🌑 Capítulo 5 – Ecos na Névoa
A Vila de Lamentos ficou para trás.
A névoa começava a se dissipar conforme Gustavo caminhava por uma trilha de pedras quebradas e raízes expostas. Seu corpo doía, os cortes ainda recentes ardiam, e as sombras em sua volta pareciam mais... obedientes.
A aura roxa flamejava com calma ao redor dele — não mais em fúria, mas em constante vigília.
A Hidra, encolhida em seu ombro, mastigava um pedaço de carne espectral que pegara de um dos fantasmas vencidos.
— Sabe... você quase morreu lá atrás.
— “Eu sei.”
— E mesmo assim avançou. Você tem um gosto estranho por destruição, humano.
Gustavo riu de leve.
— “Não é por destruição... É por necessidade. Por ela.”
— Beatriz... — murmurou a Hidra com as vozes em uníssono.
O silêncio os acompanhou por alguns minutos, apenas o som de seus passos e da natureza morta ecoando. Até que Gustavo parou. À frente, uma carroça velha caída de lado, coberta de musgo, cercada por ossos de criaturas grandes.
— “Uma caravana antiga?”
Ele se aproximou e, após empurrar parte da estrutura quebrada, encontrou um baú enferrujado com símbolos mágicos apagados. Com um movimento rápido, ele cravou a Kusanagi e quebrou o lacre.
Dentro, haviam itens valiosos:
Poções negras restauradoras
Um manto mágico de absorção elemental, com fios de prata e couro de basilisco
Um anel de resistência espiritual, com inscrições em runas esquecidas
Rações preservadas e carne seca — ainda com cheiro aceitável
— “Parece que alguém me quer vivo.”
— Ou morto... depois que eu me acostumar com esse mimo. — respondeu a Hidra, já abocanhando parte da carne.
Gustavo vestiu o novo manto por cima da roupa rasgada. Ele se fundia bem com a estética escura de sua aura, e o tecido parecia se mover com o vento... mesmo sem vento algum.
— “Esse anel... Vai me ajudar contra o que vier adiante. Eu sinto.”
— E o que vem adiante?
Gustavo apontou para o horizonte. Ao longe, duas montanhas espelhadas se erguiam como sentinelas, cobertas por uma floresta tão densa que nem a luz da lua conseguia penetrar totalmente.
— “A Floresta das Gêmeas. Onde vivem os Lobos Imortais.”
— Você parece animado.
— “Não é animação. É foco.”
A Hidra se enroscou no pescoço dele como um cachecol vivo.
— Eu gosto disso em você. Você não recua. Só quebra tudo até conseguir o que quer.
Ele respondeu com um meio sorriso.
— “Porque não tenho escolha. Não mais.”
🌲 A Chegada às Florestas Gêmeas
Quando finalmente pisaram nos primeiros metros da floresta, o mundo mudou.
O ar ficou mais denso, o calor desapareceu. O chão era coberto por folhas úmidas, e as árvores eram altas, retorcidas, com galhos que pareciam dedos apontando para o céu.
Sons estranhos vinham de todos os lados. Estalos, grunhidos, risadas abafadas. E o cheiro metálico de sangue flutuava no ar como um aviso.
— Eles sabem que você chegou. — murmurou a Hidra, seus olhos múltiplos se acendendo com cautela.
— “Ótimo.”
Gustavo deu o primeiro passo dentro da floresta.
Sua aura escura aumentou de intensidade, cobrindo seu corpo em defesa natural. As sombras se moldavam ativamente em torno de seus braços e pernas, como se já se preparassem para o combate.
O manto novo vibrava, absorvendo a energia selvagem do ambiente. O anel no dedo brilhava em tons profundos de púrpura.
No alto de uma árvore, dois olhos brancos surgiram.
Na escuridão da esquerda, o som de garras contra casca de árvore.
À direita, um uivo profundo que não parecia vir de uma criatura viva.
— Eles estão vindo...
Gustavo sorriu com os olhos roxos brilhando na penumbra.
— “Então vamos dançar.”
Fim do Capítulo 5