Capítulo 10 – Rumo às Ilhas do Destino
A ausência de Gustavo era um peso silencioso no coração de todos.
Mike, agora o mais experiente entre eles, observava o pôr do sol da sacada da torre mais alta da fortaleza, a capa balançando com o vento. Ao seu lado estavam Karina, ainda com olhos inchados; Julhian, quieto e pensativo; os leais Serena e Kyouran… e Natália, que caminhava devagar, o olhar sempre vigilante.
Natália era uma velha amiga de Gustavo, conhecida por sua habilidade com arcos e venenos. Silenciosa, de cabelos castanho-escuros e olhos verdes afiados, ela havia retornado à Britânia após ouvir sobre a queda da capital e a morte de Beatriz. Desde então, silenciosamente se juntara ao grupo — determinada a ajudar a terminar a missão que Gustavo começara.
— “Ele nos deixou.” — murmurou Karina, com a voz embargada.
— “Sozinho... como se não confiasse em ninguém mais.”
Mike apertou os punhos.
— “Ele confia. Mas está ferido. E quando se está ferido demais… só resta lutar ou sumir.”
Natália, até então calada, falou com a voz calma, mas cortante:
— “Ele não quer que a gente corra o risco de segui-lo. É típico dele. Por isso vamos provar que ele não precisa carregar tudo sozinho.”
Mike assentiu.
— “Exato. Vamos continuar. Ir atrás das páginas.”
No mesmo instante, o Rei de Britânia entrou na sala, tendo ouvido parte da conversa.
Seu semblante, antes de majestade rígida, agora era de dor contida. Mas havia também determinação em seus olhos.
— “Vocês pretendem seguir atrás das páginas?” — perguntou ele, aproximando-se.
— “Sim.” — respondeu Mike. — “Mesmo sem Gustavo… não podemos parar.”
O rei assentiu e os guiou por corredores antigos e escuros até uma sala de tesouros esquecida, onde apenas a realeza tinha acesso.
Poeira cobria os baús, tapeçarias, armaduras douradas e espadas seladas em cristais.
— “Há muito tempo este lugar foi o coração das aventuras de Britânia. Aqui… estão guardados legados.”
O rei se ajoelhou diante de um baú antigo de madeira negra com símbolos sagrados entalhados.
Com cuidado, retirou um velho mapa mágico, já amarelado, mas com uma leve luz azulada pulsando por trás das bordas.
— “Este mapa… é como uma bússola mística. Ele não aponta diretamente para as páginas… mas mostrará o caminho.”
Ao ser ativado, o mapa revelou o contorno do mundo, mas o interior estava vazio.
— “Assim que chegarem ao porto, uma ilha deve aparecer. Vão até ela.
Vocês deverão ficar duas semanas em cada ilha… ou até que o mapa revele outra.”
— “E quando um ‘X’ surgir no mapa…” — completou Serena.
— “…uma página estará próxima.”
O rei sorriu levemente, vendo que estavam preparados. E então, como um último gesto de honra e confiança, retirou seis objetos de um baú lateral.
— “A cada um de vocês… dou uma nova arma. Forjadas pelas chamas de Keldar, o ferreiro que moldou o Coração de Pedra.”
Mike recebeu “Fang Umbra”, uma nova foice dupla com lâminas negras e aura viva.
Julhian recebeu “Geada Carmesim”, uma lança de gelo com cristais vivos na ponta.
Serena ganhou “Flor da Noite”, uma corrente de punhal com espinhos que envenenam a alma.
Kyouran empunhou “Punho Espectral”, um par de manoplas que aumentavam sua força e liberavam energia explosiva.
Karina foi chamada à frente e recebeu a Lâmina da Tempestade Negra, uma das dez armas lendárias de Britânia.
Por fim, o rei virou-se para Natália.
— “E para você, Natália… que carrega o olhar e o espírito dos velhos caçadores de Britânia…”
Ele retirou um arco negro com detalhes roxos, com as cordas vibrando como se sussurrassem segredos.
— “…o Arco de Nyx. Suas flechas podem se dividir em três e perfurar armaduras e escudos mágicos. Também aceita venenos e maldições.”
Natália sorriu de canto, recebendo a arma com um olhar sério.
A Partida
Na manhã seguinte, milhares de pessoas foram até o grande porto de Britânia para a despedida dos jovens heróis.
Bandeiras foram erguidas. As sinfonias reais tocaram. Até mesmo o céu parecia em silêncio, prestando homenagem.
Um navio colossal, com velas encantadas e escudos mágicos, os aguardava. Seu nome gravado na lateral: “Aurora Espectral”.
Mike olhou para trás uma última vez, os olhos fixos na torre de onde Gustavo costumava observar o mundo.
Depois, deu o sinal.
Eles subiram a bordo.
— “Abram as velas! Sigam o mapa!” — gritou Mike.
O mapa se ativou, revelando um ponto luminoso ao sul — uma ilha surgia nas brumas do desconhecido.
O povo acenava. Os gritos de “heróis” ecoavam.
Mas o coração de cada um sabia: aquela era só a primeira de muitas provações.
O navio partiu, cortando as águas, levando os heróis rumo às Ilhas do Destino…
…enquanto, em outro ponto do mundo, Gustavo enfrentava o inferno do Continente da Meia-Noite.