O vento soprava em silêncio mórbido no Vale dos Ossos. Midoki caminhava por entre crânios e costelas calcificadas, que estalavam sob suas botas como se ainda carregassem dor. Cada passo era um murmúrio do passado, um eco do que foi destruído.
A cena se deslocava ao futuro até os jardins floridos, onde Aurelius saboreava calmamente um chá escuro em sua mesa. Seus olhos, semicerrados pela contemplação, fitavam o líquido quente enquanto dizia:
- Aurelius: "Bem... mesmo que Lúcifer contemple milhões de futuros distintos... nenhum deles conterá a interferência do Midoki..."
Andras, sentada na cadeira à frente, levantou os olhos. Sua expressão carregava uma inquietação discreta, um peso não verbalizado.
De volta ao vale, Midoki se aproximava de uma rocha colossal. No topo, uma figura imponente repousava, um cavaleiro de armadura branca como marfim envelhecido. Ele estava de costas, imóvel como uma estátua esquecida pelo tempo.
Midoki saltou. Aterrissou suavemente sobre a superfície da rocha, os olhos fixos nas costas do cavaleiro.
- Midoki: "O que aconteceu aqui...?" - Perguntou em voz baixa, mas firme.
O cavaleiro virou-se lentamente. Seus olhos flamejavam sob o elmo.
- Agravaine: "Você..." - Murmurou.
Sem aviso, avançou. Um rugido irrompeu enquanto ativava sua habilidade: Aura da Morte.
- Agravaine: "Ainda está vivo!?" - Gritou, cravando sua espada no peito de Midoki.
O golpe foi profundo. A lâmina atravessou músculos e ossos, e por um instante, o silêncio pairou. Mas então, uma luz tênue e poderosa brotou do corpo de Midoki, era a Lei Originalismo - Criação. A energia restauradora restaurava célula por célula, regenerando-o mesmo com a espada ainda cravada.
O cavaleiro saltou para trás, olhos arregalados, e disse entre dentes:
- Agravaine: "Então... é isso... você não pode morrer?"
Removendo o elmo, revelou seu rosto. Midoki estremeceu. Ele o conhecia. Ou... talvez apenas fragmentos de sua memória o dissessem isso. Os olhos de Midoki se estreitaram.
- Midoki: "Leonard Agravaine..." - Murmurou, quase sem ar.
A resposta veio fria:
- Agravaine: "Eu não lhe dei o direito de proferir meu nome, traidor."
Midoki recuou um passo, confuso.
- Midoki: "Eu... não entendo. O que aconteceu aqui? Por que esse lugar está... coberto de ossos?"
Agravaine cruzou os braços. Seu olhar atravessava a alma.
- Agravaine: "Não se faça de idiota. Você sabe o suficiente. Essa batalha... a nossa batalha... dizimou o reino de Lyoness inteiro."
Midoki sentiu o mundo girar por um segundo.
- Midoki (sussurro): "Mas... como...?" - Pensou. - "Isso não faz sentido..."
- Agravaine: "Você passou anos ao lado de Camelot." - Continuou Agravaine - "Mas escolheu defender Lyoness no final. Não finja surpresa agora."
Midoki, com o olhar perdido, pensava:
- Midoki (pensando): "Poucos dias atrás, eu estava ao lado de Melyadus... agora esse homem me diz que se passaram anos... e pior... esse corpo lutou por Camelot?"
Ele interrompeu o fluxo de acusações.
- Midoki: "Eu sei que tudo isso parece confuso... mas por favor... me diga exatamente como me aliei a vocês."
Agravaine o fitou com desconfiança.
- Agravaine (pensando): "Está me testando...? Ou realmente não se lembra?"
Por fim, respondeu:
- Agravaine: "Quando Arthur declarou guerra, você foi o primeiro a atacar Melyadus. Gritou que odiava demônios. Disse que um deles matou sua mãe. Disse que odiava Lyoness por proteger essas criaturas. Por que mudou de ideia? Ficou fraco assim?"
Midoki abaixou a cabeça.
- Midoki: "Talvez... eu tenha percebido que nenhum sentimento de ódio ou vingança a traria de volta. E... talvez nem todos os demônios sejam iguais. No lugar de onde vim, alguns podem se redimir. E são chamados de Geulims."
O sangue ferveu nas veias de Agravaine. Sua armadura tornou-se negra como breu. Seu cabelo cinza clareou por um instante antes de escurecer completamente. Sua aura agora era como um abismo faminto.
- Agravaine: "HERESIA!" - Vociferou.
Avançou novamente, a fúria o consumindo. Midoki ergueu sua katana, mas antes que pudesse revidar, ela foi destruída com um único golpe.
Agravaine o perfurou uma segunda vez.
- Agravaine: "Se eu destruir todo o seu corpo antes que ele possa se restaurar... você morre, não é?"
Midoki rangeu os dentes e o empurrou com um chute. A espada, ainda cravada, foi arrancada com um gesto. Ela rasgou seu corpo de cima a baixo antes de voltar para as mãos do cavaleiro.
Mais uma vez, Midoki se regenerava. Seus olhos agora brilhavam com uma decisão silenciosa.
- Midoki: "Eu uso minha Greatsword...?" - Pensou. - "Não... ele é rápido demais... vou sofrer muito dano... então vai ser... você."
Do nada, uma lâmina de elegância letal surgiu. A luz espiritual da espada era clara e afiada como neve ao sol.
Longsword: Seirō Shinkami.
O capítulo termina.