Capítulo 20

— Naoya, você me deixaria ser sua…

Quando aquelas palavras ecoaram pelos ouvidos de Naoya, seu coração disparou. Aquela era a tão famosa confissão de sentimentos que ele tanto via em mangás shoujo, acontecendo com ele na vida real, uma garota se confessando para ele atrás do prédio da escola. Inúmeras perguntas inundaram seu pensamento, deixando-o agitado e nervoso: como ele responderia? Como ele reagiria? Seu coração batia acelerado e seu rosto corou intensamente.

Ele olhou nos olhos da garota, tentando encontrar as palavras certas para responder. As dúvidas e perguntas inundaram sua mente, deixando-o agitado e nervoso. Como ele deveria reagir? O que deveria dizer? Será que ele gostava dela da mesma forma?

Finalmente, Naoya respirou fundo, tentando acalmar seus pensamentos acelerados. Ele percebeu que o mais importante era ser sincero consigo mesmo e com a garota. Com um sorriso gentil, ele respondeu:

— Eu... eu não esperava por isso, e nem sei como responder a isso.

Algumas horas antes…

No dia seguinte, Lúcio acordou no hospital com uma sensação de desorientação. A luz branca dos corredores parecia ofuscar suas lembranças fragmentadas do que havia acontecido. Ele tentou se lembrar dos momentos antes de desmaiar, mas tudo parecia nebuloso. A voz de Naoya ecoava em sua mente, lembrando-o das preocupações expressas um dia antes.

Enquanto recuperava a consciência, Lúcio percebeu a presença de enfermeiros e médicos ao seu redor, todos olhando para ele com expressões de alívio. Naoya estava ao seu lado, segurando sua mão com ternura.

— Pai, você finalmente acordou. Como está se sentindo? — perguntou Naoya com voz preocupada.

Lúcio piscou algumas vezes, tentando focar sua visão. Ainda um pouco grogue, ele respondeu com um sorriso fraco:

— Eu estou… bem… mas, quem é você?

Aquela pergunta havia pegado Naoya de surpresa, seu pai parecia não se lembrar dele, era como se ele estivesse de frente para um estranho.

O médico que estava cuidando dele se aproximou para explicar:

— Sr. Akagawa, você teve um esgotamento físico severo. Seu corpo simplesmente não aguentou mais o esforço. Por sorte, você foi trazido ao hospital a tempo.

Lúcio assentiu lentamente, tentando processar as informações. Naoya segurou sua mão com mais firmeza, Lúcio ao olhar para o rapaz estranho à sua frente segurando sua mão, assustado ele puxou sua mão olhando com uma expressão de espanto. Naoya percebendo que seu pai não estava brincando sentiu-se preocupado.:

— Pai, eu sou o Naoya, seu filho. Você não se lembra de mim?

As palavras de Naoya tocaram profundamente Lúcio. Ele tentou lembrar quem seria aquele rapaz que insistia em chamá-lo de pai e parecia genuinamente preocupado com ele. Por mais que se esforçasse, não conseguia lembrar-se de nada relacionado a ele. Enquanto estava deitado na cama do hospital, Lúcio refletiu sobre como sua saúde havia chegado a um ponto crítico. Era como se um véu tivesse sido lançado sobre suas memórias recentes, obscurecendo os detalhes que envolviam Naoya.

A voz do médico interrompeu seus pensamentos, trazendo-o de volta à realidade da situação atual. Ele explicou novamente o que havia acontecido e recomendou que Lúcio se mantivesse calmo e evitasse esforços excessivos durante sua recuperação.

Enquanto Naoya permanecia ao seu lado, expressando preocupação e cuidado, Lúcio sentiu uma mistura de gratidão e confusão. A familiaridade do vínculo entre eles era evidente, mas as lembranças específicas de momentos compartilhados ainda pareciam distantes e nebulosas.

Naoya segurou sua mão com firmeza, como se tentasse transmitir conforto e apoio através do toque. Ele olhou nos olhos de Lúcio com uma intensidade silenciosa, como se suas palavras de preocupação e cuidado fossem suficientes para preencher qualquer lacuna deixada pelas lembranças perdidas.

Enquanto Lúcio continuava sua recuperação no hospital, ele sabia que precisava encontrar uma maneira de reconectar-se não apenas fisicamente, mas também emocionalmente com seu filho. A sensação de desconexão o incomodava, mas ao mesmo tempo, a presença constante e o afeto de Naoya o reconfortavam profundamente.

Com o passar dos dias, Lúcio começou a recuperar fragmentos de memórias, pequenos momentos que lentamente começaram a se encaixar. Naoya permaneceu ao seu lado durante todo o processo, paciente e esperançoso de que seu pai se recuperasse completamente, não apenas fisicamente, mas também em termos de sua relação.

À medida que Lúcio se aproximava da alta hospitalar, ele sabia que teria que fazer um esforço consciente para reconstruir os laços com Naoya e nutrir o amor e o apoio que havia entre eles. A experiência de quase perder-se para a exaustão o ensinara a valorizar não apenas sua própria saúde, mas também os relacionamentos preciosos que moldavam sua vida.

E assim, Lúcio decidiu que, daquele momento em diante, dedicaria mais tempo à saúde e ao bem-estar, não apenas para si mesmo, mas também para garantir que pudesse estar presente e plenamente engajado na vida de seu filho, Naoya.

Quando o dia letivo chegou, Naoya levantou-se disposto, seu primeiro dia de aula após todas as confusões que haviam acontecido ao longo do tempo.

Quando o dia letivo chegou, Naoya levantou-se disposto. Era seu primeiro dia de aula após todas as confusões que haviam acontecido ao longo do tempo. Ele sabia que seria difícil se concentrar, mas estava determinado a retomar sua rotina e encontrar um pouco de normalidade em meio ao caos.

Naoya tomou um banho rápido, se vestiu e desceu para tomar café da manhã. Sayuri, que estava sentada à mesa, olhou com um olhar gélido para Naoya. Após tomar seu café, Sayuri se levantou e seguiu direto para a sala, ainda em silêncio.

— Bom dia, Sayuri. Conseguiu dormir bem? — perguntou ele, descendo as escadas.

— Bom dia, Onii-sama. Obrigada por se preocupar comigo, mas não vejo motivos para isso. Por favor, a partir de hoje não fale mais comigo ou comece uma conversa comigo. — respondeu ela friamente.

— Hmm?! O que aconteceu com você, Sayuri? Crise da puberdade? — perguntou ele, assustado com a resposta dela.

Depois de calçar seus sapatos, Sayuri pegou sua mochila e saiu da casa sem olhar para trás.

— Onii-sama, eu espero que você tenha entendido o que eu disse. Não fale comigo, se preocupe ou puxe conversa comigo.

— T-tudo bem.

Ao chegar à escola, Naoya foi recebido por olhares curiosos e sussurros dos colegas. Ele sabia que muitos ainda tinham medo dele, mas decidiu ignorar os comentários e focar nas aulas.

Durante o intervalo, ele se levantou e seguiu caminhando para o corredor. Enquanto Naoya caminhava, sua mente vagueava para longe. Ao virar o corredor, ele deu de cara com uma garota subindo as escadas.

Enquanto Naoya admirava a garota subindo com dificuldade as escadas, ele percebeu que ela havia escorregado e estava prestes a cair. Preocupado com a queda dela, ele correu para tentar segurá-la. Com um movimento rápido, ele conseguiu alcançá-la a tempo, segurando-a pelo braço e evitando que ela caísse.

— Você está bem? — perguntou ele, ajudando-a a se equilibrar.

A garota, um pouco assustada, olhou para Naoya com gratidão nos olhos e sentindo seu coração disparado.

— Sim, obrigada. Eu... sou nova aqui e ainda estou me acostumando com o lugar. — disse ela, tentando manter a calma e ignorar seu coração acelerado.

Naoya sorriu, aliviado por ter conseguido evitar um acidente.

— Sem problema. Eu sou Naoya. Akagawa Naoya. Qual é o seu nome?

— Sou Aiko. Inoue Aiko. Acabei de me transferir para cá. Muito prazer. — respondeu ela, ainda um pouco trêmula.

— Muito prazer, Inoue-san. Você está procurando alguma sala em particular? — perguntou Naoya, tentando ser útil.

— Sim, estou procurando a sala 2-B. — disse Aiko, parecendo um pouco mais confiante agora.

— A sala 2-B é bem aqui ao lado. Vou te acompanhar até lá. — disse Naoya, indicando a sala próxima.

Os dois caminharam juntos até a sala de aula, e Aiko agradeceu novamente antes de entrar. Naoya sentiu-se um pouco melhor, não apenas por ter ajudado Aiko, mas também por ter tido um momento de distração das suas próprias preocupações.

Enquanto Naoya caminhava pelo corredor, Aiko admirava as costas dele enquanto suspirava. O aperto em seu peito era algo que ela não conseguia entender, mas havia um calor que aquecia seu coração. Enquanto ela tentava entender o que sentia, o sinal para o final do horário de almoço soou.

O primeiro dia de aula continuava, e Naoya tentou se concentrar nas lições, apesar das suas preocupações. As aulas passaram de forma lenta, mas ele se esforçou para manter o foco. Quando o último sinal do dia tocou, ele sentiu um misto de alívio e exaustão.

Na saída, ele notou Aiko esperando no portão da escola. Ela parecia um pouco perdida novamente, olhando ao redor com uma expressão de leve confusão. Naoya decidiu se aproximar.

— Inoue-san, esperando por alguém?— perguntou ele, sorrindo gentilmente.

Aiko sorriu de volta, aliviada ao ver um rosto conhecido.

— Akagawa-san! Na verdade, eu estava esperando por você. Eu queria te perguntar se poderíamos ir embora juntos. — respondeu ela, enquanto mantinha a cabeça baixa.

— Não vejo problema nenhum. Mas por que logo comigo? — perguntou ele curioso.

Os dois caminharam juntos, Aiko havia ignorado completamente a pergunta. Naoya percebendo que ela estava evitando responder a pergunta apenas ignorou e seguiram pelo caminho até chegar a um cruzamento. Aiko deu alguns passos para frente e olhou para trás enquanto arrumava uma de seu cabelo atrás da orelha.

— Akagawa-san. Sobre a sua pergunta mais cedo, eu realmente não sei o porque, mas eu queria te agradecer por hoje.— disse Aiko.

— Foi um prazer, Inoue-san. Nos vemos amanhã na escola. — respondeu Naoya.

Aiko se aproximou e deu-lhe um beijo em sua bochecha, Naoya corou enquanto pressionava levemente sua bochecha com a mão.

Na caminhada de volta para casa, Naoya refletiu sobre o dia. Apesar das dificuldades iniciais com Sayuri e os olhares dos colegas, ele sentiu que havia dado um passo importante para retomar sua vida. Conhecer Aiko e ajudá-la foi uma distração bem-vinda, e ele esperava que ela pudesse se tornar uma amiga.

Ao chegar em casa, ele notou que Sayuri estava em seu quarto, com a porta fechada. Decidiu respeitar o desejo dela de não conversar e foi para o seu próprio quarto. Deitou-se na cama, olhando para o teto, sentindo uma mistura de cansaço e esperança. Amanhã seria um novo dia, e ele estava determinado a continuar seguindo em frente, um passo de cada vez.

— Irmão idiota! Ele não pensa mesmo nos sentimentos dos outros, eu realmente não entendo o porquê dele ter ido ao restaurante com aquela garota. — pensou Sayuri enquanto se depreciava.

Sentando na cama, Sayuri segurou seu celular e começou a passear pelo seu álbum de fotos com Naoya.

— Onii-sama, você está se tornando um homem muito rápido. Você me prometeu que estaria sempre comigo. Por que parece que você está se afastando a cada momento?

O silêncio na casa era pesado, carregado de sentimentos não expressos e pensamentos não ditos. Naoya, deitado em sua cama, se perdeu em reflexões sobre o futuro e as responsabilidades que vinham com ele. A solidão do momento era ao mesmo tempo um conforto e uma carga.

No quarto ao lado, Sayuri sentia a distância crescente entre ela e seu irmão. As fotos no celular eram um lembrete constante dos momentos compartilhados, agora ameaçados pela chegada de novas pessoas e novas prioridades na vida de Naoya.

Ela sabia que o crescimento era inevitável, mas não podia evitar a sensação de perda e a saudade do tempo em que tudo parecia mais simples. A noite avançava, trazendo consigo a promessa de um novo dia e a esperança de que, apesar das mudanças, o laço entre eles permanecesse forte.

Naoya continuou deitado, tentando se concentrar em seus pensamentos positivos. Ele sabia que precisava conversar com Sayuri, mas não queria forçá-la. Ela sempre fora sensível e possessiva, e ele entendia seu medo de ser deixada de lado.

No quarto ao lado, Sayuri abraçava seu travesseiro, sentindo um nó na garganta. As lágrimas que ela segurava finalmente começaram a escorrer. Ela não queria se sentir assim, mas a dor da aparente distância entre ela e seu irmão era insuportável.

Ela se lembrou de quando eram crianças, como ele sempre a protegia e cuidava dela.

— Onii-sama, por que você está me deixando? — murmurou para si mesma.

Naoya, sem conseguir dormir, levantou-se da cama e foi até a cozinha. Precisava de um copo de água para clarear as ideias. Ao passar pelo quarto de Sayuri, ele ouviu um leve soluço. Seu coração apertou.

Parando na porta fechada, ele bateu suavemente.

— Sayuri? Posso entrar? — perguntou com uma voz calma e carinhosa.

Sayuri se apressou em enxugar as lágrimas.

— O que você quer, Onii-sama? — respondeu, tentando manter a voz firme.

— Quero conversar. Sei que você está chateada comigo, e quero entender o que está acontecendo. — disse ele, com sinceridade na voz.

Após alguns segundos de silêncio, Naoya havia percebido que não receberia uma resposta e se virou para seguir para seu quarto.

— Eu… acho melhor não… eu não quero sofrer novamente.

Após dizer aquilo o silêncio voltou a imperar. Naoya queria entrar para conversar, mas não podia forçá-la mais do que isso.

— Sayuri, eu nunca quis te magoar. Eu sei que as coisas têm mudado, mas você é e sempre será minha irmãzinha. Nada vai mudar isso. — disse ele.

Após dizer estas palavras, Naoya se virou e seguiu para seu quarto, afastar-se seria a melhor decisão naquele momento.

— Eu realmente te odeio, Onii-sama. Você tem se tornado muito popular e aos poucos está se afastando de mim. Será que ainda terá espaço para mim?

Sayuri olhou para uma foto deles quando criança, as lágrimas voltando aos seus olhos.

— Eu achei que seria a única a estar no coração do Onii-sama.