O preço da proteção

𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐨𝐥𝐨 5: O Preço Da Proteção

Helena acordou em seus aposentos e percebeu que Isolde ainda dormia ao seu lado. Sem querer perturbá-la, decidiu explorar o castelo de Eduardo, já que ainda eram cinco da manhã e o tédio a consumia.

Enquanto caminhava pelos corredores silenciosos, seus passos a conduziram até a sala de reuniões. A porta estava entreaberta, e, ao espiar por uma fresta, viu o rei Edgar, pai de Eduardo, exaltado. Dentro da sala também estavam a rainha Elyza e Eduardo. Intrigada, Helena decidiu escutar a conversa, pois percebeu que o assunto girava em torno dela.

O rei Edgar berrava indignado com Eduardo, repreendendo-o por ter levado uma mulher e uma criança desconhecidas para dentro do castelo. Eduardo tentava se impor, explicando suas razões, enquanto a rainha, com voz doce e tranquila, tentava acalmar o marido e manter a situação sob controle.

O debate entre pai e filho se intensificava, e Helena, que se apoiava na porta para ouvir melhor, acabou fazendo com que ela se abrisse de repente. Todos voltaram a atenção para ela, e o rei Edgar, furioso, exclamou:

— Além de ser uma intrusa, ainda ousa escutar o que os outros falam pelas costas? Que menina mais sem educação!

Eduardo, zangado, continuou a discutir com o pai, mas Helena, envergonhada e com lágrimas nos olhos, saiu correndo de volta para seus aposentos. Pouco depois, a rainha Elyza foi atrás dela, sentando-se ao seu lado para consolá-la. Com palavras gentis, explicou que Edgar apenas queria proteger sua família e, principalmente, seu filho. No entanto, afirmou que Eduardo a amava e que já ouvira muito sobre Helena. Com um sorriso acolhedor, disse que a admirava por sua coragem e que, para ela, Helena já fazia parte da família.

Passou-se uma semana, e todos os dias o rei Edgar lançava indiretas cortantes:

— Alguns chegam sem serem convidados e se instalam como se fossem da família. — Nunca imaginei que minha casa se tornaria um abrigo para estranhos. — O sangue real deve ser protegido, não misturado com qualquer um que apareça.

Helena tentava ignorar, mas cada palavra doía como uma lâmina afiada. Ela não suportava mais aquela situação, mas não tinha para onde ir. Precisava proteger Isolde.

Certa noite, ela desabafou com Eduardo sobre o que estava acontecendo. Ele tentou acalmá-la e prometeu resolver a situação, quando, de repente, ouviram gritos no corredor. Helena correu para ver o que acontecia e encontrou Isolde encolhida em um canto, com os olhos cheios de lágrimas. A menina correu para trás de Helena, assustada.

O rei Edgar estava ali, seu olhar carregado de fúria. Sua voz ecoou pelo salão:

— Até quando essa criança inconveniente vai ficar sob meu teto?

Eduardo, furioso, avançou em direção ao pai, pronto para confrontá-lo de uma vez por todas.

— Pai, chega! Isolde e Helena não são ameaças para ninguém. Eu não vou permitir que você continue tratando-as dessa forma!. Bradou Eduardo,com sua paciência esgotada.

A rainha Elyza interveio, colocando-se entre os dois homens:

— Edgar, essa não é a maneira de resolver isso. Você está se deixando levar pelo orgulho e pelo medo. Essa menina não tem culpa de nada.

O rei, ainda tomado pela raiva, lançou um olhar duro para a esposa e depois para Eduardo. Seus punhos cerraram-se ao lado do corpo.

— Você está se deixando cegar por emoções, Eduardo. Essa mulher está envenenando sua mente.

Helena, que permanecera em silêncio até aquele momento, finalmente ergueu o rosto e, reunindo toda a coragem que ainda lhe restava, encarou o rei.

— Com todo respeito, Majestade, eu não estou envenenando ninguém. Tudo o que quero é proteger Isolde e encontrar um lugar onde possamos viver em paz. Não desejo tomar nada de vocês, nem prejudicar sua família. Se quiser que eu vá embora, eu irei. Mas Isolde vem comigo.

O salão mergulhou em um silêncio tenso. A respiração de todos era pesada, como se o próprio ar estivesse carregado de incertezas. Eduardo olhou para Helena, a determinação brilhando em seus olhos.

— Você não precisa ir a lugar algum. Eu não permitirei isso. — afirmou Eduardo, sua voz firme e segura.

O rei Edgar estreitou os olhos, analisando a cena diante dele. Finalmente, após um longo momento, ele suspirou pesadamente e virou-se, deixando o salão sem dizer mais uma palavra.

A rainha Elyza pousou a mão suavemente no ombro de Helena e sorriu com ternura.

— Vamos encontrar uma solução. Você não está sozinha.

Helena apertou os lábios, segurando as lágrimas. Pela primeira vez em dias, sentiu que talvez houvesse uma esperança para ela e Isolde.

Depois do ocorrido, Helena passou a ver o rei poucas vezes, e, quando o via, ele não dizia uma única palavra, como se estivesse arrependido ou envergonhado do que havia feito. Para dar a Isolde um futuro melhor, Helena decidiu colocá-la na escola para que aprendesse a falar, ler e fazer amizades com crianças da sua idade. Durante as tardes, passeavam juntas e se divertiam brincando na praia.

Certo dia, enquanto corriam pela areia, rindo ao sentir a brisa do mar, uma sombra ameaçadora surgiu no horizonte. Antes que pudessem reagir, tropas de soldados surgiram, avançando rapidamente. Era o rei Ragnar.

Sem chance de escapar, Helena e Isolde foram sequestradas e levadas à força. Quando Helena despertou, encontrou-se de volta ao Palácio de Harvel, em seu antigo quarto. O coração disparou ao perceber que Isolde não estava ali.

Desesperada, ela correu pelos corredores até a sala do trono, onde encontrou seu pai, o rei Ragnar, sentado majestosamente,com um sorriso cruel nos lábios.

— Onde está Isolde? — gritou Helena, sentindo o pânico crescer dentro de si.

Ragnar cruzou as mãos e a observou com frieza antes de responder:

— Você finalmente voltou para onde pertence. Mas aquela criança... ela não tem o mesmo destino que você.

Helena sentiu o sangue gelar em suas veias.

— O que você quer de mim? — perguntou, tentando conter o desespero.

O rei Ragnar sorriu, satisfeito.

— Você vai dizer a todos que tudo não passou de boatos. Voltará a se comportar como a princesa de Harvel e fará com que tudo volte ao que era antes. Caso contrário, quem sofrerá as consequências será Isolde.

Helena cerrou os punhos, seu coração apertado pelo medo. Sabia que não poderia confiar em Ragnar, mas também não poderia arriscar a vida de Isolde. Agora, precisava encontrar uma saída.