Capítulo 29

Quando a neve caía suavemente, forrando o chão, Naoya estava sentado em um banco no parque, olhando fixamente para o nada. Enquanto verificava algumas mensagens em seu celular, de repente, sentiu uma mão cobrindo lentamente seus olhos.

Naoya deu um leve sobressalto, surpreso pelo toque inesperado que cobria seus olhos. Uma risada suave e familiar escapou de trás dele, e ele logo reconheceu quem era.

- Quem sou eu?

a voz doce perguntou, tentando manter o mistério. Naoya sorriu de leve, um sorriso que Naomi não podia ver, mas sentiu pela forma como ele relaxou.

- Naomi, sei que é você.

Ele respondeu com um tom calmo, mas divertido. Ela tirou a mão, revelando seu sorriso travesso enquanto rodeava o banco para se sentar ao lado dele.

- Você me conhece bem demais, Nao-kun.

Disse ela enquanto balançava as pernas enquanto olhava a neve ao redor.

- Mas o que faz aqui sozinho, no frio?

Perguntou ela lançando uma pergunta acompanhado de um olhar sério. Naoya desviou o olhar para o chão coberto de neve, hesitando.

- Apenas... pensei em caminhar um pouco e acabei vindo parar aqui.

Ela se acomodou no banco ao lado dele, puxando o casaco para se proteger do frio e olhando ao redor, apreciando o cenário.

- Então, você está fugindo de algo, Nao-kun?

Perguntou Naomi, com uma pitada de curiosidade em seu tom. Ele soltou uma risada leve, mas seus olhos permaneceram distantes.

- Não exatamente. Só precisava de um tempo... para pensar.

Naomi inclinou a cabeça, observando-o atentamente. - - Pensar em quê? Deve ser algo importante para você enfrentar o frio só para ficar aqui.

Naoya ficou em silêncio por um momento, absorvendo o toque suave de Naomi em sua mão, enquanto ela oferecia um sorriso gentil, como quem dissesse "está tudo bem". Ele deu um suspiro e desviou o olhar, tentando disfarçar seus próprios sentimentos.

- Você cresceu, Nao-kun. Você costumava ser um bebê chorão e vivia atrás de mim. Lembra do ginasial? Você parecia até que não queria que nenhum garoto se aproximasse de mim.

Ele sorriu ao ouvir isso, a lembrança aquecendo o clima frio ao redor.

- Naomi, você ainda joga a culpa em mim por tudo, como sempre. Na verdade, era você quem me afastava de outras garotas, e nunca me explicou o porquê.

Ela riu, sem responder diretamente, mas com uma expressão travessa. E então, como se quisesse revidar, ela retrucou.

- Se eu te dissesse... você... - Ela pausou, envergonhada.

- Você continua fofa, sempre tentando esconder seus sentimentos - Naoya respondeu, rindo suavemente.

Ao ouvir isso, Naomi corou e virou o rosto, incapaz de olhar para ele diretamente. Com carinho, Naoya repousou a mão sobre sua cabeça e afagou seus cabelos. Naomi afastou a mão dele, inquieta.

- Nao-kun, assim não vale! É injusto. Era eu que deveria fazer seu coração acelerar, não o contrário! Eu vou corrigir isso.

Ele riu suavemente, divertido com a reação dela.

- Haha, e o que você vai f...

Antes que pudesse terminar a frase, Naomi o surpreendeu com um beijo repentino. Ela se inclinou e sentou-se em seu colo, aprofundando o beijo, enquanto o coração de Naoya batia cada vez mais forte. A neve continuava a cair ao redor deles, envolvendo-os em um manto de silêncio e cumplicidade.

2 horas antes na casa Akagawa...

Mayumi se movimentava pela sala da casa Akagawa, inquieta, enquanto olhava a neve começar a cair pela janela. Seus pensamentos, que tentava organizar sem sucesso, sempre voltavam para Naoya. Sentia uma mistura de nostalgia e ansiedade, lembrando-se de todos os momentos que haviam compartilhado. Inspirou fundo, murmurando para si mesma, como se as palavras pudessem lhe dar a coragem que precisava:

- Hoje eu vou falar com ele... ou pelo menos tentar.

Determinação brilhava em seu olhar. Ela sabia que aquele poderia ser o momento perfeito para convidá-lo ao parque, onde a neve criava um ambiente quase mágico. Vestiu um casaco grosso, enrolou um cachecol ao redor do pescoço e, ao se olhar no espelho uma última vez, sussurrou com um sorriso tímido:

- Vamos, Mayumi. Se não for agora, talvez nunca seja.

Ao segurar a maçaneta da porta, ela foi interrompida pela voz de Sayuri, que descia as escadas.

- Mayu-chan? O que você está fazendo aqui?

Mayumi virou-se, um pouco surpresa, tentando esconder sua intenção, mas logo percebeu que não precisava mentir.

- Ah, Sayuri. Eu vim... bem, eu vim atrás do seu irmão. Queria vê-lo, mas parece que ele saiu, então já estava de saída.

Sayuri franziu o cenho por um momento, mas logo um sorriso compreensivo surgiu em seu rosto.

- O onii-sama? Ele saiu para dar uma volta no parque aqui perto. Se você for agora, pode acabar surpreendendo ele.

Tomada pelo incentivo de Sayuri, Mayumi sentiu seu coração acelerar. Abriu a porta, e uma brisa gelada tocou seu rosto, fazendo-a hesitar. Mas ela respirou fundo e decidiu que seguiria em frente. Cada passo na calçada coberta de neve trazia à tona lembranças de momentos especiais ao lado de Naoya. Seu sorriso se ampliava a cada memória, enquanto imaginava a reação dele ao ser surpreendido.

Ela sabia que, dessa vez, não deixaria seus sentimentos guardados.

Mayumi chegou ao parque, seus passos lentos sobre a neve, enquanto seus pensamentos fervilhavam com tudo o que desejava dizer a Naoya. O coração dela batia rápido, ansioso, mas determinado. Aproximou-se cautelosamente, tentando avistá-lo entre as árvores e, quando finalmente o encontrou, a imagem diante de seus olhos a fez parar imediatamente.

Naoya estava ali, sentado em um banco, mas não estava sozinho. Naomi estava ao seu lado, segurando sua mão com um carinho que Mayumi não tinha visto antes. Ela tentou desviar o olhar, mas foi incapaz, sentindo o peito apertar quando viu Naomi se inclinar e beijá-lo.

Mayumi prendeu a respiração, seus pensamentos se embaralhando enquanto observava a cena. Ela se encolheu instintivamente atrás de uma árvore próxima, tentando se esconder, enquanto a realidade começava a pesar sobre ela. A imagem dos dois, tão próximos e envolvidos, a deixava em uma mistura de surpresa, dor e uma sensação de perda que ela não esperava.

Por alguns segundos, ela ficou parada ali, com a neve caindo suavemente ao redor, congelada pelo momento e sem saber como reagir. Tudo que queria dizer para ele ficou preso em sua garganta, e um vazio silencioso tomou conta dela. Em meio ao frio, ela sentiu as lágrimas ameaçarem seus olhos, mas se forçou a conter qualquer som.

Ela recuou alguns passos, olhando uma última vez para Naoya e Naomi, ainda envoltos em seu próprio mundo. Respirou fundo, virando-se lentamente e caminhando para longe, sem fazer barulho. O caminho de volta parecia mais longo e mais frio, mas Mayumi sabia que era o único que podia seguir.

Incapaz de dar mais nenhum passo ela se sentou em um banco afastado, suas lágrimas que antes ameaçavam começaram a sair contra sua vontade. A dor em seu peito estava tão grande que parecia que iria rasgar seu peito, aquela era a pior cena que ela poderia ver e a pior coisa que Naoya podia fazer. Ela abaixou sua cabeça e tentou afogar sua tristeza tentando esquecer aquela cena que se repetia em loop na sua mente.

De volta ao parque...Naoya afastou levemente Naomi, tentando recuperar o fôlego enquanto seus olhos buscavam os dela. Ele sentia o peso do momento e a intensidade do que havia acontecido. Naomi ainda estava em seu colo, ofegante, com as bochechas coradas, e olhou para ele com uma expressão de vulnerabilidade.

- Naomi, por que... fez isso de repente? - ele perguntou, a voz um pouco hesitante, mas com um misto de surpresa e confusão.

Ela desviou o olhar por um momento, tentando encontrar as palavras certas, mas finalmente decidiu ser sincera.

- Eu... Eu não queria ser a única a ter o coração acelerado - respondeu em um sussurro. - E este... este foi meu primeiro beijo... O mais importante, porque foi com a pessoa que eu amo.

As palavras de Naomi fizeram o coração de Naoya disparar novamente. Ele podia ver a sinceridade nos olhos dela, mas ao mesmo tempo, um leve peso começou a se instalar em seu peito. Ele lembrou-se, com um aperto no coração, que aquele não havia sido seu primeiro beijo - seu primeiro beijo havia sido com Mayumi.

Ao se lembrar de Mayumi, Naoya percebeu algo que o preocupou ainda mais: ela não havia aparecido em sua casa ultimamente e nem respondido suas mensagens. Ele sentiu um misto de remorso e culpa, imaginando se ela poderia ter percebido algo sobre seus sentimentos confusos ou até mesmo sobre Naomi.

Acariciando levemente o rosto de Naomi, ele tentou manter o foco no momento, mas sua mente se dividia entre os sentimentos novos por Naomi e o vazio crescente de não saber o que estava acontecendo com Mayumi.

Naoya ficou em silêncio por um momento, os olhos ainda fixos nos de Naomi, que o observava com uma mistura de expectativa e ansiedade. Ele sabia que Naomi esperava alguma resposta, uma confirmação de que o que acabara de acontecer significava algo para ele. Mas, naquele instante, o rosto de Mayumi surgiu em sua mente, e o remorso o deixou ainda mais confuso.

Ele suspirou, tentando organizar os pensamentos e escolher as palavras certas.

- Naomi... - ele começou, hesitante. - Eu... eu não quero que você se machuque, sabe? Eu realmente me importo com você, e... isso que você acabou de dizer significa muito para mim.

Naomi sorriu timidamente, seu olhar cheio de esperança, enquanto ele continuava.

- Mas preciso ser honesto. Eu... eu ainda estou tentando entender meus próprios sentimentos. Você sempre esteve ao meu lado, e eu também... também tenho uma ligação muito forte com você.

Naomi assentiu, parecendo compreensiva, mas Naoya podia sentir a ansiedade dela enquanto aguardava por algo mais.

Ele desviou o olhar, sentindo o peso da situação. "E Mayumi?", pensou. Algo dentro dele o incomodava, e a ausência dela só intensificava esse sentimento. Sabia que, se tentasse seguir em frente sem esclarecer as coisas com ela, não conseguiria dar o próximo passo com Naomi.

- Naomi... eu preciso de um tempo - ele disse, tentando soar firme, mas sem magoá-la. - Não é justo com você... nem comigo, eu acho.

Naomi mordeu o lábio, um tanto desapontada, mas assentiu com um sorriso forçado.

- Eu entendo, Nao-kun. Só... não demore, por favor - respondeu, tentando esconder a tristeza em sua voz.

Ele a ajudou a se levantar, e ambos se afastaram, cada um sentindo a dor e a incerteza do momento.Ao chegar em casa e sentar-se no degrau para tirar os sapatos, Naoya foi recebido por Sayuri, que passava em direção às escadas.

- Onii-sama, bem-vindo de volta.

- Sayuri, estou de volta.

- Como foi?

Aquela pergunta deixou Naoya confuso sobre o que ela estava falando.

- Foi o quê? - perguntou ele, confuso.

- O encontro com a Mayu-chan.

Essas palavras fizeram com que Naoya arregalasse os olhos, olhando assustado para Sayuri.

- Encontro com a Mayumi? Ela já chegou dos Estados Unidos?

A pergunta dele deixou Sayuri confusa, pois parecia que Naoya não sabia que Mayumi havia ido atrás dele ou que ele estava escondendo o que realmente havia acontecido.

- Não seja bobo, Onii-sama. Você deve estar fazendo isso para não contar o que aconteceu entre você e ela no parque, não é? Ela foi toda feliz para o parque, parecia que algo interessante ia acontecer.

Naoya sentiu seu coração gelar, e uma preocupação tomou conta de seus pensamentos. Se Mayumi realmente tinha ido ao parque, ela poderia ter visto Naomi beijando-o, o que seria um grande problema para ele explicar - se conseguisse encontrar as palavras certas para isso.