Capítulo 7: O Jogo de Ragnar
Helena sentia o coração martelar contra o peito enquanto as palavras de Ragnar ecoavam em sua mente. O rei de Harvel havia passado anos moldando-a como uma assassina, mas agora usava Isolde como uma corrente para prendê-la ao passado. Helena sabia que não poderia confiar nele, mas também não podia se dar ao luxo de subestimá-lo.
Determinada a encontrar Isolde, passou os dias seguintes explorando o castelo sob a vigia constante dos guardas de seu pai. Todos os rostos familiares pareciam agora cheios de desconfiança. As servas evitavam encontrá-la, e os guardas jamais a deixavam sozinha por muito tempo. Ragnar queria que ela se sentisse enjaulada, impotente.
Na terceira noite desde sua captura, enquanto jantava em silêncio no grande salão, Ragnar se pronunciou, sua voz carregada de sarcasmo:
— Vejo que sua estadia está lhe fazendo bem, minha filha. Espero que tenha se lembrado de como uma princesa deve se comportar.
Helena manteve o olhar fixo no prato, suas mãos cerradas sob a mesa. Não responder era sua única arma no momento. Se demonstrasse submissão, Ragnar acreditaria ter vencido. Se o desafiasse, ele poderia punir Isolde.
— O silêncio é uma qualidade valiosa para uma mulher. Finalmente aprendeu algo com seus anos fora? — Ragnar provocou, rindo com os outros nobres que estavam presentes.
Helena ergueu os olhos, encarando-o friamente.
— Aprendi que reis que subestimam suas peças no tabuleiro acabam sozinhos.
Um murmurinho percorreu a mesa. Ragnar estreitou os olhos, um brilho perigoso dançando neles.
— Cuidado, Helena. Atitudes imprudentes podem ter consequências terríveis.
A ameaça não passou despercebida, mas Helena apenas assentiu antes de terminar sua refeição e se retirar. O jogo havia começado, e ela sabia que Ragnar não demoraria a mostrar sua próxima jogada.
Na manhã seguinte, um servo entrou apressado em seus aposentos, trazendo um pedaço de pergaminho. Com um nó na garganta, Helena pegou a mensagem e a abriu. As palavras eram curtas, mas devastadoras:
"Venha ao pátio leste ao nascer do sol. Venha sozinha."
Seu coração se apertou. Era um convite para um jogo perigoso, e ela sabia que Ragnar era o mestre dele. Mas se houvesse uma chance de encontrar Isolde, valeria o risco.
Vestindo uma capa escura, Helena deslizou pelos corredores do castelo como uma sombra. Quando chegou ao pátio leste, encontrou Ragnar de pé ao lado de um homem corpulento vestido como um carrasco. No centro do pátio, Isolde estava ajoelhada, os pulsos acorrentados.
— Que cena comovente, não acha? — Ragnar sorriu, gesticulando para a menina assustada. — Mas não se preocupe, minha filha. Estou disposto a libertá-la... com uma condição.
Helena manteve sua expressão neutra.
— O que quer de mim?
Ragnar andou lentamente até ela, analisando cada traço de sua expressão.
— Quero sua lealdade absoluta. Você ficará ao meu lado, como herdeira de Harvel. E, para provar sua devoção, você irá matar Eduardo.
Helena sentiu um frio cortante percorrer sua espinha. Ragnar sempre fora cruel, mas pedir para que ela assassinasse Eduardo era uma maldade que ultrapassava qualquer coisa que ela pudesse imaginar. Era uma armadilha. Se recusasse, Isolde sofreria. Se aceitasse, trairia a única pessoa que realmente amava.
— Não posso fazer isso, pai. — Sua voz soou firme, mas seu interior tremia.
Ragnar ergueu uma sobrancelha, desapontado.
— Ah, mas pode sim. Caso contrário, esta criança pagará pelo seu fracasso.
Ele estalou os dedos, e o carrasco puxou uma adaga, pressionando-a contra o pescoço de Isolde. A menina soltou um soluço abafado, seus olhos arregalados pelo medo.
Helena sentiu-se encurralada, a respiração ficando errática. Precisava pensar rápido. Ragnar não era paciente, e qualquer hesitação poderia custar caro.
— Eu faço isso. — As palavras escaparam de seus lábios antes que pudesse se conter.
Ragnar sorriu amplamente, satisfeito.
— Excelente. Você parte para Yuna ao amanhecer. Certifique-se de que ele não sobreviva.
O coração de Helena pesava como chumbo. Ela precisava encontrar um jeito de salvar Isolde e impedir o plano de Ragnar. Fugir não era uma opção — não com os olhos atentos de seu pai sobre ela. Mas havia uma coisa que Ragnar nunca aprendera: Helena nunca jogava de acordo com as regras dos outros.
Se Eduardo era seu alvo, então isso apenas significava que Helena teria que virar o jogo a seu favor. E para isso, ela precisaria ser mais esperta do que nunca.
O amanhecer traria uma nova batalha. E Helena estava disposta a arriscar tudo.
A madrugada parecia eterna. Helena, sentada à beira da janela de seu quarto, observava o céu escuro pontilhado por estrelas. O vento frio soprava suavemente, balançando as cortinas. Seus pensamentos giravam sem parar. Precisava de um plano.
Ela sabia que Ragnar não deixaria brechas. A viagem até Yuna seria vigiada de perto, e qualquer deslize poderia ser sua ruína. Mas se havia algo que aprendera ao longo dos anos, era que até mesmo os mais poderosos tinham fraquezas.
Um leve ruído no corredor chamou sua atenção. Helena se levantou silenciosamente e caminhou até a porta, encostando o ouvido. Passos se afastavam rapidamente. Alguém estivera ali, escutando. Seu pai não confiava nela, e isso significava que tinha que ser ainda mais cautelosa.
Voltou para a cama, deitando-se sem realmente conseguir dormir. Sua mente fervilhava com possibilidades, estratégias. Sabia que não poderia enfrentar Ragnar diretamente, mas talvez houvesse outra forma de garantir a segurança de Isolde sem ter que derramar sangue inocente.
A única certeza que tinha era que, quando o sol surgisse no horizonte, a guerra que travava em seu coração precisaria encontrar um caminho para a vitória.