Entre sombras e esperanças

Capítulo 4: Entre Sombras E Esperanças

Helena despertou com o cheiro suave de ervas e chá pairando no ar. Seu corpo estava pesado, como se o sono tivesse sido mais profundo do que o normal. Pisquejou algumas vezes, tentando se situar. O teto de madeira envelhecida e as cortinas finas, que deixavam a luz da manhã invadir o quarto, não lhe eram familiares.

Ao seu lado, Isolde dormia profundamente, os cachos dourados espalhados pelo travesseiro. A respiração de sua irmã era tranquila,mas os pensamentos de Helena estavam meio confusos.

Tentando se recompor, ela se sentou devagar, sentindo a textura macia do cobertor deslizar por seus braços. No momento em que seus pés tocaram o chão frio, a porta rangeu e Eleonor entrou, equilibrando uma bandeja com pão quente e um bule fumegante.

— Finalmente acordou — disse a senhora Eleonor,com um sorriso divertido nos lábios. — Já estava começando a achar que dormiria para sempre.

Helena franziu o semblante e passou a mão pela testa, sentindo um leve cansaço persistente.

— Quanto tempo dormi?

Helena perguntou.

— Um dia inteiro. Chegou aqui exausta. Sua irmã acordou algumas vezes, mas logo voltava a dormir.

Helena olhou para Isolde novamente, sentindo um estranho peso no peito. Tudo ainda parecia surreal. O que fariam agora? Para onde iriam?

— O que aconteceu depois que cheguei? — perguntou, tentando organizar os pensamentos.

Eleonor colocou a bandeja sobre uma mesa próxima e cruzou os braços.

— Não muita coisa... Mas acho que a notícia que mais lhe interessa... — Ela fez uma pausa intencional, observando a reação da jovem. — O príncipe esteve aqui.

O coração de Helena disparou.

— Eduardo?

Eleonor assentiu.

— Sim. Parece que ele não conseguiu ficar longe por muito tempo.

O nome dele ecoou na mente de Helena, trazendo de volta as memórias do último encontro. O destino parecia determinado a cruzar seus caminhos novamente, e ela não sabia se estava pronta para isso.

Helena sentiu um nó se formar em seu estômago ao ouvir o nome de Eduardo. O simples fato de ele ter estado ali, próximo, despertava uma mistura de emoções que ela ainda não conseguia compreender completamente.

— Onde ele está agora? — perguntou, tentando manter a voz firme, embora soubesse que cada palavra parecia carregar um peso.

Eleonor sorriu enigmaticamente, colocando a xícara de chá sobre a mesa antes de responder.

— Foi embora há algumas horas. Disse que voltaria quando você estivesse bem, mas que preferia não te incomodar enquanto estivesse descansando.

Helena olhou para a xícara fumegante, a mente cheia de perguntas. Por que ele havia ido embora? E o que ele queria dizer com "quando você estiver bem"? Não sabia se deveria se sentir aliviada ou ansiosa. O pensamento de encontrá-lo novamente a fazia sentir uma urgência crescente, mas também uma cautela que ela não entendia completamente.

— E o que mais ele disse? — Helena perguntou, ainda tentando decifrar as intenções do príncipe.

Eleonor deu de ombros, como se a resposta fosse óbvia.

— Nada demais. Só perguntou como você estava e... mencionou que o reino de Harvel estava diferente, mais... sombrio.

As palavras caíram pesadas sobre Helena. Algo na maneira como Eleonor falava sobre o reino de seu pai fazia o ambiente parecer ainda mais carregado. Ela não estava certa se aquilo era apenas um boato ou se havia algo de real na mudança de atmosfera, mas sabia que o comportamento do rei Ragnar, e o tratamento que ele dava a ela e a Isolde, já causavam murmúrios. Boatos sobre crueldade, sobre como ele tratava suas filhas — como se fossem apenas peças em seu jogo de poder — tinham se espalhado por todo o reino.

Ela olhou para Isolde, que ainda dormia, alheia aos tumultos que envolviam o destino delas. Por um momento, Helena se sentiu como se estivesse em uma encruzilhada, com as opções mais obscuras diante de si. Não poderia ignorar o peso da responsabilidade, nem o crescente mal-estar que tomava conta do reino.

— O que estão dizendo sobre meu pai? — perguntou, a voz mais baixa, como se temesse a resposta.

Eleonor respirou fundo, antes de olhar para Helena com um ar sério.

— Que ele está perdendo o controle. As histórias sobre como ele tratou Isolde, a maneira como você foi mantida sob sua sombra... tudo isso está gerando rumores. E, como sempre, as pessoas falam mais do que devem. Seu pai... bem, ele não tem mais o apoio que costumava ter. E as tensões estão crescendo.

Helena sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Não era só a verdade sobre seu pai que a incomodava, mas o que isso significava para o futuro de Harvel. O reinado de Ragnar estava em risco, e ela sabia que ele não hesitaria em usar todos os meios ao seu alcance para manter o poder.

Ela olhou novamente para Isolde, a irmã que, de repente, parecia muito mais importante do que ela havia imaginado. O destino delas, de alguma forma, estava entrelaçado com o futuro do reino, e Helena precisaria ser mais astuta do que jamais foi para lidar com o que estava por vir.

— Eu sei o que preciso fazer — respondeu com determinação. — O reino está se fragmentando, e eu não posso permitir que isso se agrave. Vou encontrar Eduardo, e dessa vez... será mais do que apenas um encontro. Harvel está em perigo, e nós também.

Eleonor observou, com um sorriso de aprovação.

— Então, vá em frente, minha querida. Disse a senhora Eleonor.

Helena, com o peso das responsabilidades sobre seus ombros, decidiu que precisava de um momento para se abrir e encontrar alguma clareza. Então, ela pegou a mão de sua irmã Isolde e, juntas, partiram rumo ao Palácio de Eduardo, no reino de Yuna. Isolde, como sempre, estava animada, correndo pela carroagem e maravilhada com a paisagem ao redor, enquanto Helena se sentava em silêncio, absorvendo tudo o que estava por vir.

Ao chegarem ao palácio,Eduardo veio em sua direção, ela não hesitou. Caminhou até ele, ainda com Isolde ao seu lado, e logo os três se dirigiram ao jardim, o mesmo onde tantas memórias haviam sido feitas.

"Eu trouxe Isolde comigo", Helena explicou, olhando para a irmã que, com um sorriso inocente, se distanciava para brincar com as borboletas que dançavam ao redor das flores.

Eduardo, sempre atento, sorriu ao ver Isolde tão feliz, mas logo percebeu a tensão nos olhos de Helena. Ele a guiou para um canto mais tranquilo do jardim, onde poderiam conversar sem interrupções.

Helena começou a falar, sua voz trêmula, mas firme: "Minha prioridade agora é minha irmã. Eu não posso deixar que nada de ruim aconteça com ela. Ela precisa ser protegida a todo custo, Eduardo. E, ao mesmo tempo, não posso ignorar o que está acontecendo com o meu reino. Eu temo por uma guerra entre os reinos... ou até mesmo o que meu pai pode fazer. Ele não hesitaria em colocar Isolde em perigo. Eu não sei mais onde encontrar um abrigo, Eduardo. Não sei mais onde me esconder."

Ele a olhou com calma, colocando uma mão em seu ombro, tentando transmitir segurança através de um gesto simples. "Você não está sozinha, Helena. Eu estarei ao seu lado, seja qual for a decisão. E o seu pai... ele não vai fazer nada de ruim com Isolde. Eu não permitirei."

Com um sorriso suave e tranquilizador, Eduardo a beijou, sentindo que aquele momento de afeto era uma forma de aliviar a tensão que pairava sobre eles.

Então, Eduardo saiu do lado de Helena e se aproximou de Isolde, que estava encantada com as borboletas e a acompanhou, correndo pelo jardim, enquanto o peso do futuro ainda pesava no coração de Helena. Mas, ao olhar para sua irmã, brincando feliz, ela se lembrou de que, por mais difícil fosse, ela precisava lutar para proteger aquele momento de paz.

Enquanto Isolde se divertia, correndo pelo jardim, Helena permaneceu por um momento em silêncio, observando-os sentada a um banco do jardim. As palavras de Eduardo ainda ecoavam na mente de Helena, oferecendo-lhe uma sensação de conforto em meio à tempestade. Mas ela sabia que o tempo estava se esgotando e as tensões cresciam a cada dia. O futuro ainda era incerto, mas naquele momento, com Eduardo ao seu lado, ela sentiu que havia uma chance de encontrar um caminho.

Após algum tempo, Eduardo se aproximou novamente de Helena e, com um sorriso gentil, sugeriu: "Eu sei que a situação é difícil, mas quero que você e Isolde fiquem aqui, pelo tempo que precisarem. Eu vou providenciar um quarto para vocês. Aqui, vocês terão proteção, e, enquanto isso, podemos pensar em como resolver tudo isso."

Helena olhou para ele, sentindo uma onda de gratidão, mas também uma leve hesitação. Ela não queria depender de ninguém, mas sabia que não tinha escolha. "Obrigado, Eduardo. Você não sabe o quanto isso significa para mim."

"É o mínimo que posso fazer", respondeu ele, com um sorriso. "Vocês são bem-vindas em Yuna, sempre."

Eduardo então as conduziu até o interior do palácio, onde preparou um quarto confortável para elas. Helena se sentiu grata pela hospitalidade, mas ao mesmo tempo, uma sensação de inquietação a acompanhava. O luxo do palácio parecia distante de sua realidade, mas ao olhar para Isolde, já se acomodando com um sorriso no rosto, ela sabia que, por mais que o futuro fosse incerto, ela ainda tinha sua irmã. E, por agora, isso era o suficiente.

Com um último olhar para a janela do quarto, Helena se deitou, sabendo que no dia seguinte teria que tomar decisões difíceis. Mas, ao menos, por aquela noite, ela e Isolde estavam seguras.