Capítulo 15: A Maré Sombria Avança

O horizonte tremulava com a movimentação frenética das criaturas que se aproximavam. O som de patas fincadas no solo, o ranger das mandíbulas afiadas e o zumbido constante das asas criavam um ruído crescente que se espalhava pelo ar, vibrando contra a muralha improvisada do assentamento dos ratos.

Marcos permaneceu imóvel, seus olhos multifacetados analisando cada detalhe da ameaça à distância. Mesmo sem estar diretamente no campo de batalha ainda, ele podia sentir o peso daquele momento.

A linha negra ondulante que se aproximava não era um simples enxame. Não eram insetos comuns.

Eles se moviam com precisão militar.

Isso por si só já era um alerta gigantesco. Insetos, por mais organizados que fossem em colônias, ainda possuíam padrões de comportamento instintivos. Mas o que Marcos via ali… era diferente.

Cada criatura dentro daquele enxame seguia uma estrutura de formação muito precisa. Pequenos grupos se deslocavam em uníssono, como se estivessem sob um comando centralizado, espalhando-se e reorganizando suas posições conforme se aproximavam do assentamento.

Ragnor percebeu isso ao mesmo tempo que Marcos.

— Eles não estão apenas marchando… Eles estão formando táticas de cerco.

A constatação fez um arrepio percorrer o corpo de Marcos.

Essa era a confirmação de sua pior suspeita.

Esses gafanhotos gigantes não eram apenas uma nova ameaça comum.

Eles eram controlados por alguém.

E se fossem controlados, então a conclusão era inevitável: outro lorde estava por trás desse ataque.

— Você precisa organizar as defesas agora. Ragnor! — Marcos disse, sua voz carregada de urgência.

Ragnor assentiu.

— Minhas tropas já estão em posição, mas se essa ameaça for tão coordenada quanto parece, precisaremos de algo mais do que simples barricadas.

Enquanto os ratos corriam de um lado para o outro, armando lanças improvisadas e reforçando os pontos mais frágeis da muralha, Marcos usou sua conexão com sua colônia para enviar ordens diretas às formigas guerreiras e às recém-evoluídas unidades voadoras que vieram com ele para o assentamento dos ratos.

As formigas venenosas começaram a se posicionar no solo, escondendo-se em trincheiras rasas previamente escavadas ao redor do assentamento. Se os gafanhotos tentassem ultrapassar a muralha, se deparariam com uma emboscada mortal.

Já as formigas voadoras se dispersaram em pequenos esquadrões, subindo aos céus e circulando ao redor da área, preparadas para interceptar qualquer ataque surpresa por cima.

E por último, as formigas guerreiras reforçadas, agora muito maiores e mais resistentes do que antes, alinharam-se nas laterais da fortificação, preparadas para contra-atacar caso fosse necessário.

Marcos e Ragnor não podiam se dar ao luxo de subestimar esse inimigo.

Tudo dependia de estarem preparados antes que fosse tarde demais.

O enxame não diminuiu sua velocidade.

Pelo contrário… acelerou.

E então, sem qualquer hesitação, os primeiros gafanhotos saltaram para o alto, cobrindo dezenas de metros em um único impulso, mirando diretamente para a muralha do território dos ratos.

O impacto foi imediato.

As criaturas colidiram contra a estrutura de madeira, suas mandíbulas rasgando e triturando tudo o que encontravam pela frente. As patas afiadas perfuraram a superfície, buscando apoio para escalar.

Os guerreiros de Ragnor reagiram rapidamente.

Com lanças de osso endurecido e pedaços de metal reaproveitado, começaram a perfurar os invasores assim que eles se agarravam às paredes.

O cheiro de sangue e fluidos viscosos se espalhou rapidamente pelo ar.

Mas os gafanhotos não paravam.

Por cada um que caía, dois outros assumiam seu lugar.

E então veio o verdadeiro ataque.

De dentro do enxame, uma nova onda de criaturas emergiu – uma variante de gafanhotos alados, com carapaças brilhantes e olhos escarlates.

Esses eram os verdadeiros assassinos.

Eles não atacavam de frente.

Eles sobrevoavam as defesas e atacavam por trás.

Era uma tática brutalmente eficiente. Enquanto os ratos estavam ocupados repelindo os inimigos na muralha, os gafanhotos voadores mergulharam em espirais rápidas, rasgando carne com suas patas serrilhadas e lançando pequenas descargas elétricas contra qualquer um que tentasse detê-los.

Marcos imediatamente percebeu o perigo enquanto Ragnor começou a ficar preocupado vendo os seus soldados sendo atacados dessa forma.

Se aqueles gafanhotos não fossem detidos rapidamente, a batalha estaria perdida antes mesmo de começar.

— Formigas voadoras, eliminem-nos agora! — Marcos ordenou, transmitindo sua vontade diretamente às suas tropas aladas.

E como um único organismo, as formigas voadoras mergulharam nos céus para enfrentar os invasores.

O ar se encheu de zumbidos furiosos e estalos de impacto conforme as duas forças colidiram no céu.

As formigas voadoras, mesmo em menor número, possuíam vantagem em manobrabilidade e disciplina tática. Elas não atacavam individualmente. Trabalhavam em conjunto, flanqueando os gafanhotos e cortando suas asas antes que pudessem reagir.

Marcos observava cada movimento através da conexão mental com suas tropas.

Ele sentia a tensão de cada combate.

Sentia o fluxo da batalha se movendo como um quebra-cabeça gigante.

E mais importante…

Sentia a presença do lorde inimigo.

Em algum lugar, alguém estava observando essa batalha.

Controlando o enxame.

Manipulando cada movimento.

Marcos precisava encontrá-lo.

E rápido.

Porque se aquele lorde tivesse mais truques escondidos…

Essa guerra estava longe de terminar.

O combate continuava feroz, mas Marcos sabia que não poderia apenas reagir o tempo todo.

Ele precisava tomar a iniciativa.

— Ragnor! — Ele chamou, enquanto suas formigas guerreiras esmagavam os gafanhotos que tentavam escalar a muralha.

O Lorde dos Ratos virou-se rapidamente.

— O que foi?!

Marcos olhou diretamente para ele.

— Esse ataque não é apenas um ataque aleatório. Está sendo coordenado. Há um lorde por trás disso.

Ragnor apertou os olhos, absorvendo a informação.

— Então… precisamos encontrá-lo.

— Sim. — Marcos assentiu. — E eu tenho uma ideia de como.

Ele voltou sua atenção para suas formigas voadoras.

Elas tinham uma nova missão.

Enquanto parte delas continuaria lutando contra os gafanhotos alados, um grupo pequeno se separaria e usaria sua capacidade de reconhecimento para buscar algo incomum dentro do enxame.

Um ponto central de controle.

Uma mente coordenadora.

Se pudessem localizar o lorde inimigo…

Então poderiam virar a maré da guerra a seu favor.

Marcos não perderia essa oportunidade.

A batalha ainda estava em curso.

Mas agora, ele estava ditando o próximo movimento.