Cansaço

Caverna dos caídos

Já se passou duas semanas desde aquela guerra, já não sei mais o que pode acontecer, mas desde aquilo, meu corpo não funciona apropriadamente, me sinto estranho, vazio, quebrado. Meu nome é Kazuhiko Shogo, eu passei os últimos dias da minha vida lutando com coisas que eu nunca imaginei que seria real, anjos, arcanjos, e até mesmo um principado... Eu passei por muita coisa ultimamente, me aliei com anjos caídos, e fiz até uma rivalidade com o líder deles, Azazel, mas ele morreu... E nunca mais irá voltar.

Eu só imaginei o quanto isso é a minha culpa, eu trouxe essa guerra afinal, por causa desse demônio que reside dentro de mim, Kakuei o nome. Eu me questiono se isso ainda vale a pena, estou sendo cuidado com os restantes dos caídos, o que antes eram cem deles, agora são míseros quinze. Muitos morreram por minha causa, talvez os anjos realmente estejam certos... Eu sou uma ameaça, e a situação piorará mais ainda depois que matei Hiroy com esta arma, ela que apareceu subitamente, eu nem sei quem me entregou isso, ou como ela apareceu... Mas eu sinto que isso vai me trazer em mais um mar de caos, e sinceramente... Não sei se aguento.

Na entrada da caverna

Duas figuras apareceriam, com uma delas ainda segurando um corpo que estava fazendo um barulho e tanto, os dois guardas caídos na entrada começaram a gritar que tinham inimigos, mas todos eles ainda tinham feridas visíveis da guerra, eles iriam pra entrada segurando suas armas, uma das figuras suspirava.

Miyako: — Juro... É por isso que não suporto vocês, caídos.

Anjo caído: — Não devemos deixar eles entrar! Eles eram inimigos que mataram muito de nossos aliados, devemos proteger nosso futuro líder!

A outra figura desta vez, segurando o corpo, levantava sua cabeça, indignado com as palavras do soldado.

Ryuji: — Novo líder? Será que vocês estão falando do...

Antes de Ryuji completar sua sentença, no meio dos caídos, um jovem se rastejava do chão, ele estava completamente enfaixado e com várias deformações em seu corpo, os caídos vendo isso, quase se desesperavam com a presença do jovem naquele estado crítico.

Caídos: — Líder!! Tu não deveria estar aqui! É perigoso ficar aqui quando temos inimigos!

O olhar cansado do jovem olhava pros soldados, nem tendo forças pra dialogar apropriadamente.

Kazuhiko: — Saiam... São meus amigos...

Sua voz sairia, mas não tinha nenhum impacto, é como se ele tivesse sussurrado pra si mesmo, os caídos ainda insistiam em fazer ele retornar pra caverna.

Caídos: — Líder! Tu não entende, eles mataram vários de nossos colegas, não podemos simplesmente—

A fala do soldado era coberto com um grito do mesmo jovem, que tinha colocado todas suas forças em suas cordas vocais.

Kazuhiko: — EU DISSE, ELES SÃO MEUS AMIGOS, ABAIXEM ESSAS ARMAS!

Porém, isso o fazia tossir sangue, o deixando ainda mais debilitado, os caídos finalmente seriam oprimidos com aquelas palavras, saíndo da posturas de defesa deles e recuando um pouco, deixando Kazuhiko na frente.

Miyako e Ryuji não podiam dizer nada, aquela cena era realmente deplorável, é como se ele tivesse envelhecido dezenas de anos, mesmo sabendo que era um jovem colegial, mas Miyaki tomava a iniciativa, indo até ele e se agachando na sua frente, pra olhar mais perto dele.

Miyako: — Eu... Estou sem palavras. Você realmente deu tudo de si pra salvar o planeta... Mas você apenas foi recompensado com uma dor gigantesca e a sensação do vazio, eu consigo sentir isso. Você sente o mesmo que nós, caçadores... A dor, o vazio dentro de si, seu cérebro se quebrando em várias partes até num ponto onde você desiste de viver, é nisso que está pensando agora, não é...?

Kazuhiko não dizia nada, ele apenas era repreendido, olhando pro chão com um olhar cansado, como se ele estivesse prestes a perder sua consciência.

Kazuhiko: — ...

Miyako olhava para ele, o observando com mais atenção, ele se levantava e desta vez olhava pro céu nublado.

Miyako: — Nós ainda podemos salvá-lo... Se quiser.

Kazuhiko sentia aquelas palavras, ele tremia, olhando pro rosto de Miyako, que continha uma expressão determinada. Ele abria sua boca pra falar, mas ele tremia bastante, rangendo seus dentes que agora estavam vermelhos de seu sangue.

Kazuhiko: — C-Como...? Pra me usarem em uma outra guerra? não... Estou cansado disso tudo. Eu quero apenas descansar... Será melhor pra todos nós...

A expressão de Miyako agora se aparentava irritada com as palavras dele, mas manteria sua postura, ainda olhando pro céu, que estava escurecendo de nuvens carregadas de águas, até começar a pingar um pouco aonde estavam.

Miyako: — Sério... O quanto você pode ser egoísta sobre isso? Não percebe que este mundo está prestes a desmonorar? Já é tarde demais pra se arrepender das coisas e simplesmente jogar tudo fora, temos que manter esse lugar inteiro, pra sua mãe e pra todos seus colegas da sua escola.

Kazuhiko, agora se sentindo ainda mais irritado, usava suas forças em seus braços pra levantar seu rosto do chão, olhando desta vez pra ela com seriedade.

Kazuhiko: — E O QUE VOCÊ SABE?! VOCÊ NÃO É A PESSOA QUE ALÉM DE TER UM DEMÔNIO DENTRO DE SI, TEVE SUA MELHOR AMIGA MORTA NA SUA FRENTE, E FOI ARRASTADO NESSE MONTE DE MERDA DE ANJOS APENAS PRA MANTER MINHA VIDA INTEIRA, EU ESTOU APENAS SENDO USADO POR VOCÊS, PELO O DEMÔNIO E TUDO QUE APARECE NESSE MUNDO, EU NÃO SOU UM FANTOCHE CARALHO! eu sou.. apenas um jovem... Querendo viver e ser um investigador quando crescer... Ter uma família e poder morrer com um sorriso no rosto, sabendo que meus filhos estarão aqui pra tentar mudar o mundo para o melhor...

Kazuhiko agora perderia novamente suas forças, caindo no chão e começando a chorar, não só de dor que ele sentia, mas das emoções que ele sentia.

Kazuhiko: — Minha vida foi estragada por causa de vocês... E você é a pessoa que me chama de egoísta? O qual antipática tu tem que ser pra falar uma coisa dessas...

Miyako novamente suspirava, Ryuji veria que estava ficando ainda mais difícil de conversar com Kazuhiko, já que ele estava falando tudo que sentia naquele momento, e com razão, ele iria interferir, mas Miyako abria sua boca mais uma vez, desta vez com a chuva se intesificando e molhando todo o cenário.

Miyako: — Você não sabe de nada... Você é a vítima, mas não é a única pessoa que sofre nesse mundo, imagina como sua mãe reagiria se te vesse no chão neste estado falando em desistir de viver?! Como seu pai ficaria depois de descobrir que seu filho não aguenta mais?! Eu sei que você está sob pressão de todo mundo caralho, mas EU TAMBÉM, ESTOU, RYUJI ESTÁ, SUA MÃE, ESTES CAÍDOS, SEU PAI, ASSIM COMO TODO MUNDO NESSE PLANETA QUE PASSA POR UMA DIFICULDADE DIFERENTE, TU SE ACHA NO DIREITO DE SIMPLESMENTE DESISTIR DA VIDA POR QUE A VIDA ESTÁ DIFÍCIL?! FAÇA ME UM FAVOR!!

Kazuhiko ainda mais irritado, arranjava forças do além apenas pra se levantar.

Kazuhiko: — Novamente, você realmente não sabe de nada! Do que adianta falar tanta merda como essa sendo que não mudará porra nenhuma?! Eu ainda estou fudido, independente de como se olha isso! Claro, você odoe colocar que a vida está difícil, MAS ESTOU LUTANDO COM PORRA DE ANJOS E ARCANJOS E SABE SEI LÁ MAIS O QUE VOU TER QUE PASSAR SE EU QUISSESE CONTINUAR! É fácil falar quando não é você quem perdeu tudo e está todo enfaixado, além de estar machucado internamente e externamente, POR QUE DIABOS EU IRIA QUERER CONTINUAR NESSA LUTA SEM SENTIDO?!

A chuva continuava a cair, intensificando-se conforme as palavras de Kazuhiko ecoavam pela planície devastada. O céu parecia chorar junto com ele, como se o próprio mundo compartilhasse sua dor. Sua respiração era irregular, seus olhos queimavam, e sua mente estava à beira do colapso.

Miyako permanecia ali, firme, mesmo diante da fúria e do desespero dele. Seus olhos carregavam uma mistura de tristeza e determinação. Ela esperou alguns segundos, deixando o eco das palavras dele se dissipar na chuva, antes de finalmente responder.

Miyako: — E por que você continuou até agora? Se tudo isso fosse inútil, se não houvesse sentido algum... então por que você ainda está aqui, Kazuhiko?

Kazuhiko arregalou os olhos. Ele abriu a boca para responder, mas não conseguiu.

Miyako: — Eu sei que dói. Sei que você quer parar, que tudo em você está gritando pra desistir. Mas se você realmente quisesse morrer… então por que, no fundo, você continua procurando um motivo pra lutar?

Kazuhiko cerrou os punhos, sua garganta travada.

Miyako: — Eu também já quis desistir. Você lembra daquele dia? O dia em que lutamos?

Ela se ajoelhou, aproximando-se dele. Seus olhos se suavizaram um pouco, como se estivesse prestes a expor uma ferida que nunca havia mostrado a ninguém.

Miyako: — Naquele dia… eu queria que você me matasse. Eu não aguentava mais essa vida fodida. Eu queria que acabasse. Mas você...

Ela engoliu em seco, um sorriso triste surgindo.

Miyako: — Você só passou a mão na minha cabeça e me poupou. E quando eu vi suas costas indo embora… eu vi uma luz. Mais branca do que qualquer anjo poderia criar, e nesse momento... Eu vi que nunca estive verdadeiramente sozinha, não mais.

Kazuhiko piscou, surpreso.

Miyako: — Você é a minha esperança, Kazuhiko. Não só pra mim… mas pra todos que estão aqui te apoiando. Você não está mais sozinho.

A chuva começou a perder intensidade. O céu, antes escuro e pesado, começou a se abrir.

Miyako se levantou e apontou para o horizonte.

Miyako: — Você consegue sentir? Todas as vidas que se perderam… elas não foram embora. Elas estão aqui, ao seu lado, porque você as atraiu com sua luz!

Kazuhiko ergueu lentamente o rosto, ofegante. Pela primeira vez, ele sentiu algo diferente no ar. Algo quente. Algo… familiar.

A escuridão nas nuvens se dissipou completamente, revelando o sol. E atrás de Miyako, um arco-íris surgiu, colorindo o céu com tons vivos e brilhantes.

Miyako olhou para ele e sorriu.

Miyako: — Ainda existe esperança. Ainda existe uma luz.

Ela estendeu a mão para Kazuhiko.

Miyako: — E agora, nós vamos lutar pra proteger essa luz.

Kazuhiko ficou imóvel por alguns segundos. Seus olhos estavam vermelhos, sua alma exausta. Mas ao olhar para a mão estendida de Miyako… ele sentiu algo diferente.

Uma pequena, quase insignificante… centelha de esperança.

Lentamente, com mãos trêmulas, ele segurou a dela.

E, pela primeira vez em muito tempo, o peso esmagador em seu peito pareceu um pouco mais leve.

Kazuhiko: — Mas... Eu ainda estou ferido... Eu não consigo me regenerar..e ainda perdir o contato com o demônio... Parece que perdi tudo por ter me sobrecarregado na luta...

Miyako sorria novamente, já sabendo a solução para o problema dele.

Miyako: — Não se preocupe, seu pai já pensou em tudo!

Kazuhiko, confuso, olhava pra ela em choque com o que ela acabou de dizer.

Kazuhiko: — Meu pai...?

De forma animada, ele iria até Ryuji que estava quase dormindo em pé, dava um chute no meios das pernas dele pra ele acordar, o mesmo sentia uma dor infernal e caía no chão.

Ryuji: — SUA VACA...!

Miyako: — Isso quando acontece quando dorme num momento desses, seu idiota!

Miyako pegava o corpo todo acorrentado e com um saco na cabeça e iria até Kazuhiko, retirando o saco que estava na cabeça, e como era de esperar, era o Rafael.

Rafael: — Mas que merda?! aonde estou?! Por que tem um monte desses corvos aqui? Vou morrer????

Miyako: — Cala a boca, porra! Não posso liberar a sua boca uma vez que tu já solta um monte de merda!

Kazuhiko, apenas olhava, indignado com a situação que passava em sua frente, e logo percebia quem aquele poderia ser.

Kazuhiko: — Espere, por acaso... Este é o Rafael?!

Kazuhiko até ignorava a sua forma deplorável com a emoção, já que Rafael era conhecido como Cura de Deus, ele talvez seria capaz de conseguir curar a condição de Kazuhiko, ele se sentia emocionado e seus olhos que antes cansados, agora se abriam e se enchiam de brilho.

Miyako: — Uhum, e é por isso que não vim de mãos vazias, achou mesmo que ia dar todo aquele diálogo pra nada, achou...?

Kazuhiko, repreendido por realmente ter achado aquilo, não fala nada.

Miyako: — Enfim, com ele, não realmente podemos conseguir sem problemas, podemos até recuperar seus poderes! E estará de volta à ativa, yey!

Ryuji, ainda agonizando no chão, olhava pra ela com desprezo.

Ryuji: — Que porra de personalidade é essa...?

Miyako chutava o rosto dele, mudando o semblante dela quase que imediatamente após ele ter falado aquilo.

Miyako: — Tsc, mas e aí... Ainda vai lutar conosco, Kazuhiko?

Kazuhiko pensava um pouco, olhando pro arco íris que estava no fundo e soltava um sorriso, depois de muito tempo.

Kazuhiko: ((Desculpa Akiko, eu não vou poder manter a sua palavra de não lutar mais, parece que... Eu formei bons amigos neste fim do mundo, não posso abandonar eles.))

Kazuhiko olhando pra Miyako, mostrando seus dentes avermelhados de seu sangue.

Kazuhiko: — Vou sim, vamos!

Miyako após ver aquele sorriso, corava um pouco, mas logo o repreendia.

Miyako: — F-Feche esse seu sorriso! Não sou seu dentista pra ver esses seus dentes sujos!

Kazuhiko: — Qual é... Isso é sangue! Não é nada demais...

Enquanto os dois descontraiam, Ryuji ainda agonizando, se levantava.

Ryuji: — Mas que merda, vocês esqueceram de mim e me fizeram de personagem secundário... Vou matar vocês...

Rafael: — Personagem secundário ainda é muito comparado à mim! Eu pareço um figurante, EU SOU UM ARCANJO MERDA!

Ryuji: — Cala a boca!

Ryuji dava um chute no corpo de Rafael que agonizava de dor, enquanto pela a primeira vez depois de muito tempo, Kazuhiko parecia feliz.

E assim, percebi que minha história não terminava aqui. No meio do caos, encontrei amigos que não posso mais abandonar. Desta vez, eu não estou sozinho… e isso me faz querer continuar. Eu gosto disso.

Continua...