Direitos humanos.

Ao voltar para o hotel, Elena praticamente grudou em Hu Qing, fazendo uma enxurrada de perguntas sobre fantasmas e sobre seu papel como sacerdote chinês.

Ela estava determinada a extrair o máximo de informações possíveis para sua coluna sobre fenômenos sobrenaturais.

Em várias ocasiões, ela tentava usar suas "vantagens", inclinando o corpo e empinando os seios na direção de Hu Qing, tentando fisgá-lo com sua sensualidade.

Ela parecia ver nele a salvação para seu trabalho, especialmente agora que havia testemunhado algo real e extraordinário. No entanto, Hu Qing, embora lisonjeado, via aquelas tentativas como toscas e ineficazes.

 Ele achava que ela não sabia usar sua beleza como artifício. Esse ato de empinar o peito era apenas um truque barato para ele, que já tinha namorado várias garotas. Se ela usasse uma tática mais refinada de sedução, como uma conversa íntima durante a noite, talvez ele realmente caísse na armadilha. No entanto, ele ainda respondeu a algumas de suas perguntas de forma evasiva.

 

Ao lado deles, Bobby e Nutrilite, os dois agentes do FBI, ouviam atentamente a conversa. O que haviam presenciado naquela noite tinha abalado completamente suas crenças. Anos de treinamento, toda sua confiança em armas e procedimentos, tudo parecia insignificante diante do que viram.

A experiência de serem derrubados por uma força invisível e quase perderem a consciência devido à dor de cabeça era algo que jamais haviam imaginado.

E então, como se não bastasse, lá estava Hu Qing, com uma espada de madeira, perseguindo e ferindo um espírito.

Tudo o que eles acreditavam ser real havia sido virado de cabeça para baixo. A realidade agora parecia mais com um filme de terror do que com o mundo lógico e científico em que viveram.

Logo, ambos os agentes receberam uma ligação do hospital. Todos os que haviam sido levados para lá após os eventos no motel já estavam acordados. Acreditando que o caso estava encerrado, os dois partiram apressadamente.

Não podiam admitir que tinham lidado com um fantasma, claro. Esse tipo de relato os levaria diretamente a um psiquiatra.

Mas poderiam atribuir os incidentes a um criminoso fugitivo, algo muito mais plausível e que melhoraria a posição deles dentro do FBI. Afinal, já existiam muitos casos de criminosos violentos naquela área.

Phil, por sua vez, finalmente conseguiu relaxar. Para ele, o problema com Liu Qingqing estava resolvido, e seu motel poderia voltar à normalidade.

Com um largo sorriso no rosto, ele agradeceu Hu Qing e o recompensou com o melhor quarto disponível no hotel, além de transferir 30 mil dólares para sua conta como pagamento pelo serviço. Hu Qing ficou bastante satisfeito com a quantia recebida e, já no quarto, preparou-se para um banho relaxante, pensando em como havia sido um dia produtivo.

Depois de se lavar, ainda enrolado em uma toalha, Hu Qing estava secando o cabelo em frente ao espelho do banheiro quando, de repente, percebeu algo estranho.

No reflexo, uma figura começou a se formar atrás dele. Instintivamente, ele se virou, os olhos arregalados de surpresa.

Era Liu Qingqing. Mas, de alguma forma, ela parecia diferente de antes.

Ao invés do uniforme de garçonete que ela usava antes, agora seus cabelos estavam soltos, e ela não vestia absolutamente nada. Sua pele reluzia à luz do quarto, e seu corpo, esculpido em formas atraentes, exibia uma beleza inquietante. Apesar do terror de vê-la novamente, Hu Qing não pôde evitar ficar momentaneamente atordoado com sua aparência.

Mas... eu não já a eliminei? ele pensou. Afinal, ele já havia recebido a recompensa e o problema deveria estar resolvido.

Nesse momento, um grito de pavor ecoou pelo quarto.

Ahhh...! — o som veio da jovem Liu Qingqing.

"???" Hu Qing piscou, completamente confuso.

Não era ele quem deveria estar assustado? Por que ela estava gritando?

Liu Qingqing, percebendo sua situação constrangedora, tentou desesperadamente cobrir seu corpo com as mãos, mas a cada movimento ela só conseguia cobrir uma parte, deixando a outra exposta. Em um estado de pânico e vergonha, correu para fora do banheiro, atravessando a porta.

Hu Qing, ainda atônito com o que acabara de acontecer, rapidamente vestiu suas roupas e pegou sua espada de ébano no inventário, saindo do banheiro.

Quando ele saiu, encontrou Liu Qingqing já enrolada em um lençol, o mesmo que estava sobre a cama. Ao redor de seus pés, uma pequena pilha de cinzas negras parecia ter se formado, como se algo tivesse sido queimado. Parte do lençol que ela usava estava claramente danificada pelo fogo.

Assim que seus olhares se encontraram, o silêncio tomou conta do ambiente. Ambos ficaram ali, sem saber o que dizer, o constrangimento evidente no ar. Até que, finalmente, Liu Qingqing quebrou o silêncio, olhando para Hu Qing com uma expressão magoada.

— Senhor Hu, por que você ajudou aqueles estrangeiros a me prejudicar? — perguntou ela, sua voz tingida de tristeza.

Hu Qing ficou surpreso com a pergunta, mas logo franziu a testa e respondeu:

— Você feriu muitas pessoas inocentes, mandando-as para o hospital. Embora o que aconteceu com você tenha sido terrível, eles não são os culpados. Não pode simplesmente descontar sua raiva em qualquer um que aparecer na sua frente.

Liu Qingqing fez um biquinho, parecendo ainda mais chateada:

— Eu estava muito irritada. A raiva foi crescendo dentro de mim, e quando percebi, não conseguia mais controlar. Só queria descontar em alguém... — disse, sua voz carregada de arrependimento.

Enquanto ouvia, Hu Qing começou a entender o que estava acontecendo. Tudo o que ele havia lido sobre fantasmas e espíritos vingativos parecia estar certo. O ressentimento e a raiva acumulados transformaram Liu Qingqing em uma entidade vingativa, movida pelo desejo de machucar os outros.

Mas agora, ao vê-la tão vulnerável e ouvindo sua explicação, ele percebeu que ela não era originalmente maldosa. Sua raiva havia se intensificado ao ponto de perder o controle, mas talvez, em sua essência, ela não fosse um espírito maligno.

— Então... o que está acontecendo agora? — Hu Qing perguntou, ainda franzindo a testa. — Eu claramente queimei seu corpo e você deveria ter desaparecido. Até ganhei pontos de experiência e itens... — ele continuou, confuso com a presença dela.

Liu Qingqing suspirou, com uma expressão ainda mais triste:

— Eu também não sei. Deveria ter sido destruída quando você me queimou, mas, de alguma forma, reapareci aqui... E, bem... sem roupas — murmurou, olhando para si mesma, envergonhada. — Além disso, agora não sinto mais aquela raiva. Parece que o ódio que eu sentia desapareceu.

Hu Qing ficou ainda mais confuso. O que estava realmente acontecendo ali? Se Liu Qingqing não estava mais com raiva, será que o ressentimento que a havia transformado em um espírito vingativo finalmente desapareceu? Ela teria se libertado daquele ciclo de fúria?

De repente, uma ideia passou pela cabeça de Hu Qing, e ele tirou o pingente de alma que havia obtido ao queimar o corpo de Liu Qingqing.

— Você reconhece isso? — perguntou ele.

— Esse não é o meu pingente? Comprei em uma lojinha de artesanato perto da universidade — respondeu Liu Qingqing, surpresa, enquanto se aproximava para olhar melhor. No entanto, antes que pudesse tocá-lo, Hu Qing, rapidamente, guardou o pingente de volta no seu inventário. Isso fez Liu Qingqing fazer um biquinho, olhando para ele com desagrado.

Hu Qing começou a formular algumas hipóteses. Talvez a estranha reaparição de Liu Qingqing tivesse algo a ver com o pingente. Afinal, a descrição do pingente mencionava que ele poderia causar mutações em espíritos. Será que o pingente havia se tornado sua nova fonte de poder?

Agora, o maior dilema de Hu Qing era como lidar com Liu Qingqing. Com a fonte de seu poder em suas mãos, ela provavelmente continuaria presa a ele. Mas, se ele jogasse o pingente fora, isso também poderia causar problemas. Destruí-lo diretamente? Eliminá-la novamente?

Ao olhar para a jovem, enrolada no lençol e de bico, Hu Qing sentiu-se relutante em tomar uma decisão tão drástica. Mas ele ainda não tinha certeza se o ressentimento dela realmente havia desaparecido ou se ela estava apenas fingindo, esperando para atacá-lo quando ele estivesse dormindo.

Preocupado, Hu Qing pegou seu celular e começou a pesquisar na internet sobre maneiras de restringir fantasmas. Foi então que percebeu que havia uma nova mensagem na sua caixa de entrada, e, para sua surpresa, era de Sam Winchester.

A resposta que ele recebeu foi apenas uma frase: "Cara, se encontrar algo que não consiga entender, talvez eu possa te dar alguns conselhos!"

Hu Qing havia enviado uma mensagem para Sam Winchester antes, querendo testar uma hipótese. Ele se lembrava da série que assistia com sua ex-namorada na vida anterior, Supernatural, onde os irmãos protagonistas lidavam com eventos sobrenaturais e monstros. O irmão mais novo também se chamava Sam Winchester e frequentemente publicava e pesquisava informações na internet sobre o sobrenatural.

Neste novo mundo, onde já havia encontrado o Wendigo e fantasmas, Hu Qing não pôde deixar de ligar os pontos ao descobrir alguém com o mesmo nome postando informações online. Isso era, no mínimo, suspeito.

No entanto, ao olhar para Liu Qingqing ao seu lado, ele rapidamente respondeu à mensagem: "Com licença, como posso restringir as ações de um fantasma?"

Nos posts anteriores de Sam, ele havia encontrado apenas maneiras de destruir fantasmas, mas nada sobre como restringi-los. Dada a situação incerta de Liu Qingqing, queimá-la novamente parecia um pouco precipitado. Se ele pudesse encontrar uma maneira de restringir seus movimentos, ficaria mais tranquilo.

Sem saber quando Sam responderia, Hu Qing começou a buscar na internet por outros métodos. Ele encontrou uma informação que dizia que fantasmas temiam sal refinado e que este poderia ser usado para aprisioná-los. Contudo, isso lhe parecia tão improvável quanto os filmes chineses de sua vida passada, que sugeriam usar sangue de cachorro preto contra zumbis.

De repente, Hu Qing viu que Sam Winchester havia respondido:

"Cara, talvez você devesse verificar se tem pimenta-do-reino por perto. Misturá-la com sal refinado pode funcionar muito bem. Se você espalhar essa mistura ao redor da fonte do fantasma, pode prendê-lo no local e até impedir seus ataques".

Hu Qing ficou surpreso com a resposta.

— Então, o sal realmente funciona? Talvez o truque esteja em misturá-lo com pimenta-do-reino? — murmurou para si mesmo.

Ele pegou o telefone, ainda observando Liu Qingqing, e mandou uma mensagem para Phil, pedindo que ele encontrasse um pouco de pimenta e misturasse com sal refinado, trazendo o mais rápido possível. Phil prontamente respondeu que providenciaria.

Liu Qingqing, notando o olhar estranho de Hu Qing, perguntou confusa:

— Senhor Hu, por que você está me olhando assim? Tem algo errado comigo?

Hu Qing deu um sorriso forçado.

— Errado? — pensou ele.

Uma garota tão bonita, apenas envolta em um lençol na frente dele... Se ela fosse humana, as coisas poderiam tomar um rumo completamente diferente.

Tentando extrair mais informações, ele sorriu e disse:

— Qingqing, você disse que não está mais com raiva. Então, não tem mais nada que queira fazer agora? Como, por exemplo, se vingar?

Ao ouvir isso, Liu Qingqing assentiu seriamente:

— Sim, eu quero me vingar, mas não sei onde está aquele desgraçado. O senhor sabe?

— Ele pode já estar morto, — respondeu Hu Qing, lembrando-se das palavras de Bobby e Nutrilite, os dois agentes do FBI.

Pegou o celular e pesquisou rapidamente, encontrando uma notícia sobre o serial killer que foi morto a tiros. Ele mostrou o celular a Liu Qingqing:

— Dá uma olhada, é esse cara?

Liu Qingqing olhou para a tela. Ao ver a foto e o conteúdo da notícia, ela ficou visivelmente abalada:

— Ele... Ele está morto!

Vendo o estado dela, Hu Qing tentou confortá-la:

— Já que o culpado está morto, você não precisa mais se vingar. Agora pode pensar em outra coisa que gostaria de fazer. Talvez eu possa te ajudar.

Liu Qingqing ficou pensativa por um momento, até que disse:

— Eu sempre tive o desejo de experimentar todas as comidas de Seattle.

— Infelizmente, agora você não pode mais comer, — respondeu Hu Qing, balançando a cabeça. — Tem mais alguma coisa?

Liu Qingqing, envergonhada, perguntou:

— Senhor Hu, será que querer namorar conta? Eu nunca namorei.

— Er... Bom, se eu encontrar algum fantasma masculino por aí, prometo que vou apresentá-lo a você, — respondeu Hu Qing, sem acreditar no que estava ouvindo.

Que situação era essa?

Hu Qing continuou tentando sondar Liu Qingqing, mas não conseguiu descobrir muito até que a campainha tocou. Ele foi até a porta e recebeu um pequeno pacote de Phil. Após agradecer, fechou a porta e se dirigiu ao banheiro.

Curiosa, Liu Qingqing perguntou:

— Senhor Hu, o que é isso?

— É algo divertido! — respondeu Hu Qing com um sorriso.

Ele então pegou o pingente de alma de seu inventário e o colocou no chão do banheiro. Em seguida, pegou o pacote de sal misturado com pimenta e fez um círculo ao redor do pingente.

Ao terminar, Hu Qing olhou ao redor e percebeu que, visualmente, não parecia nada especial — apenas sal espalhado pelo chão. No entanto, ele ouviu um grito de surpresa de Liu Qingqing. De repente, sua figura apareceu dentro do círculo.

Liu Qingqing ficou visivelmente confusa, sem entender o que estava acontecendo. Ela tentou sair do círculo, mas algo surpreendente aconteceu: o que parecia ser apenas sal no chão formou uma barreira invisível, bloqueando sua passagem.

Hu Qing ficou espantado com aquilo. Incrível! Sal misturado com pimenta realmente funcionava? Será que as histórias dos filmes chineses sobre o uso de sangue de cachorro pretos contra zumbis também tinham um fundo de verdade?

Frustrada, Liu Qingqing começou a reclamar, batendo o pé no chão:

— Senhor Hu, como você pode me prender assim, eu exijo meus direitos humanos!

— Mas você não é humana! — respondeu Hu Qing, rindo, enquanto saía do banheiro.

Vendo que o método funcionava, Hu Qing voltou para o computador e enviou uma mensagem de agradecimento a Sam Winchester, aproveitando para perguntar mais algumas coisas. No entanto, desta vez, Sam não respondeu imediatamente.

Durante a noite, Hu Qing verificou várias vezes se Liu Qingqing realmente não conseguia sair do círculo antes de finalmente se deitar e dormir tranquilamente.

Enquanto isso, no banheiro, Liu Qingqing desenhava círculos no chão com os dedos, claramente amaldiçoando o homem que a havia "injustamente" aprisionado.