Capítulo 23

Eu ainda não sei como esses sentimentos nasceram e como eles se desenvolveram até este ponto. Perdida em meus pensamentos, ainda não compreendo o que realmente sinto. Esses sentimentos confusos começaram a aparecer depois que recebi a notícia de que o onii-sama iria se casar. No fundo, eu sabia que isso era inevitável, mas, lá no fundo, eu não queria que isso acontecesse. Eu queria que ele continuasse comigo, sempre ao meu lado, como sempre esteve. Sei que é um desejo egoísta, mas é crime querer ficar perto dele?

Eu ainda me lembro da nossa convivência quando éramos crianças. Para mim, o onii-sama sempre foi um herói, um exemplo a ser seguido, o meu porto seguro. Sempre alegre, sempre dedicado, sempre capaz de me fazer sorrir.

Enquanto folheava nosso álbum rico em memórias, minha mente recordava lembranças do passado, momentos em que éramos só eu e o onii-sama.

Enquanto eu folheava o álbum, cada fotografia parecia contar uma história própria, transportando-me de volta a uma época em que tudo era mais simples. Lembranças de nós dois brincando no parque, das tardes em que ele me ensinava a andar de bicicleta, ou das noites em que ele me lia histórias antes de dormir. Naquelas memórias, havia uma sensação de segurança que eu não encontrava em nenhum outro lugar.

Eu me lembro de como ele sempre estava lá para me proteger, como se o mundo todo fosse um lugar seguro enquanto ele estivesse ao meu lado. Mas agora, ao saber que ele vai se casar, essa sensação de segurança parece estar se distanciando, como se eu estivesse perdendo o porto seguro que sempre conheci.

Eu sei que ele não está indo embora de verdade, que ele ainda será meu irmão, mas não consigo evitar sentir que algo está mudando para sempre. Será que, ao se casar, ele terá menos tempo para mim? Será que nossa relação será a mesma? Esses pensamentos giram em minha mente, fazendo com que esses sentimentos confusos se intensifiquem.

Talvez, ao relembrar esses momentos, eu esteja tentando me agarrar ao passado, a um tempo em que eu não precisava dividir o onii-sama com ninguém. Mas, ao mesmo tempo, eu sei que ele merece ser feliz, que ele merece construir sua própria família. Mesmo assim, uma parte de mim se sente egoísta por querer que ele continue sendo apenas o meu onii-sama, o meu herói, como sempre foi.

10 anos atrás…

Enquanto Sayuri estava deitada em sua cama, algumas batidas foram ouvidas na porta, ela se levantou correndo e foi abri-la. Dando um sorriso largo ao abrir a porta e ver seu irmão segurando um pequeno livro em sua mão.

— Nii-sama. Você vai ler uma história para mim?

— Sim Sayuri. Está na hora de uma pequena historinha.

— Nii-sama, Eu te amo. — disse ela enquanto dava pequenos pulos de alegria.

Enquanto Sayuri voltava a deitar se ajeitando nas cobertas, Naoya se deitou ao seu lado e abriu aquele livro. Sayuri sorriu e abraçou Naoya enquanto.

— Em um reino distante, onde as estrelas tocavam as montanhas e o céu era um oceano de cores, vivia uma jovem chamada Lyra. Ela era conhecida por sua habilidade única de ouvir as canções das estrelas. Todas as noites, Lyra subia ao topo de uma colina, onde se sentava sob o céu estrelado, ouvindo as melodias celestiais que ninguém mais podia ouvir.

Um dia, a canção das estrelas mudou. Em vez das harmonias suaves e serenas, elas cantaram uma melodia triste e urgente, como se estivessem chorando por ajuda. Intrigada e preocupada, Lyra decidiu seguir a música. A melodia a guiou até uma floresta encantada, onde as árvores sussurravam segredos antigos e os rios corriam ao contrário.

No coração da floresta, Lyra encontrou um cristal brilhante, cercado por raízes escuras que sugavam sua luz. Era o Cristal da Aurora, uma gema lendária que mantinha o equilíbrio entre a luz e as trevas no reino. As estrelas estavam tentando avisá-la que o cristal estava perdendo seu brilho, e com ele, a escuridão ameaçava engolir todo o reino.

Sem hesitar, Lyra tocou o cristal, sentindo sua dor. As raízes malignas começaram a envolvê-la, mas, em vez de recuar, ela cantou. A mesma canção que as estrelas haviam lhe ensinado. Sua voz pura e clara ecoou pela floresta, e as raízes começaram a se desfazer, liberando o cristal de sua prisão.

Com o cristal restaurado, a luz voltou a brilhar intensamente, e o equilíbrio foi restaurado. As estrelas, em gratidão, desceram do céu e envolveram Lyra em uma chuva de luzes cintilantes, concedendo-lhe o título de Guardiã da Aurora.

Desde então, Lyra continuou a ouvir as canções das estrelas, protegendo o reino das trevas, sempre pronta para atender ao chamado quando a luz estivesse em perigo. Ela sabia que, enquanto pudesse ouvir as estrelas, a paz reinaria em seu mundo.

Enquanto Sayuri adormecia, Naoya percebeu o quanto ela parecia tranquila e serena. Ele fechou o livro que estava lendo e o colocou suavemente sobre o criado-mudo, mas seus olhos não conseguiam se desviar do rosto calmo de Sayuri. Hipnotizado pela delicadeza de sua expressão adormecida, ele repousou a mão sobre a cabeça dela, começando a acariciar seus cabelos com um gesto suave e protetor.

Foi então que, em meio ao seu sono, Sayuri murmurou com uma voz suave e embriagada de sonolência:

— Onii…sama… eu te amo.

As palavras de Sayuri, embora ditas em meio ao sono, foram suficientes para aquecer o coração de Naoya. Ele sabia que, como irmãos, eles compartilhavam um amor profundo e especial, algo que ele sempre prezaria e protegeria.

Naoya sentiu suas bochechas corarem ao ouvir aquelas palavras, tão puras e sinceras, escapando dos lábios de Sayuri. Sayuri continuou a dormir tranquilamente, talvez sentindo o conforto das palavras do onii-sama. Ele ficou ao lado dela por mais alguns minutos, observando-a com carinho, antes de se levantar com cuidado para não acordá-la.

A promessa de sempre cuidar de sua irmãzinha estava gravada em seu coração, e ele sabia que faria de tudo para garantir que Sayuri sempre se sentisse segura e amada. Antes de sair do quarto, ele olhou para ela uma última vez, com uma mistura de amor e proteção em seus olhos. Mesmo sendo tão jovens, ele sabia que o vínculo que os unia era forte e especial. Fechando a porta silenciosamente, ele sentiu-se feliz por ser o irmão mais velho de Sayuri, determinado a ser o herói dela, hoje e sempre.

Por um breve instante, ele desejou que o tempo parasse, que pudesse continuar ali, ao lado dela, protegendo-a do mundo como sempre fez. Ele percebeu que, embora estivesse feliz por estar começando uma nova fase de sua vida, também temia o que essa mudança significava para Sayuri.

Com uma voz baixa, quase um sussurro, ele disse:

— Eu também te amo, Sayuri… Sempre estarei aqui para você, não importa o que aconteça.

Quando os primeiros raios de sol começaram a penetrar pelas frestas da cortina, Naoya acordou com um sorriso no rosto. Aquele era um dia especial: o dia de folga deles. Mas não era apenas um dia qualquer, era o dia em que ele finalmente encontraria sua amiga. O pensamento o encheu de entusiasmo, e sem perder tempo, ele saltou da cama e correu para o banheiro para tomar um banho refrescante. Enquanto a água caía sobre ele, a expectativa do encontro deixava-o ainda mais animado, e ele mal podia esperar para ver sua amiga e compartilhar aquele dia juntos.

Depois de se vestir rapidamente, Naoya desceu as escadas, sentindo a leveza de uma manhã cheia de possibilidades. O aroma do café da manhã preparado por sua mãe o envolveu assim que ele entrou na cozinha, mas sua mente estava tão focada no encontro que ele mal notou o que estava comendo.

— Parece que alguém está animado hoje — comentou sua mãe, percebendo a pressa e o sorriso constante no rosto dele.

— Sim, vou encontrar minha amiga hoje! — respondeu Naoya, com os olhos brilhando de expectativa.

— Então, aproveite bem o dia, mas não se esqueça de voltar para o jantar — ela disse, rindo.

Naoya estava quase pronto para sair quando Sayuri apareceu na porta, seu rostinho iluminado ao vê-lo. Sem perder tempo, ela correu até ele e o abraçou com força.

— Onii-sama, vamos ao parque de diversões? — perguntou ela, cheia de entusiasmo.

Naoya sorriu, mas balançou a cabeça.

— Não, Sayuri. Eu vou sair com minha amiga agora. Brincaremos depois, prometo.

Ao ouvir isso, Sayuri fez uma expressão emburrada, inflando as bochechas. Determinada a não deixar seu irmão sair, ela segurou firme o braço dele e o puxou contra seu pequeno corpo, impedindo que ele se levantasse.

— Não, você vai brincar com a Sayuri agora. Você não vai sair.

Naoya não pôde deixar de rir da teimosia e do pedido egoísta de sua adorável irmãzinha. Era raro vê-la tão insistente, e aquilo tocou o coração dele de uma maneira inesperada. O sorriso de Sayuri era irresistível, e Naoya, sentindo-se completamente derretido, desistiu de seus planos.

— Está bem, Sayuri, você venceu. Vamos brincar — disse ele, levantando-se e seguindo de volta para a sala, com Sayuri saltitando alegremente ao seu lado.

Ela estava radiante, sabendo que tinha conseguido o que queria. Naquele momento, nada parecia mais importante para Naoya do que ver sua irmã feliz. Eles passaram o resto do dia juntos, rindo e se divertindo, e, embora ele tivesse que adiar seu encontro, a alegria de Sayuri tornou tudo isso mais do que válido.

Naoya e Sayuri passaram o resto da manhã juntos na sala, cercados por brinquedos e jogos que faziam parte de suas aventuras imaginárias. Sayuri liderava as brincadeiras com uma energia contagiante, enquanto Naoya se deixava levar pela criatividade da irmã, fazendo de conta que eram exploradores em busca de um tesouro perdido ou heróis enfrentando monstros invisíveis.

Em certo momento, Sayuri trouxe seu jogo favorito, e Naoya, com paciência e carinho, ajudou-a a montar as peças. A cada vitória ou conquista no jogo, Sayuri aplaudia entusiasmada, e o sorriso de Naoya só crescia ao ver a alegria estampada no rosto dela.

O tempo parecia voar, e antes que percebessem, já era hora do almoço. A mãe deles apareceu na sala, observando os dois brincando com satisfação.

— Vocês estão se divertindo? — ela perguntou, embora soubesse a resposta.

— Sim! Onii-sama e eu estamos vencendo todos os desafios! — respondeu Sayuri, rindo e se abraçando ao irmão.

— Que bom, mas agora é hora de lavar as mãos e vir para a mesa. O almoço está pronto.

Naoya levantou-se, esticando os braços, sentindo a satisfação de ter passado a manhã ao lado da irmã. Ele olhou para Sayuri, que o observava com admiração, e percebeu o quanto aquele tempo juntos era importante para ela.

— Vamos, Sayuri. Hora de comer — disse ele, estendendo a mão para ela.

Sayuri pegou a mão dele com um sorriso largo, e juntos, foram até a cozinha. Enquanto caminhavam, Naoya se deu conta de que, embora tivesse adiado seu encontro com a amiga, o tempo que passou com Sayuri era algo que ele nunca trocaria por nada. Afinal, a alegria de sua irmãzinha e os momentos preciosos que compartilharam naquele dia eram o verdadeiro tesouro que ele buscava.