O Perigo Eminente

Antártica -15:05PM

O campo de batalha estava mergulhado em caos. O cheiro de sangue e enxofre impregnava o ar, enquanto a poeira levantada pelos golpes poderosos obscurecia a visão. Miyako ofegava, sentindo a adrenalina pulsar em suas veias. Suas Adagas Gêmeas tremulavam em suas mãos, liberando uma aura negra e ardente. No entanto, algo não parecia completamente correto, mas já era suficiente para elevar seu poder a um novo nível.

Raiden, apesar de exausto após sua luta contra Beelzebub, mantinha-se firme. Sua lança, ainda tingida de sangue e fragmentos da essência da alma da mosca demoníaca, brilhava em um tom dourado ameaçador. Seu olhar era impassível, frio, calculista. Para ele, esta era apenas mais uma batalha.

Raiden: — Você não é especial, mulher. Eu não sinto nada em você, nenhum potencial, apenas uma motivação tola de querer proteger alguém... Eu posso estar fraco, cansado e sem uma mão, mas ainda posso te matar facilmente.

Miyako: — Ainda bem que eu não sou especial, seria uma droga ter que lidar com todo esse seu crise de protagonismo.

Miyako o provocava, com Raiden afirmando todos os seus músculos para impedir mais de seu sangue divino sair de seu corpo e de sua mão decepada, ele erguia sua lança novamente e disparava um raio de energia vermelha dela em direção de Miyako, que a surpreendia, desviando pro lado no último segundo, mas o golpe pegava uma parte de seu braço, expondo a carne pra fora.

Raiden: — Chega, não irei me humilhar por mais tempo lutando com você, mulher.

Do outro lado, Beelzebub estava caído mais atrás, seu corpo se regenerando lentamente, um dos poucos sinais de sua resistência sobrenatural. Ele havia recebido um golpe crítico – uma perfuração parcial da alma – e aquilo exigia tempo para se recuperar. Ele apenas podia observar o confronto entre os dois.

Com um passo, ela desapareceu.

Ou melhor, foi o que pareceu. Sua velocidade era absurda, algo que até mesmo Samá, que acabava de chegar, teve dificuldade em acompanhar. Ele piscou e, no mesmo instante, Miyako já estava trocando golpes ferozes com Raiden, mesmo após ter levado um ferimento grave no braço dela.

O choque de suas armas criava faíscas negras e douradas, cada impacto reverberando pelo campo de batalha como trovões. Miyako girava, suas adagas deslizando como sombras ao redor de Raiden, buscando fendas na defesa do guerreiro. Sua velocidade não era apenas física; parecia algo mais profundo, como se ela dobrasse o próprio espaço ao seu redor.

Samá: — Essa velocidade… — murmurou Samá, franzindo o cenho.

Mesmo com toda sua experiência e habilidades, ele havia sido despistado por ela antes. Agora, observava atentamente a luta sangrenta que se desenrolava diante de seus olhos. Miyako era feroz, precisa, determinada. Mas Raiden não era um oponente qualquer.

Raiden, mesmo enfraquecido, demonstrava sua maestria. Seus movimentos eram brutais e calculados, cada estocada de sua lança obrigando Miyako a desviar no último instante. O chão rachava sob os pés deles, cada golpe carregado de energia destrutiva.

Samá desviou o olhar por um momento, percebendo Beelzebub se mexer. A mosca demônio ainda estava enfraquecida, mas tentava se erguer. Samá viu ali uma oportunidade.

Com um salto veloz, ele avançou contra Beelzebub, sua lâmina curvada brilhando com uma luz prateada. A intenção era clara: acabar com o demônio antes que ele tivesse tempo de se recuperar.

Mas Beelzebub sorriu.

No instante em que a lâmina de Samá estava prestes a perfurar seu peito, uma barreira translúcida e distorcida se ergueu ao redor dele.

Samá sentiu seu instinto gritar. Ele recuou no último segundo, mas não antes de ver a extremidade de sua mão direita ser consumida pela barreira.

Ele aterrissou, ofegante, olhando para sua mão parcialmente corroída. Um suor frio escorreu por sua testa.

Beelzebub o observou com um olhar penetrante, e então murmurou:

Beelzebub: — Você… eu me lembro de você.

Havia algo na forma como Beelzebub o olhava. Um lampejo de reconhecimento, de memórias antigas se rearranjando.

Beelzebub: — Um dos valentes de Davi. O que diabos você está fazendo aqui? Como se envolveu nesse inferno?

Samá apertou os punhos. Seu olhar estava cheio de algo entre dor e determinação.

Samá: — Nos traiu. Matou meus dois amigos. — A voz dele era grave, carregada de emoções conflitantes. — E agora está com Raiden. Porque… porque nunca trairia meus soldados.

Houve um breve silêncio.

Samá abaixou os olhos para sua lâmina curvada, que começou a brilhar intensamente. E então, ele murmurou:

Samá: — Eu participei do puro caos no passado… e por isso, irei servi-lo até o fim da minha vida.

Sua lâmina brilhou como prata banhada em sangue, refletindo sua convicção inabalável.

O campo de batalha estava dividido. De um lado, Raiden enfrentava uma Miyako cada vez mais rápida e imprevisível. Do outro, Samá e Beelzebub se preparavam para um confronto onde ambos buscavam algo além da vitória: a resolução de um passado enterrado.

A poeira e o sangue tingiam o ar enquanto o choque das armas ecoava como trovões.

Miyako girava entre as investidas de Raiden, suas adagas traçando arcos negros no ar. A cada golpe, ela sentia algo estranho… sua velocidade parecia crescer naturalmente, seu corpo respondia melhor, agora com o ferimento de seu braço se fechando sozinha automaticamente.

Ela desviou de um corte brutal da lança de Raiden, se abaixando no último instante e deslizando por baixo dele. Antes, teria sido impossível.

Seus olhos se arregalaram.

Miyako: — O que diabos é essa arma? Eu pensava que ela só tinha chamas negras...

Ela lembrou-se do momento em que Ryōshi lhe entregou duas armas pra ela e seu irmão, um par de adagas e pra Ryuji, uma Katana. Não houve explicação, apenas um olhar sério e a promessa de que "seriam úteis quando mais precisasse". Agora, finalmente compreendia: essas adagas estavam adaptando seu corpo à batalha.

Era como se cada golpe recebido, cada movimento, estivesse refinando sua própria existência, tornando-a mais forte, mais fluída.

Mas Raiden, mesmo enfraquecido, se adaptava ao seu ritmo.

Ele percebeu a mudança e ajustou sua técnica. Seus golpes tornaram-se mais precisos, brutais e rápidos, cada estocada buscando não apenas feri-la, mas forçá-la ao erro.

CLANG!

As adagas de Miyako bloquearam um golpe direto da lança. O impacto fez o solo tremer. Ela sentiu a pressão esmagadora da força de Raiden, mas suas lâminas resistiram.

Miyako: — Você está… acompanhando minha velocidade agora? — perguntou Miyako, ofegante.

Raiden a encarou, sem hesitar.

Raiden: — Não importa se estou reduzido em átomos, eu me adapto ao campo de batalha, sempre.

O sorriso de Miyako se alargou.

Miyako: — Então vamos ver quem se adapta melhor.

Ela avançou, e a batalha se intensificou.

Do outro lado do campo de batalha, Samá girava sua lâmina curvada, os olhos ardendo com um brilho prateado. Beelzebub observava atentamente, sua regeneração ainda incompleta.

Beelzebub: — Você fala sobre lealdade, — disse Beelzebub, cuspindo sangue negro. — Mas lealdade cega é o mesmo que servidão.

Samá não respondeu de imediato.

Sua lâmina começou a brilhar de forma anormal. Não era apenas energia… era algo muito mais profundo.

Raiva. Dor. Promessas quebradas. O peso da traição.

Era como se sua espada absorvesse os sentimentos que carregava.

Então, de repente, o tempo pareceu desacelerar ao redor dele.

Samá: — "Julgamento de Siloé..."

Cada ferida que recebeu, cada golpe desferido contra ele, se acumulava dentro da lâmina e se transformava em força destrutiva. Quanto mais ele sofria, mais sua vingança se tornava inevitável.

Samá: — A cada corte, eu retorno o dobro.

Beelzebub estreitou os olhos. Ele sentiu o perigo naquele momento.

Antes que pudesse reagir, Samá se moveu em um instante, sua lâmina cortando o ar como um relâmpago prateado.

Beelzebub ergueu sua barreira novamente, mas dessa vez, algo diferente aconteceu.

A lâmina de Samá atravessou a defesa como se fosse feita de vidro.

A barreira de Beelzebub se partiu em estilhaços de luz púrpura, ele ainda estava fraco, acabado de lutar até a morte e com sua transformação desfeita, ele não conseguia controlar suas pragas de forma precisa ou correta.

O corte atingiu em cheio seu peito, atravessando carne e espírito.

Beelzebub grunhiu de dor, sangue escorrendo da ferida aberta.

Samá manteve a postura, os olhos ardendo.

Samá: — Cada dor que sofri por traição do Rei Davi… agora será devolvida cem vezes mais.

O campo de batalha continuava a tremer, o som de metal se chocando contra metal ecoando como trovões.

O chão de gelo estava repleto de cortes e crateras criadas pelos impactos da batalha. Miyako e Raiden se moviam com velocidade extrema, suas silhuetas se tornando borrões conforme seus golpes se cruzavam.

As Adagas pulsavam em suas mãos, adaptando-se ao ritmo da batalha. Miyako sentia seu corpo responder de maneira surreal, os cortes superficiais que havia recebido se fechando lentamente enquanto ela avançava com precisão crescente.

Raiden grunhiu ao desviar por um triz de um golpe rápido dela, mas não foi rápido o suficiente.

SLASH!

Uma das adagas cortou o ombro dele, e então algo estranho aconteceu.

Um pequeno +1 apareceu acima da ferida.

Miyako piscou algumas vezes.

Miyako: — O quê...?

Ela olhou para a marca por um instante, se distraindo por meio segundo. Raiden aproveitou a brecha e lançou uma estocada com a lança, forçando-a a se esquivar por instinto.

Miyako girou no ar, aterrissando alguns metros atrás, ainda confusa.

Miyako: — Isso virou um videogame agora? Onde tá minha barra de XP?

Mas então, a compreensão bateu.

Era a "Perfuração Progressiva" das adagas que parecia estar começando a despertar.

O próximo golpe perfuraria ainda mais profundamente.

Se ela continuasse atacando, Raiden começaria a sentir o peso desse efeito, tornando-se cada vez mais vulnerável aos seus ataques.

Um sorriso sarcástico surgiu em seu rosto.

Miyako: — Bom, isso pelo menos facilita meu trabalho...

Ela disparou para frente novamente, as adagas cortando o ar com fluidez mortal.

Raiden franziu a testa, percebendo que algo havia mudado.

Raiden: — Isso... não é bom.

Mas ele não tinha escolha a não ser continuar se adaptando.

A verdadeira luta estava apenas começando.

Do outro lado do campo de batalha, Samá segurava sua lâmina curvada, ainda brilhando com a energia de seu Julgamento de Siloé.

Beelzebub sentia a ferida em seu peito queimar, seu corpo demorando para regenerar da maneira como deveria.

Beelzebub: — Essa lâmina... ela carrega a dor acumulada?

Não era apenas um corte comum.

A adaga de Samá registrava o sofrimento que ele havia acumulado ao longo da batalha e revertia isso contra seu inimigo com intensidade amplificada.

Era um poder cruel – quanto mais dano ele recebia, mais forte se tornava.

Mas Beelzebub não era qualquer um.

Ele cerrou os dentes, sentindo sua própria força começar a se recuperar lentamente.

O controle sobre suas pragas estava voltando.

No início, a dor intensa de sua alma o impediu de se concentrar, mas agora, o veneno da destruição que corria em suas veias começava a despertar novamente.

Nuvens negras começaram a se formar acima dele.

O ar se tornou denso, cheio de pequenos insetos que surgiam aos milhares, cada um deles carregando doenças e venenos mortais.

Samá percebeu a mudança e franziu a testa.

Samá: — Então você está voltando à ativa...

Mas ele não recuou.

Pelo contrário.

Ele levantou sua lâmina, permitindo que o brilho prateado da vingança se intensificasse ainda mais.

Se Beelzebub estava voltando ao campo de batalha...

Samá estava apenas começando a mostrar seu verdadeiro poder.

As duas batalhas agora atingiam seu ponto crítico.

Raiden e Miyako estavam presos em um ciclo de adaptação mútua, cada um tentando superar o outro. Mas as adagas gêmeas estavam crescendo em poder, e Miyako estava finalmente começando a perfurá-lo.

Enquanto isso, Beelzebub começava a recuperar seu controle sobre suas pragas, tornando-se a força destrutiva que sempre foi, enquanto Samá canalizava cada gota de ódio e vingança dentro de sua lâmina.

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No silêncio de um santuário oculto, iluminado apenas pela chama bruxuleante de velas antigas, um homem velho escrevia lentamente em um caderno enorme, suas mãos enrugadas manchadas pela tinta escura do pincel que deslizava sobre o papel amarelado.

Suas vestes simples escondiam um peso indizível, como se sua própria existência carregasse o fardo dos séculos.

Com calma e precisão, ele traçou as últimas palavras do versículo:

"Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa."

Apocalipse 3:11

Assim que o pincel tocou a madeira do suporte, um clarão silencioso brilhou ao seu lado.

No ar, uma mensagem em branco surgiu, escrita em letras translúcidas, como se o próprio destino tivesse sido gravado diante dele.

NERGAL, o Cavaleiro da Fome, abandonou o campo de batalha.

ABADDON, o Cavaleiro da Morte, permanece fixa no mesmo lugar, aguardando.

RAIDEN, o Cavaleiro da Guerra, está lutando, mas sua situação é precária.

ENOCH, o Cavaleiro da Conquista, permanece intocado, conduzindo a batalha com estratégias invisíveis.

O velho observou as palavras se fixarem no ar, lendo cada uma com pesar.

Ele suspirou profundamente, fechando o grande caderno com um estrondo surdo.

Gentilmente, guardou seu pincel, deslizando os dedos pelo cabo como se fosse uma espada embainhada após a batalha.

Então, ele se levantou, sentindo o peso dos anos e do que estava prestes a acontecer.

Seus olhos, ocultos pelas sombras do aposento, brilharam por um instante.

???: — Está na hora de impedir uma catástrofe... mais uma vez.

E então, o velho desapareceu nas trevas, enquanto a chama das velas piscava como se o próprio tempo tivesse hesitado diante do que estava por vir.

Continua no próximo capítulo.