Antártica - 15:07PM
A luta estava chegando ao seu climax, Miyako estava cercada de cicatrizes da lança de Raiden, que estava se adaptando rapidamente à mesma, no entanto, o mesmo acontecia com Raiden, as perfurações das adagas dela estavam cada vez mais fundas, ao ponto que atravessava os ossos de Raiden como se fossem manteigas, onde essas feridas causariam um dano mais grave e demorava mais que o normal para Raiden se regenerar por completo, em um grito de dor, Raiden chutou com todas as suas forças na barriga da mulher, onde a mesma conseguia defender a tempo, mas ainda foi para arremessá-la contra uma montanha de gelo, abrindo uma cratera no local.
Raiden: — Mulher arrogante, não ache que só por que você está fazendo alguns furinhos em mim, significará alguma coisa. Estou começando a me recuperar da luta de Beelzebub, e depois que isso acontecer, eu o matarei pra valer desta vez, e você será a minha escada pra atingir este objetivo.
Miyako cuspia sangue após atingir a parede de gelo, quebrando todas as suas costelas e seus braços no processo. No entanto, isso não impedia dela continuar, ela derrubava uma adaga perto de seu pé, que o mesmo pegava tal, e usava bastante força do seu braço ainda quebrado para colocar a outra adaga entre seus dentes, que mordia pra firmar. Ela tomava impulso para partir pra cima de Raiden, como um raio, Raiden conseguia a ver chegando claramente, graças a sua adaptação contra ela.
Raiden: — Não acho que seja das melhores idéias partir pra cima dessa forma...
Ele ficava numa pose defensiva, mas Miyako não estava mirando na parte de cima dele, ela mudava seu ataque no último momento antes de encostar nele, agora se transformando numa rasteira diretamente em sua perna.
Raiden: — Ora, sua...!
Ele instintivamente pulava para cima, o que fazia a Miyako passar reto, mas ela não parava por aí, enquanto ele ainda estava no ar, ela parava seu impulso com a sua perna, o que quebrava devido a tanta força de pressão na forçada brusca, mas ela ignorava a dor, ela se virava na mesma hora e pulava atrás dele ainda mais rápido que antes.
Raiden: ?!
Quando Raiden percebia, já era tarde demais, ela girava no pleno ar, até parar atrás dele e enfiar uma das adagas que estava na boca dele bem no pescoço do mesmo.
+1!
Raiden: — Porra, mulher! Você pensa bem, mas ainda nem estar perto pra me machucar!—
Miyako ainda determinada, criava um impulso pra se jogar pra cima dele, usando a mesma que estava fincada no pescoço dele como apoio pra dar o pulo pra cima.
Raiden: — Agora você vai morrer, foi burrice sua ter pulado até onde minha lança alcançava!
Raiden esticava a sua lança em Miyako, que o mesmo conseguia perfurar o ombro dela, mas ela rasgava o seu próprio ombro imediatamente pra não ficar restringida de seus movimentos em pleno ar, enquanto eles começavam a cair, ela usava todas suas forças pra dar um chute no peito de Raiden com sua perna quebrada, com isso, Raiden sentiria o golpe e caía no chão com força, gerando mais uma cratera no ambiente gélido.
Miyako: — AAAAAAAHHH!!!!
Ela descia com tudo agora, com a adaga em sua outra perna agora mirando no peito de Raiden.
Raiden: — Eu já disse que toda essa baboseira foi inútil, mulher!
Ela ignorava completamente todos os avisos dela, ela descia como um relâmpago, Raiden tentaria colocar seu braço amputado/apodrecido na frente do golpe dela, mas era inútil, ela já tinha acumulado muita força, bem maior que ele esperava, o que atravessava completamente seu braço e fincado em seu peito, a força era tanta que o cabo da adaga tinha perfurado a sola do pé de Miyako.
+1!!
Raiden cuspia sangue no rosto de Miyako, mas ela ignorava e continuava pressionando, até o cabo da adaga a penetrar completamente no seu pé.
Raiden: — Você... Você é maluca, ainda mais maluca que Beelzebub, mas novamente... Todo seu show não me machucará como está pensando, por isso agora irei te mostrar comos e machuca de verdade...!—
Um brilho impecável saía do peito de Raiden, aonde a adaga tinha acertado.
Parabéns! Conforme estabelecido, sua perfuração progressiva chegou ao máximo, e agora irá ativar seu efeito! Dano verdadeiro, com isso, o oponente sofrerá dano o suficiente para você causar danos permanentes na sua alma, aproveite!!
Uma voz que parecia uma mulher sairia das adagas, e agora a aura desaparecia, e assim que ia desaparecendo, o peito de Raiden começava a queimar, e todas as suas feridas anteriores saíam chamas negras.
Raiden: — Mas que porra?! ARGH!!!
Ele sentia não só o seu corpo físico queimar por completo, mas agora também sua alma, e até a mesma sua essência.
Miyako: — Você está sentindo... Não é? Uma mulher te derrotando? Isso que dá falar demais enquanto luta, Guerra.
Raiden: — ARGH, AHAHAAHAHAHAHAHAHAH, MUITO BEM!!
Mesma com toda a dor que Raiden sentia, ele perfurava sua lança na barriga de Miyako, a jogando para trás enquanto abria um buraco na sua barriga.
Miyako: — Porra... Merda...
Ela estava quase imóvel, com um buraco gigante em sua barriga, uma parte de seu ombro arrancado, braços quebrados, costelas quebradas, uma perna destroçada e uma outra com a base da adaga enfiada na sola de seu pé, ela levantava seu pescoço, com muita dor pra olhar a situação de Raiden, mas ele estava se levantando, mesmo sentindo a dor real, ele ainda se levantava enquanto seu corpo e rosto era coberto pelas as chamas negras que saía nas feridas, apenas dando pra ver seus olhos vermelhos pelas as chamas.
Miyako: — Você é realmente um monstro...
Ele caminhava lentamente até ela, sentindo toda a sua essência queimar, mas ele não ligava, ele apenas continuava querendo mais e mais lutar.
Raiden: — Eu? Um monstro? HAAHAHAHAHAHAHAHAH, NÃO, EU SOU RAIDEN, O CAVALEIRO DA GUERRA, E NÃO MORREREI ATÉ A GUERRA CONTINUAR!!
PERIGO, PERIGO, O EFEITO DAS ADAGAS IRÃO SE DESLIGAR, DEVIDO AO MEDO DE MORRER E O ABANDONO DE SEU ALIADO DESEJADO PARA PROTEGER!!
A voz ecoava constantemente na mente de Miyako, sentindo agora a dor se espalhando em todo seu corpo, já que a sua regeneração parava.
Miyako: — Merda... Aqui não...
Ela começava a se rastejar com a sua única perna fincada que estava inteira, com o queixo dela, sua visão ficava embaçada com a quantidade de sangue que estava perdendo, tentando fugir do lugar, seu corpo começava a se esfriar mais rápido graças ao ambiente, agora, ela era apenas uma humana frágil.
Raiden: — Foi um erro ter apostado tudo nesse movimento, agora vamos ver quem te mata primeiro, se é eu, ou sua resistência, HAHAHAAHAH!!
Ele ria continuamente, enquanto sua pele carbonizava enquanto caminhava até a Miyako, sentindo o fogo o queimar completamente de dentro pra fora, mas parecia que ele ignorava tudo aquilo por uma vontade maior
Miyako: — Merda... Eu não posso perder aquela luz... Eu tenho que acompanhar ela até o final... Não posso morrer aqui...
Os brilhos de seus olhos brilhavam, enquanto ela imaginava as costas de Kazuhiko, que brilhava intensamente.
Miyako: — Desculpa... Ryuji... Desculpa Kazuhiko... Desculpa... Pessoal...
Quando Raiden estava prestes a dar o golpe final com a sua lança agora, tão flamejante quanto ele, uma figura aparecia na frente dele, naturalmente defendendo a lâmina da lança apenas com o bastão de madeira.
???: — Chega.
Raiden: — ?!
E apenas um toque da figura, todo o fogo que estava espalhado no seu corpo, dissipava. Agora mostrando o corpo de Raiden, completamente carbonizado.
???: — Descanse, meu irmão.
A consciência de Raiden agora pesava, junto com seu olhar escurecendo, ele via o rosto da figura e ficava surpreso e todos os músculos reagiam apenas com a presença da figura.
Raiden: — V-Você... Por quê...
Assim, Raiden cairia no chão, inconsciente, a figura calmamente caminhava até a Miyako, que estava quase morta.
???: — Peço perdão pelo meu irmão, essa batalha era pra você ter ganhado, mas você perdeu seu rumo.
Ele dava um leve suspiro, encostando seu bastão nas costas de Miyako, curando apenas as feridas mais graves dela, como seu ombro, sua perna desfigurada e o rombo que estava em sua barriga.
???: — Pronto, espero que aceite isso como pedido de desculpas, e que isso sirva de lição, se quiser seguir a orientação da sua arma, siga até o final, não se preocupe, eu também recuperei metade do sangue que tu perdeu, então tu não morrerá aqui.
Miyako, ainda fraca e cheio de dor, olhava pra figura encapuzada.
Miyako: — O que você...
Ele gentilmente colocava sua mão sobre a testa dela, e assim como Raiden, perderia a consciência.
???: — Certo, eu terminei esta parte. Agora vejamos...Ah certo, ainda tem aquela batalhas acontecendo, muito bem.
Ele agora caminhava, sem pressa até onde estava Beelzebub e Samá.
CLANG!
Os sons da lâmina de Samá ecoavam pela a antártica, mostrando cada força de sua ira.
Beelzebub: — Pra um humano... Você carrega mais fardo que o normal, de certa forma... Você é parecido comigo, sempre sedento de poder.
Samá tentava perfurar incansavelmente alguma parte do corpo dele, mas a barreira cossiva absorvia grande parte das forças e a vontade de Samá, fazendo alguns riscos apenas.
Samá: — Você não sabe como é estar em uma guerra e derrepente ser traído pelo o seu próprio rei! Então não finge que somos parecidos, seu merda!!
A luta entre Samá e Beelzebub atingia um ponto crítico. Cada golpe trocado fazia a Antártica tremer, o chão gélido se partindo sob o peso da batalha. O ódio de Samá se manifestava como pura força bruta, seu corpo reagindo de maneira desumana às feridas—quanto mais ele sangrava, mais rápido e furioso se tornava. Suas lâminas já não eram apenas armas, mas extensões de sua ira, vibrando com uma energia destrutiva.
Beelzebub, por outro lado, sorria. Quanto mais tempo passava, mais ele recuperava o domínio absoluto sobre suas pragas. Sete maldições pairavam no ar como sombras vivas.
Samá rugia em desafio, recusando-se a cair. Seus olhos brilhavam com fúria, seus músculos inchavam enquanto ele forçava seu corpo além dos limites. Ele golpeava, rasgava o ar, sua lâmina finalmente atravessando a barreira corrosiva de Beelzebub e abrindo um corte profundo no ombro do demônio.
Beelzebub soltava uma risada baixa.
Beelzebub: — Impressionante. Mas você ainda está longe.
O ar ao redor se tornava mais denso. O chão derretia, não pelo calor, mas pela corrupção de sua presença. A batalha estava prestes a se intensificar ainda mais—quando, de repente, tudo parou.
Uma voz ecoou pelo campo de batalha, calma, imponente, como se viesse de além do tempo.
???: — "E vi, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele tinha um arco; e foi-lhe dada uma coroa, e saiu vitorioso, e para vencer."
Todos os presentes congelaram. Mesmo Beelzebub, um dos mais temidos, sentiu algo incomum. Não era medo—era o peso do desconhecido.
A figura se revelou ao lado de Samá, sem que ninguém percebesse sua aproximação. Ele não tinha aura, não tinha presença. Apenas estava ali.
Com um único toque em seu ombro, toda a ira de Samá desapareceu. Seu corpo, que vibrava com poder descontrolado, se acalmou instantaneamente. Ele cambaleou, confuso, sentindo sua força desvanecer como se nunca tivesse existido.
Os guerreiros remanescentes não sabiam o que sentir. Não era terror, não era respeito. Era algo que não podiam nomear.
O desconhecido olhou para Samá e Beelzebub e falou:
???: — Não há mais motivos para essa guerra. Não mais. Não para vocês. Todos temos o nosso destino fadado, e ainda não é a sua hora, demônio.
Beelzebub abriu a boca para retrucar, mas algo o impediu. O olhar daquela figura carregava uma verdade absoluta, um peso incontestável.
Antes que qualquer um pudesse reagir, Samá desapareceu. Raiden, ainda inconsciente, também sumiu no mesmo instante.
Os dois reapareceram na base de Abaddon.
Quando Abaddon os viu, seus olhos se arregalaram de surpresa. Mas não por causa deles. Seu olhar estava fixo no homem que os trouxe.
Ela deu um passo para trás, e, pela primeira vez, sua voz carregava algo próximo à reverência:
Abaddon: — Mestre Ancião...
???: — Já presumo que saiba que saiba a situação, Abaddon, então não enrolarei mais.
Samá ficava extremamente confuso e irritado, questionando por que eles recuaram de uma forma tão brusca.
Samá: — Perdão, sem querer parecer arrogante, mas quem diabos é você? Como você pode simplesmente aparecer assim e nos levar aonde quiser—
Abaddon emanava uma aura negra, que contaminava completamente Samá, ele olhava pra ela e tudo que ele podia sentir é uma morte eminente.
???: — Acalma-se, Abaddon. Ele apenas expressou uma reação natural dada a situação.
A aura agora dispersava, fazendo Samá respirar novamente, agora menos irritado, olhava pro homem, que agora reparando melhor, não tinha nenhuma característica única, parecia apenas um idoso usando roupas fora do padrão moderno, parecia ser roupas da antiguidade.
Samá: — Simplesmente... Quem é você?
???: — Oras, de todas as perguntas, você primeiramente recorre à minha identidade? Talvez eu seja alguém mais chamativo que eu esperava, muito bem, Samá. vou te contar uma pequena história de quem sou eu, e quero que descubra, então preste bastante atenção.
O homem misterioso ajeitou suas vestes antigas, parecendo distante por um momento, como se estivesse retornando a uma era esquecida pelo tempo. Seu olhar, calmo e profundo, pousou sobre Samá antes de começar a falar, sua voz carregando o peso da história.
???: — Havia um tempo em que doze homens caminharam ao lado de um irmão. Mas não era qualquer homem. Ele era mais que um amigo, mais que um mestre. Ele era o brilho para nós, aqueles que vagavam sem rumo, sem razão de viver. Não o seguimos por medo ou obrigação, mas porque éramos irmãos de sangue. E sempre queríamos continuar com ele.
Os olhos de Samá se estreitaram, confuso, mas curioso. O homem continuou.
???: — O nome dele era Jesus. E eu… Eu era um dos mais próximos. Não porque escolhi estar ao seu lado, mas porque assim foi predestinado. Tudo de acordo com os planos do "Senhor".
O silêncio pairou na sala. Até mesmo Abaddon, sempre imponente, permaneceu em silêncio.
???: — Eu testemunhei milagres que desafiam a compreensão. Eu vi leprosos sendo curados com um simples toque. Vi a morte ser desafiada e a fé moldar a própria realidade. Mas, mais do que isso… Eu vi um amor que ultrapassava tudo o que já existiu.
Ele fechou os olhos por um momento, como se revivesse memórias distantes.
???: — Mas o mundo, em sua cegueira, recusou-se a aceitá-lo. O homem que trouxe luz foi traído por aqueles que temiam sua verdade. Eu vi quando ele foi capturado. Eu vi quando foi açoitado. Eu vi quando o ergueram naquela cruz, como se fosse um criminoso.
A voz do ancião carregava um peso imensurável, um lamento profundo, mas sem desespero. Apenas uma aceitação silenciosa de um destino cumprido.
???: — E ainda assim, mesmo na dor, mesmo no abandono, ele olhou para nós e nos perdoou. "Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem". Essas foram as palavras que ecoaram naquele dia.
Samá sentia um aperto no peito. Algo naquela história parecia diferente de tudo que ele já ouvira.
???: — Mas aquele não foi o fim. Pois no terceiro dia, ele voltou. A morte não poderia segurá-lo. Pois ele não era apenas um homem. Ele era a promessa cumprida, a esperança encarnada. E nós, seus irmãos, levamos sua palavra adiante, mesmo que o mundo tentasse nos silenciar.
Ele abriu os olhos, olhando diretamente para Samá.
???: — Diga-me agora, jovem guerreiro… você já descobriu quem eu sou?
Samá ficava meio envergonhado, já que ele não pegou muita informação com isso.
Samá: — Bem... Acho que não.
O ancião sorriu levemente, vendo a expressão de Samá mudar conforme a história se desenrolava. Ele suspirou, como se carregasse um fardo há milênios.
???: — Eu fui o único que restou.
O silêncio que seguiu foi quase sagrado.
???: — Meus irmãos… um a um, todos partiram. Alguns foram crucificados, outros decapitados, apedrejados, queimados… Mas eu continuei. Não porque eu queria, mas porque ainda havia um propósito para mim. Eu tinha que registrar. Registrar cada palavra, cada ensinamento, cada sacrifício, cada revelação.
Ele fez uma breve pausa, seu olhar distante, como se visse através do tempo.
???: — Eu tinha um único propósito. Escrever um livro. Não um livro comum, mas aquele que conteria tudo sobre nosso irmão, Jesus. Seus seguidores. O que é bom e o que é mal. As promessas cumpridas e as que ainda virão. A Bíblia Sagrada.
Samá sentiu um arrepio percorrer sua pele.
???: — Meus irmãos não conseguiram sobreviver para contar. Por isso, tive que continuar, mesmo quando todos já tinham partido. Mateus e eu tentamos juntos… Mas ele também se foi. Então, eu fui o último. Aquele que restou para espalhar a voz do Senhor até os dias de hoje.
De repente, a presença do ancião mudou. Aquele que antes parecia um simples homem agora irradiava algo indescritível. Uma aura celestial, uma luz que não vinha de sua pele, mas de sua própria existência. Samá finalmente sentiu aquilo que antes não percebia: um brilho incessante, um poder que transcendia a compreensão.
Agora, todas as peças se encaixavam. O homem diante dele não era um simples sábio ou um guerreiro perdido no tempo.
Samá apertou os punhos, seu coração acelerado. A resposta era clara, inevitável.
Samá: — Você é… São João.
O velho ancião alisava sua barba, agora olhando para o horizonte onde estava acontecendo a luta.
João: — Precisamente.
Samá: — Mas isso não faz sentido... Isso faria você...
João: — 2045 mil anos? É, bem. Acho que pode se dizer que não sou um mero humano, e sim um mensageiro supremo, enquanto eu continuar escrevendo e espalhando a fé, eu continuarei vivo.
Samá ficava em silêncio por um momento, apesar dele agora saber quem aquele homem era, ainda sim era muita coisa para processar em apenas alguns minutos.
Samá: — Então deixa eu ver se eu entendi... Você pegou eu meu lorde para recuar, isso significa que estamos indo embora levantando a bandeira branca?
João fechou os olhos, sentindo o calor residual do corpo de Raiden, que ainda exalava uma fumaça fraca, como se a batalha contra Beelzebub e Miyako continuasse assombrando sua carne destruída. Ele deslizou a mão suavemente sobre o peito do guerreiro caído, sua voz ecoando em um sussurro baixo, reverberando pelo ambiente.
João: — Senhor, que as chamas do renascimento recaiam sobre este guerreiro. Que sua carne seja refeita, seus ossos fortalecidos e sua alma purificada. Mas que a marca da punição permaneça, para que nunca se esqueça do que enfrentou e do que perdeu...
Uma luz dourada irradiou das mãos de João, expandindo-se em ondas suaves. As cinzas e a carne queimada de Raiden começaram a se reconstruir, como se o tempo estivesse sendo rebobinado. Músculos reformavam-se, pele se regenerava, a energia vital voltava a pulsar em suas veias. Mas sua mão direita… aquela parte havia sido apagada do próprio conceito da existência. Não havia nada a ser recuperado.
Quando Raiden abriu os olhos, sentiu a vida fluindo de volta, mas um vazio permanente onde antes estava sua mão direita. Ele ergueu o braço, observando o que restava—o fim abrupto do seu antebraço, a pele ao redor escurecida, como se a decomposição fosse uma ferida aberta na realidade.
Ele respirou fundo, tentando processar tudo, quando percebeu algo ainda mais inesperado. O ancião estava ali.
Raiden sentou-se com um movimento brusco, os olhos arregalados.
Raiden: — Ancião...?
O homem assentiu levemente, seu olhar carregado de algo entre compaixão e peso.
João: — Você tem muitas perguntas, eu sei. Mas a verdade é mais urgente que qualquer dúvida.
João virou-se para encará-los, sua expressão séria.
João: — O nosso objetivo nunca foi lutar contra demônios ou os discípulos de Lúcifer. Isso seria perda de tempo, um sacrifício sem propósito. Desde o começo, nosso alvo sempre foi Kazuhiko.
Raiden franziu a testa.
Raiden: — Kazuhiko...?
Abaddon interveio, sua voz carregada de gravidade.
Abaddon: — Há algo muito errado com esse garoto. Ele emana uma aura bizarra, algo que não se encaixa nem como humano, nem como demônio. Existem suposições... que talvez ele esteja carregando fragmentos de Kokuei, o Desconhecido.
O nome reverberou como um trovão na mente de Raiden.
Raiden: — Kokuei...?
Abaddon: — Um ser tão perigoso que conseguiu quebrar momentaneamente a própria dimensão divina, ameaçando até mesmo O Senhor por um instante — explicou Abaddon, sua voz densa como chumbo. — Mas Kokuei estava sozinho. Sua rebelião não duraria sem aliados. Então ele desceu, vagando por dimensões até chegar à Terra. E então desapareceu. Mas mesmo sem poder localizá-lo, rastreamos vestígios... e tudo indica que ele se fragmentou dentro daquele garoto.
Raiden sentiu um arrepio subir por sua espinha. Algo dentro dele ressoava com aquelas palavras.
E então ele se lembrou.
O dia da Guerra Santa.
A cena voltou com força total em sua mente. O Purgatório. Ele estava lá, entre o Inferno e a Terra, quando aquela entidade apareceu.
Raiden estava cuidando de alguns assuntos, enquanto passava por pergaminhos antigos, anotando certas partes, até que:
Sons de passos.
Raiden: — Hm? Quem está aí?!
Ele apenas veria uma figura que estava extremamente ferida, já que ninguém normalmente pudia passar no purgatório sem antes ser julgado por tal, mas não foi isso que abalou Raiden, e sim... A aura medonha que aquela figura emanava.
Raiden: — Quem é você?! Como você passou pelos os julgamentos do purgatório assim??
A figura permanece quieta, apenas esticando seu braço, onde estava segurando um revólver, que parecia pulsar sozinha.
???: — Não precisa saber quem sou eu... Mas com certeza não gostará de saber o que irá acontecer com todos os seus soldados, seus aliados se não entregar esta arma pra um certo alguém.
Raiden permanecia na defensiva, mesmo que haja uma batalha no meio do purgatório, ele não podia simplesmente aceitar um pedido de alguém que veio do além.
Raiden: — E por quê eu deveria? Suas ameaças são vazias, não tem o menor chance de eu fazer isso, mesmo que isso signifique ter que lutar contigo bem aqui.
???: — Acho que você não entendeu muito bem sua situação... Então deixa eu esclarecer melhor o aviso.
A figura ferida deu um passo à frente, e, naquele instante, Raiden sentiu o ar ao seu redor se tornar pesado. Não era apenas uma sensação física. Era algo muito pior.
O espaço parecia distorcido, e então ele ouviu.
Gritos.
Não ecoando de algum lugar distante, não através de alguma magia ilusória. Os gritos estavam dentro de sua própria cabeça.
Vozes sufocadas, pedidos de ajuda, pessoas implorando por misericórdia enquanto eram despedaçadas. Raiden cerrou os dentes, lutando para manter o foco, mas a presença daquele ser parecia distorcer a própria realidade.
O estranho inclinou a cabeça lentamente, seus olhos—se é que ele ainda os tinha—brilhando no escuro.
???: — Eu não faço ameaças vazias, Raiden. — Sua voz soou como um sussurro que rastejava pela pele, fria como a morte. — Se não fizer exatamente como estou dizendo...
Ele fez uma pausa, como se estivesse saboreando as palavras que viriam a seguir.
???: — Eu juro que irei reviver sua mãe morta… apenas para comê-la lentamente.
Raiden sentiu seu coração parar por um instante.
???: — E farei um banquete com ela. Não só para mim... mas para você também.
A visão de Raiden escureceu por um momento. Seu corpo inteiro gelou.
Como ele sabia?
Ninguém—ninguém—deveria saber disso.
O estranho deu mais um passo à frente, e o chão ao seu redor trincou, como se a própria existência estivesse se curvando à sua presença.
???: — O que foi? Você parece assustado... — O sorriso fraco em sua voz carregava um tom de diversão doentia.
Raiden engoliu em seco, tentando manter a compostura.
Raiden: — Quem... quem diabos é você?!
A figura levantou o revólver, ainda pulsante como se estivesse vivo.
???: — Meu nome não importa para você... mas já que está tão curioso, pode me chamar de Scarlet.
Aquela maldita voz... era como se o próprio inferno estivesse sussurrando em seus ouvidos.
Scarlet esticou o braço, oferecendo o revólver a Raiden.
Scarlet: — Agora... pegue. E entregue ao garoto que está no Egito.
Raiden ainda tremia, sua mente ainda digerindo o que acabara de ouvir.
Scarlet deu um leve sorriso, mesmo sem seu rosto estar visível.
Scarlet: — Ou talvez... você queira ver sua mãe gritar mais uma vez?
Raiden engoliu seco.
Raiden: — Mas por quê, o que tem de especial nessa arma, e por quê o garoto?
Scarlet: — Ele é apenas um amigo antigo meu...
Aquela voz ressoava como um eco antigo.
Scarlet: — Se bem me lembro... o nome dele era Kazuhiko Shogo.
Seu coração disparou. Todas as peças se encaixavam agora.
Ele se levantou num salto, o choque estampado em seu rosto.
Raiden: — Eu... eu entreguei a arma para ele...! Eu dei a arma para Kazuhiko...!
João não pareceu surpreso. Ele apenas olhou para Raiden e disse com calma:
João: — Não se preocupe. Na sua posição, se o demônio que você encontrou viesse à Terra, com certeza seria o fim dela. Você fez o que pôde. Aceitar os termos era a única opção.
Raiden sentiu o peso da verdade esmagando seus ombros.
Raiden: — Então o que fazemos agora?
João respirou fundo, seu olhar carregado de uma resolução inabalável.
João: — Agora… devemos eliminar o garoto.
Um silêncio pesado recaiu sobre todos.
João: — …Ou no mínimo, exorcizar Kazuhiko para erradicar Kokuei.
Samá, que havia permanecido em silêncio até agora, finalmente se pronunciou.
Ele coçou a cabeça, respirando fundo.
Samá: — Então deixa eu ver se eu entendi… Você apareceu por que nossa situação não estava nada boa, e então quis interver que haja mais mortes?
O ancião permaneceu quieto, olhando o horizonte com um olhar fixo.
Ele sabia que, apesar de ser um pacifista, até ele teria que fazer algo sobre isso.
João: — Exatamente, mas não se precipite, haverá definitivamente, mortes.
João respirou fundo, suas mãos se juntando lentamente enquanto o peso da batalha ainda ecoava no horizonte. Ele fechou os olhos, e sua voz ergueu-se no meio do caos, carregada por um tom grave, poderoso e repleto de solenidade.
João: — "Ó Senhor, testemunha do começo e do fim, ouça minha súplica enquanto a terra é tingida de sangue e as almas clamam no limiar da destruição."
As palavras do ancião carregavam um peso místico, e enquanto falava, a cena se desdobrava como fragmentos de uma pintura caótica.
Beelzebub, agora com seus olhos calmos e cansados, caminhaca até onde estava Miyako após a luta contra Raiden, ele logo colocava Miyako pelo seu ombro. Seu corpo estava ensanguentado, mas sua presença ainda era avassaladora.
João: — "Dai força aos justos, para que não sucumbam ao desespero."
Leviathan, ainda intocado, permanecia de pé como uma muralha viva, seus olhos refletindo o caos ao seu redor. Sua presença sozinha era um lembrete do que significava o puro terror.
João: — "Guiai os perdidos, para que encontrem a luz mesmo quando tudo parecer consumido pela escuridão."
Asmodeus, agora assumindo o comando das forças restantes, liderava a retirada com precisão estratégica. Seu olhar carregava um misto de frustração e frieza, enquanto ao seu lado, Ryuji cortava o ar com sua lâmina, garantindo que os soldados escapassem com vida.
João: — "Derramai vossa ira sobre os ímpios, para que os que corrompem a ordem sintam o peso de sua própria profanação."
No alto, Enoch observava o campo de batalha como um espectador onisciente, suas feições inexpressivas. Era como se ele estivesse analisando cada movimento, cada decisão, cada fenda que se abria no destino daquele conflito.
João: — "Que os anjos não se tornem sombras, que os justos não sejam esquecidos, e que os pecadores encontrem sua redenção… ou sua ruína."
E então, no epicentro da destruição, Kazuhiko se movia.
Cada golpe seu desafiava os céus. Sua lâmina encontrava um oponente digno.
São Castiel, corrompido e monstruoso.
O anjo outrora radiante agora era uma silhueta distorcida de sua glória passada, sua espada sagrada exalando um brilho negro que contrastava com os feixes divinos que ainda restavam dentro dele.
Kazuhiko avançou com um rugido, seus olhos queimando com uma fúria incontrolável.
O choque entre os dois abriu fendas no próprio espaço, e a batalha se intensificou, sacudindo toda a existência ao redor.
João abriu os olhos, sua voz ressoando uma última vez.
João: — "Que aquele que carrega a perdição em seu coração… encontre, por fim, seu julgamento."
Continua no próximo capítulo.