Orgulho

??? - 19:17 PM

SLASH!

Dominus soltava um outro corte no peito de Kazuhiko. Um corte tão forte que foi capaz de atravessar totalmente a pele e rasgar seu peitoral, mas logo era se regenerava graças a uns de seus pecados "Ganância" que ficava constantemente brilhando no símbolo de kanji em suas costas, porém, notaria que ficava cada vez mais fraco a cada corte.

Dominus: - Confesso, você realmente tem uma durabilidade e uma regeneração de outro mundo, nem mesmo meu invocado, Fenrir conseguiu danos permanentes de seu corpo... mas isso me intriga, parece que sua regeneração está diminuindo, de certo modo, talvez sua essência está desistindo de lutar? Quem sabe.

BOOM!

Fenrir, o lobo de Ragnarok, soltava uma rajada de energia caótica em direção de Kazuhiko, mas o jovem não conseguia mais reagir, as correntes de outro mundo parecia limitar quase que todos seus poderes, ele estava naquele momento, a mercê de qualquer ataque.

Kazuhiko: - Ah... Merda.

A rajada o atingiu com força total. Causando danos obliterantes em todo seu corpo, tirando que tinha de pele e carne e sobrando apenas seus ossos, mas novamente, segundos depois ele retornava, mas com feridas ainda gigantes que parecia permanecer, mesmo com sua regeneração.

Kazuhiko: - Por quê... Você faz tudo isso com uma simples pessoa... como você conseguiu ao menos ser um dia um mandamento de Cristo...?

Dominus ficava quieto por um momento, soltando um outro corte que deixava o osso do peitoral do jovem exposto.

Dominus: - Pois não há resultado se não houver sacrifícios. Acha mesmo que isso vai impressionar ele? O ser que sofreu por todos nós? eu preciso de mais dor, mais morte. E você será aquele a sofrer tal ato. Eu também sofri o suficiente para ver que se Jesus não voltar, então a dor que sofremos ainda não está páreo ao dele. Eu preciso invocar ele, pois só assim, verás que este mundo já não deveria mais existir, assim como tal.

A dimensão aonde os dois estavam, mais especificadamente o mundo dos mortos, nem mesmo as almas condenadas estavam mais próximas de Kazuhiko, como se a dor que ele tinha sofrido já era superior à tudo que estas almas tiveram que sofrer em suas vidas passadas.

Alma penada (sussurrando): - Que horror... por quantos anos este jovem permanecerá nesta dimensão...?

A voz da alma se dissipava enquanto uma outra rajada vinha em direção de Kazuhiko, agora, sem brilhos nos olhos.

Quando a rajada o atingiu, ele não sentia mais seu corpo, ele apenas fechou os olhos e lembrou de algo que não fazia mais sentido lembrar daquilo...

O sino da escola tocava.

Kazuhiko, ainda adolescente, olhava para o céu pela janela. Era um fim de tarde cor de âmbar. Lá embaixo, no pátio, seus colegas riam, jogavam bola, viviam. Ele, alheio, ouvia uma voz suave atrás de si.

Akiko: — Você sempre se perde olhando pro nada. O que você vê?

Kazuhiko: — Um futuro... onde todo mundo some.

Ela riu. Sentou ao lado dele.

Akiko: — Se esse futuro chegar, me prometa que vai continuar vendo o céu. Mesmo que ninguém mais esteja olhando.

Kazuhiko sorriu, meio sem jeito. Virou o rosto pra ela, levemente encabulado.

Kazuhiko: — Calma lá, Akiko! Eu só falei por falar, tu acha mesmo que algo assim aconteceria quando ainda estivermos vivos?

Ela não respondeu de imediato. Apenas o observou. Por um instante, aquele silêncio pareceu eterno.

Até que ela sussurrou:

Akiko: — Vivos...? Kazuhiko... Você é o único vivo aqui.

Ele piscou. Engoliu seco.

Kazuhiko: — Como assim...? Estamos aqui, na sala de aula, conversando. Inclusive... a aula vai começar em breve, por que não vamos nos sentar nos nossos assentos?

Ela não se mexeu.

Akiko (mais firme): — Você não entende. Este mundo que tu criou... esta lembrança......é só uma forma de esconder a sua realidade atual.

E então, tudo começou a ranger.

As paredes da sala trincaram como vidro. A luz âmbar se tornou fria, desbotada, e o som do sino ecoou de novo — só que agora, como um grito oco e torturado.

Kazuhiko virou o rosto para a janela. Onde havia o pátio, os amigos jogando bola, o céu dourado...

...agora havia apenas um campo cinzento de corpos.

Braços. Pernas. Cabeças esmagadas. Crianças irreconhecíveis. Os colegas de classe que ele ria e chorava um dia — agora sem rosto, sem nome.

O campo da escola... transformado em uma vala comum.

Kazuhiko (tremendo): — N-Não... isso... isso não é real. Eu... eu estava aqui. Eu vi vocês todos...

Akiko (olhos vazios): — E o que você vê agora?

Ele se virou para ela —— e viu apenas um corpo.

Um corpo ensanguentado, vestido com o uniforme escolar, sentado no chão como antes. Mas agora...

sem cabeça.

A cabeça de Akiko estava jogada ao lado, os olhos ainda abertos, como se quisessem continuar olhando pra ele. Como se quisessem dizer: “Você prometeu.”

Kazuhiko cambaleou para trás, colidindo com a carteira escolar que agora estava podre, coberta de ferrugem e larvas.

O chão cedeu.

E ele caiu.

KRRRHHHCKKK!

Kazuhiko acordou de novo. O mundo retornava — sombrio, estéril, condenado. Dominus o observava de longe, ainda com a foice nas mãos.

Kazuhiko: — Então... era isso que eu estava fazendo comigo mesmo este tempo todo... Me auto iludindo com estas lembranças que eu criei...

Sua voz ecoava fraca, mas sincera.

Ele olhava para suas próprias mãos, tremendo — cobertas de sangue seco, sujeira, cicatrizes e pecados. Por tanto tempo, tentou fugir. Fugir do que fez. Fugir do que sentiu. Fugir do que perdeu.

Mas agora... ele finalmente enxergava.

Não o monstro.

Não o salvador.

Mas o menino que ficou para trás.

Kazuhiko caiu de joelhos. Mas, dessa vez, não era de dor. Era de rendição.

Kazuhiko:— Eu... Akiko... Eu tentei esquecer você. Eu tentei fingir que você ainda estava viva aqui dentro de mim. Mas a verdade...é que você morreu me protegendo.

E eu... nunca consegui te deixar partir.

O corpo sem cabeça de Akiko ainda estava à frente. Mas agora...

...lentamente, ela se ergueu.

Com sua cabeça nos ombros novamente.Sorrindo. Brilhando em uma luz serena.

Akiko (gentil): — Eu nunca quis que você se prendesse a mim. Você ainda tinha tantas pessoas...mas escolheu viver no luto.

Kazuhiko: — Eu achei que... se eu esquecesse da dor...estaria te honrando.

Akiko (chegando perto):— Você me honraria vivendo. Vivendo com eles.

E, ao dizer isso, ela tocou o peito de Kazuhiko.

E no instante seguinte... eles apareceram.

Um por um.

Como sombras ganhando forma na luz.

Miyako, segurando suas adagas com firmeza, sorriso leve no canto dos lábios, apesar de estar parecendo durona. Misao, sua mãe, com o olhar terno e calmo de quem sempre acreditou nele. Ryoshi, seu pai, firme como uma montanha, com aquele sorriso desleixado e cheio de ego, porém, emitia um grande orgulho de seu filho. Ryuji, rindo como sempre, batendo no ombro do amigo, ele foi que mais mudou, apesar dele ser rígido e sério, ele sempre teve um bom coração. Rafael, o companheiro tímido que foi aos poucos aprendendo seus limites, e agora ele é um rapaz crescido, mesmo tendo se passado apenas um ano e meio, Ryuji realmente mudou ele. Azazel, com o manto negro, braços cruzados, mas o respeito nos olhos era claro...ele morreu como um guerreiro, e teria certeza que estaria me ajudando se ainda estivesse aqui comigo.

Os outros caçadores e os príncipes do inferno apareciam também.

Todos ali.

Sempre estiveram.

Kazuhiko desmoronou em lágrimas. Não de tristeza. Mas porque nunca havia se sentido tão acolhido.

Kazuhiko (sussurrando): — Eu nunca estive sozinho...fui eu quem impediu todos de se aproximarem.

Akiko sorriu. Um sorriso eterno. E começou a se desfazer em partículas de luz.

Akiko: — Está na hora de parar de olhar para trás. E começar a andar com eles. Ame aqueles que te ajudam, e assim, será também, amado.

Kazuhiko fechou os olhos...e quando abriu de novo, a cabeça dela já não estava mais no chão.

Ela havia partido. Finalmente.

O ar mudou.

A dimensão da morte tremeu.

As correntes que prendiam Kazuhiko estalaram — rachando sob uma força que já não vinha de dor, mas de aceitação.

Dominus olhava... sem muita reação, acho que era o esperado depois de tanto tempo de tortura.

Dominus: — Huh... Parece que você... mudou. Estes últimos anos realmente fez você quebrar de vez, não é?

Kazuhiko se ergueu.

Com as costas eretas.

Com os olhos calmos.

Com um novo kanji surgindo...

brilhando em dourado puro, como o sol nascendo após milênios de trevas.

Mas ainda... incompleto.

Kazuhiko: — Eu nunca mudei, Dominus. Eu apenas aprendi com os meus erros.

E com apenas um passo, a aura dourada que saía de seu corpo repelia todo o mar negro que cobria suas pernas, caminhando de forma calma até o mandamento.

Kazuhiko: — Eu decidi sentir mais orgulho de mim mesmo. Um orgulho que será o suficiente para não só te derrotar, mas para destruir seus falsos ideais.

Dominus: — Muito bem, Kazuhiko... mostrarei a Jesus que posso fazer alguém sofrer tanto quanto ele. Fenrir...liberte-se.

E com estes simples ordem, o lobo rugiria, tremendo toda a dimensão e fazendo ele correr no meio da escuridão, era tão rápido que ele tinha desaparecido, apenas dando para escutar vibrações no ar putrificado, Kazuhiko no entanto, permanecia sua visão em Dominus.

Kazuhiko: — Esse lobo não me assusta mais... eu já fiquei 7 anos nessa merda de lugar, e já conheço tudo que ele é capaz.

Dominus soltaria uma leve risada, preparando sua katana.

Dominus: — Suponho que esteja equivocado... Fenrir não usou nem 3% para brincar contigo neste meio tempo... mas agora que dei ele a liberdade de caminhar... Já não sei do que ele pode ser capaz.

O mundo estava se quebrando. Não em pedaços. Mas em ecos. A realidade vibrava como se Fenrir corresse não sobre o solo, mas entre instantes de tempo.

Kazuhiko, parado. Inabalável. Seus olhos: pura concentração. O Orgulho, antes um conceito, agora era instinto.

Fenrir rasgou o ar. Surgiu de um vórtice dimensional, olhos vermelhos como a raiva primordial. Kazuhiko girou o corpo — um passo sutil.

O impacto: o mundo tremeu. O antebraço de Kazuhiko segurou o lobo, e linhas de luz dourada redesenharam a dimensão.

Dominus observava, braços cruzados. O manto ondulava sob a energia do confronto.

A mente de Kazuhiko se expandiu. Kokuei falava em fragmentos, rápidos, certeiros.

Kokuei: (Gula é tua lâmina. Inveja, tua cópia. Luxúria, teu combustível. Ganância, tua armadura. Preguiça, teu escudo. E Orgulho...)

Kokuei: (...é tua liberdade.)

Kazuhiko fechou os olhos. Fenrir o atingiu com uma mordida que destruiria mundos.

Mas não houve sangue. Preguiça ativada. Pele endurecida. Corpo imóvel — como um deus em descanso.

Kazuhiko sorriu. E a batalha começou de verdade.

Voou. Girou. Asas da Luxúria pulsando energia. Mãos de Gula absorviam a própria estrutura da dimensão da morte.

Dominus ergueu a katana. O terceiro poder divino despertou.

O céu Sumeriano se abriu. Enlil. Deus da autoridade. Uma foice de energia divina caiu — como o julgamento do mundo.

Kazuhiko ergueu uma mão. Inveja. O mesmo ataque foi copiado. Dois céus colidiram — explosão cósmica, gravidade rompida. Tudo virou caos flutuante.

Kokuei: (Agora! Ganância! Ele hesita! Leve tudo! Até que só reste você!)

Kazuhiko rugiu — calmo. Aura dourada explodindo. Cada golpe, o peso de sete anos de dor.

Fenrir tentou por trás. Kazuhiko girou, conjurou correntes douradas da própria alma — lançou o lobo contra Dominus.

O impacto não foi força. Foi verdade.

Kazuhiko não era mais um menino. Era a soma de suas cicatrizes.

Dominus sangrava. Fenrir, caído, gemia — confuso.

Dominus: — Você… tornou-se algo que nem o Criador ousaria prever.

Kazuhiko caminhou. Seu corpo brilhava com equilíbrio.

Kazuhiko: — Eu não sou uma profecia.

Kazuhiko: — Sou o resultado das minhas escolhas.

Dominus se afastava por um momento, agora soltando uma enorme risada que cobria a dimensão que parecia se desmoronar enquanto conversavam.

Dominus: — Eu também pensava assim, Kazuhiko. também pensei que minhas escolhas iriam importar... mas no final, não deu em nada ninguém vem. Este mundo foi abandonado pelo o céu, onde nem mesmo seu criador se importa em ver como está, e agora...

Dominus estendeu o braço —e as correntes douradas se quebraram com um estalo divino.

Fenrir, ferido, foi puxado de volta por uma espiral negra, sumindo em meio a símbolos antigos que dançavam no vazio. Não como fuga… mas como preparação.

Dominus respirou fundo. O sangue evaporava da pele, como se recusasse a cair. Seus olhos — queimavam.

Dominus: — Eu cansei de brincar com a esperança.

Ele ergueu a katana... E a cravou em seu próprio peito.

Do corte, não saiu sangue. Saiu luz. E com ela... um nome proibido.

Ninurta.

A Força de Toda Guerra. O Arcanjo Perdido da Perdição. Aquele que enfrentou os céus e exigiu o trono dos deuses.

O nome explodiu em todas as direções, redesenhando a realidade em círculos concêntricos de runas. As feridas de Dominus se fecharam em instantes. Sua pele endureceu como mármore celestial. Sua aura? Incandescente. Como um Sol em fúria.

Kazuhiko permanecia quieto, observando o ser que já se perdeu a muito tempo neste mundo sem sentido.

Kazuhiko: — Você pode invocar quantos deuses você quiser... mas se isso significa que tu quer destruir tudo, então talvez... tu tenha merecido este destino, e eu... Estarei aqui pra fazer enxergar seus próprios erros, Dominus.

Ele avançou.

Em um só passo — a gravidade explodiu. O chão se dobrou sob os pés de Dominus, e sua katana atravessou o ar como um cometa serrado.

Kazuhiko desviou por milímetros. Mas o corte levou parte da dimensão — a realidade partiu-se ao meio.

Kazuhiko girou, a mão direita envolta em Gula — e golpeou o rosto de Dominus com um gancho ascendente, a energia dos mortos queimando nas articulações.

Dominus voou para trás — mas se recompôs no ar com asas negras que surgiram das costas. As espadas orbitais atacaram juntas.

Kazuhiko ergueu o braço. Preguiça ativada. A defesa absoluta fez as lâminas se partirem ao contato, caindo como estilhaços cósmicos.

Kazuhiko avançou. Dessa vez com Ganância: Cada soco mais forte que o anterior. Cada golpe drenava fragmentos da alma de Dominus.

Dominus recuava. Mas ainda sorria.

Ele girou a katana — e desceu com o poder total de Ninurta, um corte vertical que fendeu o espaço como seda rasgada.

Kazuhiko bloqueou com os braços cruzados. O impacto o lançou para trás —mas ele não parou. Seus pés cavaram o chão, cortando planícies de poeira negra.

E então...

Kazuhiko rugiu.

Um grito que que parecia carregar décadas de dor. De perdas. De promessas quebradas. Ele correu. Só ele e Dominus.

Nada mais existia ali.

Kokuei: (É isso. Não precisa mais de destino. Nem de milagre. Só continua... Kazuhiko.)

E aquela luta continuava... por meses e meses, ambos não sabendo mais quem estava perdendo ou ganhando...

Finalmente, depois de mais alguns meses... Dominus cambaleava.

A armadura celestial em seu corpo exalava calor demais. Cada golpe de Kazuhiko havia deixado fendas nas defesas, e por mais que ele se regenerasse, o peso do confronto se acumulava.

Kazuhiko, por sua vez, já não avançava com a mesma intensidade. Seus olhos perdiam o foco entre um movimento e outro. Meses? Anos? Quanto tempo preso ali, enfrentando monstros, ilusões, e a própria culpa?

Estavam exaustos. Do corpo. Da alma. Do silêncio.

Dominus (bufando):— Hah… você... você é mais teimoso do que qualquer arcanjo.

Kazuhiko (ofegante): — E você… fala demais.

Um silêncio.

Então... Dominus estendeu o braço. Três símbolos divinos surgiram acima da palma aberta, girando em rotação invertida: Ninurta. Zeus. Urano.

Dominus:— Se essa é sua fé... Então sinta o peso dos deuses.

Ele puxou os três slots divinos para o próprio corpo —e um pilar de energia negra e dourada rasgou a dimensão da morte ao meio.

Kazuhiko cerrou os punhos. Os olhos se fecharam por um instante. Não em medo. Mas em aceitação.

Kazuhiko (baixo): — Então é isso. Vamos acabar com isso, Dominus.

A dimensão começou a desmoronar. Tudo tremia. Céus inexistentes ruíam em pedaços. O chão? Já não existia.

Eles estavam no nada. Entre o mundo real e o irreal. O ponto cego da criação.

Ali, tempo não passava. A dor não gritava. Só decisões.

Ambos correram.

Dois flashes. Dois cortes. Dois gritos afogados em silêncio.

Dois seres cruzaram os céus do Nada. Kazuhiko e Dominus se atingiram no rosto —cortes profundos que abriram carne, destino e orgulho.

Ambos voaram para trás. Sangue flutuava —e então…

A dimensão do nada implodiu com um rugido surdo. Kazuhiko e Dominus caíram como cometas negros do céu cinzento — corpos feridos, auras instáveis.

Ambos cravaram o chão como meteoros, rachando a terra entre caçadores e mandamentos.

O silêncio foi imediato. Tudo parou. Mesmo o tempo pareceu hesitar.

Os olhos de Zoya se arregalaram ao ver Kazuhiko de pé — a lateral do rosto marcada por uma nova cicatriz, espelhada exatamente no rosto de Dominus, do outro lado do campo. Feridas idênticas, criadas no choque final.

Wulfric, ensanguentado, lutava para respirar, o peito arfando. Ezra, ainda firme, empunhava suas armas como se esperasse o fim. Arjun, de pé, encharcado, olhou para Kazuhiko com surpresa — e alívio. Ibrahim e Ryuji se prepararam para atacar de novo... mas hesitaram.

Zoya? Zoya chorava em silêncio, ajoelhada ao lado de Viktor, que mal se movia, o braço destruído, o corpo perfurado, mas os olhos — vivos. Vivos... só por ainda ver a irmã ao seu lado.

Os Mandamentos — mesmo feridos, ainda estavam de pé. Ainda em posição.

Dominus se ergueu devagar. O brilho de Ninurta se apagava lentamente atrás dele.

Dominus (com um sorriso de sangue): — Chega... por hoje, vamos recuar.

Os Mandamentos o encararam, surpresos. Mas obedeceram.

Threx: — Tsc... não conseguir executar ninguém...

Ilyona: — Reclama menos, grandão, na próxima a gente mata estes desgraçados.

Enquanto os mandamentos conchivavam entre si, Dominus virou o rosto pela última vez para Kazuhiko, tocando a cicatriz.

Dominus:— Essa dor... eu vou lembrar. Na próxima vez... será o fim.

E como sombras, eles desapareceram.

Kazuhiko caiu de joelhos, exausto. Seu corpo ainda queimava, mas sua mente... era só um labirinto.

Kazuhiko (pensando): (Eles ainda estão vivos... o grupo... Viktor. Mas… por quanto tempo mais... posso continuar assim...?)

Ryuji se aproximou, ajudando-o a se levantar.

Ryuji:— Você voltou. Bem na hora, irmão.

Kazuhiko tentou sorrir. Não conseguiu.

Seus olhos encontraram os de Zoya. Ela não disse nada. Mas aquele olhar... pedia salvação.

Kazuhiko: — O que... aconteceu aqui? o Viktor está destruído...

Ezra limpava seus vestimentas, enquanto colocava a mão no ombro de Kazuhiko, que ainda estava ajoelhado de cansaço.

Ezra: — Eles conseguiram ver que Viktor era um dos mais fracos quando se trata de defesa, aquele Zar'Khala apena fingiu recuar, e avançou com tudo em um só sequência de golpes, ele conseguiu defender apenas metade de seu corpo, mas a outra... bem, como pode ver, mas fiquei surpreso que tu conseguiu sair daquela dimensão daquele cara tão rápido, acho que aqui não deu nem 7 minutos.

Kazuhiko: — …Sete minutos…?

Ele piscou, o coração ainda disparado. O tempo na dimensão da morte não seguia as mesmas regras. Para ele, haviam se passado anos. Dores que poderiam atravessar séculos. Agora tudo parecia errado. Lento. Frágil.

Kazuhiko (pensando):

(Anos de tortura… dor… reconstrução… e aqui, mal sete minutos. É como se eu tivesse renascido… em um mundo que não estava esperando por mim.)

Ryuji segurava firme seu ombro. Forte, como sempre. Como um pilar.

Ryuji: — Vem... Ainda temos que lidar com aquilo.

Kazuhiko apertou os punhos.

O corpo ainda queimava. A alma estava exausta. Mas aquele olhar de Zoya o atravessava como uma lâmina silenciosa.

Ele deu um passo.

Depois outro.

Foi até Viktor. Seu corpo estava em pedaços — literal e emocionalmente. Mas havia vida. Havia calor.

Kazuhiko: — Ele ainda tem chance.

Zoya: — ...Então salve ele. Por favor...

A voz dela falhou. Mas o pedido ficou no ar como um grito silencioso.

Kazuhiko tocou o peito de Viktor.

E pela primeira vez... tentou algo diferente.

Ele fechou os olhos.

Kazuhiko (pensando): (Se eu posso absorver a alma dos inimigos… talvez… eu possa devolver. Talvez eu possa dar a ele... um fragmento do que carrego.)

A mão de Kazuhiko brilhou.

Luxúria e Ganância pulsaram — energias de regeneração e transmutação vital se fundindo.

Inveja conectou seu corpo ao de Viktor, replicando suas estruturas internas.

Preguiça ofereceu repouso celular.

Vaidade julgou a vontade de viver — e aprovou.

Orgulho sustentou a alma.

E no final…

Gula.

Ofereceu vida.

Kazuhiko: — Eu lhe concedo... A alma de um arcanjo, Zadiel.

O corpo de Viktor começou a reagir.

Seus músculos se recompunham lentamente. A carne se regenerava. O braço monstruoso dele tremia, como se lutasse contra si mesmo, e aos poucos… recuava para algo mais humano.

Ryuji segurava a respiração.

Zoya caiu de joelhos, as mãos no peito, chorando sem emitir som.

Ezra deu um passo para trás, olhos arregalados.

Wulfric sussurrou algo como "impossível".

Viktor tossiu.

Leve. Mas tossiu.

Abriu um olho. Encarou Kazuhiko. Depois Zoya. Depois caiu em sono profundo.

Zoya gritou. Não de medo. Mas de alívio.

Ela abraçou o irmão com desespero.

Kazuhiko caiu para trás, exausto.

Kazuhiko (sorrindo, fraco): — Ainda tenho o que aprender sobre esse poder...

Ezra: — …Impressionante, de fato... Você é algo peculiar, eu achei que tu podia fazer apenas fazer poder maléfico com estes pecados, é o que faria sentido... Mas agora, vejo que estou enganado.

Kazuhiko fechou os olhos por um instante. O som da respiração pesada de Viktor, o choro contido de Zoya, o silêncio respeitoso entre os caçadores... tudo parecia distante, como se o mundo estivesse finalmente permitindo um momento de pausa.

Arjun caiu de joelhos. O sangue ainda escorria de suas feridas, mas seus olhos estavam calmos.

Arjun: — Isso... acabou? Por enquanto?

Ibrahim olhou para os céus, ainda escurecidos pelas fendas que a batalha deixara na realidade.

Ibrahim: — Eles recuaram. Não por covardia... mas porque sentiram o gosto da dúvida.

Ezra aproximou-se, olhando Kazuhiko de cima.

Ezra: — Mas eles vão voltar. Dominus não é do tipo que esquece. E agora... ele viu algo em você que provavelmente odeia.

Kazuhiko se sentou lentamente, os cabelos colando no rosto pelo suor e sangue seco.

Kazuhiko: — Eu odeio isso... essa constante espera. Essa guerra que nunca termina.

Ryuji se aproximou, ajoelhando-se ao lado dele.

Ryuji: — Você não está mais lutando sozinho. E... cara, que tipo de poder é esse? Você parecia... humano. Mesmo com tudo aquilo queimando em volta de ti.

Kazuhiko olhou para as próprias mãos. As veias ainda pulsavam levemente com uma energia dourada e carmesim.

Kazuhiko: — Eu fui humano tempo demais pra esquecer. Mas agora... eu sou algo entre. Algo novo.

Wulfric, mesmo ferido e deitado, riu fraco do outro lado.

Wulfric: — Poético demais pro momento. Alguém pode me ajudar antes que eu sangre até dormir?

Todos riram, mesmo que brevemente. Um riso quebrado, tenso, mas necessário.

Zoya, ainda segurando Viktor, sussurrou algo em seu ouvido, aliviada por senti-lo respirando.

Ezra cruzou os braços.

Ezra: — Temos que terminar a missão daqui logo. Antes que o mundo desmorone mais uma vez.

Ibrahim: — E pra onde vamos?

Kazuhiko: — Pra onde as respostas estão...

Ele se levantou com esforço.

Kazuhiko: — ...e onde Jesus estiver.

O grupo se entreolhou.

Ezra assentiu.

Ezra: — Então vamos nos preparar. Porque a próxima vez... não vai ter misericórdia.

Ezra olhava ao redor e logo encostava em seu ouvido, ligando novamente o comunicador.

Ezra: — Andressa, o trabalho aqui não foi completado, mas até o momento neutralizado até o momento.

Andressa: — Compreendido, no entanto, devo ressaltar que ainda há sinais de alguns seres não identificados ainda na área, que voltaram a se mexer e atacar alguns sobreviventes que ainda resta na cidade.

Ezra: — Entendi, estaremos em movimento depois que todo mundo tiver se estabilizado, câmbio desligo.

Ezra logo se virava e estendia sua mão até Viktor.

Ezra: — Vamos, tu já dormiu demais pra uma só missão.

Viktor não falava nada, mas agarrava a mão do caçador com a sua mão nova e revigorada.

Viktor: — Eu sinto algo amais... Não sinto como se eu fosse apenas eu.

Ezra puxou Viktor para cima com firmeza, mas seus olhos hesitaram por um segundo ao encarar aquele novo braço — pulsante, irregular, quase orgânico demais. Não era apenas regenerado… era algo transformado.

Ezra: — Bem-vindo ao clube dos quebrados.

Kazuhiko: — Eu te dei uma alma muito poderosa... Não sei como seu corpo irá reagir depois de um tempo, se tu não fosse uma pessoa forte, tu teria só explodido.

Zoya agora se levantava, colocando sua meia máscara novamente pra tampar sua parte desfigurada.

Zoya: — Ousado da sua parte distribuir uma alma disso sabendo que meu irmão poderia explodir.

Viktor deu um sorriso de lado, apesar da dor evidente.

Viktor: — Ei, pelo menos ele me salvou, eu iria morrer de qualquer forma.

Zoya: — Tanto faz.

Todos ali riram brevemente. Um momento de humanidade no meio de um mundo desfigurado.

Ryuji carregava uma mochila com suprimentos, checando cada um.

Ryuji: — Se esses seres voltaram a se mover… a gente vai precisar de um plano. E rápido.

Ibrahim, de pé ao lado de Arjun, olhou para o céu rachado que ainda carregava resquícios da dimensão da morte onde Kazuhiko estava anteriormente.

Ibrahim: — Alguém mais tem a sensação de que isso aqui foi só o começo?

Kazuhiko caminhava entre eles, em silêncio por um tempo, até que se virou para o grupo.

Kazuhiko: — Foi. E agora tudo está em movimento. Os Mandamentos mostraram que têm mais do que apenas força… eles têm propósito.

Wulfric, ainda apoiado em uma arma como muleta, murmurou:

Wulfric: — E nós? Temos um?

Kazuhiko encarou os olhos cansados e feridos de cada um.

Kazuhiko: — Temos. Nós temos um ao outro… e temos um caminho. E ele começa com encontrar Jesus. Ele tem as respostas que ninguém mais tem.

Ezra assentiu com a cabeça.

Ezra: — Certo, mas não se esqueça, terá que nos ajudar até eu aceitar a fazer sua parte, não trabalho de graça, haha!

Eles começaram a se mover. Na busca de novas entidades malignas que foram deixadas para espalhar mais caos.

Enquanto isso, bem longe dali, os 10 Mandamentos observavam de uma colina o rastro deixado pelos caçadores.

Dominus segurava o rosto marcado, onde a cicatriz queimava como lembrança do confronto.

Dominus: — Ele não é mais o menino perdido daquelas guerras passadas... E pensar que ele viraria um ser tão difícil de se lidar.

Zar’Khala: — Mas também não é um deus. Ainda não.

Velmira sorriu.

Velmira: — Da próxima vez, ele não sai andando.

Threx soltou uma gargalhada rouca.

Threx: — Meu cutelo fará a cabeça dele voar.

Dominus cruzou os braços, o céu acima deles oscilando entre realidades.

Dominus: — E ele não vai ter segunda chance.

CONTINUA...