As árvores de Lunareth formavam muralhas naturais ao redor da trilha antiga, cujas pedras desgastadas sussurravam histórias esquecidas. Os três viajantes caminhavam em silêncio entre as sombras filtradas pelos galhos altos.
Midoki, com o olhar fixo adiante, deixava que o farfalhar das folhas conduzisse seus pensamentos. Ao seu lado, Malcon Bedivere mantinha a mão próxima ao cabo da espada, atento a qualquer ruído hostil. Merlin, por sua vez, mantinha uma expressão serena, mas os olhos... os olhos estavam a quilômetros dali.
- Midoki (pensamento): "O que Tristão está fazendo aqui? Este lugar... não deveria existir nesta época. E ainda assim... um reino que só viria a florescer sete mil anos no futuro... já projeta raízes nestas terras? Isso é... impossível."
O cheiro das flores de sombra misturava-se com a brisa úmida, como se a floresta guardasse, em silêncio, os segredos do tempo.
- Merlin: "Estamos quase lá. Depois daquelas montanhas, encontraremos uma vila. Refugiados que escaparam da queda de Lyoness se abrigam por lá."
Foram horas longas e silenciosas. A cada passo, Midoki sentia como se os ecos do passado quisessem gritar em sua mente.
E então... chegaram.
Era pequena, erguida com pressa e dor. As casas tinham telhados irregulares, mas firmes. Crianças corriam por entre cercas improvisadas, algumas com as roupas ainda rasgadas pela fuga. Era um lugar ferido, mas vivo.
Midoki parou na entrada da vila, sentindo o coração apertar.
- Midoki (pensamento): "Isso... só pode ser... o princípio de tudo? Mas então, é aqui onde o Reino de Lior nasce? E esse nome... Lior... de onde veio? Nada disso fazia parte da geografia do futuro... nenhuma montanha perto do reino..."
Enquanto Merlin e Malcon entravam em direção à hospedagem, Midoki permaneceu do lado de fora. Os olhos distantes, perdidos entre galhos e lembranças. Ele mal percebeu o toque leve no ombro direito.
- ??? (voz rouca): "Há... você tá aí. Pensei que já tinha morrido pro Agravaine."
Midoki congelou.
Não pelo toque, mas pela voz. Não havia lembrança concreta, mas algo no fundo de sua alma reconhecia aquele timbre.
- Midoki: "Você... Tristão... filho de Rivalen." - Diz virando-se lentamente.
- Tristão: "Euzinho." - Ele sorri com descaso.
Midoki o estudou com olhos semicerrados.
- Midoki: "Por que me cumprimenta assim? Não está zangado por eu destruir o seu reino? Pelo menos... foi o que Merlin me disse... que você era daquele lugar."
- Tristão (fingindo pensar): "Ah... deixa eu ver... hmm... NÃO. Nem um pouquinho. Você lutou contra o Agravaine, certo? Provavelmente foi a aura dele que destruiu tudo. De toda forma, eu consegui evacuar bastante gente. Claro que, na hora das explosões, eu priorizei salvar as crianças..."
Midoki suspirou, o olhar caindo sobre a vila novamente. Havia tantas crianças ali...
- Midoki (pensativo): "Ah... então é por isso que aqui há mais crianças do que adultos... É... bem triste."
- Tristão: "É. Foi o que deu pra fazer. Mas apesar de eu não estar com raiva... eu não quero você aqui. Nem você, nem o Agravaine. Então, já pode vazar das minhas terras. Entendeu?" - Com um sorriso torto.
Midoki manteve a calma, mas sua voz agora carregava firmeza.
- Midoki: "Mas... nós precisamos de você. Precisamos entrar em Vhastorg. E para isso... precisamos do Necronomicon. Ele está com você."
- Tristão: "Ah... então querem o Necronomicon? Isso eu não vou entregar. Primeiro, porque sou aliado do Rei Arthur. Segundo, porque eu não gosto de você." - Sua expressão, assustadora.
- Midoki (indignado): "Mas por que caralhos você está ao lado do Arthur!? Não percebe que ele está enlouquecendo!?"
- Tristão (voz baixa): "E você? Não foi o cachorrinho dele por muito tempo? Ou esqueceu? E o que eu tenho pra resolver com ele... é da minha conta."
- Midoki: "Então... pelo menos me deixe comprar o Necronomicon. Fui eu quem conseguiu ele para o seu Melyadus."
Foi como jogar sal em uma ferida aberta.
Tristão empalideceu. O nome do pai pesou como uma espada cravada no peito. Sua mão deslizou lentamente até a empunhadura da espada. Seus olhos tremiam. E então... sacou.
- Tristão (voz baixa): "Saia... das minhas terras. Agora. Sem mais nenhuma palavra." - O tom transbordava fúria.
Uma única lágrima desceu de seu olho direito. E mesmo ali, de pé, espada em punho, parecia prestes a desabar.
Midoki ficou imóvel. Por um instante, quis perguntar o porquê daquela lágrima. Mas algo o impediu. Talvez o silêncio fosse mais respeitoso.
Ele apenas assentiu com a cabeça.
- Midoki (resignado): "Vamos acampar nas redondezas. Partiremos ao amanhecer."
Tristão não disse nada. Apenas guardou a espada e virou-se.
Sob o crepitar da fogueira, Bedivere explodiu.
- Malcon Bedivere (irritado): "O que caralhos tu perguntou pra ele, Midoki?! Conseguiu ferrar com nossa única chance de deter Arthur!"
Merlin, tranquilo como sempre, preparava a comida na fogueira.
- Merlin: "Acalmem-se. Não é o fim. Morgana virá atrás dele. Se vencermos... e ambos estiverem incapacitados, podemos pegar o grimório."
Midoki olhou o fogo. As chamas dançavam como os pensamentos em sua mente.
- Midoki: "Então... Morgana está mesmo poderosa o bastante para enfrentar Tristão?"
- Merlin: "Sim. Ela está. Disposta a enfrentar um dos Quatro Pilares de Camelot... Um dos 101 Cavaleiros da Távola Redonda. Um dos quatro mais poderosos."
Bedivere, mais calmo agora, completou:
- Bedivere: "Tristão deve estar furioso... afinal... Melyadus, que ele criou desde pequeno, morreu."
Midoki engoliu seco.
- Midoki (sussurrando): "Tristão... era um pai adotivo para Melyadus?"
O mundo pareceu girar por um segundo.
- Midoki (pensamento): "Então era por isso... por isso ele ficou tão transtornado ao ouvir sobre o Necronomicon... Ele... ainda está de luto."
A noite passou entre silêncios, olhares perdidos e estrelas distantes.
Quando os primeiros raios de sol tocaram a terra, um estrondo ecoou ao longe.
Gritos. Correria. O som de explosões.
O grupo saltou em alerta.
A câmera narrativa corta bruscamente para Tristão, de pé sobre uma rocha, com a espada desembainhada, uma criança agarrada em sua camisa. Seus olhos estavam fixos... encarando alguém que se aproximava.
A tensão era palpável.
Fim do Capítulo.