AS Vozes do Breu

🕯️ Capítulo 2 — As Vozes do Breu

A trilha era silenciosa demais.

Sob a luz constante da lua roxa, o solo negro do Continente da Meia-Noite pulsava com uma energia que pareciam sussurrar segredos antigos. Árvores de cascas cinzentas se curvavam sobre si mesmas, como se evitassem olhar para o espadachim que caminhava entre elas.

Gustavo avançava em silêncio, seus passos pesados fazendo a poeira roxa subir. A aura roxa flamejante que envolvia seu corpo se agitava lentamente, como se respirasse junto com ele. Aquela energia era viva, densa, quase tangível. Quando se concentrava, tornava-se cortante. Era sua essência — o prenúncio da Escuridão Absoluta.

As sombras ao seu redor pareciam se mover com ele. Partes do ambiente se distorciam, sumiam momentaneamente em trevas líquidas, antes de retornarem ao normal. Aquilo não era um defeito do lugar... eram os poderes de Gustavo, que se manifestavam involuntariamente com sua presença.

No ombro esquerdo, a Hidra em miniatura bocejava, enrolada como um gato. Tinha três cabeças visíveis no momento — todas observando com olhares vigilantes.

Estamos sendo seguidos... — rosnou uma das cabeças.

Gustavo parou.

A névoa à frente se partiu, e dele emergiu a primeira ameaça daquele trecho da jornada.

Um Colosso de Ossos Negrus, uma criatura de mais de três metros de altura, com um corpo formado por vértebras gigantescas e presas de aço negro. Seus olhos brilhavam em roxo espectral, como se tentasse imitar a força de Gustavo. Mas falhava.

— “Mais um amaldiçoado pelo continente...” — murmurou Gustavo, puxando a Kusanagi de sua cintura.

Ao ser desembainhada, a katana vibrou como se reconhecesse o inimigo. Fragmentos de escuridão ao redor foram sugados para a lâmina, que pulsou em roxo intenso.

O Colosso rugiu e correu em investida. A terra tremeu. Gustavo não se moveu — até o último segundo.

Rasgo Sombrio.

Em um movimento invisível, Gustavo desapareceu e reapareceu do outro lado. O tempo pareceu parar por um instante.

A criatura caiu de joelhos. Seu corpo se partiu em dezenas de segmentos, todos queimando com a mesma aura roxa que girava ao redor do espadachim.

Ainda assim, está ficando mais difícil... — comentou a Hidra, agora com quatro cabeças.

— “A própria terra parece querer me deter.” — respondeu Gustavo, olhando adiante.

Logo à frente, no vale estreito entre as montanhas negras, erguiam-se os Portões de Ferroluz, entrada para as Terras Silentes, um local onde som algum podia ser produzido. Um teste cruel para um guerreiro que dependia tanto dos sentidos.

Mas ele seguiu.

Sua capa ondulava como se estivesse viva. Suas roupas rasgadas tremulavam sob uma brisa que não existia. E por onde passava, o chão se rachava com a presença de algo além do mundo dos vivos.

Gustavo Marques era a Escuridão em forma humana.

E o mundo logo aprenderia a temê-lo.