๑ ⋆˚₊⋆────ʚ Zeus ɞ────⋆˚₊⋆ ๑
Pensamentos mais profundos.
- Vossa Majestade, houve uma confusão depois da sua saída do Domo de Cristal.
- Confusão? - perguntei, estreitando os olhos.
- Nossos informantes relataram que a senhorita Annaelise foi até a Santa e... causou um escândalo.
Um escândalo. Claro que foi Annaelise. Uma víbora disfarçada de cordeiro, pior é que a sociedade ainda a enxerga como doce e virtuosa.
- Explique exatamente o que aconteceu.
- Tudo começou como uma conversa aparentemente normal. Porém, a senhorita Annaelise começou a insultar a Santa, atacando sua linhagem. - Ele faz uma pausa, escolhendo as palavras com cuidado. - Até que... a Santa se enfureceu. Contudo, ao invés de revidar os insultos contra Annaelise, ela se voltou contra si mesma.
- Contra si mesma? - meus lábios formam um sorriso enviesado, mas meu olhar se estreita com interesse. - Ela se feriu?
Isso é curioso, no mínimo. A Santa nunca me pareceu alguém que perderia o controle, especialmente diante de provocações tão mesquinhas. Há algo por trás disso. Algo que ela está tentando esconder.
- E depois? Foi só isso?
- Sim, mas algumas empregadas começaram a insultá-la também, zombando de sua atitude.
- Demita todas. - Minha voz sai fria e calculada. - Aliás, não. Isolem-nas. Levem para um lugar onde não possam falar... nunca mais.
O silêncio do meu conselheiro denuncia sua hesitação.
- Vossa Majestade... se algo acontecer a essas empregadas, a Santa será prejudicada. Irão pensar que foi ela quem ordenou isso. Inclusive... muitos já acreditam que foi ela quem atacou Annaelise.
- E? - arqueio uma sobrancelha, desinteressado.
- Não deveria... defender a futura imperatriz?
Um sorriso cínico se forma em meus lábios. Defender Ela? Annaelise finalmente fez algo útil além de me arrastar para aquelas ridículas festas de chá. Mas o que realmente importa aqui não é ela.
É a Santa.
Se ela achava que poderia me evitar ou, pior, sobreviver sem mim neste palácio, está redondamente enganada. Quero que ela entenda o lugar dela - e o lugar dela é ao meu lado, submissa, silenciosa.
Sem a minha proteção, esse castelo é um labirinto de sombras e ameaças. Quero vê-la quebrada o suficiente para perceber que sua única salvação sou eu. Ela precisa de mim. Deve depender de mim para tudo. E, quando finalmente se dobrar, será exatamente onde quero que ela esteja.
Passo os dedos pelo braço da poltrona de veludo, sentindo o tecido macio enquanto minha mente trabalha. Annaelise, em sua tentativa de me agradar, plantou uma semente valiosa. Agora, resta saber como poderei regar essa situação para que floresça em meu favor.
- Diga-me, como a Santa reagiu após isso tudo?
Meu conselheiro hesita, como se pisasse em terreno frágil.
- Ela se retirou imediatamente. Disseram que ela estava calma e neutra diante da situação, ela não falou nada pra se defender apenas ficou calada.
Isso é interessante. Provavelmente está fingindo que isso não deixou ela abalada, ou será que ela pensa que essa confusão pode ser um benefício?
- E Annaelise?
- Voltou para seus aposentos como se nada tivesse acontecido. - Ele faz uma pausa. - As criadas relataram que ela estava... sorrindo.
Sorrindo. Claro que estava. Annaelise é uma jogadora habilidosa, mas subestima as regras deste tabuleiro.
- Certo. Por ora, quero que Annaelise continue pensando que está vencendo. Não interfira. Mas certifique-se de que tudo o que ela faz chegue aos meus ouvidos antes de chegar a qualquer outro lugar.
- Como desejar, Vossa Majestade.
O conselheiro faz uma reverência e se retira, deixando-me sozinho com meus pensamentos. A sala está mergulhada em uma penumbra dourada pela luz das velas. A quietude é reconfortante, mas meus pensamentos são tudo menos tranquilos.
A Santa, com sua pose de santidade e perfeição, está começando a se desfazer. Isso era inevitável. Não há como alguém sobreviver a este lugar intacto. Ela precisa entender que o mundo fora do Domo de Cristal é diferente, e que aqui, neste palácio, a sobrevivência depende de escolhas calculadas.
Ela não tem aliados. E isso... é exatamente como deve ser.
Levanto-me da poltrona e caminho até a janela. A noite se espalha como um véu escuro sobre o reino, mas a luz da lua reflete nas torres do palácio, lembrando-me do domínio que possuo.
- Vamos ver quanto tempo você resiste, minha Santa. - murmuro para mim mesmo, com um sorriso que não alcança os olhos.
Ela aprenderá. Não porque eu quero. Mas porque ela não terá escolha.
As palavras do conselheiro ecoam em minha mente, e um sorriso involuntário se forma em meus lábios. Annaelise, com sua língua afiada, serviu a um propósito maior do que imaginava. Talvez seja a primeira vez que algo útil sai dela.
Ela é tão imprevisível quanto intrigante. O que a teria levado a ferir a si mesma diante de insultos tão mesquinhos? Sempre acreditei que ela fosse mais resistente, mais controlada.
Isso me incomoda.
Se ela não for forte o suficiente para suportar algo tão insignificante, como poderá sobreviver às tempestades que a esperam no futuro? Como poderá cumprir o papel que exige não apenas obediência, mas uma força silenciosa para resistir aos olhos do mundo?
Dou um longo suspiro, levantando-me. A solução é clara. Se ela não for forte, farei dela alguém forte. Mesmo que isso signifique destruir qualquer resquício de liberdade que ela acredita ter.
- Diga ao capitão da guarda que quero que a segurança ao redor da santa seja reforçada.
- E também envie uma mensagem à minha futura imperatriz. Quero vê-la pessoalmente em 3 dias.
- Sim Vossa Majestade.
O homem assente e sai rapidamente, deixando-me sozinho com meus pensamentos. Há um jogo sendo jogado aqui, e cada peça precisa estar no lugar certo. Annaelise, a corte, os conselheiros, e até mesmo a própria Santa.
O que ela precisa entender, o que todos precisam entender, é que nada aqui acontece sem o meu consentimento. E quando ela finalmente perceber isso, será tarde demais para escapar.
Eu serei seu único refúgio. E, no momento em que ela cair de joelhos, não será por desespero, mas por aceitação. Esse será o dia em que ela, enfim, se tornará minha.
Só preciso apenas deitar e esperar até que ela venha até mim implorando para ser salva...
- Vossa majestade. - O guarda de fora me chama. - O médico que ocidente acabou de chegar e deseja uma audiência.
Esse homem finalmente chegou, depois de longos dias de espera. Espero que ele tenha respostas melhor dessa.
- Mande o entrar. - Respondo de forma neutra.
Os guardas abrem a porta e dão passagem para que esse homem pudesse entrar em meu escritório.
- Vossa Majestade, quanto tempo. - Ele me saúda.
- Se você veio provavelmente tem respostas, certo? - O olho de forma séria.
- Não exatamente. - Ele tira os meus pés do sofá em que estou deitado e se senta ao meu lado.
- Parece que você tem melhorado desde a última vez que te vi.
- Um pouco. - Respondo indiferente.
Médico é apenas um disfarce para esse homem. O nome dele é Emiliano Delvis, ele é um famoso feiticeiro responsável por um nível de magia grandíssimo. Ele tem me ajudado durante anos desde o meu retorno.
- Bem, me contem como tem sido a sua maldição durante esses últimos anos em que estive fora.
- Tem se tornando cada vez insuportável suportar essa desagradável situação. Mas algo mudou recentemente.
- Mudou? - Ele ficou confuso.
- Acho que finalmente encontrei a mulher que irá quebrar a minha maldição. - Digo um pouco despreocupado enquanto olho para a janela.
Emiliano fica sem silêncio por alguns instantes, isso me parece estranho então volto o meu olhar a ele, mas quando vejo ele está com uma expressão estranha.
- Que orgulho! - Ele diz contente. - Finalmente encontrou alguém que não te ache um cafajeste! Quem é a mulher? Me conte!
- Eu não sou cafajeste! - Respondo indignado.
- Me conte quem é a mulher. - Ele me olha fixamente.
- Ela é a santa recém descoberta pela igreja, a conheço desde quando ela era criança.
- O quê? - Ele me olha de um jeito estranho. - Não sabia que o seu novo gosto era criança, além de cafajeste é pedófilo.
- Comecei a sentir atração por ela quando ela completou a sua mocidade, crianças não me atraem, seu idiota. - Usando magia derrubou um pequeno livro em sua cabeça.
- Aiaiaiai. - Ele coloca a mão no local da lesão. - Desde quando o império tem uma santa? Me lembro que as santas tinham sumido.
- Última vez que você veio era dessa forma, mas 5 anos depois da sua partida a igreja achou essa garota. - Respondo saindo da minha posição deitado para me sentar no sofá.
- Faz sentido. Mas não pensei que uma santa voltaria para esse reino, Deus finalmente teve pena do povo? - Vejo a sua curiosidade.
- Não faço ideia do que a igreja está pensando, mas provavelmente a minha teoria pode estar certa.
- Teoria?
- Lembra daquela vez em que te contei que meu pensamento era que a igreja estava escondendo a santa para assustar o povo?
- Me lembro, mas eu não acho que eles seriam tão corruptos assim.
- Eu não duvido nada, mas não tenho provas para culpar eles.
- Mas fale sobre essa mulher. ‐ Emiliano dá leves tapinhas nas minhas costas. - Como ela fez a sua maldição ter uma brecha?
- Não faço ideia. Me lembro que depois de vê-la como uma criança eu não sentia nada por ela, mas quando a vi novamente em seu aniversário de 15 anos... - Eu senti uma coisa estranha, quando eu a vi. O meu coração começou a esquentar muito, me lembro que até mesmo caí no chão naquele dia, me disseram que tive uma febre alta e passei 3 dias acamado.
- Deve ser a reação da maldição, parece que ela realmente é a mulher da maldição da bruxa. - Ele responde com um sorriso maléfico.
- Você se lembra da maldição, né? - Por teu desejo ardente e profundo, Eu te amaldiçoo, demônio imundo! Verás uma mulher que fará tua alma ferver, Como um poço onde teus desejos vão se perder. - Mas se tardarás em encontrá-la no caminho, O fogo em teu peito te tornará sozinho. Consumido em chamas, por teus próprios anseios, Morrerás prisioneiro dos teus devaneios.
- Você adora repetir isso toda vez que me ver. - Digo com desdém.
- É engraçado te lembrar, se você não fosse tão cafajeste uma bruxa não teria te amaldiçoado seu animal. - Ele comentou com sarcasmo.
- Aquela mulher não era uma bruxa. - Contra-ataco seu argumento.
- Mas se tornou uma porque você adora testar as mulheres. - Ele cruza os braços.
- Falando nela, você ainda não achou? - Pergunto curioso.
- Nenhum rastro dela. - Ele solta uma leve risada. - Somente ela ou essa santa podem te dar herdeiros, seria mais eficiente se você tivesse um herdeiro decente de bruxa mas o decente de uma santa não é ruim, como eu disse assim essa bruxa...
- Não é uma bruxa qualquer, eu sei disso.
- Ela era uma bruxa com poderes sobrenaturais, se você tivesse tido um filho com essa mulher, com certeza teria um herdeiro poderoso.
- Você sabe que a consciência desse corpo me impediu, senão eu teria consumido isso.
- Bem, isso não é problema meu. - Ele se levanta. - Se deite com essa mulher o mais rápido possível, senão as suas dores e febres irão permanecer te atormentando.
- Isso é complicado.
- Zeus, você já fez merda demais enquanto a recompensa estava na sua frente. - Você precisa ter um herdeiro logo ou a sua linhagem vai acabar por um erro insignificante seu.
- Mas fico feliz que o meu Aprendiz finalmente encontrou uma forma de quebrar a sua maldição erótica. - Ele envolve o seu braço no meu pescoço enquanto bagunça o meu cabelo.
- Pare com isso, seu velho! - Digo indignado.
- Eu sou só 10 anos mais velho que você meu jovem gafanhoto! - Ele diz de um jeito infantil.
- Independente seu velho lixo.
- Mas falo sério, tenha um filho com essa mulher logo. - Ele me solta.
- Eu vou ter, só tenha paciência.
Ele fica em silêncio por alguns minutos, parece que ficou surpreso pelo que falei. Em seguida, um sorriso abre em seu rosto.
- Parece que essa mulher realmente vai quebrar a sua maldição.
- O que você quer dizer com isso? - Pergunto confusa.
Emiliano senta novamente no sofá com um olhar que mistura seriedade e diversão, algo que sempre me irrita profundamente.
- O que quero dizer, meu caro, é que nunca o vi tão... decidido. - Ele apoia o cotovelo no joelho e o queixo na mão, encarando-me com seus olhos ardilosos. - Você sempre foi indeciso quando se tratava de mulheres. Sempre as via como peças descartáveis, mas agora... parece que encontrou uma que realmente importa.
- Ela não me importa. - Respondo, cruzando os braços. - Ela é só um meio para um fim.
- Claro que sim. - Ele ri com sarcasmo. - E é por isso que está aqui falando dela, pensando nela, e claramente atormentado pelo que ela provoca em você.
Eu estreito os olhos, meu tom torna-se ameaçador.
- Cuidado, Emiliano. Você não está aqui para questionar minhas intenções.
Ele ergue as mãos, em um gesto de rendição, mas ainda com aquele sorriso irritante.
- Tudo bem, tudo bem. Não vou questionar mais. Só estou dizendo que talvez... - Ele faz uma pausa dramática. - Talvez a maldição não seja o único motivo pelo qual ela ocupa tanto espaço em sua mente.
Ignoro o comentário e volto minha atenção para a janela. A noite ainda está profunda, e o vento frio começa a soprar, agitando as cortinas.
- E você, conseguiu identificar alguma coisa sobre o poder dela? - Ele perguntou, desviando a conversa.
- Ainda não, mas posso afirmar que ela é única. A linhagem dela carrega algo especial. É quase como se a própria existência dela fosse uma exceção às regras deste mundo.
- Mas tome cuidado, Zeus. - Ele diz, em um tom mais sério do que o habitual. - Essas mulheres que carregam o destino nos ombros nunca são fáceis de lidar. Se você acha que pode controlá-la, pode acabar se queimando antes que perceba.
- Você sabe muito bem disso, pois já teve a mesma experiência no passado com aquela bruxa.
- Eu controlo tudo neste reino. - Respondo friamente. - Ela não será exceção.
Ele suspirou, levantando-se do sofá e ajeitando as roupas.
- Muito bem, já fiz o que precisava aqui. Vou preparar algumas poções para aliviar suas dores... por enquanto. Mas não se esqueça, Zeus: o tempo está contra você.
Ele caminha até a porta, mas antes de sair, lança-me um último olhar, agora completamente sério.
- E se eu fosse você, cuidaria bem dessa santa. Ela pode ser sua salvação... ou sua ruína.
Com isso, ele desaparece no corredor, deixando-me sozinho novamente.
Minha mente, porém, não está em silêncio. As palavras de Emiliano reverberam em minha cabeça, despertando um incômodo que não consigo ignorar.
Ruína ou salvação.
A verdade é que ambas as coisas têm o mesmo efeito. Ambas me farão depender dela, algo que eu não estou disposto a aceitar.
Mas não importa. Tudo será como deve ser. Afinal, nada nem ninguém escapou ao meu controle até hoje. Ela será minha - não porque eu a desejo, mas porque o destino exige isso.
E se o destino não cooperar, eu o moldarei com minhas próprias mãos.
๑ ⋆˚₊⋆────ʚ Continua ɞ────⋆˚₊⋆ ๑