A Partida Silenciosa

❄️ Capítulo 26 – A Partida Silenciosa

A madrugada cobria o céu como um manto escuro. O acampamento estava silencioso, apenas o som suave do vento cortando a neve preenchia o ambiente.

Julhian, de olhos abertos, encarava a imensidão branca do continente. Estava sentado sobre uma rocha próxima ao limite da fogueira apagada, quando a voz retornou, envolta em sussurros e trevas.

Você veio longe, garoto... mas chegou a hora de saber.

Seu irmão está VIVO...

Preso no antigo Castelo de Gelo Eterno, nas profundezas da Zona Zero. A mais fria das prisões, onde até os gritos congelam...

Ele precisa de você... mas não sobreviverá por muito tempo.

Julhian sentiu o coração bater mais forte. Um turbilhão de emoções surgiu: esperança, desespero, medo — e determinação.

Levantou-se sem ruído, caminhando até o abrigo. Lá, sentou-se diante da pequena escrivaninha de madeira e começou a escrever:

📜 Carta de Julhian

Amigos...

Se estiverem lendo isso, é porque já fui embora.

Recebi uma informação que... meu irmão está vivo. E está na Zona Zero, dentro de um lugar chamado Castelo de Gelo Eterno.

Não posso ignorar isso. Preciso ir atrás dele — sozinho. Eu sei o quanto é perigoso, sei que vão querer me impedir, e sei que talvez estejam com raiva de mim. Mas isso... é algo que eu preciso fazer.

Mike, cuide deles. Você sempre foi um líder, mesmo quando não queria ser.

Karina, sei que vai ficar furiosa. Mas você entende o que é perder alguém da sua família... por isso, espero que um dia me perdoe.

Serena, Kyouran, Natália, Piter... vocês são minha família agora também.

Eu vou voltar. Com meu irmão.

- Julhian

Ao amanhecer, Mike acordou cedo, como de costume. Notou que o cobertor de Julhian estava arrumado, mas não havia sinal do amigo. Uma inquietação cresceu em seu peito. Caminhou até a escrivaninha e viu o envelope com seu nome.

Ao ler, seus olhos se arregalaram.

Não...

Ele correu, chutando a porta do abrigo.

ACORDEM! Julhian se foi!

O grupo todo pulou das camas, assustado.

Como assim? — gritou Karina, já se aproximando.

Mike ergueu a carta e leu em voz alta. Ao terminar, Karina estava em prantos.

Ele é um idiota! Por que faria isso?! Ele podia ter contado pra gente!

Reikan, que também acordara, analisava a situação com olhos sérios.

— Ele foi para o Castelo de Gelo Eterno... sozinho. A Zona Zero engole guerreiros muito mais experientes. Se não formos atrás dele, vai morrer.

— Então vamos! — disse Karina com raiva.

Reikan negou com a cabeça.

— Não é tão simples. A travessia até a Zona Zero exige preparo, resistência e domínio sobre o próprio corpo e energia. Se todos forem, vão atrapalhar mais do que ajudar. Não temos tempo para cuidar uns dos outros no meio da tempestade viva que há lá.

O silêncio caiu. Até Karina hesitou por um momento.

Reikan apontou para três membros:

Mike, você é o núcleo do grupo. Piter, sua velocidade será essencial. Kyouran, suas técnicas furtivas e venenos serão úteis caso encontremos resistência.

Karina olhou furiosa para Mike.

— Você vai deixá-los escolher por você?

Mike suspirou, caminhou até ela e tocou seu ombro.

— Karina... eu quero que todos venham. Mas você sabe que ele está certo. Não podemos perder mais ninguém.

Vamos trazê-lo de volta... eu prometo.

Karina cerrou os punhos, mas assentiu com lágrimas nos olhos.

— Vocês têm dois dias. Se não voltarem... eu mesma irei buscá-los. Com ou sem permissão.

Mike sorriu de lado.

— Sabia que ia dizer isso.

Com equipamentos reforçados, capas térmicas, katanas e armas à cintura, o trio se reuniu diante da entrada da Zona Congelada.

Mike, Piter e Kyouran partiram pela neve densa, os olhos determinados.

Ao longe, o vento sussurrava. Como se o próprio continente chamasse seus novos visitantes.

Continua...