Base da Aetherbond - 6:57 AM
Após a pequena reunião criada pelo o Mestre Ancião, agora os caçadores estavam numa sala onde discutiam estratégias e sobre a missão deles atual.
Andressa: — Bem... Aquela reunião certamente não é o que eu esperava, mas como testemunharam, graças a ajuda ao Nergal aqui, temos agora dois arcanjos nos ajudando temporariamente, mas antes... gostaria de saber, o que você estava fazendo neste último ano?
Ela se virava contra Nergal, que estava ao lado dela na frente da mesa.
Nergal: — Por que creio que seja realmente necessário agora, tentei fazer de tudo para não ser necessário a minha presença, mas após as atividades recentes dos mandamentos, eu percebi que seria impossível continuar nas sombras, mas neste último tempo, eu treinei um pouco estes dois, já antecipando o pior.
Castiel logo intervia a fala de Nergal, batendo levemente seu punho sobre a mesa, que o mesmo fazia uma rachadura.
Castiel: — Não é como se tivéssemos alguma escolha, nosso governo angelical foi totalmente destruído e tem anjos escondidos em toda a parte, não poderíamos ter voltado para o céu depois de tudo que aconteceu. Miguel foi sentenciado, Hiroy que eu nem sabia que estava dentro dele foi silenciado, ficamos no vazio, praticamente.
Gabriel acompanhava a fala do seu amigo arcanjo, mas com um tom mais calmo, olhando diretamente pro Kazuhiko, que estava mais a fundo.
Gabriel: — Sei que fizemos algo que pode não ter agradado você, Kazuhiko. No entanto, tu deveria entender que simplesmente é a nossa natureza, passamos nossas vidas celestiais aprendendo sobre o mau, então é evidente que teríamos que te eliminar.
Kazuhiko: — Eu entendo muito bem sobre suas naturezas, no entanto, um dos anjos matou minha amiga apenas por ter me defendido, apesar de eu ter superado, é algo bem maléfico de suas partes cometer tal ato. É claro que vocês e seus anjos já perderam a sua essência original de apenas fazer bondade. Mas isso não me impedirá de fazer aquilo que eu acho certo, que é concertar este mundo perdido.
O clima da sala ainda estava carregado, mas as palavras de Kazuhiko ecoavam na mente de todos. Um propósito em comum começava a tomar forma — não mais fundado apenas na vingança ou sobrevivência, mas na restauração daquilo que foi perdido.
Viktor, de pé ao lado do mapa tático de Jerusalém, passou a mão pela barba curta enquanto observava os dados.
Viktor: — Então... o Mestre Ancião mencionou outra Tábua, certo? Isso muda tudo. Se for verdade, estamos falando de um artefato capaz de reescrever os próprios fundamentos do mundo... talvez até mais que as Tábuas originais entregues por Deus.
Ezra que não falava nada, apenas dava uma simples risada
Ezra: — E pensar que sabíamos algo de religião, parece o oceano, apenas sabemos da superfície e um pouco do meio.
Ibrahim levantou os olhos, surpreso:
Ibrahim: — Eu ainda me recuso acreditar que isso passou batido de qualquer informação histórica que foi nos fornecido.
Andressa assentiu:
Andressa: — Justamente. Se existe, ela foi completamente apagada da história. O Mestre Ancião acredita que ela está em Jerusalém. E não é coincidência o fato de que forças espirituais começaram a convergir para lá nas últimas semanas. Algo... está chamando.
Ryuji, sempre prático, cruzou os braços:
Ryuji: — O problema é que não temos ideia do que exatamente encontraremos lá. E isso me incomoda. Estamos indo meio cegos.
Wulfric respondeu seco:
Wulfric: — Bem-vindo à guerra espiritual. Certeza é um luxo.
Arjun, focado no mapa, apontou para os principais pontos de energia registrados ao redor de Jerusalém:
Arjun: — Os sensores da Aetherbond detectaram três pulsações de energia — uma sob o Domo da Rocha, outra próximo ao Jardim de Getsêmani, e a última... bem no centro do antigo Templo. É possível que uma delas esteja ligada à Tábua perdida.
Gabriel, ainda calmo, ponderou:
Gabriel: — Se a Tábua realmente estiver lá, não será fácil chegar até ela. Existem forças que protegeriam algo desse calibre... talvez não celestiais, talvez... anteriores, ou até mesmo os mandamentos.
Um calafrio percorreu a espinha de alguns dos presentes.
Nergal: — Vale ressaltar que não poderei ir, meus poderes se limitaram muito em quesito de batalha devido a minha falta de fome de poder, seres vivos e etc, mas Andressa, tu tem certeza que tu quer ir? Tu pode morrer antes mesmo de notar que morreu.
Andressa: — Eu vou ficar bem, não é como se eu fosse do tipo de ficar na linha de frente, no máximo guiarei eles diretamente e darei suporte aéreo.
Kazuhiko, que até então permanecia em silêncio, encarava o mapa com olhos vazios por um instante. Uma leve dor em sua cabeça surgiu. Kokuei. Ainda presente em seus pensamentos, como uma sombra silenciosa. Mas ele não disse nada.
Kazuhiko: — Se essa Tábua existe, e está lá, nós temos que encontrá-la. Isso pode explicar muita coisa sobre o nosso mundo estar virando de cabeça pra baixo estes anos.
Ezra, agora se aproximando da mesa, apontou com a ponta do dedo enluvado uma rota alternativa:
Ezra: — Eu sugiro que nossas entradas sejam escalonadas e em horários diferentes. Se a cidade está vigiada por olhos que não enxergamos, chegar todos de uma vez vai levantar suspeita. Caçadores entram nas sombras. Sempre foi assim.
Zoya deu um passo à frente, com sua postura impecável:
Zoya: — Então, o que faremos? Vamos como um grupo único ou dividir forças?
Andressa respondeu com firmeza:
Andressa: — Vamos dividir. É mais arriscado, mas cobre o máximo de terreno antes que algo — ou alguém — descubra nossa presença. Arjun e Zoya cuidarão do Getsêmani. Viktor, Ibrahim e Gabriel assumem o Domo. Wulfric, Ryuji, Castiel e Kazuhiko vão comigo até o Templo.
Ryuji sorriu de lado:
Ryuji: — Parece que pegamos o centro do furacão. Como sempre.
Castiel, agora mais sério, segurava seu escudo celestial:
Castiel: — Eu não fiquei este ano inteiro parado, vou mostrar que eu também sei vencer, odeio estar numa sequência de duas derrotas seguidas.
Antes que Andressa pudesse seguir em direção à porta, uma voz rouca ecoou do fundo da sala:
Ezra: — Nenhuma equipe vai chegar inteira se vocês forem sem alguém que conheça Jerusalém como eu conheço.
Todos se viraram. Encostado na parede, coberto com um longo sobretudo escuro, um tapa-olho cobrindo o lado direito do rosto e uma bengala finamente entalhada em sua mão esquerda, Ezra encarava o grupo com aquele olhar de quem já sobreviveu a guerras demais.
Ezra (com um meio sorriso): — E se não fosse suficiente, alguém precisa lembrar vocês que fé sem estratégia... é suicídio.
Andressa cruzou os braços, medindo a decisão:
Andressa: — Pensei que você já tinha encerrado sua parte nisso.
Ezra: — Achei que sim também. Mas se essa missão realmente vai encerrar tudo... então é melhor que alguém esteja lá pra puxar vocês de volta do abismo.
Gabriel: — Está nos oferecendo proteção ou advertência?
Ezra (com leve ironia): — Estou oferecendo tempo. O bastante pra vocês fazerem a diferença antes que tudo desabe.
Andressa: — Certo. Ezra vem comigo então. Ryuji, Wulfric, Castiel e Kazuhiko também.
Ezra se aproximou do grupo lentamente, tirando uma pequena cruz de ferro do pescoço e beijando-a antes de guardá-la sob o sobretudo.
Ezra: — Jerusalém... última vez que pisei lá, deixei metade da minha alma enterrada sob pedras e mentiras. Vamos ver se ainda resta algo digno entre os escombros.
Andressa caminhou até a porta e se virou pela última vez:
Andressa: — Jerusalém nos chama. Que cada um de vocês esteja pronto para enfrentar não só o inimigo... mas a verdade.
Antes de que Andressa saísse completamente da sala, foi esbarrada por um jovem que tinha a aparência de uma criança, além de ter altura de uma também.
???: — Aiii!
Andressa não sentia muito impacto, ela apenas olhava pra baixo, já sabendo quem era.
Andressa: — O que foi, Herl?
Herl caiu sentado no chão, massageando o próprio ombro com uma expressão irritada. Seus olhos brilhavam com uma intensidade anormal para alguém com aparência tão jovem — pupilas prateadas, quase artificiais, como se refletissem circuitos místicos em constante cálculo.
Herl: — Tsc, vocês sempre saem pra missões importantes e esquecem de avisar o único gênio capaz de manter seus trajes inteiros!
Ele se levantou de um salto, sacudindo o sobretudo escuro com bordas douradas que usava, e encarou Andressa com o cenho franzido.
Herl: — E não adianta fingir que não precisam de mim. Sei que vão pra Jerusalém, e sei também que tem energia espiritual condensada forte o suficiente pra quebrar os tecidos das suas armas, e dos seus corpos.
Wulfric cruzou os braços, rindo em silêncio.
Wulfric: — Sempre dramático, fedelho...
Herl se virou rápido para ele, puxando uma pequena cápsula de cristal azul de um bolso e jogando contra o peito de Wulfric. Ela grudou sozinha e se iluminou.
Herl: — Tecido de Haikar, com fragmento da Foice de Namtar. Agora seu traje vai resistir a venenos e decomposições angelicais por pelo menos 12 horas. De nada.
Wulfric ficou em silêncio, impressionado. Andressa apenas suspirou.
Andressa: — Você quer vir com a gente?
Herl: — É claro que não! Eu estaria morto antes de conjurar uma defesa mágica! Mas... deixei um conjunto personalizado para cada grupo, com propriedades únicas baseadas nas assinaturas de alma de suas armas. Vocês vão precisar.
Ele se virou para Kazuhiko e entregou-lhe um pequeno estojo metálico, contendo um manto com traços escuros e símbolos arcaicos que pareciam pulsar suavemente ao toque.
Herl: — Este foi feito com fragmentos da Espada de Samael... e um traço da lança que feriu o Cordeiro. Vai resistir à corrupção e cortar planos espirituais. É instável. Use com cuidado.
Kazuhiko segurou o estojo com certa reverência, mas seus olhos estavam afundados em pensamentos — a lança que feriu o Cordeiro...?
Gabriel, curioso, se aproximou e analisou os trajes com atenção.
Gabriel: — Você usou fragmentos de armas sagradas e profanas... isso é alquimia espiritual de altíssimo nível.
Herl, inchado de orgulho: — Eu sou Herl. Prodígio da Aetherbond. E ninguém entra no campo de batalha sem o meu toque final.
Andressa, já indo pela porta, murmurou:
Andressa: — Só não explodam no meio da missão por excesso de ego.
Herl (gritando do fundo da sala): — Ego e genialidade são irmãos! Agora vão logo antes que eu me arrependa!
Antes do grupo sair, Kazuhiko era interrompido por Nergal que colocava a mão em seu ombro.
Nergal: — Kazuhiko, sei que agora é prudente da minha parte falar isso, mas não ouse morrer agora que quebrou a nossa promessa.
Em um momento raro, Kazuhiko se virava com sorriso bem evidente.
Kazuhiko: — Eu prometo, essa casca aqui é impossível de ser rasgada, agora que estou completamente motivado pra terminar com tudo isso.
Nergal soltou um riso abafado, quase nostálgico, e então retirou a mão do ombro de Kazuhiko, encarando-o com o olhar pesado de quem já viu o mundo acabar mais de uma vez.
Nergal: — É bom que seja mesmo... porque Jerusalém não é apenas um lugar — é o último espelho da verdade.
Kazuhiko assentiu, confiante, e seguiu até os demais que já aguardavam na plataforma de transporte.
Wulfric, ajeitando os braceletes entregues por Herl, comentou:
Wulfric: — Pronto pro fim do mundo, Kaz?
Kazuhiko: — Estou pronto pra dar um novo começo.
Andressa levantou a mão, ativando a sequência de deslocamento espiritual da Aetherbond, enquanto todos os caçadores e arcanjos se posicionavam.
Arjun fechava os olhos em oração silenciosa, Viktor colocava seu braço enfaixado no braço monstruoso, dando um leve aperto, Zoya sussurrava seu telescópio, que parecia brilhar com expectativa, Ibrahim apenas cruzava seus braços, e Ezra espalhafatoso como sempre, ficava bocejando enquanto esticava seus braços pra cima.
E Nergal apenas ficava observando, acenando levemente pra eles.
Nergal: — Desejo uma boa viagem para todos.
O círculo de luz se abriu no chão, e então...
Andressa: — Rumo à Jerusalém.
Num piscar, o mundo ao redor se torceu em espirais místicos, levando-os ao destino final — não apenas um território sagrado... mas o lugar onde todos os véus seriam rasgados.
Porém, assim que a luz se dissipou, algo estava errado.
O cheiro. O calor. O vento seco.
Eles não estavam em Jerusalém.
Wulfric caiu de joelhos na areia, tossindo com a poeira fina que se levantou ao seu redor. Viktor bateu com o ombro em uma pedra pontuda ao despencar do portal, xingando em russo. Zoya foi amparada por Ibrahim antes que caísse de rosto no chão. Kazuhiko rolou pela duna quente e se ergueu com dificuldade, o cenário em sua volta o surpreendendo.
Castiel: — O que diabos... isso é o Egito?
Gabriel olhou ao redor, seu semblante preocupado. Apontou para o horizonte com uma sobrancelha arqueada:
Gabriel: — Não. É a Mauritânia. Estamos no extremo oeste do continente africano. Algo... bloqueou a rota espiritual.
Andressa, ainda recuperando o fôlego, socou o chão arenoso.
Andressa: — Merda. Alguma barreira vazia. Os mandamentos estão um passo à frente.
Ezra: — Claro... eles sabiam que usaríamos transporte espiritual. Se o objetivo deles é nos atrasar, forçar essa travessia é a melhor jogada.
Kazuhiko se levantou e encarou o sol nascente. A distância entre a Mauritânia e Jerusalém era absurda. Seriam milhares de quilômetros, cruzando desertos, ruínas, zonas devastadas pela guerra celestial. A terra não era mais como antes. Cada país agora era um reino quebrado, dominado por criaturas, anjos caídos ou energia vazia.
Arjun: — Parece que os Deuses querem nos testar. A jornada será longa.
Zoya: — Longa? Será um inferno.
Wulfric se levantou com dificuldade e cuspiu areia.
Wulfric: — Alguém viu o maldito Herl cair com a gente?
Andressa: — Ele não veio. Disse que não precisava de espectadores idiotas para admirar sua genialidade.
Todos se entreolharam. O sarcasmo era a única coisa que os mantinha sãs naquele momento.
Gabriel: — Se quisermos chegar vivos a Jerusalém, vamos precisar atravessar pelo menos quatro zonas mais turbulentas: o Saara do Silêncio, os Portais da Etíopia, a Fenda de Luxor e finalmente o Mar Sagrado que agora separa Sinai e Israel.
Andressa: — Então andem. Temos um mundo para cruzar.
Kazuhiko não disse nada. Mas enquanto dava o primeiro passo, sentiu a presença incômoda dentro de sua mente. Kokuei ainda estava lá, mesmo que calado. Talvez... talvez Jerusalém não trouxesse apenas respostas sobre as tábuas sagradas.
E a cada passo pela areia escaldante, os caçadores deixavam um traço. A guerra final não esperaria por eles.
Continua