O céu estava pesado. Cinzas dançavam entre os ventos. Os olhos de Ardat Lili cruzaram os de Belphegor. E, por um instante que se estendeu além do tempo, houve silêncio. Não apenas ao redor, mas dentro dela. As batidas de seu coração pareceram errar o compasso, como se a presença dele evocasse algo que ela não sabia que ainda existia, um fragmento de humanidade.
Belphegor jazia de joelhos, o rosto marcado por feridas, mas com um leve sorriso. Um sorriso que não suplicava redenção, nem provocava deboche. Era um sorriso de reconhecimento.
Ardat hesitou. Seu punho, antes inflamado de energia negra, tremeu. A lâmina espiritual que formava ao redor de seus dedos dissipou-se como neblina sob o sol. Algo dentro dela, uma lembrança ou talvez um eco de amor, a impedia de seguir.
- Ardat Lili: "Vocês... não deveriam ter vindo até aqui..."
A voz saiu baixa, mais como uma lástima do que uma ameaça. Com um salto, ela se afastou, desaparecendo entre os contornos sombrios do Castelo de Siquém.
Elliot a observava partir, boquiaberto.
- Elliot: "O que foi isso...? Ela ia matá-lo e... parou do nada..."
Belphegor continuou sorrindo, como se estivesse escutando uma melodia que apenas ele podia ouvir.
Foi então que Neptune emergiu de uma viela, os passos firmes, a presença mais sóbria que o habitual.
- Neptune: "Você não percebeu? Aquela história que Astaroth nos disse... de que os Geulins não têm alma... ou sentimentos... é uma mentira conveniente. Eles só estão... adormecidos. No fundo, ainda se lembram. Do que foram. Do que amaram. Do que perderam."
Elliot franziu o cenho. Belphegor desviou o olhar, pela primeira vez demonstrando algo próximo de vergonha. Uma vulnerabilidade crua, humana.
- Belphegor: "Calem a boca." - Sua voz agora era rouca. - "Nós ainda precisamos encontrar Elyra e Midoki, certo? Depois disso, minha jornada com vocês termina."
Elliot suspirou, levantando-se, mesmo com os joelhos tremendo.
- Elliot: "Então vamos terminar o que viemos fazer."
Neptune assentiu, mas havia um desconforto oculto em sua expressão. Talvez por saber que certas jornadas não terminam quando queremos.
O cenário muda para o passado.
O vento era cortante no platô de pedra negra. As lâminas do tempo e da morte colidiam com estrondo.
Midoki empunhava a Seirō Shinkami. Sua aura ondulava em tonalidades de azul e prata, como um lobo sagrado em estado de vigília. Diante dele, Agravaine, envolto pelo manto sepulcral do Veradyn Kufwa, era a própria encarnação da morte.
Agravaine recitou com voz gutural:
- Agravaine: "Veradyn Kufwaziri."
A lâmina dele se tornou opaca, como se sugasse a luz ao redor. Um golpe. O ar rasgou com uma velocidade que desafiava a percepção.
Midoki, porém, havia ativado o Shinrei - Kanchi. Sua mente expandida captou a intencionalidade antes do movimento. Um desvio sutil, e o golpe passou raspando, cortando montanhas ao fundo.
O cavaleiro sorriu, empolgado.
- Midoki: "Então é isso que esse corpo pode fazer, hein? Perfeito para testar o que venho aperfeiçoando neste corpo..."
Ele assumiu uma nova postura. Seu corpo girou em espiral, uma aura pulsante envolvendo sua armadura. O novo modo não era como o Manifestar nem o Berserker. Era mais contido, mas ao mesmo tempo desafiava o espaço ao redor, dobrando levemente a realidade em cada passo.
Midoki investiu.
A Seirō Shinkami assobiava no ar, e em um corte diagonal ele acertou parte da armadura de Agravaine. Não suficiente para causar dano, mas o bastante para demonstrar a supremacia de sua precisão.
Agravaine recuou dois passos. Seus olhos, ocos e frios, agora analisavam. Em resposta, ele girou a espada em seu próprio eixo e vociferou:
- Agravaine: "Thanatos Death Drift!"
Uma sombra serpenteante saiu da lâmina e se expandiu como um véu, tentando cobrir Midoki. A Aura de Morte não era apenas espiritual, era existencial. Midoki girou em contrapartida e bradou:
- Midoki: "Tenrō Senpū!"
Um ciclone de eletricidade e vento explodiu em torno dele, dissipando a sombra com uma luz azulada cortante. Mas Agravaine não parava.
- Agravaine: "Kufwan Death Requiem!"
Cinco cortes simultâneos atingiram Midoki de todos os lados. Sua armadura se trincou, mas ele revidou com a velocidade de um trovão, utilizando o estilo Wolfist.
- Midoki: "Wolf Breaker!"
Um soco espiritual em forma de lobo colidiu com o peitoral de Agravaine, arrastando-o dezenas de metros.
Os dois se encararam. Feridos. Empolgados. Prontos.
Midoki estreitou os olhos, e por um instante, um brilho dourado cruzou suas pupilas. Seu novo modo ainda estava se adaptando.
Agravaine ergueu sua lâmina mais uma vez.
- Agravaine: "Você... não é como os outros. A sua batalha sempre é divertida."
Midoki sorriu.
As lâminas voltam a se cruzar. Mas, no instante final, uma força interrompe o golpe.
Tudo silencia. E o capítulo termina.