Quando a manhã surgiu, me levantei esperançosa, crente que aquele dia fosse apenas um sonho.
O que eu faria para falar com ele agora? Como eu salvaria a nossa amizade depois disso?
Se ao menos ele não tivesse se confessado para mim tão de repente... Eu o vejo apenas como um amigo, nada mais que isso.
— Eu te amo. Eu me apaixonei por você, por favor, se torne minha namorada.
— Me desculpe, Kaito, eu não te vejo de forma romântica. Eu te vejo apenas como um amigo, um amigo muito especial.
Aquela resposta havia sido como uma lâmina, perfurando o peito dele. O seu primeiro amor havia sido rejeitado.
— Entendo. Me desculpe por ter sido tão repentino. Eu espero que nossa amizade continue.
— Sempre seremos amigos, Kaito. Afinal, você é muito especial e importante para mim.
— Eu queria ser mais que apenas um amigo… — sussurrou ele em uma voz quase inaudível.
Sayuri deitou-se em sua cama, lembrando-se do ocorrido, um evento que ela queria a todo custo esquecer e seguir em frente com sua amizade com Kaito.
— Eu tive o que toda garota sonha: ter um garoto se confessando para ela. Mas por que me sinto tão mal?
A reação dele me fez sentir como se eu fosse um monstro.
Enquanto Sayuri se martirizava, sua cabeça estava afundada na escrivaninha. Ela não percebeu a chegada de seu irmão. Ele se aproximou e encostou a mão sobre o ombro dela. Com o susto, Sayuri levantou a cabeça, encontrando o olhar preocupado de seu irmão.
— Onii-sama, o que está fazendo no meu quarto?
— Bati na porta, mas você não atendeu. Fiquei preocupado e entrei. Você chegou ontem e se isolou. Não desceu para jantar nem nada. Aconteceu alguma coisa ontem que te deixou assim?
Aquela pergunta fez com que Sayuri olhasse para o irmão com lágrimas nos olhos. Ela então agarrou a camisa dele em silêncio. Naoya, sem entender o que estava acontecendo e sem querer pressionar a irmã por respostas, apenas repousou a mão sobre sua cabeça, acariciando-a levemente.
— Está tudo bem, Sayuri. Se não quiser falar agora, não precisa, mas saiba que eu estou aqui para o que precisar.
— Obrigado, onii-sama.
Com aquelas palavras vindas do seu irmão, ela conseguiu se sentir mais aliviada, sentindo o aperto em seu peito se transformar apenas em mais um motivo para refletir melhor sobre o que havia acontecido.
Os flashes do ocorrido ainda a seguiam, mas ela começou a pensar mais claramente nos seus sentimentos e em tudo que estava sentindo. Aquela confissão repentina a havia impedido de dar uma resposta sincera e concreta.
Quando o dia amanheceu, Sayuri se levantou ainda um pouco reclusa sobre como olharia para Kaito ou como agiria depois daquele evento.
Ao chegar aos corredores da escola e ir direto ao seu armário de sapatos, ela encontrou Kaito encostado no armário, segurando uma rosa enquanto olhava para o chão. Ao notar a presença de Sayuri, ele sorriu. Um sorriso sincero.
— Bom dia, Akagawa-san.
Aquele cumprimento tão formal havia feito Sayuri se assustar. Kaito sempre a chamava pelo primeiro nome, de forma descontraída. Agora, esse distanciamento parecia criar uma barreira entre eles, uma barreira que Sayuri temia que nunca fosse quebrada.
— Kaito... você não precisa ser tão formal comigo… — ela murmurou, sem conseguir esconder a tristeza em sua voz.
Kaito olhou para ela com um sorriso forçado. — Desculpe, Akagawa-san, acho que preciso de um tempo para... me ajustar às coisas. Mas ainda somos amigos, certo?
Sayuri sentiu um aperto no peito. O peso de suas próprias palavras naquele final de tarde anterior ainda pairava sobre ela, mas forçou um sorriso, tentando manter a compostura.
— Claro... sempre seremos amigos.
No entanto, a formalidade e a distância nas palavras de Kaito faziam Sayuri se sentir culpada. Ela se perguntava se algum dia poderiam voltar ao que eram antes.
Quando Kaito abriu a boca para dizer algo, o som estridente do sinal da escola ecoou pelos corredores, cortando o momento. Ele hesitou por um breve segundo, encarando o chão, mas logo em seguida se virou e começou a caminhar rapidamente, sem olhar para trás.
Sayuri permaneceu imóvel diante de seu armário de sapatos, incapaz de processar o que acabara de acontecer. Aquele pequeno gesto, de não esperar por ela como costumava fazer, doeu mais do que ela esperava. O corredor parecia vazio, exceto pela pressão que agora pesava sobre seus ombros.
Ela queria chamá-lo, queria correr atrás dele, mas as palavras não saíam. Era como se estivesse paralisada, presa entre a culpa e a incerteza, enquanto observava Kaito se afastar cada vez mais. Um turbilhão de emoções a envolvia, e ela sabia que, a partir daquele momento, nada seria como antes.
Enquanto Kaito desaparecia na multidão de estudantes, Sayuri se deu conta de que algo essencial havia mudado entre eles. O vazio que ficou no ar era sufocante, como se o eco do sinal da escola fosse o único som que restara, abafando qualquer tentativa de resolução. Ela fechou o armário de sapatos lentamente, seus movimentos mecânicos, ainda processando o olhar distante de Kaito.
Durante o resto do dia, Sayuri tentou se concentrar nas aulas, mas sua mente vagava de volta àquela despedida silenciosa no corredor. Ela sentia um nó no estômago, questionando o que poderia ter sido dito se o sinal não tivesse interrompido. Será que ele ainda queria tentar discutir seus sentimentos? Ou talvez estivesse apenas buscando algum tipo de consolo?
No intervalo, ela o procurou com o olhar, mas Kaito estava sempre rodeado por outros amigos, mantendo uma distância clara. Ele sorria e conversava com os outros, mas Sayuri sabia que aquele sorriso não era o mesmo de antes. A conexão entre eles parecia frágil, como um fio prestes a se romper.
Mais tarde, quando a escola estava quase no fim, Sayuri decidiu que não poderia mais evitar. Precisava falar com Kaito, esclarecer as coisas e, quem sabe, encontrar uma maneira de salvar a amizade que tanto significava para ela. Seu coração batia acelerado quando o avistou, sozinho, no pátio da escola, debaixo de uma árvore onde eles costumavam conversar.
Ela se aproximou devagar, suas palavras presas na garganta, mas determinada a quebrar o silêncio.
— Kaito…
Sua voz saiu baixa, hesitante.
Ele a olhou, os olhos calmos, mas com um leve brilho de cansaço.
— Oi, Akagawa-san.
O formalismo ainda estava lá, machucando mais do que qualquer coisa.
Sayuri respirou fundo, tentando controlar a ansiedade.
— Podemos conversar? Eu… não quero que fique assim entre nós.
Kaito olhou para o céu por um momento, como se estivesse buscando coragem, antes de assentir.
— Claro. Você não entendeu alguma coisa da explicação de hoje?
O silêncio entre eles era pesado, mas finalmente Sayuri sentiu que estavam prestes a confrontar as emoções que os separavam. Era hora de enfrentar o que realmente estava em jogo.
— Não é sobre isso. O que eu quero falar é que…
— Hanabe Kaito está aí?
Aquela pergunta tão repentina fez com que Sayuri parasse o que estava prestes a dizer e olhasse em direção à voz. Uma garota, que parecia uma modelo de tão bela, estava parada na porta, procurando por Kaito. Ele então se levantou, olhou para Sayuri por alguns segundos e foi em direção à porta.
Novamente, ela viu seu amigo se afastar, sem que ela pudesse dizer nada. O que estaria acontecendo com ela? Por que estava hesitando tanto em falar com ele sobre o que realmente sentia?
Essas perguntas, ainda sem resposta, vagueavam pela sua mente, fazendo com que sentisse um aperto no peito. Seu primeiro amigo estava se afastando aos poucos, e ela não conseguia achar uma forma sincera de dizer seus reais sentimentos sem feri-lo novamente.
Sayuri permaneceu imóvel, observando Kaito se afastar em direção à porta. A garota, com sua beleza estonteante, conversava com ele animadamente, sem notar o turbilhão de emoções que Sayuri carregava naquele momento. Mais uma vez, ela sentiu o silêncio a sufocar, suas palavras ficando presas, como se o universo estivesse conspirando para que ela nunca tivesse a chance de expressar o que realmente sentia.
"Por que é tão difícil?", pensou enquanto apertava o punho, sentindo um leve tremor percorrer seu corpo. O medo de perder Kaito, mesmo que fosse como amigo, era esmagador. Cada vez que ela tentava se abrir, algo acontecia, e o momento escapava de suas mãos como areia. Sayuri sabia que, se não enfrentasse seus sentimentos logo, poderia perder a amizade deles para sempre.
Enquanto ela olhava para Kaito interagindo com a outra garota, seu coração se apertava ainda mais. Não era apenas sobre a amizade que temia perder. Havia algo mais profundo, algo que ela vinha negando a si mesma desde que Kaito se confessou. Talvez fosse o medo de machucá-lo, talvez fosse o medo de admitir o que realmente sentia.
— Kaito… — Sayuri sussurrou, mas ele já estava longe, mergulhado em outra conversa.
A tarde foi passando, e o peso das emoções não saía de sua mente. Quando a aula terminou, Sayuri saiu da escola com passos lentos, o olhar perdido. Cada vez mais, ela se sentia presa em seus próprios sentimentos, incapaz de encontrar uma solução. Ela desejava desesperadamente que tudo voltasse a ser como antes, que pudesse simplesmente ser amiga de Kaito, sem toda essa confusão.
Mas, no fundo, Sayuri sabia que algo havia mudado. Talvez fosse o momento de admitir que, assim como Kaito, ela também estava mudando.