aceno positivamente.
Ainda faz questão de avisar que tudo está pronto para as cerimônias que vão encerrar esse quinto dia de shádi, ele sempre está preocupado com a segurança, é bem zeloso.
Ele se retira, me dando privacidade para terminar o banho. Me visto com um kurta pajama preto e pego a minha dupatta azul, calço as sandálias pretas e cuido dos últimos detalhes. Saio do meu aposento e vejo que os servos ainda me aguardam pacientemente, peço que preparem a minha saída, já que Ravi e Salmaan continuarão ao lado dos padrinhos.
Sigo em carro fechado para o palácio escolhido para essa cerimônia, chego em poucos minutos e noto um movimento intenso na porta de entrada, formado pela quantidade de convidados que chegam ao mesmo tempo, alguns soldados imperais se adiantam para checar e me orientam a entrar pela passagem lateral.
Passamos pelo elegante hall de entrada e continuo a caminhar porque quero ver cada um dos salões, o do cerimonial é suficientemente grande e há de acomodar todas as centenas de convidados, o mandap está em boa posição e há um telão do lado direito, para transmitir o que for necessário, todas as câmeras estão posicionadas em pontos estratégicos.
Sigo para o hall de entrada e vejo o aparador do lado direito com doces e bolos dispostos para os meus convidados, a minha frente está um garçom elegantemente vestido e com uma bandeja com doces na mão direita, me saúda e oferece uma iguaria, agradeço e pego para provar.
Entro no salão de festas e vejo a disposição simples das três mesas principais, paralelas, enfeitadas com flores e castiçais de seis velas, vejo mais um mandap confortável e bem decorado, além de uma mesa especial que conta com a estátua do Lord Ganesha. Observo com atenção as mesas do banquete e todas estão dispostas como havia escolhido há um bom tempo, a decoração em todos os ambientes recebe tons de dourado, branco e amarelo.
Volto para o salão do cerimonial e vejo os músicos posicionados, Pandith e os Brâmanes já me aguardam diante do mandap, me surpreendo ao ver que meu sogro está ao lado deles.
Os convidados, padrinhos e homens de imprensa notam a minha presença e ficam em pé, caminho até eles e saúdo os sacerdotes e o Rei Ronaldo.
A cerimônia tem início, as artistas do mehendi tem a autorização para se aproximarem, preparam seu material para começar seu trabalho, Pandith lhes dá algumas instruções, parecem conversar sobre o modelo do desenho, o que é mais adequado para mim.
— Rajaji, não quis estar do lado da Dulhana nesse momento? – olho para o meu sogro e pergunto.
— Preferi deixar a minha filhinha mais à vontade com sua mãe, madrinhas e convidadas. Achei que seria mais adequado estar com você e os outros homens. – Ronaldo diz e abre seu largo sorriso.
— Será sempre bem-vindo, venha e sente do meu lado. – digo e retribuo o sorriso.
Ronaldo senta ao meu lado no mandap e as profissionais dividem suas atenções entre nós dois.
Músicas de celebração aos deuses preenchem o ambiente e muitos acompanham as canções.
Essa cerimônia será relativamente rápida porque o mehendi será aplicado apenas em minhas mãos e pés, os desenhos são bem elaborados, incluem símbolos que exaltam a casta que pertenço e isso está relacionado ao meu destino, além de representar as forças moral e física, vigor, energia, poder, fé e proteção dos deuses. Uma curiosidade sobre o mehendi é que ele pode ter várias cores, sendo a mais tradicional aquela cor próxima ao marrom, quanto mais escuro, mais auspicioso será.
Os padrinhos também estão recebendo essa arte em suas mãos neste momento, serão desenhos mais simples, mas de importância semelhante. Olho para o desenho nas mãos dos padrinhos, são símbolos tribais na palma da mão ou dorso, parecem felizes com o resultado, por isso Amitabh, o tradutor, está fotografando suas mãos.
O mehendi do meu sogro também está pronto, é um desenho discreto e muito bonito.
Os outros homens são um pouco mais resistentes por considerar que esse tipo de desenho é muito feminino, de qualquer forma as artistas estarão disponíveis para oferecer as eles esse serviço.
Em aproximadamente uma hora o meu mehendi está pronto, os servos trazem uma bandeja e sobre ela há uma grande bacia com água, lavo as mãos para retirar o excesso da henna e um outro servo faz o mesmo com meus pés, os sacerdotes celebram a cor final, está bem escuro.
Os sacerdotes comemoram com uma puja de agradecimento aos deuses.
Convidamos a todos para comemorar essa cerimônia tão auspiciosa no salão de festas, um farto banquete é servido, assim como doces e bebidas.
Chego a acreditar que essa celebração pode ser um tanto contida ou desanimada, já que as mulheres não estão presentes, mas é um ledo engano, vejo os homens dançando e se divertindo, isso muito me alegra.
Estou com uma estranha sensação que me perturba e incomoda, algo como um pressentimento relacionado a Weenny e eu como um casal, mas não é referente ao nosso casamento... É confuso e nebuloso o suficiente para me manter aflito.
— Filho, você está bem? Não o vi comer nada, não está se divertindo. – Ronaldo diz com sincera preocupação.
— Sim, Rajaji. Estou pensando que preciso ir embora, preciso passar no hotel para me arrumar para o Sangeet. – digo uma meia verdade para não o preocupar.
— Pode ir tranquilo, mas como alguma coisa antes, por favor. – ele diz, preocupado como jamais vi um pai ser, me deixando feliz por ter um pai de verdade agora.
Concordo e pego gobi paratha, uma dos meus alimentos preferidos, como mesmo sem vontade.
— Ouço alguns alfaiates e sudras se queixando porque suas roupas estão ficando largas – Ronaldo diz e ri — A comida traz a amizade e a felicidade, essa é a verdade riqueza de um homem.
— Tem razão, Rajaji, belas palavras. – digo e sorrio, realmente satisfeito. Nos despedimos com um abraço.
Os sudras me acompanham até a área externa do palácio, onde vejo os soldados posicionados ao lado do carro, entro e seguimos rumo ao hotel.
Terei cerca de uma hora e meia para me preparar para o Sangeet, que é como uma festa de despedida de solteiros, um momento de diversão ao lado dos nossos amigos em nossa última noite como solteiros.