Os Amigos POV:
Os últimos compromissos do shádi foram tão maravilhosos quanto especiais para todos os amigos. Guru Shankar havia explicado sobre todos cerimoniais e celebrações do shádi com detalhes, mas nenhum deles estava suficientemente preparados para ver tanto luxo e requinte, em cada ritual uma sensação única, fazendo-os perceber a importância desse pacto do casamento, tão diferente do que pensavam.
A felicidade era companhia constante entre todos os convidados, ouviam elogios por toda parte, viam largos sorrisos sinceros até mesmo nas pessoas da imprensa, todos se divertiam nas celebrações, em especial a do Sangeet, onde todos estavam livres para comemorar como se estivessem no Brasil.
O sexto dia de shádi promete ser bem intenso e agitado, já durante a madrugada são despertados por uma agitação na rua, com muitas pessoas falando alto, observam todo o movimento pelas janelas de suas suítes, veem que os indianos estão enfeitando as ruas com enormes rangolis.
Aproveitam que estão acordados e vão para o banho, precisam ser pontuais no compromisso do café da manhã, já que os noivos não estarão presentes.
Se encontram no saguão em questão de uma hora e partem para o palácio reservado para a primeira refeição do dia. Veem vários funcionários na entrada prontos para dar-lhes as boas-vindas, caminham pelos salões e ficam surpresos ao ver tamanha beleza, a decoração recebe tons de dourado e branco, muito bem iluminado e decorado com flores e castiçais, há um mandap para fotos, pista de dança e músicos maravilhosos.
Tem tempo suficiente para usufruir do farto banquete que lhes é oferecido e ajudam Ronaldo e Vilma no papel de anfitriões, conversam com os amigos e convidados e logo todos estão ansiosos para o próximo compromisso, Ganesha Puja, estão curiosos para saber o porquê dessa puja ser tão especial quanto os tradutores fazem questão de dizer.
— Vamos precisar voltar para o hotel, não estamos com roupas adequadas para esse compromisso. – Dani diz.
— Não se preocupem, ainda temos tempo, será as dez horas. – Ricardo diz.
— Onde? – Mayara pergunta.
— Na avenida principal. – Amitabh responde.
— O que devemos vestir? – Maria José pergunta.
— As cores que serão utilizadas pelo Dulhan e sacerdotes serão laranja, dourado e branco, mas vocês podem ir com roupas coloridas. – Tia explica.
— Em todas as pujas devemos ir com roupas claras... – Melissa diz.
— Essa puja é diferente, é como uma grande festa, é o deus mais adorado na atualidade, junto com a deusa Lakshmi. – Tia responde.
— Devemos ir para o palácio da Dulhana para buscá-la. – Carol diz.
— Sim, nós mulheres devemos permanecer juntas. – Michele diz.
— E nós o que faremos? – Leonardo pergunta.
— Ficam ao lado do Eros. – Marília diz.
— Ficaremos perto do Dulhan e não ao seu lado porque ele vai liderar essa puja e provavelmente cantará a canção de exaltação. – Amitabh diz.
— É melhor irmos logo, não podemos nos atrasar. – Igor diz e todos se preparam para partir, enquanto observam os tradutores dando as últimas instruções aos seus grupos.
Seguem juntos até o estacionamento e entram no micro-ônibus, reparam nas ruas ainda mais movimentadas, coloridas e adornadas.
— É interessante ver as ruas tão bonitas, parecem que os indianos também estão comemorando o shádi de Eros e Weenny. – Gislaine diz.
Tia e Amitabh trocam olhares.
— Ve bahut aashcharyachakit honge jab ve antatah pooree sachchaee kee khoj karenge. (Ficarão tão surpresos quando finalmente descobrirem toda a verdade.) – o tradutor baixa a cabeça e sussurra para a esposa.
O veículo para e todos correm para o interior do hotel e logo depois para as suas suítes, as madrinhas vestem saris coloridos e poucas joias, os padrinhos vestem kurtas pajamas bege e dupattas amarelas.
Em meia hora todos se reúnem no saguão do hotel, inclusive os amigos famosos e os pais da Dulhana, em seguida Eros chega e vai até os sogros para cumprimentá-los.
Vilma faz um ritual com o genro, ergue uma bandeja e faz sete voltas ao redor do rosto do Dulhan, joga pequeninas flores em seu rosto e faz uma marca com tilak em sua testa, Ronaldo reforça essa marca e lhe diz alguma coisa que não conseguem ouvir.
Eros cumprimenta a todos, conversa rapidamente com eles e segue a frente com os homens, então as madrinhas se despedem e avisam que estão indo ao encontro da Weenny.
Elas chegam atrasadas, mas a tempo de ver a comitiva da Dulhana pronta para partir, Carol quase salta do micro-ônibus em movimento, corre até o palanquim e percebe que ele é baixado, Weenny sai e as outras amigas correm até ela, se desculpam e se preparam novamente para partir.
Em alguns minutos chegam no local preparado para essa puja, todos se surpreendem ao ver a multidão que se aglomera diante da gigantesca estátua de Ganesha que pode ser vista de muito longe.
Tudo está tão lindo e diferente das outras pujas que viram, se perdem olhando para todos os lados, enquanto tentam encontrar Eros e os padrinhos, veem Weenny seguir com uma menina pela multidão.
Então ouvem uma melodia e uma voz que todas amam... A voz do Eros na canção que deve exaltar Lord Ganesha, o deus elefante, e seus feitos.
Agora conseguem compreender a importância dessa puja, Tia e Amitabh fazem questão de explicar sobre os poderes desse deus, destruidor dos obstáculos, símbolo de sabedoria, compaixão, benevolência, respeito às mulheres e proteção.
Essa puja tornou-se uma pequena festa, Eros e Weenny brilham em meio ao povo que parece de alguma forma adorá-los.
— Está na hora de ir, vocês precisam se preparar para o almoço e não podem se atrasar. Os noivos também devem partir. – os tradutores avisam para os padrinhos, enquanto eles observam atentamente o casal preferido.
Alguns seguranças uniformizados se aproximam, dispersam uma parte da multidão para que os noivos e padrinhos possam caminhar e encontrar um lugar um pouco mais tranquilo. Avaliam o lugar onde estão agora, notam o movimento de algumas pessoas ao redor de um cavalo e de dois palanquins, a menina que estava com a Dulhana agora caminha para um deles, voltam sua atenção para Weenny quando a ouvem dizer que precisa ir embora.
Eles se despedem com lindas palavras de amor, os amigos fazem questão de elogiar esse amor que parece crescer ainda mais durante todas essas celebrações. Então Weenny segue para o seu palanquim e Eros monta em seu cavalo e sai a galope.
— Ele já é tão perfeito e ainda monta nesse cavalo branco... – Iara diz.
— Um verdadeiro Príncipe de contos de fadas. – Vivian diz e algumas suspiram.
— Único e maravilhoso. – Michele conclui e os tradutores sorriem maliciosamente.
— Venham, precisamos ir. Tenho certeza de que vocês vão querer se refrescar e trocar de roupas para ir ao almoço. – Amitabh diz.
— E vocês ainda deverão ir para o palácio da Dulhana após o almoço, vão assistir ao ritual Solah Shringar, depois voltarão para os rituais do bharat. – Tia olha para as madrinhas e as lembra de seus compromissos.
— O que é esse ritual? – Maria José pergunta.
— Solah Shringar é o ritual onde a Dulhana recebe seus dezesseis adornos de noiva, é importantíssimo para a noiva e acontecesse durante o bharat. – Tia explica e Maria José agradece.
Entram no micro-ônibus e retornam ao hotel, vão para as suas suítes e descansam por alguns momentos, então vão se arrumar, elas vestem saris coloridos e eles calças sociais e camisas, quando estão prontos vão para o saguão, que é sempre o ponto de encontro.
Desta vez preferem ir caminhando, afinal o local escolhido para o almoço é próximo ao hotel, aproveitam para conversar.
— Como será daqui para frente? – Marília pergunta, em um misto de ansiedade e aflição.
— O que vamos fazer depois do casamento? – Vivian pergunta.
— Vocês eu não sei, mas Enzo e eu vamos estrelar o nosso filme, o Espectro do Baile, como sempre desejamos. Vai ser um sucesso, vamos ter muito dinheiro e fama... – Samara diz e sorri.
— Vão mesmo fazer esse projeto sozinhos? Eros e Weenny sempre... – Dani a interrompe.
— Calma. Lembre-se de que poucas pessoas são como Eros e Weenny, eles sempre fizeram questão de nos incluir em seus projetos e em todos os convites que receberam. – Michele pondera.
— Vamos torcer pelo sucesso deles. – Mayara intervém e todas concordam, finalizando o assunto.
— Vejam que lindo palácio! Tia, é aqui? – Carol pergunta e a tradutora faz um sinal afirmativo.
É uma enorme construção com um belo jardim na entrada, adentram o palácio na companhia dos muitos convidados que o cercam, observam com atenção todos os salões decorados com muito luxo e em tons de lilás, iluminados por castiçais e lustres, adornados com belos vasos e cordões de flores, mas a beleza se une ao conforto, o salão principal conta com muitas poltronas e sofás confortáveis.
No salão principal centenas de mesas estão dispostas ao redor da pista de dança e do palco onde estão os músicos, observam ainda de longe a área reservada para o banquete, onde estão os garçons se preparando para começar a servir.
Padrinhos e madrinhas fazem questão de recepcionar os convidados e deixá-los a vontade, já que os noivos e seus pais estão ausentes.
O banquete é servido e todos podem desfrutar de um começo de tarde bem agradável, embora todos estejam ansiosos pelos cerimoniais que ainda verão.
Algum tempo depois, os tradutores reúnem os convidados e alertam que todos devem ser preparar para partir, Amitabh vai até o palco e pega o microfone.
— Boa tarde a todos. Estou aqui para explicar brevemente sobre as cerimônias que virão. Todos vocês devem se preparar para o bharat, que é o cortejo dos noivos, ele partirá do hotel onde o Dulhan está hospedado e seguirá até o local escolhido para a conclusão do shádi. Serão realizados alguns rituais importantes antes da partida e nem todos conseguirão ver por que os cerimonialistas deverão organizá-los em seus devidos lugares. A frente do Bharat irá os pais da noiva, em seguida o Dulhan, padrinhos e madrinhas e no final seguirá a Dulhana, todos estão convidados para acompanhar o cortejo e podem ir nos carros, carruagens ou a pé, conforme desejarem. Todos serão recepcionados no local do evento e permanecerão até a conclusão do shádi e suas celebrações que certamente se seguirão até a madrugada. Outras informações e dúvidas poderão ser esclarecidas por seus tradutores, estejam a vontade para perguntar. – o tradutor principal explica e agradece a atenção dos presentes.
Padrinhos e madrinhas se preparam e partem rumo ao hotel, precisam se apressar porque participarão de importantes rituais.
— Como devemos nos vestir? – Iara pergunta.
— Vistam-se com suas melhores roupas, lembrem-se que as cores mais utilizadas serão o vermelho, laranja e dourado, fiquem a vontade para usar cores semelhantes, identificando-os e dando a devida importância a vocês. – Tia responde.
Todos combinam rapidamente sobre suas vestes, então correm para suas suítes, separam suas melhores roupas e se vestem. As madrinhas escolhem saris laranja com detalhes dourados, pegam suas joias e sandálias e guardam nas mochilas, vestem kurtas bege com bordados dourado na barra e cobrem sua cabeça com a dupatta na mesma cor, se encontram pelos corredores do hotel, se organizam no saguão e partem apressadas rumo ao palácio da Dulhana.
Os padrinhos precisam de mais tempo ajeitar o que vão usar, se arrumam vagarosamente, vestem kurta pajama dourado e laranja e pedem ajuda para o Amitabh para arrumar o turbante laranja, chamado de pagri.
Weenny Alves POV:
Essa é a minha última grande preparação para a mais grandiosa celebração do shádi.
Sou levada ao SPA do meu palácio, percebo o quanto as sudras se esmeram nos cuidados comigo, algumas preparam meu banho, enquanto outras preparam grandes bandejas de alimentos e bebidas e põe nos aparadores que estão ao meu lado, Sati permanece ao meu lado e pronta para me servir.
Poucos minutos depois, Salima vem avisar que meu banho está pronto.
Tiro o meu último sari de solteira, entro na enorme banheira e sinto o quanto a água está perfumada e quente na medida certa, fecho meus olhos e relaxo, sinto as mãos das minhas sudras esfregando cuidadosamente a minha pele.
Ouço muitas vozes femininas, acredito que grande parte das servas esteja reunida aqui no SPA, elas cantam alegremente, invocam os deuses com mantras e pujas, desejando tudo o que é auspicioso para o meu casamento, criando uma atmosfera leve e agradável.
Saio do banho e as sudras me envolvem com toalhas macias, enxugam a minha pele e me conduzem para uma maca bem larga e confortável. Massageiam meu corpo com óleo de sândalo, esse perfume tão agradável se espalha pelo ambiente.
Continuo a me esforçar para relaxar e controlar a ansiedade.
Tudo o que vou precisar para o ritual Solah Shringar está aqui, mas preciso esperar por minha mãe e pelas madrinhas, que devem chegar em breve, o almoço deve estar acabando.
Levanto e visto minhas roupas íntimas, enquanto as sudras me vestem com um penhoir, fazem questão de brincar comigo.
— Raajkumaaree, apane mangetar ka naam kahen. (Princesa, diga o nome do seu noivo.) – Shiva diz e ri.
— Chalo, jab aap yah kar sakate hain to kaho. Tab aap phir kabhee nahin kah sakate. (Vamos, diga enquanto pode. Depois nunca mais poderá dizer.) – Rani diz.
Eu rio e finjo que não ouço a provocação.
— Raajakumaar ka naam kya hai? (Qual é o nome do Príncipe?) – Nimat também entra na brincadeira, apesar de ser muçulmano.
— Raajkumaaree, naam bolo... Bolo! (Princesa, diga o nome... Diga!) – Madhavi diz, me fazendo sorrir.
— Jagadeesh Manohari. – digo quase em um sussurro, elas riem.
— Kisee ne suna hai? Usaka naam kaho, ham sunana chaahate hain. (Alguém ouviu? Diga o nome dele, queremos ouvir.) – Zaara diz.
— Jagadeesh Manohari! – viro de costas para tentar esconder a minha timidez e grito, elas aplaudem e riem.
Essa brincadeira é bem comum nos casamentos, uma esposa hindu jamais deve pronunciar o nome do marido em público, faz parte dos costumes.
Vejo Salima se aproximar na companhia da minha mãe e das madrinhas. Ela traz um grande pacote nas mãos, deve ser o primeiro item do ritual, o shádi kaa joda, ou vestido de noiva, vermelho que é a cor da deusa Lakshmi, símbolo da formosura, fartura, riqueza, poder e eterna juventude.
Esse sari é feito em seda com detalhes bordados em fios de ouro e com pedrarias por toda a sua extensão, muito brilhoso e chamativo, nas bordas é ainda mais trabalhado, principalmente no pallu, que é a parte que estará mais próxima ao rosto.
As sudras me ajudam a vestir o sari que é muito pesado.
— Minha filha querida, esse momento é para celebrar a sua beleza e a transição para a sua vida de casada. Agora você receberá os dezesseis adornos que toda a noiva deve receber. – minha mãe diz e logo permite a aproximação das servas.
Agora começarei a ser adornada com todas as joias, minhas madrinhas me observam com os olhos marejados e em silêncio, as sudras e minha mãe estão ao meu redor, outras servas estão a uma distância um pouco maior, é nesse momento que vejo meu pai se aproximar.
Meu cabelo é repartido no meio e trançado, então recebo o segundo adorno, Kesh-pash-Rachna, que é o arranjo com flores de jasmin.
— Filha, Kesh-pash-Rachna quer dizer que seus cabelos são divididos agora em três partes, sabe por quê? Têm três motivos, a tríade dos deuses Brahma, Vishnu e Mahesh, os três rios sagrados que são Yamuna, Ganga e Saraswasti e também as três famílias que se unem a partir de agora, seus pais, seus sogros e vocês por meio desse shádi. A flor usada é o jasmim porque representa a pureza. – meu pai explica e eu sorrio.
Shiva pega a maangtikka e borla e ajeitam sobre a minha testa.
— Maangtikka e borla são utilizados com o intuito de fortalecer as energias espirituais e o poder intuitivo. São acessórios primordiais, colocados na região do sexto chakra, que representa o poder da alma, representa concentração, controle e preservação. – meu pai explica e todas nós compreendemos a importância.
Zaara posiciona o bindi no lugar do terceiro olho.
— Sobre o Bindi, uma curiosidade, os indianos acreditam que um olho místico repousa neste lugar, que permite a Dulhana veja o futuro e a sensibiliza para que saiba se algo ruim poderá acontecer. – mais uma explicação dele.
Madhavi é cuidadosa ao colocar os longos brincos karn phool.
— Karn phool, sabem que o lóbulo da orelha é visto como um sinal de status social e desenvolvimento espiritual? Os brincos não são apenas um adorno elegante, mas também proteção contra feitiços e más influências, aqui na Índia. E quanto maior ele for, maior é o status e poder, quando eles são pesados. – meu pai diz.
Rani se aproxima trazendo os vários colares haar, alguns curtos e outros longos, põe um a um.
— Haar, que são colares protegem contra o mau-olhado, traz amor e boa sorte, os indianos acreditam que eles possuem encantamento mágico e erótico. – meu pai explica e todas sorriem.
Salima adorna meus braços com os braceletes baajuband em ambos os braços.
— Baajuband, braceletes, normalmente são usados nas mangas do choli e feitos com ouro e pedras preciosas, usado como um amuleto. Protege contra o mau-olhado e é o símbolo da beleza perfeita. – continua sua explicação, para que entendamos tudo.
Meus pulsos estão cobertos pelo conjunto de churdas e pelas kaliras, mesmo assim recebo outras choodiyaan e hathphulor, que são pulseiras especiais cujo medalhão central fica sobre o dorso da mão.
— Nenhuma mulher hindu pode aparecer em público sem suas pulseiras, que podem ser em número de oito, doze ou vinte e quatro. – meu pai explica.
Ergo minha mão esquerda e aprecio o meu aarsi, anel com um espelho em seu interior, presente que ganhei do meu Príncipe em nossa primeira noite de amor.
— Aarsi, como a Dulhana terá seu rosto coberto pelo pallu, esse anel propiciará a possibilidade de ver a si mesma ou ao seu Dulhan. – ele explica.
Enquanto Nimat se curva para ajusta a payal ou tornozeleiras e os anéis nos meus dedos dos pés.
— Payal, tornozeleiras, são usadas em pares por uma noiva para chamar a atenção para a sua presença e anunciar a sua entrada na vida da Dulhan e na nova casa. Feitas em prata, afinal ouro é respeitado como um deus. Consideram que usar ouro nos tornozelos ou pés é desrespeitoso e um mau presságio. – meu pai explica, fazendo todas lembrarem das aulas do Guru.
Madhavi ajusta o kardhani, que é um cinto feito em ouro e pedrarias, em minha cintura.
— Kardhani, é um belo cinto feito em ouro e decorado com pedras preciosas, ajuda a manter o sari no lugar. É o símbolo de transferência de autoridade da família, mais uma vez quanto maior e mais adornado for maior é o poder da Dulhana. – meu pai explica e todas ficam surpresas.
Zaara me ajuda a colocar o nath, mas por enquanto deve ser uma pequena argola, que será trocada por uma maior, após a conclusão do shádi.
— Nath, uma espécie de piercing em forma de argola decorada usada apenas por noivas e mulheres hindus casadas, comumente usada do lado esquerdo do nariz e é apoiada em uma corrente que será presa atrás da orelha esquerda. Simboliza a espiritualidade, coragem e o uso representa um ritual de passagem. É considerado o mais sedutor adorno e seu tamanho está relacionado a importância e riqueza do Dulhan. – ele explica e todas ficam observando meu nariz.
Rani passa o Kohl em meus olhos com muito cuidado.
— Kohl, acredita-se que a Dulhana pode ser atingida por inveja por estar com um olhar tão lindo então, ele é aplicado para afastar o mau olhado e protege-la.
Então minha mãe se aproxima para aplicar o Itar, o precioso perfume.
— Itar, a doce fragrância tem um aroma duradouro e deixa a aura positiva e agradável, mantém a atmosfera auspiciosa e acolhedora.
— Filha, é importante que esteja bonita e perfumada para esse momento tão importante que viverá. Essa essência é poderosa e atrairá seu marido. – ela diz e aplica o itar em minha pele.
O último e igualmente importante item desses adornos é o mehendi que já está aplicado em minhas mãos e pés para a minha proteção.
— Mehendi, é usado para proteção contra os efeitos malignos como a miséria, doenças e morte. Mehendi no casamento significa a essência do amor, a força do vínculo e a conexão entre os noivos.
O ritual Solah Shringar será concluído apenas durante o vivaha, quando receberei o mangalsutra e o sindur das mãos do meu futuro marido.
Levanto e vejo meu pai vir em minha direção, apesar do seu sorriso, vejo algumas lágrimas correrem por sua linda face.
— Agora minha Princesa está pronta para a vida feliz e afortunada que lhe desejei por todos esses anos... Ah filhinha, você é a noiva mais linda do universo e o orgulho desse seu velho pai – ele diz, enquanto pega o pallu com cuidado e o põe sobre os meus cabelos — Papai te ama tanto!
Se aproxima um pouco mais e beija o meu rosto com suavidade, levo ambas as mãos ao seu rosto e não consigo segurar um soluço choroso.
— Ah paizinho, eu te amo tanto! São suas preciosas mãos que hão de me conduzir para a minha felicidade, como sempre sonhei... – digo e umas lágrimas querem escapar, mas meu pai as impede.
— Não chore, filhinha. Apenas sorria agora e para sempre. – ele diz e me acalenta em seus braços de amor.
Meus pais me abraçam mais uma vez, cobrem a minha cabeça com o pallu e me abençoam. Está difícil conter a emoção, então eles decidem partir, seguem para o local onde o bharat está sendo preparado.