Capítulo 53 - Lillies

No limite entre os jardins de Aurelius e a realidade impiedosa do mundo exterior, Berith estava caída de joelhos. Seus cabelos desgrenhados pendiam sobre o rosto suado. Ela parecia inteira, mas não estava. O corpo, embora sem feridas visíveis, denunciava uma exaustão que transcendia a carne. O orgulho, maior que a dor, pesava como uma âncora invisível.

Sentada na grama murcha do limiar entre luz e trevas, sua mão cravava a terra.

- Berith: "Como pude..." - Sussurrou entre dentes, o tom mais ácido que qualquer insulto. - "Como pude perder...? Ah... Forneus."

Os olhos dela, escarlates, agora ofuscados, buscavam a razão no céu sem resposta. Tudo que encontrava era silêncio... e o som abafado de uma risada distante. A dela mesma, de outro tempo.

Em meio às vielas ancestrais da cidade de Siquém, o caos tinha nome, Elliot.

Elliot: "Ahhhhhhh!!!! Pelo amor de Zeus! Como diabos me achou DEBAIXO da cama?!" - Gritava ele, correndo como se sua existência dependesse de cada passada.

Os passos da perseguidora, suaves e graciosos como os de uma bailarina, contrastavam com o inferno que trazia. Ardat Lili vinha logo atrás, sorrindo com os olhos... olhos que viam mais do que deveriam. As pedras se quebravam sob seus pés, e cada rua da cidade se tornava palco de uma dança desequilibrada entre caça e caçador.

A multidão nas ruas abria caminho.

Homens, mulheres, até crianças... paravam, hipnotizados.

Civis: "Que beleza é essa...? Como podemos servi-la... Senhorita Ardat Lili?"

Ela não respondia. Nem precisava. Mas à medida que Elliot e Lili desapareciam adiante, os devotos ficavam para trás, abandonados na estática da fascinação.

Ardat Lili aumentou o passo, sua voz como um cântico doentio:

Ardat Lili: "Volte até mim, criatura alada..." - Sibilou, arqueando as costas num gesto sobrenatural. - "Não vai conseguir fugir... por... muito... tempo..."

Ela parou por um instante. A pele de porcelana começou a exalar vapor. Gotas brilhantes e corrosivas escorriam por seus ombros, dissolvendo o tecido de seu vestido com uma lascívia letal.

Ardat Lili: "Ácido Super Corrosivo." - Disse ela, quase em tom de prazer.

Elliot, ao olhar para trás, viu mais do que pretendia.

Elliot: "MAS QUE INFERNO, VOCÊ TÁ PELADA?! COMO EU VOU LUTAR ASSIM?!"

Ativou a perk Aimbot. Uma dádiva conquistada após o renascimento do Arco de Sagitário, que renasceu graças a Spencer. Mas mesmo com mira celestial, seus olhos traiam a alma.

Elliot: "Concentra... Concentra...!" - Repetia para si. Mas não adiantava. As roupas derretidas, a pele iluminada por vapor venenoso... era impossível focar.

Um disparo, mesmo sem mirar.

Acertou.

Nada aconteceu... além de um som grotesco, quase sensual.

Ardat Lili soltou um gemido dissonante. Um som que mesclava dor e excitação. Elliot empalideceu.

Elliot: "Isso definitivamente não é saudável."

Foi quando o mundo ao redor pareceu estagnar. Uma presença mais densa que o tempo chegou.

Belphegor.

Seu olhar pesado, sempre entre o tédio e a profundidade de um abismo que se recusa a engolir o mundo.

Belphegor: "Chega disso... Lilith. Por favor, se lembre de quem você é."

Lili parou.

Seus olhos, antes flamejantes de luxúria caótica, agora o observavam com algo entre orgulho e desdém... mas lentamente, um véu de confusão os tomou.

Ela virou-se por completo para ele. E a cena se deslocou.

Elyra corria por corredores forjados em pedra sagrada e história corrompida. O Castelo de Siquém parecia esconder mais do que mostrava. Cada porta que se abria revelava apenas ecos de Midoki, como se ele estivesse sempre um passo além da realidade.

Ela respirava fundo, tentando acalmar o coração, não de medo, mas de angústia. Ela sentia que ele estava próximo. Mas o castelo não queria revelar.

Do lado de fora, o som de passos ecoa. Uma figura emerge da penumbra do corredor.

Berith.

Ainda fragilizada. Ainda humilhada. Mas seus olhos... seus olhos queimavam novamente com propósito. Ao ver a elfa, algo se acendeu dentro dela.

Berith (pensando): "Essa elfa..." - Pensou, os olhos se estreitando como lâminas. - "Se eu levá-la até o Senhor Lúcifer... pelo menos vou poder amenizar minha reputação... Afinal, ela é uma das peças."

O rosto dela mudou. Um sorriso sinistro tomou conta, distorcendo sua beleza.

Elyra deu um passo para trás. O instinto falou primeiro.

Elyra: "O que você quer?"

Berith não respondeu. Mas seus olhos já haviam respondido tudo.

A cena muda para o Monte Olimpo.

A névoa prateada se dissipa aos poucos, revelando um corredor.

Dentro da Casa de Capricórnio, o silêncio é absoluto. Um silêncio que anuncia que algo está prestes a começar.

A cena se desloca, mais uma vez, para Siquém.

Ardat Lili estalou o pescoço para o lado, seus olhos brilhando com veneno e orgulho.

- Ardat Lili: "Você me chamou de quem? Seu verme..."

O tom dela era lâmina. E o nome cuspido por ele, uma afronta.

Belphegor, parado diante da destruição que ela deixava para trás, observava-a com uma calma que não nascia da indiferença, mas da resignação, por não tê-la protegido.

- Belphegor: "Lilith."

Ardat riu. Baixo, debochado, perigoso.

- Ardat Lili: "Está se referindo ao material desse corpo? Esse nome morreu há muito tempo. Eu não sou ela. Nunca fui."

Ela desapareceu num passo e surgiu à frente dele, veloz como um pensamento maldito. O punho voou.

CRACK.

O soco pegou em cheio o maxilar de Belphegor, fazendo seu rosto virar com o impacto. Um filete de sangue deslizou até o queixo.

Ele não revidou.

- Ardat Lili: "Reaja. Lute. Defenda, desgraçado."

Outro golpe, agora no peito. O impacto quebrou parte da armadura em seu tórax. Belphegor apenas cambaleou para trás, o olhar ainda fixo nela.

Ela ergueu a mão para o terceiro, talvez o último, golpe. Mas antes que pudesse desferi-lo...

- Belphegor (sussurro): "Lilith..."

Silêncio.

O tempo pareceu hesitar.

O braço dela tremeu no ar. Os olhos, que antes eram brasas de luxúria e violência, vacilaram por um instante. Algo ali, por um fragmento de segundo, estalou dentro de Ardat Lili.

Belphegor, então, deu um passo à frente e completou, com voz de saudade e lamento:

- Belphegor: "Lembre-se... minha irmã."

Fim do capítulo.