Principado

15:23 PM - ???

Enquanto a batalha entre Azazel e Jofiel rugia, Kazuhiko e Miguel foram subitamente puxados para outra dimensão. O ambiente era surreal—uma vasta sala feita inteiramente de madeira de carvalho, iluminada por uma luz etérea e bruxuleante. No centro, uma balança colossal dominava o cenário, com duas chamas tremeluzindo em seus pratos.

Kazuhiko e Miguel se encontravam um diante do outro, suas feridas da batalha completamente ausentes, como se seus corpos físicos não existissem ali.

Kazuhiko: — Que lugar é este...? Por que me sinto tão leve...?

Miguel: — Seu miserável imundo... recorrestes a táticas tão sujas para vencer... Mas não importa. Isso só está atrasando o inevitável.

De repente, o chão tremeu violentamente, como se algo despertasse. A balança começou a pulsar, emitindo um som profundo e ressoante, como um coração batendo. Kazuhiko arregalou os olhos, surpreso, mas manteve a compostura.

Então, uma voz surgiu das profundezas do desconhecido.

???: — Ora, ora... chegou mais um dia do julgamento divino. Onde o mal é expurgado e todos os segredos são revelados.

Miguel soltou uma risada seca, sarcástica.

Miguel: — Engraçado... sempre achei que o julgamento servisse apenas para os pecadores. Mas como pode ver, eu sou um ser perfeito. — Ele abriu os braços, confiante. — Sem falhas. Sem pecados. Já esse garoto... um aliado dos demônios, mesmo sendo tão jovem. Para mim, isso já deveria ser punição suficiente.

???: — Cale-se.

A voz cortou o ar como uma lâmina afiada.

???: — Eu decido o que é justo. Mas primeiro... vamos falar sobre você, Kazuhiko Shogo.

Kazuhiko estremeceu ao ouvir seu nome.

???: — Um jovem que foi manipulado pelo mal com o propósito de fazer o bem. Suas intenções são nobres, mas você é apenas um peão, um receptáculo sem autonomia. — A voz pausou por um instante. — Você deveria ter mais cuidado... nunca se sabe o que pode acontecer com aqueles que são usados. Você é fraco, ingênuo... e, sinceramente, nem deveria estar aqui.

Kazuhiko baixou a cabeça, sem palavras.

???: — Agora, quanto a você... Miguel.

O ar pareceu ficar mais denso, e um arrepio percorreu a espinha do arcanjo.

???: — O líder dos anjos. O autoproclamado ser perfeito. Mas me diga... você nunca se perguntou como tudo sempre deu certo para você?

Miguel franziu a testa, irritado.

Miguel: — Isso deveria ser óbvio. Fui escolhido pelo próprio Deus! Eu tenho o direito de estar aqui. Todos são inferiores a mim!

Kazuhiko olhou para Miguel, seu olhar carregado de tristeza e inveja. Como alguém poderia ter tanta certeza de seu destino?

De repente, a sala começou a rachar. A voz explodiu em uma gargalhada tão poderosa que fez as paredes tremerem.

???: — HAHAHAHA... dois ingênuos diante da verdade. Que espetáculo fascinante.

A balança brilhou intensamente, e a chama do lado de Miguel começou a escurecer.

Miguel: — O quê? O que está acontecendo?!

???: — Antes de começarmos o julgamento... vou lhe dizer quem você realmente é, Miguel.

Miguel piscou, confuso.

Miguel: — Do que está falando?! Eu não tenho nada a esconder!

A voz riu novamente, mas desta vez, de forma baixa e ameaçadora.

Então, o lado da balança de Miguel começou a descer.

Miguel: — O que?! Por que está descendo?! Eu não fiz nada de errado!

???: — Ah, Miguel... — a voz suspirou, cheia de ironia.Você julga Kazuhiko por ser um receptáculo... mas você também é um.

O ar da sala explodiu em energia pura. Miguel gritou quando uma força invisível começou a se desprender de seu corpo, como se algo estivesse tentando emergir de dentro dele.

???: — Pare... aqui não.

A energia cessou repentinamente, mas Miguel ficou ofegante, suando frio.

Miguel: — O... o que foi isso?!

???: — Você é uma ameaça a todo o universo, Miguel. — A voz soou fria e definitiva. — Por roubo de uma arma celestial contra a humanidade... por cometer homicídios em escala cósmica... E por causar uma guerra com um perigo universal, você será sentenciado a quatro milênios de prisão com sua alma selada.

Miguel arregalou os olhos.

Miguel: — NÃO! NÃO! EU TENHO QUE MATÁ-LO PRIMEIRO!!

Desesperado, ele avançou para atacar Kazuhiko. Mas antes que seu golpe pudesse alcançar o garoto, a dimensão se distorceu violentamente, e ambos foram lançados de volta para a Lua.

Kazuhiko caiu na superfície lunar, sentindo seu corpo resistir ao vácuo mesmo sem a presença de Kokuei. Do outro lado, Miguel estava inconsciente.

Kazuhiko: ((O que foi isso...? Aquele julgamento... não foi completo. A voz deixou de dizer algo por causa daquela força estranha... o que será que era?))

Kokuei: ((Ei... tem algo errado. O corpo dele está emanando uma aura bizarra...))

Kazuhiko virou-se justo a tempo de ver Miguel começar a tremer violentamente. Seu corpo trincou como vidro, liberando explosões de luz e raios que cortavam a superfície lunar, criando fendas colossais.

Então, Miguel gritou.

Um grito tão poderoso que ecoou até a Terra.

Na superfície terrestre, os Caídos sentiram o impacto. Gabriel olhou para o céu em pânico, então agarrou Castiel e começou a recuar.

Gabriel: — Essa guerra acabou... Talvez seja o fim da Terra. Precisamos sair daqui!

Castiel: — Perdão... por não ter feito nada... Isso arruinou minha reputação...

Gabriel: — Não temos tempo para lamentações! Nossa segurança vem primeiro!

Miyako, observando pela janela, apertou os punhos.

Miyako: — Não morra... idiota.

Rafael: — Vocês está vendo isso?! Acabou, Miguel deve ter se irritado demais e está metendo o foda-se para a Terra! É o fim do mundo!—

Antes dele extender seu grito, Miyako dava um soco na cabeça do arcanjo, o nocauteando.

Miyako: — Aff... Você fala demais, não quero passar o fim do mundo do seu lado não.

Ryuji, que tinha chegado no bunker alguns minutos atrás, gritava com ela.

Ryuji: — Ei! Pelo menos você tem a mim!

Miyako: — Credo, você me assustou, eu até esqueci que tu veio também...bem, temos que nos preparar pro pior, vamos sair daqui.

Ryuji: — Certo... E quanto ao pombo ali?

Miyako olhava para o Rafael, com olhar de desprezo, ela logo o colocava de baixo de um dos seus braços, o carregando.

Miyako: — Levaremos também, infelizmente.

Ryuji: — Certo.

Assim, ambos saíam do bunker, indo pro horizonte.

Voltando...

O clarão foi tão intenso que cegou Kazuhiko por um instante.

Quando sua visão retornou, o que viu o deixou sem palavras.

Miguel já não era mais Miguel.

Seu corpo estava deformado, uma coroa flamejante adornava sua cabeça, e suas asas ardiam em chamas eternas. A luz que emanava dele era fraca, mas inegavelmente divina.

Kazuhiko sentiu um frio na espinha. Aquilo não era mais um anjo... nem um arcanjo.

Então, a criatura falou.

???: — Muito bem... você aprisionou meu pobre receptáculo. Agora, terei que limpar a bagunça dele.

O ser ergueu a mão.

Instantaneamente, uma parte da Lua foi reduzida a poeira cósmica.

Kazuhiko, sem uma base para se segurar, começou a flutuar no vácuo.

???: — Uma guerra inteira... por causa de um mero garoto.

Ele olhou diretamente para Kazuhiko, sua voz carregada de desprezo.

???: — Quem você pensa que é... para ser tão valioso? O Senhor enlouqueceu ao ordenar que anjos perseguissem alguém como você.

O ser abriu os braços.

???: — Muito bem... Eu sou Hiroy, o Principado.

O silêncio do cosmos foi quebrado pelo rugido flamejante de Hiroy. Raios de luz incandescentes, cobertos por um fogo abrasador, partiram como lanças divinas na direção de Kazuhiko. Ele desviava por instinto, seu corpo movendo-se no vácuo em reflexos impecáveis. Mas o calor? O calor era outra história. A temperatura ao redor era tão absurda que distorcia o espaço, fazendo a pele de Kazuhiko arder mesmo sem contato direto.

Hiroy: — Hmm... pelo menos isso você consegue sem precisar invocar seu bichinho de estimação... — Hiroy zombou, erguendo um novo par de braços flamejantes.

Em uma das mãos, um cetro reluzente irradiava poder celestial. Na outra, a Excalibur, resplandecente e coberta pelas chamas divinas de um Principado.

Kazuhiko: — Porra! Isso é demais pra mim! — Kazuhiko rosnou, sentindo o peso esmagador do combate.

Kokuei: (( É... pode ser mesmo, mas eu perdi energia ao fazer aquele ritual. Você vai ter que aguentar e enfrentar esse cara. Se adaptar à força dele é a chave. ))

Kazuhiko: — Tsc... fala como se fosse fácil!

Seu pecado da Inveja começou a agir. Aos poucos, ele se ajustava à força e à velocidade dos ataques de Hiroy, sua mente e corpo se moldando ao desafio. Passo a passo, ele avançava, aproximando-se cada vez mais do Principado.

Hiroy observou com um sorriso de aprovação.

Hiroy: — Entendo... então foi assim que sobreviveu contra os anjos até agora. Muito bem.

De repente, Hiroy cessou os ataques à distância e avançou num piscar de olhos. Mesmo adaptado, Kazuhiko não teve tempo de reagir. O mundo se dissolveu em dor quando, numa fração de segundo, seu corpo foi mutilado em incontáveis cortes.

Kazuhiko: — O... O quê?!

Hiroy: — Você é realmente ingênuo. — Hiroy zombou. — Acha que pode copiar a força de um Principado sem que eu aumente ainda mais meu poder? O que eu possuo vai além da sua compreensão, escória!

A lâmina flamejante desceu como o juízo final. Kazuhiko se esquivou, mas tarde demais. Um corte profundo abriu sua barriga, expondo parte de seu intestino delgado. A visão grotesca e a dor excruciante fizeram sua mente girar.

Kokuei: (( Acalme-se! São só alguns órgãos saindo! Você desviou do pior. Se não tivesse, agora estaria partido ao meio! ))

Kazuhiko cravou os dentes, o suor se misturando ao sangue que escorria pelo seu corpo.

Kazuhiko: — Porra...!

Mas Hiroy não lhe daria trégua. Em um instante, cortes implacáveis surgiram por todo seu corpo. Ele tentava defender-se, tentava regenerar-se com o Pecado da Ganância, mas Hiroy era rápido. Rápido demais. As feridas não fechavam a tempo, e a dor se acumulava.

Hiroy ergueu sua espada para o golpe final. Mas desta vez, Kazuhiko ergueu o próprio braço como defesa. O impacto cortou profundamente sua carne, mas não chegou ao osso.

Hiroy: — Você realmente tem sorte de carregar essas maldições. Mas falta experiência!

Hiroy apertou os dentes, aumentando a pressão. Chamas avassaladoras consumiram o corpo de Kazuhiko, reduzindo sua pele a carvão.

Hiroy: — Mesmo conseguindo defender-se, não pode se regenerar se suas células forem completamente desintegradas!

Antes que pudesse reagir, Hiroy agarrou o rosto de Kazuhiko e disparou pelo espaço. A velocidade era absurda. Num piscar de olhos, o Sol se tornou um titã flamejante diante deles.

Kazuhiko foi jogado diretamente dentro da estrela.

O mundo se dissolveu em luz e dor. Seu corpo começou a se desintegrar completamente. Mas mesmo enquanto queimava, ele lutava para regenerar-se, absorvendo a energia e a radiação solar.

Hiroy franziu a testa, intrigado.

Hiroy: — Hm? Então o mortal ainda aguenta um solzinho... Pois bem!

Ele mergulhou no coração da estrela, emergindo intocado pelas chamas. Sem hesitar, perfurou o abdômen de Kazuhiko com a Excalibur, empurrando-a cada vez mais fundo.

Mas Kazuhiko não gritou.

Algo estava diferente.

Sua carne carbonizada começou a se solidificar, assumindo uma textura rígida como uma armadura negra. Seus olhos haviam sido queimados até a cegueira total. Mas, ironicamente, isso o tornava ainda mais aterrorizante. Seu rosto agora era um vazio de trevas, um cadáver sem olhos que continuava a lutar.

Então, ele riu.

Uma risada gutural e demoníaca.

Kazuhiko: — Bora pra um segundo round...?

Pela primeira vez em sua existência, Hiroy hesitou.

Um arrepio percorreu seu ser celestial. Mas logo, o medo foi substituído por empolgação.

Hiroy: — Haha! Muito bem! Eu estou gostando disso!

Kazuhiko agarrou a Excalibur fincada em seu corpo. Mesmo com Hiroy aplicando pressão, ele a arrancou com facilidade. Seu corpo, agora fundido ao poder do Sol, irradiava uma presença monstruosa.

Hiroy rugiu e lançou-o ainda mais para o centro da estrela.

— Você pode ter ficado mais forte, mas ainda está cego! Isso facilitará muito!

Ele se moveu mais rápido que a luz, atacando de todas as direções. Kazuhiko sentiu o ar vibrar ao seu redor, mas não conseguia prever de onde viria o golpe.

Até que...

Kokuei: (( NA DIREITA! ))

Kazuhiko instintivamente defendeu e contra-atacou.

Seu punho explodiu contra Hiroy, causando uma erupção solar.

Hiroy: — Argh!

Hiroy revidou. Seu soco quebrou a armadura de Kazuhiko e o jogou de volta à Terra.

O guerreiro atravessou a atmosfera em chamas, despencando como um meteoro. O impacto criou uma cratera colossal, obliterando um distrito inteiro da cidade.

No espaço, Hiroy ergueu as mãos. Uma cruz flamejante colossaaaaal começou a se formar.

— Acabou. Se o Senhor realmente se importasse com essa escória, Ele me impediria, VOU ACABAR COM ESSE PLANETA JUNTO COM VOCÊ, SEU LIXO!

A cruz desceu.

A Terra começou a tremer. O desespero tomou conta da população.

Kazuhiko, no fundo da cratera, mal conseguia mover-se.

Kokuei: (( Levanta! Tu ainda pode lutar! ))

Kazuhiko: — Eu... não consigo...

Então, uma voz do além ecoou ao seu redor.

???: — Já vai desistir?!

Uma figura emergiu diante dele, sorrindo.

???: — Eu defendi a Terra enquanto você esteve fora. Agora, é sua vez. Você começou essa guerra comigo, então vamos terminar lutando. Levante-se e prove que é digno de ser meu rival.

A figura desapareceu.

Kazuhiko arregalou os olhos.

O fogo da determinação explodiu dentro dele.

Seu corpo se ergueu, mesmo com os ossos quebrados e a dor sempre presente por causa de sua regeneração interminável.

Ele olhou para o céu.

Kazuhiko: — Venha! Eu irei impedir tudo que você enviar!

Ele cerrou os punhos.

Kazuhiko: — EU CARREGO A FORÇA DE VONTADE DE TODOS QUE LUTARAM! E EU IREI SALVAR ESSE PLANETA!

Continua...