O Caçador Lendário

Antártica - 15:17PM

Raiden dava alguns passos para atrás ao ver aquela figura agora, que estava subitamente na sua frente, Samá sentia uma pressão, mas não era tanto quanto ao de Raiden.

Samá: — Meu lorde, por quê você está assim? Você conhece este demônio?!

João virava lentamente, com um semblante sério, ele observava a figura saíndo da escuridão, enquanto ele continuava tocando sua guitarra, aumentando cada vez mais as notas.

João: — Anomalia, aonde está a outra presença que eu senti que estava vindo? Eu tenho certeza absoluta que pressentir duas presenças invadindo este território.

Scarlet continuava a tocar sua guitarra, cada nota ressoando no ambiente frio da Antártica como se o próprio ar vibrasse ao seu comando. A melodia era distorcida, carregada de algo primitivo e incômodo, como se desafiasse as leis naturais do mundo. Ele finalmente saiu da escuridão por completo, revelando sua figura magra e distorcida, parecendo mais um bicho-pau do que um ser humano. Seus olhos brilharam com um tom alaranjado por um breve instante antes de ele responder, sua voz rouca e arrastada.

Scarlet: — Ahh... então você percebeu... Hah. Sempre atento, né? Mas... bom... a segunda presença que você sentiu... digamos que ela não tá com a gente no momento. Ela mudou de ideia.

Ele inclinou a cabeça levemente para o lado, como se saboreasse o suspense da situação. Seus dedos longos e esqueléticos deslizaram pelas cordas da guitarra Ômega, arrancando um som grave e dissonante. Samá e Raiden não gostaram nem um pouco da resposta, e a postura de ambos ficou mais agressiva.

Raiden: — Não brinque com a gente! Por quê você, de todas as pessoas, está aqui?!

Scarlet riu, um som seco e sem pressa. Ele então girou a guitarra e a apoiou no ombro, encarando Raiden com um olhar vago.

Scarlet: — Ah, era você em que eu pedi aquele favorzinho. Cara... você tá tão tenso. Isso faz mal pro coração, sabia?

Samá cerrou os punhos. Aquele ser não parecia forte, mas algo nele fazia seu instinto gritar para não subestimá-lo.

Samá: — Se não vai responder de forma clara, então não precisamos perder tempo com você.

Antes que João pudesse interferir, Samá avançou. Ele sacava sua adaga e logo se envolveram em chamas sagradas, combinando com um tom vermelho de sua fúria e dor, e ele desferiu um golpe rápido contra Scarlet. Mas antes que pudesse acertar, Scarlet simplesmente inclinou o corpo de forma antinatural, dobrando-se para trás como se não tivesse espinha. A mão de Samá passou direto, e naquele instante, Scarlet soprou um tom de guitarra.

Scarlet: — Ui, quase. Mas tenta de novo.

O som reverberou no ar, e de repente Samá sentiu suas chamas oscilarem. O fogo divino queimar... menos? Era como se a presença de Scarlet estivesse afetando a própria forma com que os elementos se comportavam ao redor dele.

Raiden, vendo aquilo, ainda paralisado pela a presença de Scarlet, apesar dela não parecer tão ameaçadora quanto parecia no purgatório, mas ele dava um passo pra cima, levantando seu braço pra cima enquanto afirmava o punho.

Raiden: — Eu posso até te conhecer, você fez ameaças vazias sobre minha mãe, mas não vou deixar que cause mais perturbações aqui.

Raiden, observando a troca, estreitou os olhos. Ele ergueu a mão e faíscas começaram a dançar em volta de seu corpo. Em um instante, eletricidade se acumulou entre seus dedos e ele disparou uma onda de raios diretamente contra Scarlet.

Scarlet soltou um suspiro longo e arrastado, como se estivesse entediado.

Scarlet: — Tá bom, tá bom... vocês são apressados demais.

O clarão rasgou o ar e atingiu o inimigo em cheio. Mas, para a surpresa de Raiden, a energia simplesmente se dissipou no impacto. Scarlet riu.

Scarlet: — Legal, legal... mas você tá esquecendo uma coisinha básica.

E então ele tocou outra nota. Dessa vez, algo mudou. O ar se tornou pesado, a temperatura caiu ainda mais, e uma leve névoa avermelhada começou a se espalhar do chão ao redor de Scarlet.

Com isso, Ele erguia a mão e seus ossos começaram a brilhar em tons metálicos. O ar ao redor crepitava com um som estranho.

Scarlet: — Platina. Alta condutividade. Zero resistência ao calor. Basicamente, seu raio virou um carinho no meu esqueleto.

Raiden mal teve tempo de reagir antes que Scarlet flexionasse os dedos. O platina em seu corpo reagiu instantaneamente, convertendo a eletricidade absorvida em uma corrente oposta. Um raio reverso disparou de volta para Raiden, atingindo-o no peito com o dobro da potência.

Raiden: — Ngh!

Ele foi jogado para trás, deslizando sobre o gelo. Scarlet girou a guitarra e pisou forte no chão. No mesmo instante, o gelo sob seus pés mudou de cor. Pequenas bolhas começaram a se formar, liberando um cheiro ácido no ar.

Samá franziu a testa e recuou, sentindo um peso estranho em seus músculos. Seus olhos se arregalaram quando percebeu o que estava acontecendo.

Samá: — Oxigênio líquido... ele tá evaporando o gelo!

Scarlet sorriu.

Scarlet: — Quase. Fiz um ajuste químico na estrutura do permafrost. Transformei parte do gelo em ácido fluorídrico gasoso. Cheira bem, né?

O gás invisível já estava fazendo efeito. O entorpecimento percorreu o corpo de Samá, seus reflexos diminuindo. Scarlet aproveitou a brecha e deslizou para o lado, movendo-se como se estivesse patinando. Ele segurou a guitarra como um porrete e—

CRACK!

A base do instrumento atingiu a lateral da cabeça de Samá, jogando-o para longe. Ele girou no ar antes de cravar a adaga no chão para se estabilizar.

Raiden: — Droga!

Raiden avançou a uma velocidade absurda, seu punho envolto em eletricidade agora negra. Ele disparou um soco direto, mas Scarlet reagiu no último segundo. Em vez de tentar desviar, ele simplesmente alterou a composição do ar ao redor do golpe.

O oxigênio foi substituído por argônio puro. Sem oxigênio para conduzir calor, o punho de Raiden passou por uma bolha de vácuo térmico, reduzindo a potência do ataque em quase 70%. Mesmo assim, a energia residual queimou parte dos ossos de Scarlet, fazendo-o estremecer.

Scarlet: — Ugh. Tá, esse doeu um pouquinho.

Antes que Raiden pudesse continuar o ataque, Scarlet ergueu a mão e fechou os dedos no ar. O gelo ao redor de seus pés se desfez numa reação química violenta, liberando um líquido negro e pegajoso. No instante seguinte, faíscas dançaram entre seus ossos.

Scarlet: — Agora tamo falando minha língua.

Ele clicou os dedos.

FOOM!

As chamas explodiram. Mas não eram normais—elas eram chamas químicas, alimentadas por uma reação de metal alcalino com água. O fogo azul e roxo se espalhou como uma maré viva, queimando até onde não havia oxigênio.

Raiden saltou para trás, sentindo o calor atravessar sua resistência.

Raiden: — Essas chamas... elas não deviam durar tanto!

Scarlet riu.

Scarlet: — Pequena reação de lítio e fósforo vermelho. Você pode até dissipar fogo normal, mas isso aqui? Isso vai queimar até sua alma.

No instante seguinte, ele abriu a palma da mão e um brilho avermelhado começou a pulsar em seus ossos. Era plasma infernal, um dos seus truques mais letais. A esfera se formou rapidamente, rodopiando com um brilho espectral.

Ele lançou o ataque.

Raiden reagiu imediatamente, concentrando sua eletricidade negra para criar uma barreira. Mas ao invés de apenas explodir, o plasma se adaptou, combinando elementos do ambiente com a energia ao seu redor. A explosão resultante sacudiu o solo congelado e lançou faíscas de chamas infernais em todas as direções.

Scarlet aproveitou a distração para se mover novamente. Ele deslizou pelo gelo e apareceu ao lado de Samá, que ainda tentava dissipar os efeitos do gás.

Scarlet: — Você tá meio parado, amigo.

Antes que Samá pudesse reagir, Scarlet simplesmente sintonizou o cálcio nos ossos dele.

Samá: — O quê...?

A dor veio como um choque. Seus músculos travaram por um segundo quando Scarlet alterou a densidade óssea dele, tornando seus movimentos ainda mais pesados. E então, para finalizar, o guitarrista tocou um acorde distorcido na guitarra.

Uma onda sônica invisível atravessou o ar e atingiu Samá diretamente no peito, jogando-o para trás como se tivesse sido atingido por um caminhão.

Raiden rangeu os dentes.

Raiden: — Esse desgraçado... Não me deixa outra escolha, vou ter que começar a me adaptar!—

Ele se preparou para outro ataque, eletricidade crepitando em volta de seu corpo. Mas antes que pudesse disparar, uma voz ecoou pelo ambiente.

João: — Chega.

Instantaneamente, todos os movimentos cessaram. Scarlet suspirou e relaxou os ombros, como se estivesse cansado.

Scarlet: — Haaah... beleza, beleza. O líder falou.

Ele girou a guitarra mais uma vez e a apoiou no ombro, como se nada tivesse acontecido. Samá e Raiden ainda estavam em posição de combate, mas sabiam que a luta havia acabado.

Scarlet olhou para João, seu sorriso sem vida permanecendo no rosto.

Scarlet: — Então... a gente conversa agora? Ou quer que eu toque mais alguma coisa? Eu toco tango muito bem se você quer saber.

O silêncio caiu sobre o local. Mas uma coisa era clara: Scarlet havia acabado de mostrar que, mesmo enfraquecido, era um problema real.

Scarlet: — Vocês são sem graça, eu vim aqui pra me divertir, sabe.

João deu um passo à frente, os olhos fixos em Scarlet. Sua presença era calma, mas carregava um peso inegável. Samá e Raiden ainda estavam em posição de combate, os músculos tensos, esperando qualquer sinal de traição.

João: — Se veio só para se divertir, então por que se envolveu nisso? O Apocalipse não parece o tipo de coisa que você levaria a sério.

Scarlet suspirou dramaticamente, como se estivesse exausto da conversa antes mesmo de começar. Ele passou a mão esquelética sobre a guitarra e dedilhou um acorde melancólico, fazendo o som ecoar pelo gelo.

Scarlet: — Ah, cara, eu não tô nem aí pra o que vai acontecer com o mundo. Se o céu cair, se o inferno subir, se todo mundo virar pó... tanto faz. Mas sabe o que me trouxe aqui? Um amigo novo.

Ele abriu um sorriso largo, zombeteiro, enquanto olhava para João com curiosidade.

Scarlet: — Ele tava meio irritado... na real, bem puto. E eu fiquei curioso. Tipo, bem curioso. Então pensei: "por que não ir lá ver o que ele vai fazer?" — Ele riu de leve, como se estivesse se lembrando de algo particularmente engraçado. — Mas aí eu chego aqui e vocês tão tentando impedir tudo. Isso é meio chato, sabe?

Raiden estreitou os olhos, ainda sentindo a energia residual da batalha ao redor.

Raiden: — E quem é esse seu "amigo"?

Scarlet deu uma risada curta e abriu os braços.

Scarlet: — Ah, cara, se eu te contar, estraga a surpresa! Mas eu vou te dar uma dica. Ele tá... digamos... bem ansioso pra ver vocês sendo cozinhados para o próximo prato dele...

O gelo sob os pés de João rangeu. A temperatura já era insuportável, mas, por algum motivo, naquele momento, o frio pareceu ainda mais cortante.

Samá finalmente se estabilizou e limpou um pouco de sangue do canto da boca.

Samá: — Você fala como se isso fosse uma piada. Mas sabe que se esse Apocalipse acontecer, não vai sobrar nada, certo?

Scarlet inclinou a cabeça, um brilho zombeteiro nos olhos vazios.

Scarlet: — E quem disse que eu me importo?

O silêncio que veio depois foi denso. João manteve o olhar fixo em Scarlet, mas não encontrou nada além de pura diversão na expressão dele.

João: — Então você só está aqui pelo caos?

Scarlet sorriu mais ainda.

Scarlet: — Exatamente. E sabe o que é melhor? O caos sempre faz a melhor música.

Ele então estalou os dedos. De repente, o solo tremeu levemente. Pequenas rachaduras começaram a se formar no gelo, e um calor sutil emergiu delas. Não era fogo, nem eletricidade. Era algo diferente.

Scarlet: — Falando nisso... acho que ele tá chegando.

Samá, Raiden e João ficaram alertas. Algo estava errado. Muito errado.

Raiden: — O que você fez?

Scarlet deu um passo para trás, balançando os ombros, e tocou um riff rápido na guitarra.

Scarlet: — Eu? Nada, cara. Mas ele... ah, ele tá faminto.

E então, do horizonte, uma sombra colossal começou a se erguer. Algo que não deveria existir. Algo que fazia até mesmo Scarlet sorrir com um entusiasmo genuíno.

Scarlet: — Então, chefões, preparados pra ver o masterchef fazer a janta?

Oceano Pacífico – 15:20 PM

A barreira era grotesca.

Milhões de moscas, larvas pulsantes e enxames de insetos infectados rodopiavam pelo ar, formando uma muralha viva de pestilência e podridão. Criada por Beelzebub, essa divisão separava os campos de batalha: Kazuhiko e Beelzebub enfrentavam Enoch, enquanto Miyako e Ryuji se viam presos com Abaddon. No centro, Leviathan rugia como uma calamidade viva, seu corpo imenso se movendo sem restrições, obliterando tudo ao redor.

A Antártica já não existia. Era apenas um campo de ruínas submersas, pedaços de geleiras girando como destroços de um naufrágio cósmico. Leviathan, a encarnação da ira oceânica, destruía sem distinção—cada batida de sua cauda criava tsunamis capazes de engolir montanhas, cada rugido abalava a atmosfera como um trovão primordial.

O rugido de Leviathan ecoava pelo campo de batalha, sua presença avassaladora dominando o mar. Suas escamas brilhavam com um brilho profundo, refletindo a escuridão que pairava o céu . A cada movimento de seu corpo titânico, tsunamis emergiam, engolindo embarcações e arrastando destroços como se fossem meros brinquedos de madeira.

Enquanto isso, Asmodeus, no meio do caos, fazia o oposto. Ele tocava o ar com um controle sobrenatural, harmonizando os sons da destruição em uma melodia hipnotizante, criando um equilíbrio perverso entre a desgraça e a beleza. Sua música distorcia a realidade, afetando até os sentimentos daqueles que ouviam.

Kazuhiko ofegava, sentindo o peso da batalha aumentar a cada segundo. Enoch era um adversário implacável, movendo-se com uma graça absurda para alguém de sua estatura. Cada golpe seu carregava o peso de incontáveis eras de guerra. Beelzebub, ao lado de Kazuhiko, controlava a maré das pragas, jogando ondas de vermes carnívoros e doenças invisíveis contra o oponente.

Enquanto isso, Miyako e Ryuji tentavam sobreviver ao monstro que era Abaddon. A personificação da destruição avançava sobre eles como uma avalanche demoníaca, esmagando tudo em seu caminho. Cada soco, cada pisada, fazia o oceano abaixo tremer. Miyako e Ryuji, embora poderosos, estavam no limite.

Foi então que Kokuei, em seu subconsciente, sentiu algo. Uma força imensa, algo que fazia até mesmo os demônios presentes parecerem menores. Não era apenas um pressentimento... era uma certeza. Algo estava vindo. Algo colossal.

A voz de Kokuei ecoou na mente de Kazuhiko, repleta de urgência:

Kokuei:(( Kazuhiko... tem algo vindo. Algo... absurdo. ))

Foi nesse instante que o mundo parou.

O espaço se rasgou. O som morreu. O ar se partiu.

E, então, ele chegou.

Com um único corte, a barreira de pragas foi desintegrada. Não houve resistência. As moscas, as larvas, as pestilências—tudo foi apagado da existência. O próprio ar onde os insetos existiam foi cortado, como se nunca tivesse existido.

E então veio a voz.

Ryōshi: — Quem ousa mexer com a minha família?!

O impacto de suas palavras rasgou o campo de batalha como uma lâmina afiada.

As águas se partiram em dois, criando um abismo no oceano. Leviathan se calou, seu olhar titânico focado na figura recém-chegada. Asmodeus hesitou, suas mãos que harmonizavam o caos tremendo por um segundo. Beelzebub piscou lentamente, sentindo pela primeira vez algo além da indiferença.

Enoch/Abaddon: — ?!

Ambos os cavaleiros sentiam algo que nunca viu antes, um demônio que acompanhava o homem, separando as águas do oceano como se fosse rasgar papel. mas não era um um demônio colossal...

Era apenas a aura de Ryōshi, uma aura gigantesca que encarnava em uma figura demoníaca. Os olhares se voltaram para aqueles que conheciam o homem.

Miyako e Ryuji, ofegantes e ensanguentados, sentiram o coração congelar. Eles conheciam aquele homem. Ryōshi. O caçador supremo. O homem cujas histórias pareciam exageradas demais para serem reais. E, ainda assim, ali estava ele, cortando a própria realidade como se fosse papel.

Miyako, mesmo lutando para respirar, sussurrou:

Miyako: — ...Não pode ser.

Ryuji, sentindo o peso da presença avassaladora, apenas murmurou:

Ryuji: — ...É ele, a mesma pessoa que nos salvou antes, este cara sempre gosta de aparecer na última hora...

Mas ninguém ali sentia mais do que Kazuhiko.

Porque Kazuhiko sabia quem Ryōshi era de verdade.

Ele não era apenas um monstro de batalha.

Não era apenas um caçador lendário.

Não era apenas uma lenda viva.

Ele era seu pai.

E Kazuhiko, pela primeira vez naquela batalha, sentiu algo que não era desespero, frustração ou medo.

Kazuhiko sentiu a garganta secar. O caos ao redor parecia ter sido engolido pelo vácuo criado pela chegada de Ryōshi. Até mesmo as trombetas já não saíam mais nenhum som.

O vento frio bateu contra seu rosto ensanguentado.

Ele queria dizer algo. Qualquer coisa. Mas sua mente simplesmente não processava.

Seus olhos tremiam.

Fazia anos. Anos sem vê-lo.

E agora, ali estava ele—o homem que sempre pareceu mais um fantasma do que um pai.

A lâmina de Ryōshi ainda brilhava com um corte tão perfeito que a realidade demorava a perceber que havia sido partida.

Kazuhiko deu um passo à frente, a voz saindo hesitante, entre a confusão e uma tristeza repentina:

Kazuhiko: — …Pai?

A voz quase não saía, ele esqueceu de tudo que estava acontecendo naquele momento, e tudo que ele podia focar era a presença do seu pai, com isso, sem ele nem perceber, uma lágrima caía sobre seu rosto coberto de sangue.

Foi nesse instante que algo impossível aconteceu.

No fundo, João—aquele que sempre previa tudo, que parecia intocável e imutável—parecia em choque.

Ele não piscava. Não respirava.

Por um momento, sua existência parecia instável, como se estivesse tentando processar um evento que nunca deveria ter acontecido.

João: — ...

Até mesmo Raiden e Samá não podiam acreditar, como um simples mortal conseguir parar com tudo que estava acontecendo, apenas com um simples corte, eles ficavam paralisados, enquanto ainda processavam o que diabos estava acontecendo.

E então, o silêncio foi quebrado.

Scarlet: — Bravo! Bravo!

Scarlet, sentado no alto de um pedaço de destroços flutuando no ar, começou a bater palmas com seus braços finos e longos, como se fosse um espectador assistindo ao maior espetáculo de sua vida.

Seu sorriso se alargou, os olhos brilhando em êxtase.

Scarlet: — Ah, agora sim! Isso tá ficando interessante!

A Antártica havia sido destruída.

Os mares estavam partidos.

Os cavaleiros estavam silenciados.

E ali, no epicentro de tudo, Ryōshi permanecia parado, seus olhos afiados varrendo o campo de batalha, sem nenhuma pressa.

Como se já soubesse que todos ali estavam mortos.

Eles só ainda não sabiam disso.

Continua no próximo capítulo.

Restam poucos capítulos.