Capítulo 16: O Prisioneiro do Enxame

A batalha ainda rugia ao redor de Marcos, mas sua mente estava focada em um único objetivo: encontrar o lorde inimigo.

Ele podia sentir uma presença central guiando aqueles gafanhotos gigantes, como se fosse um general ou até mesmo um outro lorde. A presença era sutil, quase como um instinto coletivo, mas havia uma diferença entre a horda de gafanhotos e bestas sem consciência. Este general ou lorde apresenta uma inteligência muito alta e que estava moldando cada movimento da investida contra os ratos e o seu exército de formigas.

Se ele pudesse cortar essa fonte, o enxame desmoronaria.

Mas encontrar a origem desse comandante em meio ao caos da guerra não era uma tarefa simples.

Marcos ativou o link neural com as outras formigas e começou a dar ordens.

'Formigas voadoras espalhem-se em pequenos grupos para dispersar o enxame de gafanhotos enquanto procuram pelo líder e os outros mantenham a linha de defesa e lutem ao lado dos ratos, se os ratos perderem nós ficaremos em desvantagem. Assim que o líder for encontrado me avisem!'

As formigas voadoras assentindo com as ordens do seu lorde começaram sua busca, dividindo-se em pequenos grupos que varriam os céus com precisão metódica. Elas se moviam acima do campo de batalha enquanto esquivam e se defendem dos ataques de pequenos grupos separados do enxame, analisando os padrões de movimento do enxame, procurando um ponto onde os gafanhotos parecessem reagir de maneira mais coordenada.

Enquanto isso, Marcos mantinha sua atenção dividida.

Ele continuava enviando ordens para suas forças terrestres, garantindo que a defesa do assentamento dos ratos não desmoronasse enquanto a busca pelo lorde inimigo prosseguia.

Os gafanhotos estavam ficando mais agressivos. Era como se soubessem que estavam sendo caçados.

Mas isso apenas confirmou as suspeitas de Marcos.

O lorde estava próximo.

E então, depois de vários minutos de busca intensa…

Uma das formigas voadoras detectou algo incomum.

Escondido na sombra de uma grande árvore retorcida, afastado da linha de frente da batalha, um ser de aparência humanóide estava parcialmente coberto por um manto de quitina orgânica.

Seus olhos brilhavam com um tom âmbar pulsante, e ele mantinha as mãos estendidas em direção ao campo de batalha, como se estivesse manipulando os movimentos do enxame com pura força de vontade.

A resposta foi instantânea.

— Ali! Peguem-no! — Marcos que conseguiu ver a mesma imagem que as formigas graças a conexão neural, ordenou às formigas voadoras.

Num instante, seis formigas voadoras mergulharam contra o alvo.

O lorde inimigo não percebeu o perigo até ser tarde demais.

— "Huh! Me Protejam!" – O lorde dos gafanhotos gritou em um momento de desespero.

Ele tentou recuar para dar tempo aos gafanhotos chegarem a sua posição, mas as formigas eram mais rápidas. Com suas mandíbulas poderosas, agarraram-se a seus braços e pernas, puxando-o para o solo com uma força esmagadora.

O estranho urrou em fúria, tentando se debater, mas era inútil. As formigas venenosas logo chegaram, suas ferrões brilhando com uma substância letal.

O enxame de gafanhotos tremeu, desorganizando-se de imediato. Ainda que alguns gafanhotos continuassem com o ataque, muitos deles já haviam perdido a moral por ter o lorde capturado e se renderam.

A batalha que antes era um massacre estratégico agora se tornava uma confusão desordenada.

A captura do lorde havia desmantelado a cadeia de comando.

O prisioneiro foi arrastado para dentro do assentamento, amarrado por longas tiras de teia produzidas pelas formigas operárias.

Seus olhos, antes pulsantes de energia, agora estavam semicerrados, oscilando entre ódio e confusão.

Ragnor se aproximou, sua presença imponente lançando uma sombra sobre o capturado e o apontou com sua lança improvisada de paus e uma pedra pontuda afiada.

— Quem é você? — O líder dos ratos perguntou, sua voz carregada de desconfiança.

O estranho 'lorde gafanhoto' permaneceu em silêncio, sua mandíbula cerrada com força.

Foi Marcos quem decidiu quebrar o gelo.

Ele deu um passo à frente, suas antenas se movendo lentamente enquanto analisava cada detalhe do ser diante dele.

— Você é um lorde, não é?

Dessa vez, o prisioneiro reagiu. Seu olhar se estreitou.

— …Lorde? O que isso significa?

Marcos trocou um olhar com Ragnor.

Havia uma possibilidade dele ser um lorde nativo, mas os lordes nativos possuem uma identificação básica no sistema, mas este parece ser diferente... Ele estava genuinamente confuso.

Marcos decidiu testar outra coisa.

— Você tem acesso ao sistema? Ao chat dos lordes?

O estranho franziu o cenho.

— Sistema? Chat? Do que você está falando?

E então tudo fez sentido.

Esse lorde não era como Marcos e os outros.

Ele não era um humano reencarnado ou transportado para esse mundo.

Ele era um nativo.

Ragnor foi o primeiro a expressar o que ambos estavam pensando.

— Isso não faz sentido… Eu achei que todos os lordes fossem como nós, humanos ou nativos que despertaram como líderes de suas raças e todos eles tem acesso ao sistema, não têm?

Marcos assentiu lentamente enquanto tentava se lembrar de informações que ele reuniu sobre o mundo dos lordes ao longo dos anos, ele sempre foi um excelente estudante e se lembra de inúmeras informações.

— Eu também pensei assim. Mas ele… ele nasceu aqui. Ele não faz ideia de que existe algo além disso, mesmo assim ele deveria ter acesso básico ao sistema, a não ser...

Ragnor sentindo que Marcos estava próximo de uma resposta perguntou intrigado.

— "A não ser que o quê?"

Marcos olhou para Ragnor e para o lorde dos gafanhotos.

— "A não ser que ele seja um membro de uma raça de bestas comuns que sofreu uma mutação e evoluiu de forma que sua evolução não afectou somente a si como também a sua tribo e se tornou um lorde sem ser reconhecido pelo sistema."

Ragnor incrédulo perguntou, — "E isso é possível? Eu não me lembro de nenhum professor mencionar isso."

Marcos olhou para Ragnor com calma.

— "Claro que é possível, os professores não falam porque é algo extremamente raro de acontecer, eu li em um livro na biblioteca da minha academia que existem apenas 4 casos documentados desse tipo ao longo de todos estes anos, claro que podem existir muitos mais, mas ninguém mais reportou tal situação."

O prisioneiro apertou os punhos, sua frustração evidente.

— "Eu não sei do que vocês estão falando. Tudo o que sei é que eu comando o enxame. É assim que sempre foi."

Marcos cruzou os braços, pensando por um momento.

Se esse lorde era nativo e ainda por cima um mutante, então isso significava que eles estão diante de uma oportunidade muitíssimo rara. Marcos sabendo da situação completa, não iria deixar que Ragnor ficasse com esse lorde e a tribo de gafanhotos.

Mas isso levantava uma série de novas questões.

Quantos outros lordes poderiam ser nativos neste mundo?

Será que é possível resolver isso sem conflitos?

E como um lorde mutante poderia surgir, o que acontece depois?

Tantas perguntas e poucas respostas

Apenas uma coisa era certa.

Esse prisioneiro poderia ter respostas importantes.

E Marcos pretendia obte-lás.