Terra - 15:35PM
O mundo inteiro tremia. O céu, outrora azul, agora era dominado por um feixe de luz colossal, um julgamento divino prestes a se concretizar. Humanos ao redor do planeta olhavam para cima, alguns em lágrimas, outros em desespero, e alguns apenas aceitando seu destino. Aqueles que haviam cometido crimes ou carregavam pecados profundos tinham seus olhos queimados pela intensa luminosidade, como se já tivessem sido condenados ao inferno.
No centro daquele caos, Kazuhiko jazia no solo, seu corpo desfigurado pelo excesso de regeneração. Apenas seu punho direito ainda tinha força para se mover—o resto estava inutilizado, resultado do impacto brutal que o lançou à Terra.
Kazuhiko: — Eu... não consigo... é muito para mim. Eu só queria ser um garoto normal... estudar... ser um grande investigador. Pai... esse era o meu sonho...
Ele fechou os olhos. E então, se viu de volta ao passado.
Memória
Ryōshi: — Hahaha! Filho! Sai desse quarto, seu pai voltou!
Kazuhiko: — Ah... Oi, pai. Bem-vindo de volta... pela décima vez...
Ryōshi: — Qual é, Kazu! Você sabe que seu pai é um homem ocupado. Trabalho duro para trazer comida pra mesa.
Kazuhiko: — Ah, sério? Eu ficaria impressionado se você finalmente contasse qual é o seu trabalho.
Ryōshi: — Bem... é algo grande. Mas complicado demais para você. Quando tiver mais idade, eu te conto. Agora venha, hoje o céu está lindo.
Apesar de sua resistência, Kazuhiko acompanhou seu pai até a varanda. A cidade se estendia abaixo deles, iluminada pelas luzes urbanas, mas o que realmente se destacava era o céu—repleto de estrelas.
Kazuhiko: — O que tem demais nisso...?
Ryōshi: — É a beleza deste mundo... Temos o privilégio de testemunhar tudo isso. A natureza, o mar, as estrelas... tudo isso é uma bênção.
Kazuhiko: — E o que isso tem a ver comigo...?
Ryōshi: — Você acredita em anjos?
Kazuhiko: — O quê...? Por que essa pergunta do nada?
Ryōshi: — Porque seria perfeito demais se fôssemos os únicos no universo a ter esse privilégio. Você acha mesmo que tudo isso foi apenas obra do acaso...?
Kazuhiko olhou para o pai, desconfiado.
Kazuhiko: — Pai... que papo estranho é esse...?
Ryōshi: — Hahaha, esquece. Eu já falei demais. Meu trabalho é algo grande... algo que ninguém mais suportaria. Mas e você, Kazu? O que quer ser?
Kazuhiko: — Hm... gosto da ideia de investigar coisas.
Ryōshi: — Um investigador, hein? Hahaha! Meio irônico... Então, quando for um, seja maior do que eu jamais fui. Assim, quem sabe, poderemos finalmente vencer esse jogo chamado vida.
Ryōshi passou a mão na cabeça do filho, bagunçando seus cabelos.
Kazuhiko: — Ei... pra quê isso...?
Ryōshi: — Eu te amo, garotão. Espero que realize seu sonho... e se torne o maior investigador que já existiu.
Por um momento, Kazuhiko não entendeu aquela atitude. Mas, sem perceber, sorriu.
Presente
A lembrança dissipou-se, e Kazuhiko abriu os olhos, um sorriso leve nos lábios. Seu corpo estava prestes a ceder, mas, quando parecia que cairia de vez, sentiu mãos segurando-o.
Kazuhiko: — ...?
Mesmo sem forças, ele percebeu que várias figuras o sustentavam—Akiko, Azazel, seu pai, sua mãe, Miyako.
Ryōshi: — Não desista, filho. Você é grande... maior do que qualquer um jamais foi.
Azazel: — Isso mesmo! Eu vi sua força com meus próprios olhos, e não me sacrifiquei à toa pra você morrer aqui!
Masuo: — Filho... me perdoe. Eu deveria ter percebido o peso que você carregava. Mas saiba que estou aqui. Eu te amo, Kazuhiko. Quando precisar desabafar, venha até mim.
Miyako: — Apesar de tudo, eu admito... Você é um bom homem. Só você pode definir o certo e o errado. Eu confio em você, então não ouse morrer, idiota!
Akiko: — Você... fez amigos e tanto, não é?
Kazuhiko congelou ao ouvir aquela voz.
Kazuhiko: — Akiko...!
As lágrimas vieram involuntariamente.
Akiko: — Não sei o que dizer. Você é esforçado, engraçado, interessante... e forte. Nunca me arrependi de ter morrido dizendo que te amava. Mas, Kazuhiko... por favor, esqueça essa raiva. Eu sei o ódio que você guarda dentro de si. Eu não quero isso. Independentemente do que aconteça, sempre estarei com você, em seu coração. Então agora... levante-se, Kazuhiko, o Grande!
Kokuei: ((E EU TAMBÉM FAÇO PARTE DESSA RODA, NÃO ME ESQUEÇA!!))
Kazuhiko sorriu. Fechou os punhos. E, com todas as forças que ainda restavam, preparou-se para o soco final.
Kazuhiko: — Pessoal... obrigado.
O Último Impacto
O feixe de luz caía, cada vez mais próximo da Terra. Kazuhiko reuniu toda a sua energia, saltando com um impulso devastador direto contra ele.
Hiroy: — Hm? Ele enlouqueceu? Escolheu ser o primeiro a morrer...!
Kazuhiko permaneceu calmo. Respirou fundo. E, quando tocou a luz, gritou com toda a sua alma.
Kazuhiko: — AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!
Seu punho colidiu contra o feixe. Seu corpo começou a desintegrar-se, mas, no instante final—
Kokuei: ((AGORA! ATIVE O PECADO DA IRA!))
Seus olhos brilharam em vermelho. Sua humanidade desapareceu. Seu corpo se envolveu em sombras, absorvendo a luz ao redor. Com um rugido animalesco, avançou na direção de Hiroy.
Hiroy: — MORRA LOGO, SEU DEMÔNIO!!
Hiroy concentrou ainda mais poder no golpe. A luz ficou insuportável, fazendo Kazuhiko recuar por um instante. Mas ele não parou. Ele avançou. Ele não iria perder.
Hiroy conjurou um segundo feixe, mais poderoso, que atingiu Kazuhiko diretamente no peito, quase o perfurando.
Kazuhiko: — AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!
Ele gritou de dor, mas não recuou. Um instante depois, ele atravessou o feixe—e atravessou Hiroy junto.
Hiroy: — Impossível...!!!
A ira cessou, e Kazuhiko sacou a arma misteriosa. O cano frio encostou na testa de Hiroy, que mal conseguia se mover.
Hiroy: — Essa arma... não me diga que A GUERRA ESTÁ DO SEU LADO?!
Kazuhiko: — Estando ou não,eu mostrarei a luz para todos e com essa arma, finalmente poderei mudar este mundo, começando por você. Adeus, Hiroy.
Hiroy: — NÃO, ESPERA!! SE TU ME MATAR, ELES VÃO VIR—
BANG!
A bala divina penetrou sua pele e dissolveu seu cérebro. Seu corpo começou a inchar. E então... explodiu.
Kazuhiko olhou para a Terra. E, pela primeira vez, enxergou o que seu pai sempre viu.
Kazuhiko: — Agora eu entendo, pai... A Terra realmente é a verdadeira beleza...
Ele desmaiou. Seu corpo começou a cair.
Kokuei: ((EI, ACORDA, SEU MERDA!!! ESTAMOS CAINDO!!!))
Anjos caídos o resgataram no último momento, onde o mesmo desmaiava de excesso de pressão e de dor que sentia
No distante, duas figuras estava vendo o final da guerra e como aquilo que antes era um deserto, agora é um monte de crateras e ravinas enormes consumindo toda a areia que ainda restava.
Miyako: — Kazuhiko venceu mesmo... ele até pode ser um idiota, mas tem meu respeito.
Ryuji: — E desta vez nem precisei resgatar ele... realmente, ele cresce rápido.
Miyako: — Ah cala a boca, não fique se achando só por que tu tem uma arma lendária pra compensar seus defeitos.
Ryuji: — Ah vamos lá, põe um pouco de confiança no seu irmão, mesmo sem a minha katana, eu consigo muito bem matar anjos, e até um arcanjo se duvidar, esqueceu de como o salvei de uma explosão à queima-roupa de um arcanjo? Eu me garanto na velocidade.
Miyako: — Tá tá, tanto faz. Agora... A única coisa que eu consigo pensar que o Ryōshi disse que tinha uma arma, uma arma lendária que iria ser entregue pra Kazuhiko pra acabar com o Miguel, ou sei lá o que era aquilo.
Ryuji: — Como assim? Ele já sabia que alguém o entregaria uma arma?
Miyako: — Aquele cara não é normal, ele tem uma intuição sobrenatural... E essa pessoa que entregou a tal arma, é o principal suspeito de causar mais uma outra guerra, desta vez... Bem maior.
Ryuji: — Então essa pessoa... Invés de ajudar, ele só queria causar mais caos e morte em cima da arma?
Miyako: — Exato, ele sabia que apenas uma arma divina mataria aquilo, então ele entregou uma arma que tem capacidades de matar qualquer um, isso é um perigo em escala universal e bem provavelmente causaria uma outra guerra pra recuperar ela.
Ryuji: — Resumindo... Agora Kazuhiko está muito fudido.
Miyako: — Provavelmente sim.. e é por isso que nosso descanso acabou, iremos agir de acordo que Ryōshi nos disse, talvez assim... Isso amenize a pressão que Kazuhiko estará pra sofrer, principalmente agora.
No inferno
Um homem estaria no meio de uma horda de demônios e monstros nunca antes vistas, eram grotescas e bizarras, com uma simples lança, o homem obliterava esta horda em centésimos, mal dava pra saber quantos milhares de monstros ele matava por segundo, quando a horda acabava, ele estava no meio de centenas de cadáveres e pedaços de membros e órgãos, ele limpava seu rosto e o relógio em seu pulso vibrava, causando um leve tremor na área, ele olhava e dava um leve suspiro, o ponteiro menor estava indo em um horário, onde estava escrito "apocalipse". Ele olhava pro céu que parecia só um monte de carne.
Ryōshi: — Kazuhiko... Agora não dá pra voltar atrás... além disso...
Ele voltava sua atenção no monte de corpos, fixando seu olhar com rigidez.
Ryōshi:— Dá pra você parar de fingir que é um dos monstros e se fingir de morto? Eu acho bizarro toda vez que eu te corto, Scarlett.
Logo de baixo de monte de carne, uma criatura surgia, toda decepada e com furos, que o mesmo se regenerava instantaneamente, ele sorria de forma grotesca, como se ele gostasse da sensação de ser cortado.
Scarlett: — Ah qual é, tu sabe muito bem que eu sempre fico no tédio quando te ajudo a matar esses bixos sem graça, então por que eu não só participo e fico sentindo na pele deles como é ser cortado e perfurado por você?! É bem mais divertido.
Ryōshi: — Sério... Você e seus hobbys... Nunca vou me acostumar contigo, a cada semana tu faz algo bizarro pra se divertir.
Scarlett: — Bom, é por que eu acho sua raça interessante! Então eu decidi me divertir contigo, nós somos amigos afinal, e é isso que amigos fazem! Se divertem, não é?!
Ryōshi suspirava, andando no meio dos cadáveres.
Ryōshi: — Só que esqueceu a parte de que só vocês consegue se divertir com isso... Nós estamos numa missão aqui, temos que procurar Lúcifer, ele derrepente sumiu quando a guerra acabou, e isso não é nada bom... Sem ele, o submundo perde seu controle e começa a distorcer dimensões... Até chegar eventualmente na terra, e se isso acontecer, será o fim do mundo.
Scarlett dava umas risadas, parecia mais uma proposta do que uma explicação pra ele.
Scarlett: — Hmmm, eu gosto de como o "fim do mundo" soa, estarei rezando pra satanás pra que nunca acharmos o Lúciferzinho!
Ryōshi: — Só... Cala a boca, vamos, ainda temos um longo inferno pra procurar...
Ryōshi olhava uma última vez pelo o céu de carne, com um rosto sério desta vez, sussurrando pra si mesmo.
Ryōshi: — Só espere por mim, Kazuhiko... Eu estarei contigo, eu prometo.
Em algum lugar do universo, num ambiente totalmente escuro.
O homem chegava no ambiente com um saco de salgadinhos em suas mãos, comendo e estando bem sorridente, junto com algumas risadas, até que o ambiente era preenchido por mais três presenças, cada uma emanando uma aura bizarra.
???: — Você realmente passou do seu limite... Você tem idéia de como é um desastre não só interferir numa guerra que não é de nossa conta, como entregar a um mortal uma arma lendária que é capaz de matar simplesmente tudo, além de negar qualquer tipo de alteração e manipulação conceitual? Você realmente enlouqueceu.
A outra voz, desta vez feminina, acompanhava.
???: — Sério, se tu não fosse meu irmão... Eu juro que já teria te matado umas seis milhões de vezes.
E por fim, uma voz mais calma, porém com tom arrogante acompanhava a discussão.
???: — Irmão, espero que saiba que tudo isso que fez terá consequências, sabe disso não é? Sabe o que pode causar com tantas interferências, além de deixar um mortal portar uma arma de nível universal?
O homem sorria de forma determinada, jogando o saco de salgadinhos que finalmente terminava, que era sugada pela a escuridão, ele já tinha a resposta de todas as questões e não ligava pros sermões dados.
???: — Isso não é óbvio? Depois de tanto tempo testemunhando essas guerras mesquinhas de humanos se enfrentando, eu estava entediado, então decidi apimentar um pouco as coisas, além de achar aquela criança interessante... IRMÃOS, ISSO SERÁ GUERRA, E MOSTRAREI A VOCÊS, COMO É TER A EMOÇÃO DE LUTAR PERCORRENDO EM SUAS VEIAS, EU, GUERRA IREI MUDAR ESTE MUNDO COM ESTA GUERRA, HAHAHAHA!!
FIM DA PRIMEIRA SAGA