O Desespero de uma Vida

Califórnia – 18:58 PM

Após uma pequena duração de tempo, o jato rapidamente adentrava ao continente americano, Kazuhiko dava uma rápida olhada para a janela, e se deparava com a mesma situação de antes, construções caídas, placas

tectônicas abaladas, ruas desertas, tudo que cobria aquela destruição era o som do vento e dos escombros caindo. O jovem retornava sua visão para baixo, olhando pra suas pernas, enquanto pensava sobre suas decisões na vida.

Nesse momento, a voz imponente como sempre, reaparecia em seu subconsciente, após de ter ficado calado por um momento desde sua explicação sobre Jesus.

Kokuei: (Sabe garoto, não quero te pressionar à nada disso, eu só espero que tu faça o que for melhor pra você, eu vi que fez "amigos"

novos durante a minha ausência, você tem garra pra fazer colegas, isso eu admito. Mas se tu realmente quiser saber a verdade, terá que se concentrar eventualmente no que eu te disse antes, este mundo deixou de ser como ele é graças ao desaparecimento dele.)

 Kazuhiko: ( Mas...Você acha que tudo vai se encaixar quando encontrar ele. Se ele realmente tiver sido preso por algo, significa que ou pode ser o próprio "pai" dele, que seria Deus, ou uma entidade primordial que subjuga a divindade como um todo. Não sei se eu sou a chave pra isso, Kokuei.)

Antes de que a voz o respondesse mentalmente novamente, a nave pousaria em um dos telhados de um prédio que estava em um perfeito estado pra um pós-apocalipse, como se ele em si não tivesse sofrido as causas naturais do desastre.

Ezra abriria um sorriso novamente, já retirando seus cintos e andando na frente para se posicionar na frente de todos.

Ezra: — Pessoal! Como eu prometi, chegamos à Califórnia! Eu sei que ele não está em uma das melhores condições, mas ei, Califórnia é Califórnia, não é mesmo? E ah! Não te disse que essa belezinha é rápida,

Kazuhiko??

Kazuhiko: — Sim sim... Bem rápido de fato, mas eu sinto que pra uma entrada "dinâmica", foi um tanto quanto decepcionante, a gente só estacionou em um teto aleatório de um prédio.

Ezra erguia o dedo, fazendo movimento de negação enquanto faz o barulho "tsk" em sua boca.

Ezra: — Pois é aí que se engana, companheiro. Por que é aqui

que a magia acontece de verdade!

Zoya revirava o olho, já parecendo que sabe o que está por ainda vir, enquanto Viktor apenas dava uma leve risada rouca.

Zoya: — Aff, sério... Já deve ser a décima oitava vez que ele faz a mesma coisa...

Arjun do lado, manteria sua seriedade, apesar de que momentos atrás, ele parecia estar aproveitando levemente a viagem.

Arjun: — É pra isso que viramos caçadores, pra ter que aguentar este cara como nosso líder, maldito seja a sua experiência.

Enquanto isso, Ryuji cutucava o ombro de Wulfric, enquanto tentava discretamente sussurrar no ouvido dele.

Ryuji: — Ei... O que ele vai fazer mesmo? Parece que todo mundo mudou de atitude quando ele começou a falar...

Wulfric apenas aceitava sua realidade atual, dando de ombros para a pergunta leiga de seu companheiro.

Wulfric: — Du wirst eine Menge Mist reden.

Ryuji: — Ele vai falar merda? Mas ele é um líder — Ryuji era interrompido abruptamente pela a voz cheia de convicção de Ezra, que

parecia estar animado até DEMAIS pra a situação atual.

Ezra: — Bom pessoal! Eu só queria falar antes de entrarmos nessa missão que não importa se for bom ou ruim, nós sempre venceremos, não importa o qual difícil a tarefa realmente seja! Basta apenas acreditar em si, e sua arma.

Ibrahim que até então se manteve calado pela a maioria da mini viagem, levantava a mão, indicando que ele ia falar algo.

Ezra: — Pode falar, nosso querido novato!

Ibrahim: — Sei que você está apenas querendo nos animar e tals, mas isso é praticamente uma guerra. Eu sacrifiquei tudo apenas para proteger meu povo, agora além de meu braço ser anexado com uma lança, terei que dar o meu sangue pra matar estes monstros, então eu tenho uma pergunta, pra quê todo este show?

Ezra não se sentia abalado com aquelas palavras realistas, ele ficava no entanto, ainda mais animado, como se aquilo foi um gatilho para sua animação, Zoya apenas colocou sua mão sobre seu rosto, negando com sua

cabeça enquanto suspirava silenciosamente.

Zoya: — Merda... Ele também fez isso, parece que Arjun e Wulfric não foram mais os únicos que sofreram com isso...

Ezra: — BOA PERGUNTA! Sério, gostei de ver do seu profissionalismo, isso já demonstra que tu vai ser um caçador nato. Agora voltando pra sua pergunta, este "show" não é desnecessário e muito menos

irrelevante, é o contrário! Este é o meu ritual especial para simbolizar uma

boa sorte para todos os presentes, inclusive o estrangeiro ali, que é filho de

um traidor, mas não guardamos mágoas.Tudo que a gente faz é pra valer, e eu

vou mostrar pra tu, Ibrahim que eu estou neste cargo por merecimento. Agora

retornando a minha fala emocional!

Ele continuava com aquilo por minutos, ele realmente não ia parar se não fosse a estática do rádio retornando sobre seu peito.

???: — Senhor, não querendo queimar seu papel. Mas estamos precisando de reforços rápidos sobre a situação, as anomalias estão se adaptando mais rápido que o previsto, mandarei a localização.

Ezra fazia um pequeno beicinho, antes de apertar no botão de rádio, desta vez com uma voz mais séria.

Ezra: — Entendido, estaremos no ponto o mais rápido possível, câmbio desligo.

Ezra soltava um grande suspiro, como se ele tivesse sido interrompido pela a sua grande fala, ele deslizava sua mão em seu rosto, com o seu sorriso desaparecendo no processo.

Ezra: — Beleza pessoal, ouviram ela.

Kazuhiko ficava confuso sobre quem era a pessoa que estava comunicando com eles neste tempo todo, Wulfric vendo a confusão do jovem, colocava sua mão sobre o ombro dele, retirando sua máscara por um breve

momento.

Wulfric: — Ela é Andressa. Ela veio do Brasil para aAetherbond pois Ezra tinha visto nela um grande potencial em conhecimento

geográfico. Além da suas habilidades quase sobrenaturais de acompanhar a situação de todos os países ela realmente é algo, e é o cérebro do nosso grupo.

Kazuhiko: — Entendo...

Viktor se levantava rapidamente, o que abalava um pouco a nave e inclinava levemente.

Viktor: — O que foi? Achou que a gente era só um bando de pessoas que criou este grupo sem o conhecimento geográfico necessário? Não nos subestime, moleque.

Kazuhiko antes de falar algo, Zoya se levantava rapidamente, não querendo mais perder tempo, então ela ia para a porta de saída e abria o mesmo.

Zoya: — Vocês todos falam demais, apenas calem as suas bocas e vamos nos concentrar na nossa missão por agora.

Arjun dava um passo à frente, acenando levemente sua cabeça enquanto ficava do lado da mesma.

Arjun: — Só vamos logo.

Ezra coçava a cabeça, apenas aceitando aquilo, ele dava um sorriso novamente. Olhando para todos antes deles partir.

Ezra: — Bom, Ibrahim... Eu tenho boas impressões sobre você, espero que tu consiga matar vários hoje, lembre-se, se tu não conseguir acompanhar a sua arma, ela irá te consumir completamente. Aí será ELA

quem vai te usar.

Ibrahim: — Eu cuido dessa lança, não se preocupe com nada.

Zoya e Arjun foram os primeiros a descerem, seguidos de Viktor e Ibrahim. O céu alaranjado da Califórnia pós-apocalíptica era um lembrete vívido do mundo que haviam perdido — e dos perigos que ainda estavam

por vir. As nuvens estavam pesadas, e ao longe, relâmpagos negros cortavam o

céu, como se a própria natureza tentasse avisá-los do que se escondia nas

sombras da costa oeste.

Assim que os pés de Kazuhiko tocaram o concreto duro do prédio, uma leve pulsação percorreu o chão, quase como um sussurro. Abaixo deles, o mundo não era apenas ruínas e silêncio — era um organismo pulsante,

que agora estava sendo infectado por anomalias.

Andressa: — Múltiplas assinaturas confirmadas... Ponto de origem: Vale Central. As anomalias estão se multiplicando a um ritmo impossível. Algumas estão assumindo forma humanoide. Elas estão... aprendendo.

Vocês precisam dividir o grupo.

Ezra: — Certo. Times de dois. Se nos espalharmos, cobrimos mais terreno e lidamos com as criaturas antes que elas saiam da zona vermelha.

Divisão dos Grupos:

Ezra e Kazuhiko

Zoya e Viktor

Wulfric e Ryuji

Arjun e Ibrahim

Ezra: — A missão é simples. Aniquilar. Não tentem dialogar. Não investiguem demais. Essas coisas estão se alimentando do desespero humano e, de alguma forma, imitando nossas emoções. Se começarem a falar com vocês… ignorem. Elas vão tentar te quebrar.

Ele encarava Kazuhiko por um momento.

Ezra: — E se te quebrarem, garoto… você não volta.

Kazuhiko respirava fundo. A tensão crescia em seu peito, mas ele respondia com um aceno firme. Seu olhar ainda estava preso à cidade abaixo — Los Angeles, ou o que restava dela. Ruínas negras, como dentes

quebrados, surgiam do chão. E no centro disso tudo, uma escuridão densa se

movia, viva e faminta.

Sem demora, os grupos logo se separavam, sobrando apenas Kazuhiko e Ezra no topo do prédio.

Local: Los Angeles – Zona 4 – 19:04 PM

O silêncio da cidade era antinatural. Um vácuo sonoro sufocava os sentidos, como se o próprio ar estivesse congelado no tempo. Los Angeles, antes viva, agora era apenas ruína e pulsação — raízes negras

serpenteando pelo concreto como artérias de um monstro enterrado.

Zoya e Viktor Petrov, os irmãos russos, se moviam como sombras entre o entulho. Havia algo de predatório em ambos — mas onde Viktor era brutalidade à flor da pele, Zoya era precisão.

Viktor parou de andar. Seu corpo parecia inquieto, e então, o braço direito dele se expandiu lentamente — músculos distorcidos e placas de ossos fumegantes surgindo como magma rompendo uma crosta. Era mais

que um membro: era uma arma viva. Um braço monstruoso e incandescente, com

veias brilhando em tons de âmbar e fumaça saindo de fendas abertas na pele.

Zoya, por outro lado, segurava algo completamente diferente: um bastão telescópico de titânio, coberto por inscrições rúnicas e microtubos que canalizavam energia elétrica. Mas o verdadeiro segredo estava na base. Quando ativado, o bastão se dobrava e se ramificava, se tornando uma

espécie de arco reverso de energia neural, que disparava lanças magnéticas

feitas de puro plasma — cada uma carregada com dados sensoriais falsos,

confundindo as criaturas que dependiam de instinto ou empatia para atacar.

Zoya: — Tá sentindo isso?

Viktor: (com o braço grotesco ainda se expandindo) — Algo nos observa. Mas não se move… ainda.

Então ela apareceu.

Do alto de um prédio, uma figura humanoide se arrastava até a borda. A carne dela parecia plastificada, esticada em ângulos

impossíveis. Veias negras pulsavam por todo o corpo, e os olhos — dois faróis

de loucura violeta — cortavam o ar como facas mentais. Ela sorria. Não com os

lábios, mas com a presença.

Viktor não hesitou. Seu corpo explodiu para frente como uma besta lançada de um canhão, o braço direito brilhando com energia ígnea.

Zoya: — VIKTOR! Espera! Ela ainda—

Mas ele já estava lá. O braço monstruoso de Viktor atravessou a lateral da criatura com um impacto sísmico, rachando a parede

atrás dela. Magma jorrou das fendas da mutação em seu corpo, se espalhando em

espiral pelo solo. A criatura foi arremessada — mas não gritou. Nem sangrou.

Nem caiu.

Ela apenas virou o rosto lentamente — o pescoço contorcendo como uma cobra quebrada — e encarou Viktor com aquele mesmo sorriso

insano.

???: — Você tem o mesmo sangue… dos que queimaram os céus de Minsk.

Viktor: (rosnando, tremores percorrendo o braço amaldiçoado) — Você não sabe nada.

???: — Mas eu sinto, Viktor Petrov. A culpa que vive dentro de você. O fogo. A perda. A vontade de morrer... e ainda assim continuar

matando.

Zoya deu um passo à frente, ativando sua arma. O bastão se desdobrou com um estalo elétrico, formando o arco reverso. Uma seta de plasma brilhou, vibrando com sons agudos, como uma sirene prestes a

enlouquecer. Ela disparou — um feixe azul que atravessou o peito da criatura.

Mas em vez de cair, a entidade apenas sorriu mais largo.

Zoya: (fria, mas suando) — Elas não só imitam memórias. Elas forçam você a revivê-las.

De repente, o chão abaixo deles começou a se abrir. Raízes serpenteavam e se erguiam como serpentes famintas. Ao centro, três

figuras emergiram — distorcidas, mas reconhecíveis.

— A babushka que os criou, coberta de fuligem.

— O pai deles, com o rosto queimado e os olhos vazios.

— E, o mais cruel, duas cópias exatas de Viktor e Zoya, sorrindo como bonecos psicóticos.

Zoya hesitou. Sua mão tremia levemente no gatilho. Viktor sentia o braço latejar como se estivesse fundindo sua alma àquela loucura.

Zoya: (sussurrando) — Não é real... não é real...

Viktor: (cerrando os dentes, olhos fervendo) — Então vamos

destruir essa ilusão.

Ele cravou o punho no chão. Uma onda de magma e pressão explodiu ao redor, derretendo as raízes. Zoya disparou um segundo projétil, desta vez segmentado — a lança se dividia no ar, enganando os alvos com múltiplas imagens. Uma técnica que confundia até predadores psíquicos.

As cópias avançaram, distorcidas em seus movimentos, como bonecos partidos por dentro, mas velozes como maldições que aprenderam a andar. A clone de Zoya mirou uma lança neural falsa contra a verdadeira, enquanto a cópia de Viktor ria com um som metálico, a mandíbula se abrindo em excesso até alcançar o peito, como se a carne estivesse sendo apenas emprestada por algo

muito pior.

Viktor gritou, e seu braço monstruoso respondeu. Cada golpe deixava crateras flamejantes no chão, espalhando lava e vapores tóxicos. Mas a cópia dele... ela absorvia parte do calor e devolvia com fúria idêntica — um espelho distorcido e enfurecido de si mesmo.

Zoya, em contrapartida, dançava entre ilusões. Cada salto dela ativava pequenos pulsos de ondas psíquicas de sua arma, que confundiam a percepção da clone. A real Zoya era uma sombra entre as réplicas — até que uma lança de plasma perfurou o peito da versão falsa da avó.

Zoya: (fria) — Você não é ela. Nunca foi.

Mas no instante em que o corpo caiu, ele se desfez em tentáculos negros e pó. E, por um segundo, Zoya viu o rosto real de sua

babushka... chorando.

Ela congelou.

Foi o suficiente.

A cópia de Viktor a acertou com o punho envolto em magma negro. Ela voou por seis metros, atravessando uma parede e caindo em meio a estilhaços e metal retorcido.

Viktor: (gritando) — ZOYA!

O verdadeiro Viktor agarrou seu clone pelo rosto e o esmagou contra o asfalto, soltando um rugido tão primitivo que fez as janelas

dos prédios próximos explodirem em ondas de calor. A criatura se desfez em chamas e ódio, mas Viktor sabia... aquilo não era o fim.

Não naquele lugar.

Local: Los Angeles – Zona 7 – 19:06 PM

O céu sobre a Zona 7 parecia pesar sobre seus ombros. A cidade se curvava em ruínas como se algo a tivesse esmagado de dentro pra fora. Os prédios estavam ocos, mas ainda pareciam observar.

Wulfric caminhava com passos pesados, o soco inglês escuro e espesso em sua mão direita. Não havia nada de moderno nele — parecia antigo, forjado em outro mundo. Mas seu brilho era sutil, como um fio invisível

de energia dançando sobre cada junta. Com um simples toque, ele podia desativar

qualquer coisa.

Ao lado, Ryuji andava com a mão repousando sobre a katana embainhada. A tensão estava em seus ombros, mas os olhos... estavam serenos. Como se ele já soubesse que aquilo era apenas o início.

Ryuji: — Sabe o que é estranho? Aqui... não tem som de monstros. Nem de gente. Só o som da gente mesmo.

Wulfric: (olhando para os prédios) — Isso aqui é armadilha emocional. Eles não vêm pela carne. Eles vêm pela identidade.

Como se em resposta, a névoa diante deles se ergueu. E de dentro dela, saíram duas figuras.

Ryuji parou. Seu clone surgiu usando o uniforme cerimonial do clã que ele abandonou. O olhar era puro julgamento. Já Wulfric encarava sua própria imagem — mais jovem, com armadura cerimonial de cavaleiro,

olhos brilhando com convicção... e decepção.

Clone de Ryuji: — Fugir não te faz livre, Ryuji.Te faz fraco.

Clone de Wulfric: — Você carrega uma arma capaz de apagar deuses… mas não teve coragem de salvar quem te chamava de mãe.

Wulfric ergueu devagar o punho envolvido pelo soco inglês. Os nós de metal acenderam com um pulso sutil de energia.

Wulfric: — Eu não uso isso pra apagar o passado. Eu uso pra garantir que ele não volte.

Ryuji: — Bem poético. Mas eu prefiro cortar.

Os clones avançaram.

 

Wulfric esquivou de um golpe e encostou o soco inglês no peito do seu duplo. No mesmo instante, os olhos do clone apagaram, e seu corpo perdeu toda a rigidez — como se desligasse. Ele caiu inerte.

Ryuji enfrentava o seu com uma dança precisa de lâmina, mas foi ao receber um golpe direto no rosto que ele sorriu.

Ryuji: — A dor é real… mas você não é.

Com um golpe rápido, ele empalou o clone no chão.

Wulfric limpava o punho com a mão esquerda.

Wulfric: — Isso foi só o prelúdio.

Ryuji: — Eu sei. E eles tão só testando o que ainda nos afeta.

Local: Los Angeles – Zona 7 – 19:08 PM

Do outro lado da onde estavam o grupo de Wulfric, o ar estalava com uma eletricidade invisível. A névoa se afastava, abrindo espaço

para outra rua tortuosa. A presença ali era diferente. Mais intensa. Mais antiga.

Ibrahim caminhava de forma disciplinada, os olhos varrendo o caminho com precisão calculada. Em suas costas, uma lança esmeralda com veios dourados pulsava levemente, como se estivesse viva — ou sonhando.

Ibrahim: — Eu sinto... cada estrutura nesta cidade. Cada célula corrompida.

Arjun, a alguns metros atrás, sorria de canto, os pés descalços sobre o asfalto rachado. Seu corpo exalava uma aura escura, ondulante — como fumaça amaldiçoada. Nenhuma arma à vista.

Porque ele era a própria arma.

Ibrahim parou. Encarava um cruzamento onde três entidades humanoides surgiram. Não tinham rostos, apenas máscaras deformadas com traços que mesclavam traumas esquecidos e gritos sem som. Criaturas do vazio — construídas para testar as novas armas que ali andavam.

Ibrahim girou a lança em um movimento fluido.

Ibrahim: — Hora de testar esta lança.

Ao ativar seu poder, a lança brilhou com três tons de luz — azul, vermelho e dourado. A cada escolha, uma verdade era imposta.

Nova Propriedade da Lança de Ibrahim — Coração do Julgamento: "Com cada golpe, Ibrahim pode aplicar um julgamento absoluto sobre a alma-alvo. Ele escolhe uma das três sentenças: Remissão (cura e redenção),

Condenação (selamento total de poder) ou Extinção (desintegração da existência

daquilo que foi considerado irrecuperável)."

Ele avançou sem hesitar. A primeira criatura tentou cravar garras no peito de Ibrahim, mas ele girou o cabo e a lança tocou sua

testa.

Ibrahim: — Condenação.

A criatura gritou sem som e caiu, rígida. Suas formas começaram a se desfazer como argila molhada.

Enquanto isso, Arjun observava. Seus olhos brilhavam em violeta profundo. As outras duas criaturas hesitaram ao olhá-lo. Não por medo. Mas por resposta. Como se algo dentro delas reconhecesse Arjun como um

ancestral. Um erro original.

Arjun (andando devagar): — Vocês são ecos de uma dor artificial. Eu sou... o próprio grito.

Ele ergueu a mão, e a pele do braço se distorceu, revelando inscrições vivas, como se maldições fossem escritas em sua carne.

Propriedade única de Arjun — Maledictum Inverso: "Arjun é uma arma viva feita de maldição pura. Ele absorve qualquer ataque baseado em energia, magia ou emoção e o converte em corrosão existencial — um dano que não afeta o corpo, mas o conceito do inimigo. Quando alguém o ataca, parte do

próprio sentido de existência desse ser é apagado, tornando Arjun um veneno

contra o que ousa feri-lo."

A criatura atacou. Um golpe de luz crua.

Arjun apenas estendeu o peito.

O golpe acertou... e evaporou.

A criatura começou a tremer, os olhos vazios piscando, e caiu de joelhos.

Arjun (sussurrando): — Você acabou de esquecer o que era. Agora... só resta o silêncio.

Ele passou ao lado dela. Ao tocá-la com os dedos, a criatura deixou de ser. Não explodiu. Não derreteu. Simplesmente parou de

existir.

Ibrahim observava em silêncio.

Ibrahim: — Você certamente... não é uma pessoa comum.

Arjun: — Eu sou o erro que não devia ter sobrevivido. Mas eu sobrevivi, e tudo que sobrou no passado agora são estas cicatrizes.

Ambos se viraram para o horizonte. Do outro lado da rua, mais aberrações surgiam. Mais sofisticadas. Mais conscientes.

Ibrahim (erguendo a lança): — Vamos ver se minha Extinção... pode competir com o teu vazio.

Arjun (sorrindo): — Não pensei que tu seria do tipo competitivo, parece que o poder da lança subiu rapidamente sobre sua cabeça,

novato.

Local: Los Angeles – Zona 7 – 19:08 PM

Do outro lado da cidade quebrada, em meio a entulhos que pareciam respirar e concreto que se deformava com os segundos, dois vultos caminhavam em silêncio absoluto.

Ezra liderava, os passos suaves como névoa em plena tempestade. As roupas eram sua armadura — e sua lâmina. Uma casaca longa,

colada ao corpo, feita de um tecido ancestral que se movia como sombra líquida.

Um chapéu de caçador arqueava sobre o rosto, ocultando quase tudo... menos o

tampão no olho esquerdo, que pulsava com uma energia azulada.

Kazuhiko corria atrás, com as mãos envoltas em punhos ensolarados, tentando acompanhar. Mas toda vez que um monstro surgia — uma anomalia de corpos estilhaçados e olhos ao contrário — Ezra já tinha eliminado.

Com um simples movimento da manga, um corte invisível surgia no ar. As criaturas se rasgavam por dentro antes mesmo de tentar

entender o que as atacou.

Kazuhiko (bufando): — Você pode... ao menos me deixar encostar em um?

Ezra (de ombros, casual): — Eu não tô assim em pleno 2048 fazendo cosplay de caçador dos tempos antigos à toa, tenho que manter o estilo.

Ele deu uma piscada com o olho visível, enquanto o tapa-olho brilhava com um padrão que não era deste mundo.

Propriedade Oculta de Ezra — "Caçador de Ecos": As roupas de Ezra são ligadas a um contrato com o Tempo Silencioso, uma entidade esquecida que concede controle sobre os "ecos do tempo". Cada movimento seu deixa traços temporais que dilaceram realidades. Seu tapa-olho oculta um

fragmento do próprio tempo não escrito, permitindo que ele perceba ações

futuras em frações de segundo e reaja com precisão sobrenatural.

Mais criaturas surgiram… e foram silenciadas antes mesmo de erguerem a voz.

Mas então, todos pararam.

Um estrondo mudo sacudiu a cidade. E o chão... se dobrou.

Zoya, Viktor, Wulfric, Ryuji, Ibrahim, Arjun, Kazuhiko e Ezra — todos sentiram a mesma coisa.

Uma quebra geográfica e dimensional.

O céu mudou de cor em uma piscada. Prédios que antes estavam distantes surgiram a metros de distância uns dos outros. As zonas se fundiam, como se Los Angeles fosse agora uma cidade-puzzle tentando reencaixar

suas peças sem lógica.

Andressa, posicionada no centro da Zona 7, olhava para cima. Seus olhos — dourados e amplos como os de uma vidente ancestral —

brilharam.

Andressa: — Isso não é distorção comum. Isso é um chamado dimensional. Algo ou alguém... está nos observando de fora da equação.

No topo de um arranha-céu curvado, como se o prédio tivesse se inclinado para reverenciar algo superior, uma figura encapuzada

surgiu.

Alta. Esguia. O manto esvoaçava mesmo sem vento. O rosto era coberto por uma máscara branca sem expressão, apenas os seus olhos alaranjados saíam pela a fenda que tinha. — apenas riscos dourados que pareciam formar símbolos antigos, e... olhos escuros como vazio profundo.

Ele não se movia. Só observava.

Todos os grupos viram. Todos sentiram

Kazuhiko apertou os punhos, dando um passo à frente, olhando para cima.

Kazuhiko: — Quem diabos é você?

A figura não respondeu de imediato.

Mas então... uma voz ecoou, reverberando em todos ao mesmo tempo. Não saiu da boca da figura. Saiu do tempo. Do ar. Do próprio

significado das palavras.

Figura Encapuzada: — "Vocês lutam por justiça... por sobrevivência... por redenção. Mas esquecem que tudo que existe... foi escrito por Mandamentos."

Ele ergueu um único dedo. Uma onda de pressão invisível tomou conta do local. As anomalias recuaram — como cães temendo o próprio dono.

 

Figura Encapuzada: — "E todo Mandamento exige um Herdeiro. A pergunta é: quem entre vocês... está pronto para quebrar o primeiro

deles?"

 

O silêncio se partiu. Como vidro esmagado por dentro da própria realidade.

Fendas começaram a se abrir no ar. Cortes verticais na estrutura do tempo, revelando presenças que não pertenciam a nenhuma linha da criação.

Um trovão abafado estourou sobre Los Angeles, mesmo sem nuvens. As fendas expeliam entidades — cada uma pisando no topo de um prédio isolado, suas silhuetas fundidas com a distorção ao redor, como se existissem fora do conceito de identidade.

 

Eram nove. Nove figuras encapuzadas como a primeira, mas cada uma com uma máscara distinta, marcada por rachaduras, símbolos ou traços animalescos. Suas vozes surgiram ao mesmo tempo — e também separadamente, como se cada uma falasse diretamente à alma dos presentes.

Ao norte, sobre uma torre partida, a primeira figura surgiu. Seus olhos brilhavam em vermelho vivo sob a máscara arqueada como

chifres.

Primeira Figura:

"1. Invocarás o nome dos deuses para tua vontade."

— Pois eles foram feitos para obedecer aos audazes.

Do oeste, em uma construção espelhada quebrada, a segunda entidade falou com riso entrecortado.

Segunda Figura:

"2. Celebrarás o caos nos dias sagrados."

— Pois somente no caos tu encontras o sentido de existir.

Na ponta de um edifício quebrado em forma de cruz invertida, surgiu a terceira. Suas mãos sangravam, mas ela sorria por baixo da

máscara fina como porcelana rachada.

Terceira Figura:

"3. Desprezarás tuas raízes, se enfraquecerem teu avanço."

— O passado é uma âncora que afoga o futuro.

Ao sul, uma sombra feminina falava com voz de várias crianças e velhos ao mesmo tempo. Seu corpo era envolto em trapos vivos, e

olhos brotavam de suas costas.

Quarta Figura:

"4. Eliminarás quem cruzar teu caminho."

— Misericórdia é o veneno dos fracos.

No topo de um hotel consumido por vinhas negras, a quinta figura moveu-se em espasmos luxuriosos. Sua máscara era metade sorriso, metade dor.

Quinta Figura:

"5. Satisfarás teus desejos sem limites."

— Pois aquilo que você deseja... define quem você será.

Sobre um hospital abandonado, a sexta surgiu de cabeça para baixo, pendurado por fios dimensionais.

Sexta Figura:

"6. Tomarás o que desejas, sem pedir."

— Pois o universo pertence àqueles que o rasgam com as mãos.

A sétima figura brotou de uma fenda como fumaça sólida, sobre um tribunal caído. Sua máscara não tinha boca, mas sua voz perfurava como ferro.

Sétima Figura:

"7. Mentirás sempre que for conveniente."

— A verdade é um luxo que só os derrotados buscam.

Do topo de uma igreja destroçada, a oitava entidade falava com mil vozes femininas e masculinas, como se cada uma representasse um pecado diferente.

Oitava Figura:

"8. Tomarás para ti todo prazer que desejares."

— Pois o prazer é a única eternidade que os mortais têm.

O nono ser apareceu sobre um arranha-céu intacto, como se o mundo tivesse o poupado por medo. Sua máscara era inteiramente dourada, brilhando como o próprio sol.

Nona Figura:

"9. Cobiçarás tudo o que brilhar aos teus olhos."

— Pois o brilho não é promessa... é domínio.

E por fim, a última figura era a primeira entidade que tinha aparecido, a figura mascarada apenas erguei levemente suas mãos para o céu.

Décima Figura:

"10. Adorarás apenas o poder, acima de tudo."

— Pois somente ele te manterá vivo quando o mundo esquecer teu nome.

Todas as vozes se fundiram, em um único tom imortal:

As Dez Vozes:

"Estes são os Mandamentos da Nova Era.

Aqueles que os seguem serão deuses.

Aqueles que resistirem... serão consumidos pelo próprio ideal que tentam defender."

O céu pareceu rasgar. A cidade tremia não por causa de terremotos — mas porque a realidade questionava se ainda queria continuar existindo.

Viktor, Zoya, Ezra, Kazuhiko, Wulfric, Arjun, Ibrahim, Andressa, Ryuji… todos sentiram o peso das palavras no sangue. Como se seus

corpos reconhecessem os Mandamentos… mesmo sem jamais tê-los ouvido.

E naquele instante, uma pergunta se formava nas profundezas do tempo:

Quem entre eles ousaria quebrar todos os mandamentos... e criar os seus próprios?

(Continua...)