AaArRgH!
Acordei de repente, ofegante. O suor grudava na minha pele, fazendo meu pijama colar no corpo, mas minhas mãos e pés estavam gelados como gelo. Olhei ao redor desesperadamente, meu coração batendo no peito.
"Droga!" Eu xinguei, tentando afastar o pesadelo.
No entanto, não era apenas um sonho. Aconteceu — quando Cole e eu ainda estávamos no ensino médio. Naquele dia, na frente de todo mundo, ele me destruiu.
A memória voltou com força, como uma onda gigante. A humilhação, o constrangimento — foi pior do que qualquer coisa que eu já tivesse sentido. Fiquei tão devastada que faltei à escola por dias, com vergonha demais para encarar alguém.
Eu queria mudar de escola, desaparecer, mas Sofia foi contra. Se algo, ela parecia gostar do meu sofrimento, me forçando a suportar o restante daqueles quatro anos agonizantes.
A escola inteira sabia o que havia acontecido. Eu virei uma piada, um meme que circulou muito depois da formatura.
Eu era tão idiota naquela época. Eu deveria ter ido embora, parado de amá-lo. Mas não — continuei correndo atrás dele, suportando rejeição após rejeição, humilhação após humilhação.
Como eu pude ser tão tola?!
Com uma mão trêmula, arranquei a gaveta, pegando a pilha de cartas de amor e presentes que guardei para Cole ao longo dos anos. Cada um representava um pedaço do meu coração que eu entreguei a ele de forma tola, esperando que um dia ele me visse, realmente me visse.
Eu sonhei com o dia em que entregaria tudo a ele — no nosso dia de casamento, nada menos. Quão ingênua. Quão delirante.
Olhei para aquelas cartas, aqueles presentes cuidadosamente embrulhados, e senti uma onda de raiva subir no meu peito.
Como eu pude ser tão cega? Tão estúpida?!
Sem pensar, peguei tudo e joguei na lareira. As chamas lambiam as bordas do papel, as fitas, transformando tudo em cinzas. O amor, a esperança, a dor — tudo queimou.
Com cada tremor do fogo, senti algo dentro de mim se endurecer. Os anos de rejeição e humilhação haviam endurecido meu coração, envolvendo-o em correntes.
Eu prometi neste dia... Eu nunca mais amaria.
=== 🤍 ===
"Então, você concordou?" Perguntei, encarando Miguel do outro lado da mesa.
Sentamos em um pequeno canto de um restaurante mal iluminado, o baixo murmúrio de conversas ao nosso redor mal registrando sobre a tensão entre nós.
Eu o observei atentamente, esperando por sua resposta, meu coração batendo de forma constante no meu peito.
Miguel respirou fundo, seus ombros subindo e descendo com o peso de sua decisão. Seus olhos, cansados e sombreados, piscaram para encontrar os meus antes de ele suspirar. "Eu não tinha muita escolha se quisesse que este projeto sobrevivesse. Estamos perto... tão perto que quase posso sentir o sabor da virada. Um empurrão final e estaremos lá. Eu posso sentir."
Um sorriso surgiu no canto dos meus lábios, a excitação vibrando através das minhas veias.
"Bom," eu disse, recostando-me na cadeira, meus dedos tamborilando levemente na mesa. O acordo estava fechado.
"Mas... já que você agora possui 50% da empresa," ele começou, hesitando antes de continuar, "isso te faz o CEO, certo?"
Levantei a mão em falsa rendição. "Calma aí. CEO? Quem disse alguma coisa sobre eu ser o CEO? Você viu essas palavras em algum contrato? Não, eu sou um investidor — nada mais, nada menos."
Miguel franziu a testa, suas sobrancelhas se unindo enquanto ele me encarava em descrença. "Então quem deveria gerenciar a empresa? O que você está planejando fazer?"
Não pude deixar de rir da expressão no rosto dele. "Você, é claro."
"Eu?" Miguel quase engasgou com as palavras, apontando um dedo para o próprio peito, seus olhos se arregalando em surpresa exagerada. "Você quer que eu dirija a empresa?"
Eu assenti, meu sorriso se alargando. "Sim, você. Lembra? Eu sou apenas uma criança. E é o seu projeto. Além disso, você é o líder antes mesmo de eu entrar na foto."
Miguel gemeu, passando a mão pelo cabelo longo e desgrenhado. "E agora você está jogando a carta do 'eu sou apenas uma criança' em cima de mim, em uma hora dessas?"
Eu ri, inclinando-me para frente, meus cotovelos descansando na mesa enquanto eu sorria para ele. "Honestamente, eu não sei nada sobre dirigir uma empresa. Se eu tentasse gerenciá-la, estaríamos falidos em um mês. Além disso..." interrompi, esperando que ele morde.
"Além do quê?" Ele se inclinou ligeiramente, a curiosidade lampejando em seus olhos.
"Estou com preguiça demais para administrá-la. É por isso que eu preciso de você. Você tem a mente, o impulso — e convenhamos, você faria um trabalho muito melhor do que eu jamais poderia."
Miguel balançou a cabeça, mas apesar de sua exasperação, um pequeno sorriso surgiu nos cantos de seus lábios. Suas covinhas apareceram, conferindo-lhe um charme jovial, mesmo com as olheiras e o jaleco sujo de laboratório que pendia frouxo em seu corpo.
Apesar de sua aparência desleixada, era inegável que Miguel tinha um certo charme. Se ao menos ele se arrumasse um pouco.
"O que você está olhando?" ele perguntou, ajustando os óculos, seu olhar voltando para mim com um toque de autocrítica.
"Quando lançarmos," eu disse, inclinando-me conspiratoriamente, "certifique-se de estar apresentável, certo? Você é bonitinho, e sua aparência poderia ajudar a atrair alguns investidores."
Miguel ergueu uma sobrancelha. "Você está planejando me usar como isca, não é?"
Encolhi os ombros, exibindo um sorriso inocente. "Se estiver dentro dos limites legais, claro. Você tem que usar todas as ferramentas ao seu dispor se quiser ter sucesso neste mundo. E se isso significa flertar com alguns potenciais investidores aqui e ali... bem, você faz o que tem que fazer."
Pisquei para ele, mas Miguel apenas balançou a cabeça, um sorriso divertido brincando em seus lábios.
Provavelmente ele achou que eu estava brincando.
Mas eu não estava.
Eu estava mortalmente sério.