Capítulo 24

Sayuri acordou com um sorriso no rosto, sentindo a excitação tomar conta de si. O sol brilhava lá fora, e o céu estava claro, refletindo perfeitamente seu humor. Hoje era o início de uma nova jornada: seu primeiro dia no Fundamental I. Ela havia esperado por esse momento com tanta expectativa, imaginando como seriam os novos amigos, as novas matérias e os desafios que viriam pela frente.

Ela vestiu seu uniforme com cuidado, ajeitou seu cabelo e desceu para o café da manhã, onde encontrou sua família já à mesa. Seus olhos brilhavam com entusiasmo, e mal podia esperar para compartilhar sua animação com todos. O que será que o dia lhe reservava?

Ao chegar aos portões da escola, Sayuri se sentiu pequena diante da imensidão daquele novo mundo. Os prédios, os jardins bem cuidados e o movimento dos outros alunos a fizeram se lembrar de que aquele era o local onde ela faria novas amizades e passaria boa parte dos próximos anos. A sensação era de estar vivendo um sonho, algo que ela nunca havia imaginado se tornar realidade.

Enquanto ainda processava toda a grandiosidade ao seu redor, caminhou desorientada pelo pátio e, sem perceber, esbarrou em um garoto. O choque foi inesperado, e seu mapa caiu no chão. Antes que ela pudesse reagir, o garoto se agachou rapidamente para pegar o papel, e naquele momento, seus olhares se encontraram. Sayuri, sentindo o rosto corar, agachou-se também, e, com a voz baixa, desculpou-se.

— Me desculpe. Eu não estava olhando para onde estava indo. Estou perdida, é meu primeiro dia aqui — confessou ela, envergonhada.

O garoto, ao ouvir isso, abriu um sorriso caloroso e soltou uma risadinha, o que fez Sayuri ficar ainda mais tímida. 

— Está tudo bem — respondeu ele, ainda sorrindo. — Eu também sou novato aqui e estava tentando entender o mapa. Me desculpe também.

A risada sincera do garoto fez com que Sayuri relaxasse um pouco. Ela sorriu, agora mais tranquila, enquanto o momento de tensão se desfazia. Eles ficaram ali por um instante, até que o garoto parecia prestes a dizer algo, mas o som dos alto-falantes interrompeu.

"Atenção, todos os estudantes se dirijam para o auditório, a cerimônia de entrada irá começar. Todos se dirijam para o auditório para a cerimônia de entrada."

O garoto hesitou, como se tivesse desistido de dizer o que queria, e simplesmente sorriu novamente, como se aquilo fosse o suficiente.

— Então, tchau. Foi bom te conhecer — disse ele, virando-se para caminhar em direção ao auditório.

Sayuri observou por um instante, ainda processando o que acabara de acontecer. Com um sorriso tímido, seguiu o garoto, pronta para encarar seu primeiro grande evento na escola, o coração batendo forte de empolgação e um pouco de nervosismo.

Sayuri entrou no auditório, seus passos ecoando suavemente pelo chão de madeira. O grande salão estava cheio de alunos, alguns tão nervosos quanto ela, outros conversando animadamente com amigos que haviam trazido de escolas anteriores. O palco à frente estava iluminado, decorado com faixas e flores que celebravam o início do novo ciclo escolar.

Ela olhou ao redor em busca de um lugar para se sentar e, para sua surpresa, avistou o garoto com quem esbarrara momentos antes. Ele estava sentado em uma das fileiras do meio e, ao notar seu olhar, acenou discretamente com a cabeça, oferecendo um sorriso amistoso. Sayuri hesitou por um instante, mas logo sentiu uma onda de coragem. Caminhou até ele e sentou-se na cadeira ao lado.

— Parece que encontramos nossos lugares — comentou ele, brincalhão, tentando aliviar qualquer tensão.

Sayuri deu uma risadinha, ainda tímida, mas sentindo-se cada vez mais à vontade. 

— Sim, acho que o destino decidiu isso por nós — respondeu ela, tentando corresponder ao tom leve.

O auditório logo se silenciou quando a diretora subiu ao palco. Ela era uma mulher de aparência séria, mas com um ar acolhedor, e começou a falar sobre o que os próximos anos trariam. Falou sobre novos desafios, amizades e como a escola seria um lugar de aprendizado e crescimento para todos. Sayuri ouvia atentamente, absorvendo cada palavra, sentindo que aquele discurso era o pontapé inicial de uma aventura que ela mal podia esperar para viver.

Entre uma fala e outra, Sayuri notou o garoto ao seu lado mexendo no mapa novamente, franzindo o cenho como se estivesse tentando entender algo.

— Esse mapa é mesmo confuso — sussurrou ele para Sayuri, sorrindo de lado. — Espero não me perder nos corredores depois disso.

Ela riu baixinho, lembrando-se de como tinha se sentido perdida mais cedo.

— Podemos tentar nos ajudar a achar as salas — sugeriu ela, timidamente, mas com uma pitada de confiança.

O garoto concordou, parecendo aliviado com a ideia.

— Acho que é uma boa. E, por falar nisso, eu sou o Kaito, Hanabe Kaito. — apresentou-se ele, estendendo a mão de forma educada.

Sayuri apertou a mão dele, o toque rápido e gentil.

— Sayuri, Akagawa Sayuri. Prazer em conhecê-lo.

O vínculo que começava a se formar entre eles parecia natural, como se o destino realmente tivesse unido suas jornadas naquele primeiro dia. Enquanto a cerimônia continuava, Sayuri sentiu que, de alguma forma, tudo estava começando da maneira certa, e mal podia esperar pelos novos amigos e aventuras que a aguardavam.

Alguns anos depois, último ano do fundamental I.

— Sayuri, Eu gosto de você. Por favor, se torne minha namorada.

Aquela pergunta tão repentina fizera com que Sayuri parasse, ela não sabia como responder. Aquela era a primeira vez que ela recebia uma confissão.

— Eu…

Algumas horas antes…

O projeto de fazer amigos, algo que parecia tão desafiador para Sayuri no início, havia sido bem-sucedido. Kaito se tornara seu primeiro e mais próximo amigo, e a amizade entre eles cresceu naturalmente. Nos primeiros meses de escola, eles se ajudaram a encontrar as salas, compartilhavam o lanche e passavam os intervalos juntos, rindo e conversando sobre suas aulas, sonhos e até pequenas preocupações.

No entanto, com o passar do tempo, Sayuri começou a notar algo diferente em Kaito. Ele não era mais apenas o amigo animado e atencioso de antes; havia algo a mais no jeito como ele a olhava. Seus olhos, que antes refletiam pura camaradagem, agora pareciam mais profundos, como se ele estivesse tentando entender algo mais em Sayuri. Ele a observava com uma mistura de curiosidade e admiração, como se visse algo especial nela que talvez nem ela mesma percebesse.

Sayuri, por sua vez, sentia uma leve inquietação com esses olhares. Ela se perguntava se era apenas sua imaginação ou se Kaito realmente estava se comportando de forma diferente. Apesar disso, ela tentava não pensar muito no assunto, preferindo focar na alegria que sentia por ter alguém com quem compartilhar suas experiências na escola. Mas, de vez em quando, a maneira como ele a olhava, especialmente nos momentos mais tranquilos, a fazia sentir uma leve confusão no peito.O silêncio que se seguiu à resposta de Sayuri parecia pesar entre eles, como se o mundo ao redor tivesse ficado mais quieto por alguns instantes. Kaito, tentando esconder a leve decepção que sentia, manteve seu sorriso, embora este não carregasse o mesmo brilho de antes. Ele desviou o olhar por um momento, fingindo observar algo distante no pátio.

— Entendo... — respondeu Kaito, com a voz suave, mas com uma calma que escondia seus sentimentos. — Não precisa se preocupar com isso, Akagawa-san. Só foi algo que me veio à mente. Ainda somos amigos, certo?

Sayuri, percebendo a mudança no tom dele, sentiu uma mistura de alívio e desconforto. Ela não queria magoar Kaito, mas ao mesmo tempo, sabia que não estava preparada para lidar com o que ele havia sugerido. O coração dela estava confuso, e a ideia de que sua amizade poderia mudar a deixava nervosa.

— Claro que somos, Hanabe-san — respondeu ela com um sorriso pequeno, mas sincero. — E eu valorizo muito isso.

Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes, ambos imersos em seus próprios pensamentos. Kaito, embora entristecido, não queria forçar nada. Ele sabia que seus sentimentos por Sayuri tinham mudado ao longo do tempo, mas também sabia que o mais importante era preservar a amizade que haviam construído.

— Eu acho que vou pegar algo para beber — disse Kaito de repente, levantando-se rapidamente. — Quer alguma coisa?

— Ah, não, obrigada — respondeu Sayuri, meio surpresa pela mudança repentina.

Ele sorriu de novo, agora de uma forma mais relaxada, e caminhou em direção à cantina, deixando Sayuri sozinha por um momento. Ela ficou ali, sentada, olhando para o chão e refletindo sobre o que acabara de acontecer. A confusão que sentia no coração era algo novo para ela, e pela primeira vez, ela começou a se perguntar como seria sua vida se Kaito fosse mais do que um amigo.

Por enquanto, ela sabia que precisava de tempo. Mas, no fundo, a pergunta de Kaito havia plantado uma semente, e ela sabia que as coisas entre eles poderiam nunca mais ser exatamente como antes.Sayuri, sentindo a necessidade de quebrar a tensão que havia se formado entre eles, respirou fundo antes de falar. O silêncio estava se prolongando mais do que ela gostaria, e algo dentro dela a impulsionou a tomar uma iniciativa inesperada.

— Hanabe-san, nos conhecemos há tanto tempo que… agora eu tenho um pedido para você — disse ela, sua voz suave, mas determinada.

Kaito, que ainda estava processando a conversa anterior, a olhou com um semblante confuso, mas curioso. O que ela poderia querer pedir nesse momento?

— Pode fazer o pedido — respondeu ele, tentando manter a compostura.

Sayuri hesitou por um instante, mas logo sorriu suavemente. Ela sabia que aquilo poderia ser um pequeno passo, mas um que mostraria a ele o quanto ela valorizava a amizade deles e como estava disposta a deixar as coisas evoluírem de forma natural.

— A partir de hoje, eu te permito me chamar pelo meu primeiro nome. Me chame de Sayuri.

Kaito ficou surpreso com a sugestão, seus olhos se arregalando levemente. Ele sabia que no Japão, a mudança para o uso dos primeiros nomes indicava um nível maior de intimidade e proximidade. Era um gesto significativo e inesperado da parte dela. Por um momento, ele ficou sem palavras, mas logo um sorriso apareceu em seu rosto, genuíno e grato.

— S-Sim — respondeu ele, um pouco nervoso, mas claramente feliz. — Então me chame de Kaito.

O silêncio que se seguiu não era mais carregado de tensão, mas sim de uma nova compreensão entre eles. Aquela pequena troca de nomes tinha significado mais do que qualquer palavra que poderiam ter dito naquele momento. Sayuri não estava pronta para responder aos sentimentos de Kaito da forma que ele esperava, mas estava disposta a abrir espaço para que a amizade deles crescesse, e talvez, aos poucos, descobrisse o que realmente sentia.

Ambos sorriram, e a sensação de leveza voltou a pairar no ar. Enquanto Kaito voltava com as bebidas, ele parou na frente de Sayuri e olhou para ela com um olhar sério.

— Sayuri…

Ao ouvir seu nome sendo chamado, Sayuri olha atentamente para ele, com um olhar de curiosidade.

— Eu… a muito tempo tenho pensado nisso… e cheguei a uma conclusão, eu gosto de você.

Aquela repentina confissão fez seu coração acelerar, ela não sabia como reagir e nem como responder aquilo.

—C-Como assim? Eu não consegui entender o que você está falando, como assim você gosta de mim?

— Eu me apaixonei por você, eu te amo Sayuri. Se torne minha namorada.

— Eu…