Capítulo 61 - Ruína Verde, Silêncio Púrpura

O capítulo se inicia com um caos silencioso:

Malcon e Merlin, com semblantes pesados, guiam os sobreviventes da vila em retirada pelas trilhas escondidas de Lunareth. O som de gritos abafados e passos apressados contrastava com a estática pesada que dominava o centro da vila, onde Midoki permanecia imóvel, como uma estátua em transe.

Seus olhos estavam fixos à frente, como se o próprio tempo tivesse parado ao seu redor. Era como se algo, ou alguém, tivesse desenterrado uma ferida antiga.

Midoki: "O que... você está fazendo aqui?" - Sussurrou, com a voz embargada.

A cena, porém, não revela o rosto da figura à sua frente. Em vez disso, a narrativa desloca-se para outro ponto, Tristão, de pé diante de Morgana, com os olhos inflamados pela dor e ódio.

A criança jazia imóvel entre eles, seu corpo inerte e pequeno transmitindo mais do que qualquer grito. A marca roxa de mordida em seu pescoço pulsava um veneno estranho. O coração de Tristão já havia se partido, o que restava agora era apenas o monstro moldado pela dor.

Sua aura roxa oscilava, oscilando até se tornar um manto esverdeado. Um líquido espesso e vivo emergia de seus poros, cobrindo seu corpo lentamente até se solidificar como uma armadura verde viva. Seus olhos tornaram-se rubros e sua pele queimava sob a energia do sol acumulada.

Morgana recuou um passo, surpresa, e curiosa.

Morgana: "Então... você é um vampiro? Que interessante." - Disse, arqueando uma sobrancelha, a voz sedosa como veneno.

Tristão não respondeu. Ele rugiu. Um berro primal que fez as árvores tremerem e o chão pulsar sob seus pés.

O mundo estremeceu, e O Jardim Apodrecido nasceu.

As folhas das árvores escureceram, tornando-se cinzas, caindo como cinzas sobre o campo. As flores se abriram em tons pútridos. Do chão, raízes negras brotavam como serpentes famintas. O ar ficou denso, podre, viscoso. O tempo desacelerou.

A batalha começou.

Morgana avançou primeiro, movendo-se como névoa sombria. Suas maldições foram lançadas em círculos arcanos. Mas Tristão não recuou. Ele absorveu as primeiras técnicas com a palma da mão.

Tristão: "Recompilação Macabra."

O veneno se tornou parte dele. Um brilho púrpura envolveu seus olhos enquanto ele desaparecia e surgia ao lado dela, golpeando com a Foice de Zymora.

Putrefação Absoluta, o corte não atravessou apenas a carne, mas fez o corpo de Morgana começar a necrosar onde foi tocado. As veias ao redor do ferimento escureceram. Ela rangeu os dentes.

Morgana: "Miserável...!" - Disse, disparando uma explosão de trevas.

Tristão girou sua foice, Ceifa de Mil Almas, e um redemoinho de espectros doentes emergiu dos cortes, atacando Morgana com uivos de dor ancestral.

Morgana gritou, seus olhos se tingindo de pânico por um instante. Ela ergueu barreiras espirituais, mas o Vírus Esmeralda já se espalhava. Seus movimentos tornavam-se erráticos. Suas palavras mágicas saíam entrecortadas.

- Tristão: "Chagas Eternas..." - Tristão surgiu acima dela. Garras de vírus e presas espirituais perfuraram sua barreira. Uma chuva carmesim tingiu o chão, sangue, veneno e miasma.

Tristão: "Maré da Agonia!" - Tristão bateu sua foice no chão. Larvas espectrais surgiram, rastejando pelo campo, explodindo ao tocar Morgana.

O corpo dela começou a se deteriorar.

Ela tentou fugir com uma técnica de dobra sombria, Standard-Ôou, mas seu corpo falhou. Espasmos tomaram seus músculos. O Olhar da Ruína a atingiu, e ela congelou.

Morgana: "Você..." - Sussurrou ela. - "Vai se arrepender..."

Tristão: "Você tocou no que era meu." - Tristão caminhava com a foice arrastando no chão. - "Agora, não restará nada do que é seu."

O último corte foi preciso.

A foice cortou o ar, e em sua trilha ficou um rastro de podridão espiritual. O corpo de Morgana colapsou, convertendo-se em poeira. Sua existência fora ceifada. Mesmo sua alma parecia perdida, sem chance de reconstrução.

Tristão caiu de joelhos. Não pela dor da batalha, mas pela perda. O Jardim Apodrecido começou a desaparecer, e com ele, o rugido do caos se calou.

O silêncio voltou. Mas dentro dele, havia algo ainda mais ensurdecedor.

O céu ainda carregava os ecos do estrondo que marcara o início do caos. Malcon e Merlin se apressavam pelas vielas da vila, conduzindo os sobreviventes com urgência e disciplina. O calor do medo, da dúvida e do suor humano impregnava o ar enquanto gritos abafados se fundiam ao ranger dos portões.

Mas Midoki permanecia. No centro da vila, imóvel, como se o tempo tivesse lhe virado as costas. Seus olhos estavam fixos numa única figura, a qual não mostrava o rosto, como se o mundo se recusasse a revelar-lhe o destino de uma só vez.

Midoki: "O que... você está fazendo aqui?" - Sua voz quebrou o silêncio, como uma pedra atirada num lago de lembranças.

O rosto se revelou. Jovem. Rosto limpo, olhos vivos, olhos que não reconheciam. Era Spencer. Mas não aquele Spencer. Não o sábio e velho que ajudaria a arquitetar o retorno da Fonte da Ordem. Era alguém quase inocente... quase.

Spencer: "Eu nem sei quem é você..." - Respondeu Spencer, com a frieza de um desconhecido que carrega uma missão inquebrantável.

Antes que Midoki pudesse reagir, o pequeno gnomo saltou em um giro perfeitamente técnico e aplicou um golpe direto em seu estômago, usando um estilo marcial fluido e estranho, que mais parecia uma dança animalesca misturada com princípios de energia espiritual.

Spencer: "Ryōran Kōshōken." - Murmurou Spencer, aterrissando com leveza. - "Meu trabalho é apenas garantir que ninguém interrompa a senhorita Morgana..."

Midoki cambaleou um passo para trás, a mão sobre a barriga. Não sentira apenas o impacto, havia algo espiritual naquele movimento. Algo... quebrado.

Midoki: "Morgana...?" - Sussurrou ele, arfando. - "Por que está... do lado dela? Spencer..."

O nome pareceu reverberar dentro do pequeno gnomo. Ele congelou. Os olhos agora expressavam surpresa. E algo mais.

Spencer: "Como... como sabes meu nome?" - Perguntou, erguendo uma sobrancelha.

Midoki: "Porque foi você quem me mandou até aqui... para recuperar a Fonte da Ordem, não foi?"

Spencer franziu o cenho. Uma ruga de negação surgiu.

Spencer: "Não diga besteiras. Recuperar a Fonte da Ordem?" - Ele deu uma risada abafada. - "O mundo já reconhece meu nome como "Aquele que obteve A Ordem"... e a concedeu para uma linda bruxa..."

Midoki prendeu a respiração. As palavras eram suaves demais. Melosas. E, mais do que isso... inaceitáveis. Isso seria uma traição?

O sangue lhe fervia por dentro, mas o rosto permanecia frio. Havia algo por trás disso. Ele não podia reagir com ira. Precisava entender. Precisava descobrir se o Spencer do futuro... teria se sacrificado... ou mentido.

Talvez... talvez tudo isso fosse um plano para corrigir os próprios erros do passado. Ou uma armadilha perfeita?

Midoki (pensando): "...Então por que me pediria para levar a fonte de volta comigo...?"

A cena mudou.

Tristão estava caído. Seu corpo arfava com dificuldade, coberto de feridas, e o sangue se misturava com a lama. Próximo a uma pessoa, suspenso no ar, o Necronomicon tremeluzia, girando lentamente. Era Morgana, que caminhava em direção oposta a Tristão, os olhos brilhando com uma calma pavorosa.

Mas... ela não deveria estar pulverizada? Ele havia vencido...

E, no entanto, ela caminhava novamente.

A cena cortou bruscamente.

Spencer cravou os olhos em Midoki com uma intensidade assassina. A luz em sua pupila era clara, ele não hesitaria em matá-lo. Nenhum resquício de dúvida.

Mas antes que o golpe seguinte pudesse ser desferido, a figura feminina se aproximou. Morgana surgiu entre os dois, como uma presença inevitável.

Morgana: "Vamos embora, Spency..." - Sua voz foi doce, irônica e letal. - "Já não tenho mais nada a tratar por aqui."

Midoki, ainda recuperando o fôlego, ergueu os olhos. E a encarou.

Silêncio.

O mundo parecia se calar diante da presença dela, como se até a morte estivesse escutando.