A paisagem do céu era uma piada de mau gosto.
As ruas douradas haviam se tornado rachadas e manchadas de carmesim, os templos desabaram sobre si mesmos, e o ar sagrado, antes impregnado de cânticos angelicais, agora cheirava a carne apodrecida. Cada passo que dávamos fazia o chão gemer, como se o próprio paraíso chorasse por sua ruína.
E eu sorri.
Porque não era ruína. Era libertação.
— Vocês já pararam pra pensar que temos o maior dos poderes? Não os de fantasias, nem nada disso.
Os Pecados, que caminhavam comigo, me encararam.
— Como assim? — perguntou Gula, lambendo os lábios ensanguentados.
— Nós temos o poder de mudar o destino.
Silêncio.
Pecado após pecado absorveu minhas palavras, cada um à sua maneira.
Avareza segurou um pedaço de ouro caído entre os destroços e o observou com desdém.
— Eles venderam suas almas por promessas de um paraíso. E agora? O que resta além de destroços e desespero?
— A ilusão de que a virtude pode existir sozinha — disse Preguiça, bocejando enquanto chutava o cadáver de um ex-santo. — Mas a virtude nunca existiu. Sempre foi só medo disfarçado.
— Eles quiseram um céu sem pecado — acrescentou Inveja. — Mas o que encontraram? 117 bilhões de pecadores.
— E agora restam apenas dois mil — completei. — Dois mil sobreviventes, escondidos entre ruínas e cadáveres, esperando por um Deus que nunca voltará.
Ira estalou os dedos. Seus olhos brilhavam com a fúria de um tempo esquecido.
— Ele nunca esteve aqui.
— E se estivesse, por que nos deixou sair? — sussurrou Luxúria, um sorriso lânguido nos lábios. — Por que deixou Void cair? Por que abandonou o céu?
— Talvez porque nunca houve um céu para ser abandonado — respondi.
Nosso caminho era traçado por corpos despedaçados, por rostos congelados em expressões de horror ou êxtase. Não importava. O destino deles já havia sido decidido.
Nós éramos esse destino.
O céu se dobrava diante de nós.
Não pela força, mas pela inevitabilidade.
A cada esquina, a cada ruína, os últimos sobreviventes do paraíso nos fitavam com olhos que já não carregavam fé, apenas medo. Alguns tentavam correr, mas não havia para onde ir. Outros, ajoelhavam-se e rezavam, suplicando para que os poupássemos.
O silêncio era o único milagre que receberam.
Mas eu não estava mais interessada neles.
Eu já sabia o que eram.
E sabia o que eu era.
— Diga-me, Naka — Preguiça murmurou, andando ao meu lado como se o peso da eternidade o esmagasse —, por que a imoralidade? Por que escolher um caminho onde ninguém pode lhe seguir?
Eu ri. Um riso curto, sem humor.
— Porque eu nunca fui suficiente.
Meus pés pisaram sobre um crânio estilhaçado.
E então, por um instante, tudo desapareceu.
O presente se dissolveu na névoa do passado.
Antes de ser a destruição do céu, antes de me tornar a sombra de um mundo quebrado.
Eu nasci para ser esquecida.
Nunca fui a primeira opção de ninguém. Não fui a criança que trouxe orgulho aos pais, nem a amiga que alguém escolheria para dividir segredos. Não fui o nome que vinha à mente quando precisavam de ajuda. Eu era o que restava.
E quando você é a segunda opção por tempo suficiente, começa a acreditar que nunca deveria ter existido.
O mundo me empurrava para o fundo sem nem perceber. Eu era ignorada não por ódio, mas por indiferença. E essa indiferença me corroía mais do que qualquer desprezo poderia. Porque ser odiada significa que, pelo menos, você causou um impacto. Mas ser ignorada... isso é ser nada.
Lembro-me da escola, dos professores que passavam os olhos por mim sem nunca me perguntar nada. Dos colegas que só se lembravam do meu nome quando precisavam de um favor. Lembro-me de como minha própria família falava de mim como se eu fosse um móvel, algo presente, mas irrelevante.
Meu irmão, mais velho e brilhante, sempre foi o centro das atenções. Ele era inteligente, carismático, decidido. Eu era apenas uma sombra sem forma ao lado dele.
Uma sombra não pode reclamar de ser ignorada. Uma sombra não pode exigir atenção.
Mas uma sombra pode aprender a engolir a luz.
A primeira vez que pensei em matar alguém, não foi por raiva.
Foi por curiosidade.
Eu queria saber se, ao tirar a vida de outra pessoa, eu sentiria algo. Se, por um instante, eu deixaria de ser um fantasma e me tornaria real.
Mas hesitei.
Não porque me importava com a moralidade. Mas porque eu sabia que ninguém notaria. Se eu matasse um desconhecido, ninguém se importaria. Se eu sumisse com um indigente, o mundo seguiria igual.
Então, escolhi um alvo que importava.
Um político.
Candidatos mentem com tanto cinismo que parecem até verdade.
Onde a miséria é a verdade, e a promessa é a mentira.
Alguém cujo nome estava nos jornais, alguém cuja ausência seria sentida, cuja morte causaria ondas.
Eu queria ver se, ao matar alguém que importava, eu me tornaria importante.
E assim, pela primeira vez, o mundo me olhou.
O assassinato foi notícia. Meu nome não apareceu, mas minha existência foi sentida. Pessoas falavam sobre mim sem saber quem eu era. Políticos temiam pelo próximo alvo. O governo prometia encontrar o responsável.
Eu tinha me tornado uma ideia.
E ideias são imortais.
Eu matei de novo. E de novo.
Não por vingança, não por ideologia. Mas porque eu queria continuar existindo.
A cada corpo que caía, eu sentia que estava roubando um pedaço do mundo para mim.
Mas não importava quantos eu matasse.
Eu continuava sendo a segunda opção.
Porque mesmo quando me procuravam, estavam mais preocupados em proteger os vivos do que em encontrar a responsável pelos mortos.
Eu ainda era um detalhe.
Ainda era nada.
E foi então que percebi.
O problema não era o mundo.
Era a moralidade.
Era essa ilusão coletiva que fazia as pessoas acreditarem que a vida tinha um significado, que o certo e o errado existiam.
Se eu queria deixar de ser esquecida, eu não precisava apenas matar pessoas.
Eu precisava matar a própria moralidade.
E foi assim que nasceu a minha filosofia.
Tive pessoas que dividiam sangue comigo, mas nunca houve laços. Havia apenas conveniência.
Minha mãe me via como um erro. Uma gravidez indesejada que arruinou seus planos de ascensão social. Meu pai não passava de um fantasma dentro de casa, um homem que se resignou à mediocridade e nunca olhava para mim por mais de alguns segundos. Mas meu irmão...
Ele era tudo que eu não fui.
Orgulho da família, futuro brilhante, centro das atenções. Desde criança, ele sabia manipular as pessoas, arrancar delas exatamente o que queria. Mas sua ambição nunca foi grande o bastante. Ele queria status, poder, uma posição alta dentro do sistema.
Eu queria quebrar o próprio sistema.
— Você devia parar de tentar ser alguém, Naka — ele me disse uma vez. — Algumas pessoas simplesmente não nasceram para isso.
Foi naquele dia que decidi que não apenas seria alguém.
Eu destruiria todos que achavam que podiam me dizer o contrário.
Meu primeiro golpe não foi com uma arma. Foi com a verdade.
As pessoas acreditam em mentiras porque elas são confortáveis. Eu aprendi que não precisava criar uma mentira melhor. Só precisava arrancar o véu e mostrar a realidade.
Comecei com informações. Pequenos vazamentos. Esquemas de corrupção, desvios de verba, traições internas. Cada fato era verdadeiro, mas eu os soltava de maneira calculada, direcionando a narrativa.
O governo começou a tremer.
As pessoas viam apenas fragmentos. Pedaços soltos de um quebra-cabeça. Mas então, quando o caos se tornou inevitável, eu juntei as peças e as entreguei ao mundo.
O país descobriu que era governado por assassinos, ladrões e parasitas.
E eu?
Eu só precisei esperar.
Os cidadãos, que antes aceitavam sua servidão, começaram a se perguntar por que estavam obedecendo. Por que pagavam impostos para financiar os luxos de poucos. Por que morriam em guerras criadas para encher os bolsos de outros.
Foi um incêndio que não precisei acender.
Só precisei mostrar que o fogo sempre esteve lá.
Meu irmão tentou negociar. Ele não sabia que eu estava por trás de tudo. Achava que eu ainda era a sombra insignificante de sempre.
— Naka, você não entende. Se o governo cair, o que virá depois? Você acha que vai ser melhor?
— Não.
Ele ficou em silêncio.
— Então por que está fazendo isso?
— Porque o mundo precisa se lembrar do que ele realmente é.
Ele riu. Um riso nervoso, quebrado. Pela primeira vez, ele estava com medo.
— Você não tem um plano. Você só quer destruir tudo.
— Sim.
— Você é um monstro.
— Você também. Só que eu não finjo ser outra coisa.
A revolução já estava nas ruas quando ele entendeu.
Eu não estava tentando tomar o poder. Eu estava jogando fora a própria ideia de poder.
E quando a sede do governo pegou fogo, quando os líderes tentaram fugir, quando o povo se virou contra seus próprios ídolos, eu apenas observei.
Porque o que eu queria já havia sido feito.
A verdade havia sido libertada.
E não havia mais volta.
O governo estava caindo, mas o mundo não se torna livre apenas porque suas correntes foram quebradas. Os fracos não querem liberdade. Querem um novo mestre.
E eu nunca fui uma salvadora.
As ruas eram um abismo. O caos não era apenas uma consequência do meu golpe. Ele era a verdade nua e crua do que sempre fomos. Quando não há ordem para restringir, os homens mostram sua verdadeira natureza.
As primeiras vítimas foram os símbolos do velho regime. Políticos foram arrancados de suas casas e enforcados em postes. Ricos tiveram suas mansões incendiadas, arrastados para fora enquanto gritavam por misericórdia.
Mas misericórdia havia morrido junto com o governo.
A cidade, outrora um ícone de civilização, agora pulsava como uma criatura faminta, devorando a si mesma.
E eu caminhei entre os destroços.
O primeiro golpe veio de um pedaço de ferro. Uma mulher, suja de cinzas, com o rosto contorcido de ódio, acertou minha perna com força suficiente para me fazer cair.
— VOCÊ NOS FEZ ISSO!
Outros vieram. Chutes, socos, pedras.
Eles não sabiam quem eu era. Mas sabiam que eu fazia parte disso. E isso era o suficiente.
— Meu filho está morto por sua culpa!
— Meu marido foi queimado vivo!
— Você destruiu tudo!
Eu ri. Um riso seco, sem humor.
— Eu não fiz nada disso. Vocês fizeram.
A multidão hesitou.
— Eu apenas mostrei a verdade. Foram vocês que decidiram o que fazer com ela.
Eles me odiavam porque não podiam mais se esconder atrás de desculpas. Porque, pela primeira vez, estavam livres para agir como queriam.
E o que queriam era matar, roubar e destruir.
As ruas eram um livro aberto das profecias mais antigas.
O céu se tingiu de vermelho com as chamas dos prédios em colapso. Pessoas fugiam como animais desesperados, enquanto os mais fortes se tornavam predadores.
Pais comiam os próprios filhos, pois a fome já não conhecia limites. Mulheres grávidas abriam os próprios ventres para impedir que novas vidas nascessem nesse inferno.
As águas dos rios ficaram púrpuras, misturadas ao sangue dos inocentes e culpados.
Crianças que antes brincavam nas praças agora rasgavam a carne de estranhos com as mãos nuas, rindo como se fosse um jogo.
A praga veio logo depois. A decomposição começou antes mesmo da morte.
Cadáveres caminhavam, não porque estavam vivos, mas porque ainda eram saqueados, estuprados, profanados.
Os lobos voltaram para as cidades. Não os de carne e osso, mas os de dentro.
E acima de tudo, o silêncio de Deus.
Nada interrompeu o colapso. Nenhum milagre, nenhum anjo, nenhuma voz celestial.
Eu sentei no centro disso tudo, sentindo cada osso quebrado em meu corpo, cada corte, cada hematoma.
E sorri.
Porque aquilo era a Imoralidade.
Não um erro, não uma falha da humanidade. Mas sua forma mais pura.
Eles podiam me odiar o quanto quisessem. Mas no fundo, sabiam que eu estava certa.
Eu já não sentia meu corpo. O frio havia desaparecido, o calor também. Não havia dor, nem alívio. Apenas a sensação de um vazio absoluto que não vinha de fora, mas de dentro.
O mundo me rejeitou. A moralidade me cuspiu para fora como algo impuro, algo que não deveria existir. E agora, não havia mais chão sob meus pés. Não havia mais direção.
Eu caía.
E o Inferno me engolia.
O que acontece quando se ultrapassa o limite da existência?
O fogo eterno? Os gritos de almas condenadas? As correntes de tortura sem fim?
Nada disso.
O Inferno era silêncio.
Eu abri os olhos—ou talvez nunca os tivesse fechado. Diante de mim, um deserto de sombras se estendia até onde a percepção conseguia alcançar. O horizonte não existia. O tempo não existia. O próprio espaço parecia ser uma piada cruel, dobrando-se sobre si mesmo como se estivesse rindo da minha tentativa de entendê-lo.
E então, a escuridão se moveu.
Não como algo físico, mas como um pensamento que de repente se torna real. Formas sem forma surgiam ao meu redor, borrões de algo que um dia já teve significado, mas que agora eram apenas ecos do que já existiu.
Eles sussurravam.
Eu não compreendia as palavras, mas compreendia o que elas significavam.
"Mais uma."
"Outra errante."
"Outra que acreditou que havia algo além."
E eu ri.
Porque, pela primeira vez, eles estavam certos.
Eu não procurei redenção.
Eu não procurei castigo.
Eu não procurei respostas.
Eu procurei a verdade.
E a verdade estava aqui.
Meus pés tocavam um chão que não deveria existir. Um chão que tremulava como água, mas se sustentava como pedra. O ar era denso, mas não sufocante. Cada passo ecoava em minha mente, como se o próprio espaço estivesse prestando atenção em mim.
Sons distantes se fundiam no horizonte sem forma. O choro de uma criança. O rugido de um animal. O eco de orações esquecidas.
Eu continuei andando.
As sombras se dobravam ao meu redor, tentando me envolver, tentando me fazer parte delas. Mas eu não lutei. Não resisti.
Eu me deixei envolver.
E então, eu vi.
Vi reis se ajoelhando diante de tronos vazios. Vi profetas apagando suas próprias palavras, aterrorizados com o peso da mentira que espalharam. Vi homens e mulheres tentando escalar paredes que levavam a lugar nenhum, suas mãos sangrando contra a rocha fria.
E então, vi os que desistiram.
Eles não gritavam. Não choravam.
Eles apenas existiam.
Não havia punição aqui.
Havia apenas a realização do que sempre foi.
O Inferno era um campo de destruição, onde a carne humana não valia mais nada. O ar estava saturado com o cheiro de podridão, de ossos quebrados e sangue seco. Não havia céus, nem chão, nem limites. A terra tremia sob o peso da dor, e os corpos caídos se misturavam, esmagados uns contra os outros, em uma pilha de desespero e loucura. A vida já não tinha sentido, nem sequer a sobrevivência. O único instinto que restava era a fome — uma fome insaciável, que não se saciava com carne, mas com a destruição total do outro.
Homens, mulheres e crianças estavam todos reduzidos à mesma monstruosidade. Suas mãos, antes capazes de criar e abraçar, agora eram garras, arrancando pedaços de carne e vísceras dos corpos ao redor. Não havia mais humanidade. Não havia mais compaixão, apenas o grito selvagem e a urgência de consumir, de se alimentar da dor do próximo, porque a dor era a única coisa real ali. Os olhos vazios observavam, sem compreender, sem sentir — só a fome, o vazio. As feridas nos corpos não eram mais feridas, mas cicatrizes que falavam da perda de qualquer dignidade, de qualquer restício de uma alma. O sofrimento era o único elo entre os que restavam.
As crianças, essas criaturas que deveriam representar a pureza, estavam agora manchadas pela mesma dor, pela mesma depravação. Elas viam seus próprios corpos sendo violados, mutilados, em uma dança macabra de prazer e sofrimento. O que deveria ser inocente se transformava em carnificina. Elas não eram mais crianças, mas apenas carne em pedaços, usadas e descartadas com um olhar vazio de qualquer tipo de remorso. Seus olhos não viam mais o futuro, mas apenas o reflexo de uma realidade onde o tempo não passava, porque o sofrimento era eterno. A criança não existia mais; restava apenas a dor sem fim.
Mulheres — ou o que restava delas — tratavam seus filhos como nada mais que brinquedos, pedaços de carne à disposição. Seus corpos estavam dilacerados, deformados pela fome, pela dor, pelo tempo. Não havia mais amor, só desejo. Elas usavam seus filhos para satisfazerem seus próprios instintos animalescos, sem um pingo de humanidade, sem um traço de afeto. Seus olhos, uma mistura de desespero e prazer, refletiam uma loucura tão profunda que já não restava mais diferença entre as vítimas e os algozes. O ato mais cruel, o mais monstruoso, era o mais íntimo: o sangue compartilhado com quem deveria ser o refúgio, com quem deveria ser o único consolo. Mas ali, no Inferno, nada mais fazia sentido. Nada mais era errado. Porque a única regra era a sobrevivência — e a sobrevivência não tem moral, não tem piedade.
E eu? Eu estava ali, perdido entre eles. O caos não era uma coisa à parte. Ele era eu. Cada fragmento de dor, cada pedaço de carne arrancado, cada suspiro de desespero, eu era isso. O Inferno não era algo que me foi imposto. Ele era o que eu sou. O sofrimento, a brutalidade, a destruição, tudo isso era uma extensão da minha própria existência. Não havia distinção. Eu não era mais uma mulher. Não havia mais humanidade em mim. O Inferno era apenas a realidade nua e crua daquilo que sempre fomos: monstros, todos nós, disfarçados com máscaras de civilização, esperando apenas o momento certo para rasgar a pele e mostrar o que realmente somos.
Não há redenção aqui. Não há salvação. Porque, no fim, o Inferno não está no fogo, nem nas chamas. O Inferno está dentro de nós, no instante em que percebemos que somos a dor. Somos o pecado, a destruição, a mentira. O Inferno começa quando você entende que a vida nunca foi sobre o que você fez, mas sobre o que você é. Porque todos nós somos capazes da mesma monstruosidade, da mesma brutalidade. A verdadeira prisão é saber que você nunca escapou de si mesmo.
O ser humano é a única criatura que precisa se convencer de que é diferente da besta, quando, na verdade, sua moralidade é apenas um verniz frágil sobre um abismo de desejo, violência e caos. Não somos civilizados — somos apenas monstros que aprenderam a mentir para si mesmos.