Morte

Antártica - 15:14PM

A sombra do Apocalipse ainda pairava sobre a terra.

João permanecia imóvel, contemplando o campo de batalha envolto em trevas, enquanto os ventos cortavam o silêncio com seu lamento fúnebre. O céu, tingido pela a escuridão vazia, parecia um grande vácuo de nada. Lá embaixo, os vestígios do conflito jaziam como cicatrizes abertas no solo, uma lembrança cruel da guerra que ainda se desenrolava.

Abaddon já havia partido. Seu caminho era inevitável. Sua presença, um presságio do fim.

E assim, João começou a falar, sua voz carregada pelo peso dos séculos.

João: — O homem teme muitas coisas, mas acima de todas elas, ele teme a Morte. Pois esta, inevitável e silenciosa, ceifa tanto os grandes quanto os pequenos, os fortes quanto os fracos. Não há espada, feitiço ou fortaleza que a detenha, pois não pertence ao domínio dos vivos. Os reis a evitam, os guerreiros a desafiam, os tolos a ignoram… mas, no final, todos se curvam perante ela.

Seus olhos percorreram a paisagem destruída, como se vissem além do tempo.

João: — Não importa o quão forte um homem se torne, não importa quantas guerras vença ou quantos reinos conquiste… O mortal jamais escapará do desígnio da finitude. Nem os titãs da antiguidade, nem os heróis que desafiaram os céus, nenhum deles contornou a verdade suprema: tudo retorna ao pó. Apenas um caminhou pelo vale da sombra da morte e emergiu vitorioso, pois Ele não era um mero mortal. Ele era o Cordeiro, o Filho do Altíssimo.

Raiden, que até então ouvira em silêncio, finalmente se pronunciou.

Raiden: — Se reconheces a gravidade desta guerra, por que não mandaste também a mim e Samá junto a Abaddon? Poderíamos terminar tudo agora.

João, sem desviar o olhar do horizonte escurecido, apenas sorriu de forma enigmática. Sua voz veio, carregada de uma certeza absoluta.

João: — Não há necessidade. O martelo já foi erguido, e o golpe será desferido com precisão. Abaddon e Enoch, sozinhos, são o suficiente para tal desígnio.

Raiden franziu o cenho, mas não insistiu. Havia algo no tom de João, na serenidade imutável de suas palavras, que o impedia de contestar.

A terra estremeceu ao longe. O prenúncio da batalha final se erguia.

O céu rugiu, e a terra respondeu com tremores profundos.

Enoch avançava com passos pesados, cada um deles carregado com a ira de alguém que teve seus desígnios profanados. Seus olhos ardiam como brasa viva, e sua voz ecoou como um trovão profano quando ele declarou sua frustração.

— Vocês sempre insistem em estragar meus planos... Sempre! — sua fúria fazia a própria atmosfera estremecer. — Mais um pouco e a corrupção de Castiel estaria completa. Mas não... Você, Kazuhiko, e aquele arcanjo imundo tiveram que interferir.

Ele cuspiu no chão com desprezo antes de virar a cabeça lentamente, sentindo ainda a presença espectral deixada por aquele que mais o irritava.

— E Nergal… Ah, Nergal… — um sorriso torcido e perigoso formou-se em seus lábios. — O traidor que não apenas fugiu como um cão sarnento, mas ousou invadir meu calabouço para cometer tais blasfêmias.

Seus punhos se cerraram com tanta força que o gelo abaixo dele rachou.

— Depois que tudo isso acabar… eu o caçarei como se minha vida dependesse disso. E garanto que cada passo de sua fuga será um inferno.

Ele se virou para Kazuhiko novamente, o olhar faiscando com uma satisfação sombria.

— Mas... felizmente, ainda tenho um trunfo. Sua mãe. Fiz questão de colocá-la num lugar que nem mesmo os deuses ousariam buscar. Apenas o Grande Ancião e eu conhecemos esse segredo.

Kazuhiko cerrava os punhos, mas antes que ele pudesse responder, algo mudou.

Flocos de gelo subiram ao céu, carregados por uma força avassaladora.

Atrás de Kazuhiko, figuras surgiram.

Leviathan. Beelzebub. Asmodeus. Ryuji. Miyako.

Todos ali, menos Rafael, haviam chegado.

Asmodeus: — Chegamos! Espero que não tenha sentido nossa falta!

Leviathan apenas observava, indiferente, Beelzebub não podia de escapar um pequeno sorriso, Ryuji parecia determinado pra entrar em mais uma batalha, e Miyako via novamente as costas de Kazuhiko, agora não emanando o brilho que ela antes via, o que a preocupava.

Miyako: — Kazuhiko?

Kazuhiko respirou fundo, ele via todos ao seu redor aparecer, ele não parecia determinado, mas sim convicto de que ele realmente vencerá. O peso da guerra estava sobre seus ombros, mas agora… ele não estava mais sozinho.

Kazuhiko: — Talvez… talvez fosse impossível te derrotar sozinho, Enoch. Mas isso agora não é mais um duelo.

Ele pegava uma espada de uns dos corpos que estavam no chão ensanguentado, e erguia a lâmina, seus olhos transbordando com uma convicção feroz.

Kazuhiko: — Isso é uma guerra. E agora, tenho aliados que irão fazer você sentir o que é a morte!

O silêncio caiu por um instante.

E então, Enoch riu.

Não uma risada de escárnio, mas algo mais profundo, mais sombrio. Uma risada de alguém que já havia se banhado no abismo incontáveis vezes e saído sorrindo.

Enoch: — A morte? — sua voz veio carregada de ironia. — Vocês acham que podem me ensinar sobre morte?

O ar congelou.

Uma presença colossal se ergueu ao seu lado.

Do seu lado esquerdo, o chão rachou em uma explosão gélida, e das sombras surgiu uma figura imponente.

A própria Abaddon.

Seu rosto estava mudado. Onde antes havia carne, agora restava apenas um crânio celestial, irradiando um brilho espectral.

Acima de sua cabeça, uma coroa flutuava, girando lentamente, emanando uma força que esmagava o próprio conceito de esperança.

Seu olhos, agora inexistentes, preenchia apenas um olhar vazio por causa dos buracos de seu crânio, mas ela olhava para Kazuhiko.

Abaddon: (( Não consiguirei manter a promessa que tu tinha me dito, Nergal... Eu sei que tu enxerga algo nessa criança, mas tudo que eu vejo, é um demônio sem futuro.))

Ela pensava isso pra si mesma, agora decidida, ela dava um passo a frente, complementando o ambiente escuro com a sua aura de morte, soldados que estavam ao raio da aura dela, desmaiavam, tinham dificuldades de respirar, alucinações e crises existenciais.

A guerra se desenhava no horizonte escurecido pela presença de Abaddon e Enoch. A cada instante, o frio do campo de batalha aumentava, a própria realidade estremecendo sob a pressão de suas auras. Kazuhiko sentia a respiração falhar por um momento. O olhar vazio de Abaddon era como um abismo sem fim, e o sorriso de Enoch era a promessa de um massacre iminente.

Ele olhou para os lados. Ryuji, Miyako, Beelzebub e Leviathan estavam ali.

Miyako: — Isso é loucura… — murmurou Miyako, apertando as adagas em suas mãos.

Ryuji: — Talvez. Mas é nossa única escolha. — Ryuji respondeu, girando a Katana, sua lâmina exalando um brilho azulado e cortante.

Beelzebub estalou os dedos. Milhares de insetos emergiram de sua sombra, rastejando pelo chão como um mar negro de destruição.

Beelzebub: — Não podemos vencê-los na força bruta. Precisamos ser inteligentes.

Kazuhiko: — O que faremos então? — Kazuhiko perguntou, mantendo os olhos em seus inimigos.

Asmodeus, que permanecia um pouco atrás, observava a batalha com um olhar analítico.

Asmodeus: — Precisamos separar os dois.

Kazuhiko assentiu.

Kazuhiko: — Então vamos tornar isso realidade.

Kazuhiko avançou primeiro. Seu corpo se moveu como um meteoro dourado, rompendo o gelo abaixo de seus pés enquanto um soco flamejante se dirigia ao crânio celestial de Abaddon.

Mas antes que o impacto ocorresse, o próprio espaço ao redor dela distorceu-se.

A aura da morte empurrou Kazuhiko para trás, fazendo seu punho tremer no ar. O conceito da morte pesava sobre ele, e por um instante, ele sentiu como se seu próprio coração estivesse parando.

Kazuhiko: — Maldição…!

Antes que pudesse ser sufocado por aquela presença, Leviathan interveio.

Uma barreira invisível surgiu ao redor de Kazuhiko, e a pressão da morte foi dissipada instantaneamente. Nenhuma força destrutiva poderia atravessar Leviathan.

Abaddon virou seu rosto para ele.

Abaddon: — …Curioso.

Leviathan apenas erguia um dos braços dele, indicando que tinha sido de fato aquele que tinha levantado a barreira.

Leviathan: — Você é... Perigoso.

Foi nesse momento que Enoch entrou em ação.

Beelzebub: — Kazuhiko! — gritou Beelzebub.

O corpo de Enoch se dissolveu em sombras pelo o ambiente e reapareceu atrás de Kazuhiko, sua mão negra se estendendo para arrancar-lhe a espinha.

Mas antes que ele pudesse tocá-lo—

SHINK!

Uma lâmina negra cortou o ar.

Ryuji apareceu em um piscar de olhos, sua Katana Seca bloqueando o golpe de Enoch. Faíscas explodiram, e o impacto os afastou.

Ryuji: — Você acha que pode tocar nosso líder tão facilmente? — Ryuji sorriu, deslizando para trás.

Enoch lambeu os lábios.

Enoch: — Interessante… Essa lâmina, essa presença… Você já esteve perto da morte muitas vezes, não esteve?

Ryuji: — Já. E vou garantir que você seja o próximo.

Enoch riu. — Eu adoraria ver você tentar.

Miyako: — Kazuhiko...

Miyako surgiu ao lado de Ryuji, assim que ela ia avançar, uma mensagem aparecia novamente na sua cabeça.

PARABÉNS!

Miyako: — Porra... Isso de novo?

Graças ao seu desejo de proteger, a condição de despertar da suas adagas serão liberadas!

Miyako: — Bom... Isso é conveniente.

Um brilho dourado percorreu suas lâminas, e um sinal invisível reverberou pelo espaço ao seu redor.

ATENÇÃO! Devido a mudança de alvo que você deseja proteger, novas habilidades foram adicionadas nas suas adagas;

Agora é possível armazenar e lançar energia cinética acumulada.

Propriedade adicional desbloqueada: "Vínculo do Guardião" — A força da energia acumulada aumenta proporcionalmente ao desejo de proteger alguém.

Miyako piscou, confusa, ao ver a mensagem surgir em sua mente novamente. O tom artificial e quase sarcástico daquele sistema invisível a irritava, mas a informação era clara.

Ela olhou para suas mãos, sentindo o peso de suas adagas mudar ligeiramente. O brilho dourado que percorreu as lâminas não era comum—era intenso, como se as próprias armas tivessem reconhecido seu desejo.

Miyako: — Isso é conveniente mesmo... — murmurou, girando uma das adagas entre os dedos.

O ar ao seu redor ficou denso. Era como se a própria realidade estivesse respondendo à sua determinação.

Miyako então se lembrou de Beelzebub na última luta. Ele havia despertado um novo poder em suas pragas porque queria proteger algo. E agora... o mesmo acontecia com ela.

"Kazuhiko..."

O nome ressoou em sua mente.

Ela olhou para ele no campo de batalha—ferido, mas ainda de pé, enfrentando Abaddon e Enoch ao lado de seus aliados. Se ela não fizesse algo agora, poderia ser tarde demais.

Miyako apertou os punhos.

Então, vamos testar isso.

Ela arremessou uma das adagas.

Dessa vez, quando a lâmina cortou o ar, o espaço ao redor dela tremeu.

O golpe que deveria ser silencioso se manifestou como um estrondo ensurdecedor.

A adaga não apenas avançou—ela carregava toda a força cinética acumulada até aquele momento, que ficou se acumulando mesmo inativa no momento desde a sua última batalha.

Enoch notou tarde demais.

A lâmina atingiu o chão perto dele, e no mesmo instante a energia cinética liberada explodiu como um raio concentrado, levantando destroços e empurrando até mesmo o ar com violência.

Ele deslizou alguns passos para trás, surpreso pela potência do impacto.

Miyako não perdeu tempo.

Ela arremessou a segunda adaga, e dessa vez, carregou-a com ainda mais força.

A lâmina desapareceu num borrão dourado antes de atingir seu alvo.

E no momento do impacto—

O ar se despedaçou como vidro.

A onda de choque rasgou o campo de batalha, forçando até mesmo Beelzebub a recuar momentaneamente.

Miyako exalou pesadamente, um pequeno sorriso se formando em seus lábios.

Miyako: — Agora sim... isso vai ser divertido.

Ele desviava de todas as explosões, calculando todos os espaços disponíveis antes e depois das explosões.

Enoch: — HAHAHA! Enoch gargalhou. — Agora sim, isso está ficando divertido!

Enquanto a batalha continuava, Beelzebub manipulava suas pragas. Milhares de insetos rastejavam pelo campo, subindo pelo corpo de Abaddon e Enoch.

Asmodeus: — Beelzebub, você consegue separá-los? — perguntou Asmodeus.

Beelzebub: — Vou tentar algo… Mas preciso de uma abertura.

Kazuhiko assentiu.

Kazuhiko: — Eu dou um jeito nisso.

Ele concentrou sua energia, e seu corpo brilhou com um poder avassalador. Em um instante, ele surgiu diante de Abaddon novamente, lançando um soco com força suficiente para desintegrar montanhas.

Dessa vez, Leviathan amplificou a defesa de Kazuhiko, bloqueando qualquer tentativa de imposição da morte.

O impacto acertou Abaddon diretamente.

O ar tremeu. A terra se abriu.

E então—

Beelzebub deu o golpe final no plano.

Ele liberou uma nuvem de pragas que cobriu completamente o campo de batalha. Milhares de insetos imbuídos com venenos multidimensionais se espalharam, criando uma separação entre Abaddon e Enoch.

Beelzebub: — AGORA!

Ryuji e Miyako avançaram ao mesmo tempo.

Ryuji correu em direção a Enoch, sua Katana cortando o próprio espaço, enquanto Miyako lançou outra onda de adagas explosivas.

Enoch percebeu tarde demais.

Kazuhiko usou a força do impacto anterior para arremessar Abaddon para longe, separando-a de seu aliado.

E pela primeira vez…

Abaddon franziu a testa.

Abaddon: — Interessante.

Com Enoch e Abaddon agora afastados, o equilíbrio da luta mudou.

Kazuhiko e Beelzebub encaravam Abaddon.

Ryuji e Miyako preparavam-se para lidar com Enoch.

Leviathan permanecia no centro, pronto para proteger seus aliados de qualquer ataque devastador.

Asmodeus sorriu.

Asmodeus: — Agora, temos uma chance.

Mas então…

O riso de Enoch ecoou pelo campo.

Enoch: — Vocês realmente acham que nos separar é o suficiente?

Seu corpo brilhou com uma energia caótica, e um vento negro varreu o campo de batalha.

Abaddon ergueu sua cabeça. Sua coroa celestial começou a girar mais rápido.

Enoch: — Acho que está na hora de mostrar realmente por que isso é um apocalipse, afinal...

O campo de batalha tremeu.

A energia ao redor de Enoch se distorceu, criando ondas de calor e pressão que pareciam sufocar o próprio ar. O chão rachou sob seus pés, como se estivesse cedendo ao peso de sua presença.

O tempo congelou por um instante.

Então—a explosão.

Um vento negro varreu o campo de batalha, arrasando tudo em seu caminho.

Ryuji fincou sua katana no chão para não ser jogado para trás, seus músculos tremendo com o esforço.

Beelzebub tentou conter a onda com suas pragas, mas até mesmo elas começaram a ser arrastadas.

Miyako pressionou as mãos contra os ouvidos, os sons ao redor dela desaparecendo enquanto sua visão ficava turva. O próprio espaço parecia estar distorcido.

Kazuhiko rangeu os dentes.

Kazuhiko: — Droga... Isso não é normal!

Kokuei: (( Com certeza... Não é, se prepare-se, Kazuhiko... Estes seres não estarão mais de brincadeira, não exite em sacar a arma ))

Kazuhiko: — Merda... Eles são muito mais fortes que Hiroy...!

A energia ao redor de Enoch se condensou em uma esfera distorcida, e então... se expandiu brutalmente.

A Expansão de Conquista havia sido ativada.

Seus atributos explodiram em níveis absurdos, cada movimento seu agora carregava mais peso, mais poder, mais velocidade.

Mas não foi só isso.

Abaddon também ativou a sua.

Sua aura de morte se intensificou, as sombras ao seu redor crescendo como espectros sem forma, devorando a luz e distorcendo a realidade.

E então—o inesperado aconteceu.

Ambos ergueram as mãos, fazendo um gesto no ar.

O espaço se partiu.

Uma fenda negra se abriu diante deles, pulsando como uma ferida na própria existência.

Dentro dela, algo emergiu.

Uma trombeta.

Não uma trombeta comum.

Ela emanava uma energia antiga, um som inaudível vibrando no ar antes mesmo de ser tocada.

Kazuhiko sentiu um arrepio na espinha.

Kazuhiko: — Não... O que diabos é isso?!

Kokuei: ((Aí está, prepare-se))

Miyako arregalou os olhos.

Miyako: — Isso não pode ser bom.

Abaddon fez o mesmo.

Uma segunda fenda surgiu ao seu lado, e dela, outra trombeta foi retirada.

Então, ao mesmo tempo, eles tocaram.

O som que ecoou não era normal.

Era um rugido do próprio fim.

As ondas sonoras despedaçaram o espaço, criando rachaduras invisíveis na barreira de Leviathan.

O ar vibrou, o chão tremeu, e um peso insuportável desabou sobre todos.

Beelzebub gritou, sentindo suas pragas serem obliteradas pela vibração.

Miyako caiu de joelhos, suas adagas tremendo em suas mãos.

Ryuji sentiu seu corpo sendo esmagado, como se um peso divino estivesse sobre ele.

Kazuhiko tentou resistir, mas foi forçado a fincar sua lâmina no chão para não ser varrido pela força incompreensível daquele som.

E no centro de tudo—Leviathan.

A barreira ao seu redor se partiu como vidro, estilhaçando-se em milhões de fragmentos de luz.

E, como o epicentro do impacto, Leviathan foi o mais afetado.

Seu corpo se contorceu, sua forma oscilando entre a existência e a não existência.

Leviathan: — Nghhh...!!

O ser colossal rugiu, mas sua voz foi abafada pelo som das trombetas.

Ele estava sendo rasgado.

O próprio conceito de Leviathan estava sendo desfeito.

E, à distância, João apenas aplaudia, vendo aquele momento finalmente chegar.

Ele sabia o que aquilo significava.

Os Arautos haviam começado a tocar suas trombetas.

O céu se partiu em fendas ainda mais escuras.

O som das trombetas continuava a vibrar no ar, um eco divino que despedaçava a própria realidade. Mas no centro do impacto, Leviathan ainda estava de pé.

Ou melhor... tentava se manter.

Seus braços foram arrancados, pedaços de sua carne colossal caindo na vastidão do oceano. Seu corpo oscilava, fragmentado pela força destrutiva das vibrações.

O escudo que ele ergueu para proteger os outros estava rachado, mas ainda existia—um último resquício da força imortal do Dragão dos Mares.

Porém, Leviathan não cairia tão facilmente.

Com um movimento primitivo, sua boca se abriu, revelando dentes serrilhados manchados de um sangue escuro e espesso.

E então—ele mordeu algo dentro de sua própria carne.

CRACK!

O som de um frasco se partindo ressoou pelo campo de batalha.

E então—a transformação começou.

Sangue negro escorreu de suas presas, irradiando um brilho púrpura distorcido.

Aquele não era um sangue comum.

Era o Sangue de Lúcifer.

Seu corpo se contorceu.

Seus ossos se reformaram.

Seus braços cresceram novamente, mais densos, mais poderosos.

E não só isso.

Seu corpo se expandiu.

Seus músculos pulsaram, suas escamas brilharam, e sua forma começou a crescer além dos limites que antes o restringiam.

O Leviathan original emergiu.

Uma serpente colossal, um titã da destruição, uma entidade que poderia devorar mundos inteiros.

O oceano abaixo ferveu, e a Antártica tremeu quando sua presença foi restaurada por completo.

Seu rugido rasgou os céus.

Leviathan: — RRRRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAARRRGH!!!

A energia em sua volta se tornou um furacão, dispersando os ecos das trombetas ao redor dele.

E então—o contra-ataque começou.

Enquanto Leviathan se reconstituía, Asmodeus analisava a situação.

A trombeta havia feito estragos.

Leviathan sobreviveu, mas todos estavam feridos.

Beelzebub ofegava, suas pragas reduzidas a cinzas.

Miyako segurava suas adagas com força, mas o sangue escorria de seus ouvidos, os efeitos sonoros ainda pesando sobre ela.

Kazuhiko estava ajoelhado, tentando recuperar seu fôlego.

Ryuji apertava sua katana, o corpo tremendo pelo esforço de se manter de pé.

A proteção de Leviathan os impediu de serem obliterados, mas eles ainda estavam vulneráveis.

Se Enoch e Abaddon atacassem agora... isso poderia ser o fim.

Asmodeus fechou os olhos.

Ele odiava fazer isso.

Mas não havia escolha.

Ele ergueu a mão, três símbolos aparecendo em sua palma.

O Conhecimento.

O Poder.

A Virtude.

Seus olhos brilharam em três cores diferentes.

E então, sua forma se alterou.

Três cabeças surgiram de seu corpo.

A Cabeça do Conhecimento, com olhos dourados que refletiam a verdade absoluta.

A Cabeça do Poder, com chifres imensos e presas afiadas, irradiando energia destrutiva.

A Cabeça da Virtude, com uma expressão calma e serena, carregando uma energia de equilíbrio absoluto.

Asmodeus não era mais apenas um demônio da luxúria.

Agora ele era o Juiz.

Ele abriu os braços, e uma onda de energia se espalhou como uma onda gravitacional, restaurando a estabilidade ao seu redor.

A Proteção de Leviathan não era apenas uma barreira comum—ela era um conceito, um pilar absoluto da existência.

Quando seu corpo se expandiu e atingiu sua verdadeira forma, a barreira se reformulou junto com ele, deixando de ser apenas uma defesa para se tornar uma condição imposta à própria realidade.

As trombetas do Apocalipse podiam apagar a existência. Mas dentro da Proteção, a existência não podia ser apagada.

Se o som tentava reescrever as leis do cosmos, a barreira se tornava parte dessas leis, tornando seu efeito inútil.

Se as trombetas tentavam desfazer os corpos e almas dos guerreiros, a Proteção os ancorava à realidade, impedindo que fossem apagados.

Era uma resistência que não se baseava apenas em força ou poder, mas em algo muito mais absoluto: a própria vontade do universo de manter-se intacto.

E com Asmodeus reforçando a barreira, o efeito das trombetas foi completamente neutralizado.

Agora, o som da destruição não podia mais atingir aqueles protegidos pelo domínio de Leviathan.

Asmodeus: — O som das trombetas não terá mais efeito sobre vocês.

Miyako abriu os olhos, sentindo seu corpo recuperar a mobilidade.

Kazuhiko se levantou, ainda ferido, mas consciente.

Ryuji sentiu sua lâmina vibrar em resposta à nova energia.

E Beelzebub... sorriu.

Beelzebub: — Bem, bem... parece que agora temos um jogo justo.

Asmodeus olhou para Enoch e Abaddon, que ainda seguravam suas trombetas.

E então, ele sorriu.

Asmodeus: — Agora... é nossa vez, seus merdas.

João observava o campo de batalha à distância, os olhos semicerrados enquanto as rachaduras na realidade começavam a se dissipar.

A Proteção Universal de Leviathan... realmente conseguiu resistir às trombetas.

Isso não era algo que ele havia previsto.

Ele apertou os dedos contra o terço que segurava, seu semblante neutro escondendo a inquietação em sua mente.

João: — Hmph... então ainda não é o bastante, parece que os subestimei levemente. — murmurou para si mesmo.

Claro. As trombetas estavam incompletas.

Se fossem os Quatro Cavaleiros do Apocalipse em sua totalidade, nada—absolutamente nada—seria capaz de impedir o fim.

Mas, por enquanto, apenas metade do poder do Apocalipse estava ativo.

Isso explicava por que aqueles hereges ainda estavam vivos.

Raiden: — Tsc... — Raiden estalou a língua, cruzando os braços. Ele observava a batalha como um leão enjaulado, claramente impaciente. — Já deu. Deixe-me ir até lá.

Ao seu lado, Samá mantinha um sorriso sereno, mas seus dedos estavam inquietos, tamborilando contra a bainha de sua adaga.

Samá: — Concordo. Essa luta já se prolongou o suficiente.

João, no entanto, levantou a mão.

João: — Não.

Raiden franziu o cenho.

Raiden: — O quê?

João: — Ainda não é o momento. — João fechou os olhos por um instante, inspirando profundamente. Seu instinto nunca falhava. — Algo está vindo.

Raiden ficou em silêncio.

Samá arqueou uma sobrancelha, mas não questionou.

E então—

Um som rasgou o silêncio.

Um toque de guitarra, baixo, suave, quase como um sussurro de aço vibrando contra as cordas.

Raiden e Samá se viraram de imediato.

Alguém estava ali.

Escondido na escuridão da cabana, uma silhueta alta e esquelética emergiu das sombras.

Seu corpo era extremamente fino, seus membros longos e retorcidos, como um bicho graveto deformado.

A sombra avançou um passo, ainda tocando sua guitarra.

João não demonstrou surpresa.

Mas Raiden—

Seus olhos se arregalaram no mesmo instante.

Ele reconhecia aquela coisa.

Raiden: — … Não pode ser.

E então—o capítulo termina.