Os céus estavam tingidos de cinza marinho, e o mar revolvia-se em ondas preguiçosas sob o peso da tensão. Uma embarcação colossal, de velas brancas cortava as águas, o navio dos Pukains.
No interior da cabine principal, envolta em tapeçarias que balançavam com o embalo do mar, Spink abriu lentamente os olhos. Seus cílios tremeram com umidade de um sonho quebrado.
Ela se inclinou, como se suas palavras carregassem um segredo que só um coração podia compreender. Sussurrou algo no ouvido de Namiros.
Namiros não respondeu. Mas seus olhos se abriram de súbito. Estavam marejados. Ele havia escutado, não só as palavras, mas algo além delas.
A cena se desloca.
O campo de batalha jazia em ruínas, silenciado pelas explosões e cantos espirituais que outrora o sacudiram. No centro, Elyra cambaleava, seus pés afundando nas cinzas ainda mornas.
Seu corpo estava coberto de cortes.
Ela se ajoelhou. A luz da Seishin no Kiba tremeluzia em seu punho trêmulo, enquanto sua outra mão recolhia a esfera selada de energia pulsante, onde Berith fora aprisionada.
Por um momento, a paz parecia possível. Até que uma voz interior irrompeu:
- Ardat Lili (pensamento): “Essa elfa… enfrentou Berith sozinha… venceu-a… Se eu a enfrentasse… Eu... não sei quem venceria...”
Ela fechou os olhos, uma ruga de dúvida cruzando sua testa orgulhosa.
Neptune, com sua postura imponente, surgiu primeiro. Logo atrás, Elliot, silencioso como um presságio. E por fim, Belphegor, ofegante, mesmo sem ter lutado, seus passos vacilantes como se algo o corroesse por dentro.
- Belphegor (voz fraca): "Minha... irmã... Lilith..."
Ela se virou lentamente, sua expressão fechada como mármore.
- Ardat Lili: "Cale a boca... Como respeito, deixei essa elfa lutar... mas não pensem que me aliei a vocês e tam-"
De repente, suas palavras foram arrancadas de sua boca.
Seus olhos se dilataram. A aura que ela sentiu não podia ser confundida. Era como um sino soando na eternidade.
- Ardat Lili (gritando): “Saiam agora de Siquém... Não importa o que façam, apenas vão!!!"
- Gritou apavorada. - "Droga... como o mestre Lúcifer descobriu!? Ele mandou justo esse... e tão rápido! Está vindo pela masmorra conectada ao Submundo..." - Ardat Lili pensou.
E então, o tempo "congelou".
Antes que qualquer um pudesse reagir, uma presença desceu.
Não houve som. Apenas o deslocamento do ar e da alma. Ele surgiu diante deles, como se tivesse sido sempre parte do cenário.
Malphas.
Suas roupas tinham o tom da terra antes da chuva. Seu cabelo castanho caía em ondas suaves, contrastando com sua beleza etérea e o olhar que não julgava, mas entendia tudo.
Ardat Lili o encarou de frente, cada célula de seu corpo em alerta.
- Ardat Lili: "Então... você chegou... Malphas... o Decreto da Compaixão..."
Malphas pousou os olhos em Elyra, que ainda segurava a esfera de Berith. Num segundo, ele não estava mais ali, estava diante dela.
Um impacto súbito.
O som veio atrasado, como se a própria realidade estivesse se reorganizando. O punho de Malphas afundou na barriga de Elyra, e seu corpo foi lançado como uma boneca de pano.
Ele tomou a esfera.
- Malphas (calmo): "Ora, ora... está se sentindo bem, Belphegor? Absorver um decreto sem ritual... corajoso. Mas... está estampado em seu rosto. A dor, a falha... o desespero."
Lili cambaleou para trás. Seus olhos se fixaram em Belphegor. Algo... dentro dela se partia. Mesmo sem lembrar... algo doía.
- Belphegor (furioso): "Maldito..."
Antes que o grupo reagisse, Elyra, caída ao chão, foi tomada por Ardat Lili, que a agarrou com força. Os olhos de Lili brilharam com determinação.
- Ardat Lili: "Não vai ser muito... mas já tentei invadir aquele labirinto uma vez... só posso mandar vocês onde já estive antes..."
Um símbolo ancestral se formou no chão, o Standard-Ôou, canalizando a energia espiritual do Submundo. Ardat gritou o feitiço antigo.
- Belphegor (gritando): "Espere... irmã!! Por favor, não faça iss-"
Mas a energia já os consumia.
Elyra, Neptune, Elliot e Belphegor desapareceram, lançados para frente de uma das entradas do Labirinto do Minotauro.
Malphas ficou onde estava.
Os olhos castanhos se estreitaram, encarando Ardat Lili.
Ela respirava com dificuldade, seus dedos tremiam.
- Malphas: "Você é mais uma traidora... Ardat?"
Ela sorriu. Pela primeira vez, sem arrogância.
- Ardat Lili: "Eu... realmente não gostaria de me opor ao mestre... Mas... por algum motivo... eu acho que tenho que impedir você."
Em um campo dourado pelos raios do entardecer, dentro de seu próprio domínio, uma mesa de pedra repousava sob um carvalho ancestral.
Aurelius Seraphis tomava chá, sua xícara de porcelana chiando com o vapor. Ele ergueu os olhos como quem escutava sinos muito, muito distantes.
- Aurelius: "Hummm... bem, está quase na hora. Infelizmente, vou ter que intervir nessa luta... se não... o destino vai estar todo ferrado."
Ele sorveu o último gole.