Wulfric: — Verdammt... E quem diria que ia ter esses monumentos por aqui... no meio do nada.
As ruínas diante deles eram impossíveis de ignorar. Colunas de pedra cobertas por inscrições que nenhum deles reconhecia. As formas pareciam... desconfortáveis aos olhos, como se desafiassem a lógica arquitetônica humana. Algumas colunas se inclinavam contra a gravidade, outras flutuavam alguns centímetros acima do chão, pulsando com uma luz fraca, como respiração.
Andressa: — Mas isso é muito estranho... Eu me formei em geografia, e tenho certeza absoluta que este lugar não existe em nenhum mapa. Nunca vi uma testemunha mencionar algo assim... nunca.
Ela dava alguns passos, analisando uma das paredes de pedra entalhada. Os símbolos reagiram ao toque com uma vibração sutil, quase como se a estrutura estivesse viva. Zoya a seguiu com o olhar, um leve aperto na sua miniatura de telescópio que carregava consigo.
Ezra soltava um leve sorriso, colocando um cigarro na boca. Ele ergueu a mão enluvada e, com um estalo dos dedos, a costura do indicador se abriu, cuspindo uma pequena chama. Com o cigarro aceso, tragou devagar, deixando a fumaça escapar como se fosse parte do cenário etéreo.
Ezra: — Lamento lhe informar, querida Andressa... mas acho que seus conhecimentos não vão servir muito aqui. O continente inteiro se modificou... não por terremotos, nem por erosão. Isso aqui foi moldado por mãos divinas... e malditas.
Gabriel se aproximou da entrada do templo, os olhos fixos nos entalhes da parede principal. Ele murmurava palavras em uma língua celestial antiga. À medida que falava, as runas brilhavam em resposta, como se entendessem a origem da sua voz — mas hesitassem em obedecer.
Gabriel: — Este lugar foi erguido... não como santuário. Mas como prisão. Um selo antigo, e que agora... está enfraquecido.
Castiel: — Como tudo que ainda presta nesse mundo.
Kazuhiko, em silêncio, encarava uma escultura partida no chão. Era uma figura humanoide com muitos braços... todos estendidos em súplica. Em seu peito, o símbolo dos sete pontos — o heptagrama que carregava em sua alma — estava entalhado de forma imperfeita. Fragmentada. Como se alguém tivesse tentado replicar algo que não compreendia.
Kazuhiko: — Kokuei... você está vendo isso?
Kokuei (mentalmente): (Sim. E estou rindo por dentro... Porque esse lugar não foi feito por Deuses. Foi feito por homens que queriam ser deuses. E falharam.)
Ryuji se aproximou, os olhos atentos à movimentação do grupo.
Ryuji: — Ei, gente... essa estrutura tem escadas que descem.
Ibrahim: — Então é subterrâneo. Ótimo... descer para o inferno no meio do Saara. O que pode dar errado?
Viktor: — Tudo. Mas vamos mesmo assim.
Arjun passou a mão sobre o solo próximo à escadaria. A terra embaixo estava morna... viva. Era como se o próprio templo tivesse um batimento cardíaco fraco, quase apagado.
Zoya: — Eu estou sentindo algo... mas é difuso. Como se estivéssemos entrando em um lugar onde a própria memória se desfaz.
Ezra puxou uma última tragada e lançou o cigarro ainda aceso no chão. A brasa sumiu antes mesmo de tocar na areia.
Ezra: — Bem... se esse lugar foi feito pra prender alguma coisa... então já sabem o que vamos encontrar lá embaixo.
Gabriel: — Algo que deveria ter continuado preso.
Kazuhiko: — Ou algo que precisa ser entendido antes que se liberte de vez.
Andressa: — Certo. Entramos em formação. Eu e Zoya vamos na retaguarda. Ryuji e Viktor à frente. Arjun, você com Kazuhiko. Ezra, Wulfric e Ibrahim no centro. Castiel e Gabriel... qualquer anomalia espiritual, vocês falam.
Wulfric: — Não tem uma formação onde a gente fica em casa assistindo tudo pela câmera?
Ezra (sorrindo): — Só se tua casa for blindada contra maldições temporais. Agora cala a boca e vai andando.
Com lanternas de luz mágica acesas e as armas prontas, os caçadores começaram a descer pelas escadas cobertas de musgo seco e areia acumulada. A temperatura diminuía a cada passo, mas não era um frio normal. Era o tipo de frio que nascia da ausência — ausência de tempo, de lógica, de nome.
No final da escada, uma nova câmara os aguardava. Alta, circular, com paredes cobertas por escritos em idiomas extintos. E no centro...
Um altar.
E nele, uma mão esquelética... segurando algo que ainda brilhava com uma luz dourada fraca, como se fosse a última centelha de fé de uma era esquecida.
Arjun: — Isso... Me lembra algo...
Wulfric: — Sério? E o que te lembra??
Kazuhiko se aproximou do altar, seus passos lentos ecoando pela câmara. A mão esquelética parecia petrificada, como se tivesse sido carbonizada no exato momento em que tocou o que quer que fosse aquele artefato dourado. Um anel? Um medalhão? Ou talvez... apenas um fragmento de algo maior.
Arjun permaneceu em silêncio por um instante, seus olhos fixos na luz fraca. Um estremecimento atravessou seu corpo, como se algo antigo o reconhecesse.
Arjun: — Isso... me lembra um julgamento.
Wulfric arqueou uma sobrancelha, passando a mão pela espada às costas.
Wulfric: — Sério? E o que te lembra? Alguma aula de história dos tempos bíblicos? Porque pra mim, isso tá mais pra filme de terror.
Arjun estreitou os olhos, ignorando a provocação. Ele se ajoelhou diante do altar, respirando fundo.
Arjun: — Em minha terra, falam de um tribunal invisível. Um lugar onde não se julga pelo crime... mas pela essência que o causou. Dizem que certas relíquias... expõem isso. Que elas não perdoam. Nem explicam. Apenas decidem.
Ezra, que até então observava em silêncio, agora encarava o objeto com mais atenção. O brilho dourado não os aquecia. Pelo contrário, parecia absorver o calor em volta.
Ezra: — Isso... é um catalisador.
Andressa: — Um catalisador?
Ezra: — Um fragmento que não só canaliza energia... mas identifica e amplifica a intenção de quem o toca. Se for usado por alguém com um coração corrompido... ele pode queimar. Se for usado por alguém com fé pura... talvez revele um caminho.
Gabriel deu um passo adiante, seus olhos fixos na mão esquelética.
Gabriel: — Isso aqui não foi deixado. Foi selado. Essa mão... foi de alguém que tentou usá-lo e falhou.
Kazuhiko se aproximou mais. A luz tremia. Por um breve momento, ele sentiu como se a energia no artefato conversasse com algo dentro dele — um ponto específico no centro de seu peito, onde o heptagrama dos pecados pulsava em silêncio.
Kazuhiko: — Está reagindo a mim...
Castiel (desconfiado): — Claro que está. Tudo que é problemático reage a você. Esse negócio aí provavelmente vai nos arrastar pra outra dimensão se você tocar.
Viktor, cruzando os braços: — E se for o contrário? E se for algo que só ele pode tocar?
Zoya: — Nada é só destino, Viktor. Pode ser armadilha. Pode ser... teste.
Ryuji: — E se for as duas coisas?
Arjun se levantou lentamente. Seus olhos ainda fixos no altar, agora em alerta.
Arjun: — Seja o que for... não podemos apenas deixar isso aqui. E se é mesmo um catalisador... ele pode ser a chave para entender a origem das pragas. Ou... impedir que a próxima acorde.
Ibrahim, quebrando o silêncio, disse com voz grave:
Ibrahim: — Estamos sendo observados. Desde que entramos nesta câmara. Vocês não sentem?
Gabriel: — Sinto. Mas não é um espírito comum. Isso está enraizado nas pedras... nos ecos.
Ezra: — É o templo. Ele está vivo.
Um som ecoou no fundo da estrutura. Não foi um estalo. Nem um tremor. Foi... um sussurro. Como se as paredes tivessem soltado um suspiro.
Kazuhiko encarou o artefato uma última vez e sussurrou:
Kazuhiko: — ...Me mostre. Por que estou aqui.
Ele estendeu a mão.
A luz dourada brilhou forte por um instante — e todos na sala sentiram o peso da atmosfera mudar. Não era apenas calor. Era memória, dor e julgamento. A própria noção de tempo pareceu se dobrar.
Gabriel gritou: — Não!
Mas era tarde.
Assim que os dedos de Kazuhiko tocaram o objeto, uma explosão silenciosa de energia espiritual se espalhou pelo templo. O chão brilhou com runas esquecidas. O teto... desapareceu.
Acima deles, não havia céu. Havia uma fenda negra, como um rasgo no firmamento.
E dela... não caiu areia.
Caiu pedra. Fogo. E ódio antigo.
O ar queimou com uma energia primal. Um clarão cortou o horizonte, e então, a voz.
???: — Eu fui a mão do julgamento. A ira de cima, que queimava os campos dos arrogantes.
E agora... sou o lembrete de que até o céu pode sangrar.
Uma silhueta flamejante surgiu nas bordas da fenda. Não era uma criatura. Era uma entidade feita de magma e obsidiana, com olhos sem pupilas, apenas buracos de calor que sugavam a alma. Cada passo seu na fenda fazia a pedra derreter ao redor.
Castiel recuou um passo.
Castiel: — Isso... Isso não é Erith-Zin.
Gabriel: — Não. Essa é outra. A praga da destruição... a que caiu do céu como maldição.
Ezra puxou sua arma-veste.
Ezra: — Chuva de pedras... Então os registros eram reais.
Andressa: — Aquela praga... matou plantações, rebanhos, tudo. Dizem que o céu foi dividido, e o fogo caminhou sobre o gelo. Se isso for ela...
Viktor (preparando sua baioneta): — ...então não estamos mais lidando com avisos.
Arjun: — Isso é uma execução.
Zoya: — Como se os céus tivessem nos condenado ao pisar neste templo esquecido.
O ser, agora parcialmente visível, flutuava sobre a abertura celeste. Fragmentos de pedra sagrada giravam ao seu redor, cada um imbuído com calor extremo e energia destrutiva. Raios vermelhos se formavam entre as nuvens, como chicotes de luz quebrando os limites dimensionais.
Kazuhiko sentiu um arrepio. A heptagrama dos pecados em suas costas pareceu se retrair.
Kokuei (sussurrando dentro da mente): — Parabéns... Agora você libertou o céu antigo.
Gabriel (voz firme): — Nomeie-se, criatura!
O ser abriu seus braços. Quando falou, a voz saiu em vários idiomas ao mesmo tempo — hebraico, latim, aramaico... e algo que ninguém conhecia.
Entidade: — Vocês esqueceram o nome da destruição. Mas eu não os esqueci.
Eu sou Hadad’El-Ra. O Trovão da Ira. O Gelo Flamejante. O Julgamento Sete.
Andressa: — Todos, formação! Preparem escudos espirituais — vamos sobreviver primeiro... entender depois!
Ezra (mordendo o cigarro): — Hm. Finalmente, algo que merece o nome de Apocalipse.
O clarão que cortou os céus ainda pulsava como uma artéria viva acima da cidade em ruínas, e o ser que emergia da fenda flamejante não parecia apenas um inimigo… parecia uma parte do próprio julgamento divino.
Kazuhiko: — Se isso é só a segunda praga... então Jerusalém vai ser o inferno.
Kazuhiko havia sussurrado suas últimas palavras como um presságio, mas o silêncio que as seguiu foi destruído por um rugido.
Viktor.
O som de músculos se reconfigurando, carne se distorcendo e ossos se adaptando ecoou por entre as pedras do templo. Seu braço monstruoso irrompeu da bandagem com um brilho carmesim, e os veios negros que cobriam seu pescoço subiram até o olho esquerdo, que agora brilhava como lava.
Viktor: — Não vou deixar esse maldito falar como se já tivesse vencido…!!
Ele deu um pulo violento, deixando um rastro de areia e pedras destruídas para trás. Seu salto o levou a dezenas de metros de altura, direto rumo ao peito incandescente de Hadad’El-Ra, ignorando totalmente a ordem de formação.
Andressa (gritando): — Mas o que?! Ele enlouqueceu?!
Zoya (desesperada): — VIKTOR!! VOLTA, SEU IDIOTA!!
O tempo pareceu desacelerar por um momento. A silhueta de Viktor avançando contra o céu partido, sua forma humana envolvida em traços monstruosos, era como uma mancha viva na paisagem apocalíptica.
Gabriel cerrou os dentes.
Gabriel: — Ele vai morrer. A aura daquela coisa... não é natural. Ela é feita para punir!
Ezra (calmo, mas sério): — Ou ele encontrou um pecado maior que o próprio passado. E agora quer apagar ele com força bruta.
Kazuhiko sentia o sangue em suas veias vibrar. A presença da praga, o céu rasgado, o sacrifício iminente — tudo parecia uma peça de algo maior. Ele quase podia ouvir as engrenagens de um julgamento universal girando... como se cada decisão deles estivesse sendo medida.
Ryuji (sacando a katana): — Se ele for, eu vou junto. Esse não é um tipo de luta onde se deixa alguém morrer sozinho.
Wulfric (engolindo em seco): — Merda... não posso ficar parado vendo isso.
Castiel abriu suas asas.
Castiel: — A escolha foi feita. Agora só nos resta decidir se deixamos que ele morra como um tolo... ou lutamos como legados de algo maior.
Lá em cima, Viktor se aproximava da entidade. A mão monstruosa brilhou — não com poder, mas com desejo. Desejo de provar que a humanidade podia tocar o divino, mesmo que fosse com fúria.
Hadad’El-Ra virou sua cabeça flamejante para o atacante. Seus olhos giraram em padrões geométricos de chamas, e então...
Hadad’El-Ra: — ...ímpeto sem juízo. A marca da destruição.
Uma pedra negra, do tamanho de um meteorito, materializou-se acima da cabeça de Viktor.
Zoya: — VIKTOR, DESVIA!!!
O braço de Viktor se esticou... mas ele já sabia que não escaparia.
Foi então que, no último segundo, um brilho cortou o ar.
Arjun.
Com o corpo ferido e costelas ainda trincadas do seu último encontro com os mandamentos, ele saltou, usando sua força desumana pra saltar aonde estava Viktor, dando um chute pra longe do golpe, enquanto se preparava pra socar o meteorito.
Arjun: — Eu disse... que só saímos disso vivos se ninguém mais cair!!
Ele acertou o meteorito antes que ele colidisse no chão — não o destruiu, mas o desviou.
A explosão foi tão grande que rachou o solo. Areia virou vidro. O templo tremeu.
Gabriel e Castiel estenderam escudos espirituais, protegendo o grupo da onda de calor e detritos.
Ezra (resmungando): — Tsc... Que dupla infernal.
Gabriel: — Correção, angelical.
Kazuhiko viu Viktor cair em espiral, de forma bem violenta, mas ainda vivo. Arjun também foi jogado para longe, mas caiu de pé, ofegante.
Kazuhiko (pensando): — Ele disse que cada praga é um lembrete... Se for isso, o que esse ser está tentando nos lembrar?
Kokuei (surgindo em sua mente): — Que o céu nunca teve piedade.
Hadad’El-Ra se elevava agora ainda mais alto, braços abertos. As nuvens giravam como um vórtice. Três esferas flamejantes surgiram ao seu redor.
Hadad’El-Ra: — Escolham... três dentre vocês... para queimar. O resto... caminhará.
Ryuji (cerrando os punhos): — Que tipo de teste é esse?
Andressa: — Um julgamento... ou um sacrifício.
Kazuhiko deu um passo à frente.
Kazuhiko: — Se isso é um jogo de deuses esquecidos... então que seja. Mas nós decidimos as regras agora.
O vento parecia parar por um momento. O calor cessou de expandir, o ar ficou pesado — como se o próprio tempo prendesse a respiração diante do que estava para acontecer.
Ibrahim: — Esperem... O Viktor está brilhando de uma forma diferente!
Todos se viraram. Viktor, que havia sido jogado ao chão como um boneco quebrado após o impacto da explosão desviada por Arjun, agora emanava uma luz dourada e prateada, como um metal sagrado sendo forjado no limite do abismo.
Sua marca no peito, antes adormecida, pulsava. Mas não era um poder monstruoso como seu braço amaldiçoado. Era... algo mais puro. Algo que tocava a própria essência da alma.
Kazuhiko arregalou os olhos.
Kazuhiko: — Não pode ser... Ele está conseguindo usar a alma de... Zadiel.
Gabriel e Castiel imediatamente reagiram, reconhecendo o nome com choque.
Gabriel (sussurrando): — Zadiel... o Arcanjo da Justiça...
Castiel (cerrando os dentes): — ...o mais briguento de todos...
A luz envolvia Viktor agora como uma armadura translúcida, as asas espectrais de Zadiel surgindo atrás dele — não brancas, não negras, mas compostas de um brilho cortante, como folhas de julgamento divino. Uma espada de luz se manifestava em sua mão direita, e seu braço monstruoso... se acalmava. Como se a maldição fosse finalmente contida pela presença de algo mais elevado.
Zoya, vendo aquilo, deu um passo à frente, quase sem ar.
Zoya: — Viktor...?
Viktor, agora de pé, olhou para todos. Sua voz estava mais grave, mas serena. Era sua… e ao mesmo tempo, de Zadiel.
Viktor encarava o próprio braço — aquela massa grotesca de veias negras, garras e pulsos demoníacos que por tanto tempo foi o símbolo do que ele odiava em si mesmo. Mas agora… havia algo novo. A superfície da carne mutante estava coberta por traços dourados, linhas finas que pulsavam em sintonia com a armadura translúcida que cobria seu corpo. A maldição não havia sumido… mas havia sido domada.
Viktor: — Me sinto... diferente...
Sua voz ecoava com uma calma incomum. Como se uma tempestade antiga tivesse, enfim, silenciado por dentro.
Zoya, ainda sem se aproximar totalmente, olhava fixamente nos olhos dele. Algo neles havia mudado. Não era apenas poder — era clareza.
Zoya: — Viktor... Você lembra quem eu sou?
Viktor virou o rosto para ela, e um pequeno sorriso atravessou sua expressão, tão rara em tempos de guerra.
Viktor: — Que pergunta besta, claro que eu lembro. A única que nunca desviou o olhar. Mesmo quando até eu tinha medo de me ver.
Zoya respirou aliviada, mas ainda havia uma tensão nos ombros. Um receio. A última vez que ele se transformou… ele quase morreu.
Ezra, um pouco mais atrás, tirava o cigarro da boca e falava com seu tom preguiçoso:
Ezra: — Tô impressionado. Achei que se ele tivesse uma alma divina, ela seria mais pra destruição do que pra justiça. Mas parece que o grandão sabe usar um presente, pelo menos.
Andressa: — Isso muda tudo. Se Viktor conseguiu dominar esta alma... Talvez ele terá a capacidade de ajudar tremendamente contra estas pragas.
Gabriel, de olhos apertados, ainda mantinha sua cautela:
Gabriel: — Só não se esqueçam... almas celestiais não são apenas bênçãos. Tenho certeza que se ele vacilar, a alma irá julgar ele antes mesmo de enfrentar o inimigo.
Viktor, com a espada de luz repousando sobre o ombro, fitava o céu ainda cortado pela presença da praga.
Viktor: — Então que ele me julgue. Porque desta vez, eu não vou cair. Não por mim. Mas pelo mundo que ainda não sabe que pode ser salvo.
Kazuhiko, em silêncio, observava aquilo. O símbolo no peito de Viktor, brilhando com o selo de Zadiel, ecoava no fundo da mente de Kazuhiko… como se o próprio universo estivesse reagindo à união dos dois.
Kazuhiko (pensando): — Isso… estranho, por que ele tendo uma alma tem consequências a serem consideradas?
Kokuei (Na mente): — Isso é meio óbvio, A gula tem uma propriedade única que sela tudo que a alma era, servindo apenas para o uso, no seu corpo, já que você era o proprietário do pecado, não tinha nenhum problema... Porém, já que tu passou uma alma pra ele, a alma voltará a ter sentimentos.
Kazuhiko: — Merda... Então se ele não conseguir acompanhar as expectativas do Zadiel...
Kokuei: — Exatamente, ele será dominado, e logo, morrerá.
O céu, já sombrio pela abertura de Hadad’El-Ra, trovejava uma nova explosão de poder. Raios brancos e rubros caíam entre as dunas, sinalizando o início de uma batalha que não seria apenas entre carne e poder — mas entre os próprios conceitos de culpa, perdão e justiça.
E Viktor… já havia dado seu primeiro passo como um novo cavaleiro no campo espiritual da guerra.
A areia vibrava com cada passo de Viktor em direção ao epicentro da tormenta celestial. Sua silhueta, envolta pela luz julgadora de Zadiel, era um contraste violento contra o céu corrompido — como se uma estrela estivesse caminhando contra a própria queda do firmamento.
Ryuji, ao lado de Kazuhiko, observava em silêncio. O som abafado da tempestade era quase irrelevante comparado ao peso daquela escolha.
Ryuji: — Você deu a ele uma alma, não foi?
Kazuhiko apenas assentiu, os olhos fixos em Viktor.
Ryuji: — Então não pense que essa responsabilidade é só dele agora.
Kazuhiko: — Eu sei...
No topo do templo esquecido, Andressa levantava um drone esférico — um artefato de monitoramento espiritual desenvolvido por Herl — que subia lentamente, captando a atividade da praga no céu. As runas gravadas no casco já tremiam violentamente, como se a própria essência do objeto estivesse sendo corrompida.
Andressa: — A anomalia no céu está ganhando forma… É como se estivesse assumindo uma personalidade.
Gabriel se adiantava, a luz de suas mãos formando um círculo de contenção ao redor do altar onde outrora descansava a mão esquelética.
Gabriel: — Aquilo era um catalisador. A mão era simbólica… um "toque" para acordar a praga. Mas Hadad’El-Ra… é uma entidade de julgamento elementar. Ele não age sem provocação.
Ezra: — E deixar uma mão divina como isca não é provocação suficiente?
Castiel afiava sua lâmina divina contra a borda de seu escudo:
Castiel: — Não importa se foi provocação ou armadilha. Já acordamos o inferno. Agora temos que ver quem aguenta encarar o próprio reflexo lá dentro.
Ibrahim, com as mãos em posição de oração, sussurrava palavras antigas em um dialeto celestial esquecido — protegendo o grupo da corrosão espiritual. Ao lado dele, Zoya colocava seu olho na lente do seu telescópio, liberando pequenas esferas de vigilância mágica que flutuavam entre os escombros da cidade.
Enquanto isso, Arjun permanecia em pé, de olhos fechados. Seu corpo ainda carregava feridas, mas sua alma parecia silenciosamente se comunicar com as linhas espirituais da região — sentindo, entendendo, preparando-se.
Do horizonte, um raio de luz vermelha se condensou como uma lança.
Hadad’El-Ra estava descendo.
O céu foi rasgado por um trovão divino, e ao centro da cidade abandonada uma figura colérica se formava: uma entidade feita de pedra incandescente e luz sangrenta, com olhos de tempestade petrificada.
Hadad’El-Ra: — Qual dos filhos da Criação ousa levantar uma espada em direção ao Julgador?
Viktor ergueu sua lâmina, a voz de Zadiel se fundindo à sua.
Viktor/Zadiel: — A espada não se ergue por orgulho. Ela se ergue por justiça. E você, praga... será medido.
Kazuhiko, observando ao longe, sussurrou apenas para si:
Kazuhiko: — Que bagunça...
O céu explodiu em clarões.
Continua...