— Você realmente tem certeza de que não me quer?
Aquela pergunta fez Naoya parar por um momento e pensar. A situação e a posição em que se encontravam eram realmente constrangedoras. Kaori estava sobre ele, olhando fixamente em seus olhos, suas bochechas coradas de vergonha. Para qualquer um que visse aquela cena, pareceria algo completamente obsceno.
— Eu…
— Onii-sama, o que está fazendo?
Algumas horas antes…
Quando um novo dia amanheceu, Naoya levantou-se ainda pensativo sobre sua última conversa com Naomi. A pressão que ela fazia para que ele cumprisse sua parte da promessa começava a deixá-lo desconfortável.
Ele refletia sobre como resolver o grande mal-entendido que havia criado e se perguntava se Naomi já sabia sobre o "aviso de casamento". Se ela sabia, parecia estar ignorando esse fato, focando apenas em querer que a promessa do passado fosse cumprida.
O que não parecia justo naquela situação era que a conversa com Mayumi ainda não tinha avançado, pois ela havia viajado para Nova York para visitar seus avós, que estavam doentes. Com esses acontecimentos, Naoya se perguntava se conseguiria mesmo consertar o mal-entendido que havia criado e se poderia realmente decidir qual caminho iria seguir.
— A Mayumi é doce, gentil, esforçada, dedicada e sempre está se empenhando para conseguir o que quer. Eu fui um idiota tratando-a mal daquela forma, quando nos conhecemos pela primeira vez. Eu realmente assumo isso, mas naquela época eu pensava em cancelar o casamento. Nem a conhecia muito bem até começarmos a conviver como um casal, e foi então que aprendi várias coisas sobre ela e pude conhecer melhor quem seria a minha futura esposa. O que será que eu deveria fazer? Devo seguir esse caminho e continuar com ela até o fim ou aceitar a pressão de Naomi e cumprir a promessa?
— Onii-sama, eu acho que você deveria continuar e se casar com a Mayumi-chan.
Aquelas palavras atingiram Naoya em cheio. Ele se virou rapidamente e notou Sayuri entrando no quarto com um cesto de roupas dobradas. O susto o fez perder o equilíbrio e cair da cadeira. Atordoado, Naoya levantou-se e sentou-se na cama.
— Sayuri, você deveria bater na porta antes de entrar. Há quanto tempo está aqui?
— Mas eu bati, Onii-sama. Você estava tão concentrado olhando para a parede que não me ouviu e… estou aqui desde que começou a elogiar a Mayumi-chan.
— Você não deveria estar ouvindo isso.
— Onii-sama, eu sinceramente acho que você deveria continuar com a Mayumi-chan. Ela parece ser uma boa pretendente e também parece cozinhar muito bem. Aliás, tem uma visita para você, uma tal de Inoue Kaori.
A última frase de Sayuri fez a curiosidade de Naoya aumentar. Ele nunca havia trazido Kaori para sua casa, e como ela sabia onde ele morava era algo questionável. No entanto, quando Kaori apareceu na porta do quarto, ele desistiu de fazer perguntas.
Quando Kaori entrou no quarto, seu olhar era firme, mas sereno. Ela sorriu de leve ao ver Naoya, mas havia uma tensão no ar que ele não conseguia ignorar.
— Naoya, espero que não seja um mau momento — disse Kaori, com a voz baixa. — Eu vim conversar sobre algo importante.
Naoya se levantou lentamente da cama, ainda um pouco atordoado pela confusão de sentimentos e situações. Ele olhou para Sayuri, que ainda estava ali, com os olhos fixos em Kaori, como se tentasse entender o que estava acontecendo.
— Sayuri, por favor, pode nos dar um momento? — Naoya pediu, tentando ser gentil, mas firme.
Sayuri hesitou por um instante, parecendo relutante em deixar os dois sozinhos. Mas ela assentiu devagar e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si, embora seus passos indicassem que ela parou logo do outro lado, talvez ainda escutando a conversa.
Kaori deu um passo à frente, mais próxima de Naoya.
— Eu queria falar sobre... nós dois — começou ela, sua voz hesitante, mas determinada. — Sei que não falei sobre isso antes, mas acho que não posso mais ignorar.
Naoya franziu a testa, tentando manter a calma. Ele sabia que a amizade com Kaori havia se tornado mais complicada recentemente, especialmente com todos os sentimentos envolvidos.
— Kaori, eu... — Ele começou, mas ela o interrompeu.
— Não, por favor, só me escute — ela disse, seus olhos brilhando com emoção. — Eu sei que você está noivo da Mayumi e que está em uma situação difícil, mas eu preciso ser honesta com você. Eu... sempre gostei de você, Naoya. E esses sentimentos cresceram com o tempo, desde que éramos amigos. Mas agora... não sei mais o que fazer com isso.
Naoya ficou em silêncio por um momento. Aquilo o pegou desprevenido, embora ele suspeitasse que Kaori sentia algo por ele. A maneira como ela o olhava, como se esperasse uma resposta que ele não sabia se podia dar, fez o peso em seus ombros aumentar.
— Kaori... eu não sabia que se sentia assim — ele disse, lentamente. — Mas, eu não posso responder aos seus sentimentos, meus sentimentos estão uma bagunça, mas eu realmente agradeço por isso.
Kaori olhou para ele, suas mãos tremendo um pouco.
— Eu sei, Naoya. Eu sei que estou sendo egoísta ao te dizer isso agora, mas eu não posso mais esconder. Só queria que você soubesse... antes de qualquer coisa.
Enquanto estava sentado na cama, Kaori se aproximou de forma inesperada, o colocando em uma situação desconfortável. Ela parecia tensa, e a proximidade entre eles tornava a situação ainda mais intensa. Quando ele tentou se afastar ele se desequilibrou e caiu na cama, Kaori subiu em cima da cama e ficou por cima dele o impedindo de se afastar.
— Você realmente tem certeza que não me quer? — Kaori perguntou, com a voz baixa e trêmula, mantendo os olhos fixos nos dele. A cena era desconcertante, especialmente pela posição em que se encontravam.
Naoya hesitou. Ele não queria ferir Kaori, mas também não podia mentir para si mesmo ou para ela. Antes que pudesse formular uma resposta, uma voz familiar interrompeu.
— Onii-sama, o que está fazendo? — Sayuri entrou no quarto, olhando para a cena com uma expressão de surpresa e confusão.
Naoya, em pânico, tentou se levantar, mas a posição complicada com Kaori dificultou as coisas, tornando tudo ainda mais embaraçoso. Ele rapidamente olhou para Sayuri, tentando explicar a situação, mas as palavras não saíam facilmente.
— Sayuri, não é o que parece! — ele disse, a voz apressada e nervosa.
Kaori, por sua vez, olhou para Sayuri e depois para Naoya, percebendo que a situação estava saindo de controle. Ela se afastou rapidamente, com o rosto ainda mais corado.
— Eu... Eu preciso ir — disse Kaori, apressada, saindo sem olhar para trás.
O silêncio que se seguiu foi constrangedor. Sayuri cruzou os braços, olhando para Naoya com uma expressão inquisitiva.
— Onii-sama... — começou ela, claramente esperando uma explicação.
Naoya suspirou, passando a mão pelos cabelos e tentando se acalmar. Ele sabia que precisava esclarecer tudo, mas nem sabia por onde começar.
— Sayuri, eu sei que isso parece estranho, mas eu estava apenas tentando... — Ele parou, sentindo o peso de todas as complicações de sua vida ao mesmo tempo. "Eu estava tentando resolver uma confusão", pensou, mas sabia que havia muito mais por trás de tudo aquilo.
Sayuri continuou olhando para ele, esperando pacientemente por uma explicação, e Naoya sentiu o peso do momento. Sabia que precisava ser sincero, especialmente porque, mesmo sem querer, ela estava sendo arrastada para seus conflitos internos.
Enquanto Sayuri aguardava por uma resposta, Naoya tentava encontrar palavras para descrever tudo aquilo. Mesmo se explicasse, ele se perguntava qual seria a reação dela ao saber de todos os detalhes. Após chegar a uma conclusão, ele decidiu não contar para sua irmã e, mais uma vez, mentir. Já estava saturado de tantas mentiras, e, mesmo que quisesse contar a verdade, não conseguia encontrar as palavras certas.
— Me desculpe, Sayuri. Mas há coisas na vida do seu irmão que você não deve saber em detalhes, e nem deve se intrometer.
Ao ouvir essas palavras, Sayuri, que estava prestes a abrir a boca, fechou-a novamente. Ela suspirou fundo e abaixou a cabeça, cedendo à tristeza que lentamente a invadia.
— Onii-sama… você… realmente só me vê como sua pequena irmãzinha?
Aquela pergunta repentina fez com que Naoya olhasse para sua irmã, confuso. Ela estava de cabeça baixa e em silêncio, o que trouxe um desconfortável silêncio ao quarto. Sayuri não tomava a iniciativa de quebrar o silêncio, e Naoya apenas a observava, incrédulo com o que acabara de ouvir, sem conseguir processar o que estava acontecendo.
— O que você quer dizer com isso?
A pergunta ecoou pelo quarto, mas logo foi sufocada pelo silêncio. Depois de alguns momentos em que permaneceu de cabeça baixa, Sayuri finalmente mexeu os lábios, murmurando palavras quase inaudíveis, o que deixou Naoya confuso sobre o que ela estava tentando dizer.
Ele fez gesto de se pôr de pé, mas seu corpo não reagia e suas pernas não se firmavam no chão. Ele não conseguia entender por que suas pernas tremiam tanto, aquilo era apenas seu nervosismo impedindo que ele tomasse alguma atitude? Ou ele só ainda não conseguia compreender o que estava acontecendo naquele momento. Inúmeras perguntas invadiam sua mente e faziam com que ele só prolongasse seu sofrimento e aumentasse seu martírio, tornando impossível chegar a uma decisão concreta.