71 - Contra os Céus

Astracar avançou até onde pôde, acompanhado por Charlotte, Sekiro, Eleonora e Equidona. Eles seguiram seu caminho até uma montanha distante, longe o suficiente do Império Sol e Lua para evitar que sua presença causasse destruição.

Quando ele alcançou o topo, parou. Os outros ficaram para trás, em uma distância segura, mas ainda podiam vê-lo.

Então, o céu se fechou.

As nuvens, antes dispersas, escureceram como se fossem feitas de tinta negra, rodopiando com uma fúria contida. O ar ficou pesado, carregado de eletricidade, como se o próprio mundo rejeitasse Astracar. Ele não era bem-vindo.

O vento soprou em rajadas cortantes, uivando como uma matilha de lobos famintos cercando sua presa. O céu era a fera. Astracar, o alvo.

Primeiro veio o fogo.

Raios começaram a despencar dos céus como lanças divinas, atingindo o solo com violência. Árvores foram incineradas em segundos. Pedras explodiram como vidro frágil. O mundo parecia se despedaçar ao redor dele.

Então veio o primeiro trovão.

KABOOOM!

Um raio dourado colossal rasgou os céus e caiu direto sobre Astracar. A explosão foi tão avassaladora que o chão ao seu redor pegou fogo, abrindo uma cratera sob seus pés. Mas quando a poeira se dissipou, ele ainda estava lá. Ileso.

Sem aviso...

BOOM! BOOM!

Desta vez, dois trovões azuis desceram como martelos de guerra. Sua força não se comparava ao primeiro—eram piores. Eles tinham poder suficiente para destruir uma vila inteira.

Quando atingiram o chão, o mundo tremeu.

Astracar cuspiu um fio de sangue. Sua respiração pesou por um instante. Mas seus olhos nunca vacilaram.

Foi então que o Sistema falou em sua mente:

"Este será o mais perigoso, Astracar."

No alto, as nuvens começaram a girar. Um redemoinho de tempestade tomou conta do céu, expandindo-se por trinta quilômetros, tão vasto que poderia engolir cidades inteiras sem esforço.

A estática no ar ficou insuportável. O trovão ribombava como uma trombeta do fim dos tempos.

E então veio o raio negro.

KABUUUUUUUUUUM!

Não era um simples trovão. Era um juízo divino. Uma lança negra, forjada pelo próprio mundo para destruí-lo.

O impacto foi insuportável.

Astracar sentiu sua carne queimando, seus ossos sendo esmagados, sua existência sendo desafiada. Seu corpo gritava para desistir. Mas sua vontade…

Era maior que a própria vida.

Seu corpo se regenerava a cada instante, mas o raio não diminuía. Ele o dobrava, tentava reduzi-lo a pó.

Foi então que Astracar rugiu.

"HAAAAAAAAA! CICLO DIVINO GUARACI : POSSESSÃO!"

De repente, o trovão perdeu sua força.

Linhas douradas finas como teias de seda divina percorreram sua pele, formando padrões místicos que brilhavam como runas de um tempo esquecido.

Seus olhos…

Agora exibiam um sol ardente, um olhar que trazia o amanhecer para onde quer que pousasse.

Mas o mundo não aceitou sua ascensão.

BOOM! BOOM! BOOM!

Outros raios negros despencaram do céu, cada um mais furioso que o outro. Mas Astracar não vacilou. Ele foi além.

"HAAAAAAAAA! CICLO DIVINO GUARACI : ENCARNAÇÃO!"

Dessa vez, o próprio ar ao redor dele mudou.

Seu corpo exalava um calor que distorcia o espaço, como se ele fosse o próprio horizonte no momento do primeiro raio de sol.

Seus olhos não eram mais só astros brilhantes. Eles projetavam luz dourada, banhando tudo ao redor como um novo sol nascendo sobre um mundo condenado.

Mas o universo se enfureceu ainda mais.

Uma dezena de trovões negros desceu ao mesmo tempo, buscando apagá-lo de vez.

Astracar rugiu.

"HAAAAAAAAA! CICLO DIVINO GUARACI : MANIFESTAÇÃO!"

Sua pele escurece, tornando-se um abismo profundo como a noite sem estrelas.

Seus cabelos… transformaram-se em chamas brancas. Não um fogo comum, mas o próprio fogo primordial, a essência do cosmos ardendo.

Seus olhos se tornaram anãs vermelhas brilhantes.

Cada um carregando dentro de si o peso e a fúria de uma estrela morrendo.

Seu corpo começou a ser marcado por tatuagens douradas vivas, que contavam a história de um mundo que ninguém mais lembrava.

Então o trovão mais forte caiu.

BOOOOOOOOOOOOOOM!

O continente tremeu.

As nuvens se rasgaram.

O próprio céu gritou.

Mas Astracar...

Ele sorriu.

Ele não estava apenas desafiando os céus.

Ele estava tomando seu lugar acima deles.

E então… ele deu o passo final.

"HAAAAAAAAA! CICLO DIVINO GUARACI: ILUMINAÇÃO!"

Uma explosão de luz e poder rasgou o espaço ao seu redor, e sua transformação começou.

Escamas surgiram, mas não eram simples. Eram forjadas a partir de ouro líquido entrelaçado com a vastidão infinita do cosmos. Cada escama refletia galáxias inteiras, cobrindo seus braços, a lateral de seu peito e suas costas. Elas pulsavam como estrelas vivas, irradiando um brilho ancestral que cegava aqueles que ousassem encará-lo diretamente.

Uma cauda brotou de sua lombar, feita da mesma substância estelar. Sua presença era como a de um Dragão cósmica, ondulando no ar e deixando rastros de luz e sombras que formavam constelações passageiras.

Seus cabelos se expandiram em uma cascata flamejante, caindo até os ombros, mesclando tons de branco ardente, dourado solar e negro profundo. Cada fio de cabelo tremulava como se fosse feito de puro fogo divino, oscilando entre o calor da criação e o frio do fim dos tempos.

Seus olhos… eram o próprio conceito de universo. Dentro de suas pupilas, inúmeros sóis giravam em uma dança celestial, enquanto estrelas nasciam e morriam em ciclos intermináveis. Quem ousasse encará-los não veria apenas um ser… mas a ascensão e o colapso de toda a existência, comprimidos em um único olhar.

Tatuagens douradas se expandiram violentamente por sua pele negra, como se relâmpagos ancestrais estivessem gravando sua lenda na própria realidade. Os traços corriam como rios de luz, brilhando com a intensidade de mil auroras, gravando marcas divinas que contavam a história do seu renascimento.

Ele não era mais apenas um guerreiro.

Ele era o Sol vivo.Então Astracar ergueu a mão.

O céu tentou resistir.

Mas… se curvou.

A tempestade rugiu sua última maldição. Um trovão negro colossal, maior que qualquer montanha, desceu dos céus como a lança final do universo.

BOOOOOOOOOM!

O impacto foi catastrófico.

O continente inteiro tremeu.

O chão se rasgou.

O céu se quebrou.

Tudo ficou em silêncio absoluto.

E então…

Uma silhueta emergiu das cinzas.

Astracar caminhou para fora do colapso.

Ileso. Seus olhos queimavam.

Ele deu um passo à frente. O chão desmoronou sob seus pés.

Então ele sorriu.