Capítulo 9: A Promessa Cumprida e a Paz Provisória
Helena parou diante de Elísia, sentindo o peso das palavras da rainha cortarem o silêncio como uma lâmina afiada. A raiva e a frustração de quem foi traído estavam ali, em cada movimento calculado de sua postura, mas Helena sabia o que estava em jogo. Não poderia hesitar. Não agora.
— Eu não voltei por mim, Elísia. — A voz de Helena tremia, mas ela se forçou a manter a calma. — Eu voltei para salvar Isolde. Eu não vou deixá-la sofrer mais.
Elísia olhou para ela, os olhos duros, mas uma sombra de dúvida passou por seu rosto.
— Se falharmos, todo o reino poderá cair. — A rainha disse, mais suave, mas com a mesma urgência. — O que você está pedindo é impossível.
Helena deu um passo à frente, mais próxima, sem medo.
— Não é impossível, Elísia. Se trabalharmos juntas, podemos vencer Ragnar. Eu tenho uma estratégia. Eu sei onde ele esconde Isolde. Eu sei o que ele planeja. E posso impedir.
Elísia ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras de Helena. Ela sabia que a jovem princesa não falava por orgulho ou vingança, mas por algo maior: o desejo de proteger quem amava.
— E Eduardo? Ele sabe disso tudo? — Elísia questionou, a preocupação transparecendo em sua voz.
Helena suspirou, tentando conter as emoções.
— Ele sabe. E ele estará ao meu lado. Não importa o que aconteça.
A rainha de Yuna olhou fixamente para Helena e, com um gesto súbito, tocou seu ombro. Foi um gesto simples, mas carregado de um significado profundo.
— Então, que os Deuses nos ajudem.
Naquela noite, a aliança improvável entre Helena e Elísia tomou forma. Juntas, elas arquitetaram um plano para resgatar Isolde das garras de Ragnar. O local onde ele mantinha a jovem bastarda escondida foi identificado, e Helena sabia que o risco era grande. Mas não havia outro caminho.
Durante semanas, Helena se infiltrou disfarçada nas áreas do castelo, fazendo amizade com alguns dos servos, cujos relatos do comportamento de Ragnar e de Isolde foram cruciais. Um deles, mais uma vez movido pela compaixão pela jovem, lhe contou sobre um antigo edifício, abandonado e isolado na floresta. Era lá que Ragnar escondia Isolde, sem permitir que ninguém se aproximasse. Helena logo soubera que aquele seria o local da ação.
Com a ajuda de alguns aliados dentro do castelo, elas conseguiram criar uma distração durante a noite, permitindo que Helena, Eduardo e Levítio se infiltrassem no local onde Isolde estava mantida. O lugar era um dos edifícios mais remotos de Harville, escondido nas profundezas de uma floresta sombria, onde poucos ousavam se aventurar.
Levítio, o príncipe de Arindor, sempre fora um aliado de confiança de Helena, mas sua posição política o mantinha distante de ações mais ousadas. Contudo, ele sabia da importância da missão e do quanto essa luta significava para Helena. Através de suas conexões em Arindor e de alguns favores, ele garantiu que as informações chegassem à princesa, e sua ajuda se provou vital na execução do resgate.
Ao chegarem ao edifício isolado, o silêncio era quase absoluto. Helena sentia o peso da missão, mas algo dentro dela queimava com uma determinação feroz. Eles encontraram Isolde amarrada, mas viva, com os olhos cheios de medo e esperança.
Isolde olhou para Helena assim que a viu. Seus olhos, embora expressivos, estavam cheios de um medo que a silenciava. Ela não conseguia falar, mas o alívio era claro em seu olhar, um suspiro silencioso de gratidão. Helena a abraçou rapidamente, cortando as cordas que a prendiam.
— Estamos levando você para longe daqui. Você está salva, Isolde. Eu prometi e vou cumprir.
O grupo fugiu de volta para Yuna, mas, ao retornar ao castelo, souberam que a guerra estava prestes a eclodir. Os espiões de Ragnar estavam próximos, e a tensão havia alcançado seu ápice. Não era seguro para ninguém permanecer ali por muito mais tempo.
Em uma noite sombria e silenciosa, Eduardo, Helena e Isolde se esconderam em um pequeno barco, cruzando o mar que separava Yuna das terras mais remotas. Elas sabiam que a guerra estava apenas começando, mas agora, pelo menos, podiam respirar aliviadas. O mais difícil já havia sido feito.
Nos dias seguintes, eles chegaram a um pequeno vilarejo de Arindor na costa, onde era cercado por uma florestas densas e praias tranquilas. Uma casa simples, mas acolhedora, foi montada para as duas, onde poderiam finalmente se refugiar. A casa ficava em uma pequena praia isolada, longe da civilização,para chegar até lá era preciso atravessar uma longa e densa floresta, que ficava perto do vilarejo de Arindor,onde as ondas quebravam suavemente na areia e a vegetação ao redor fornecia o suficiente para que pudessem viver em paz. O lugar era perfeito para recomeçar.
Em um dos dias, enquanto caminhavam pela praia ao entardecer, Eduardo parou e olhou para Helena, um semblante sério em seu rosto.
— Helena... — ele começou, sua voz carregada de sinceridade. — Eu não posso deixar vocês sozinhas. Eu me ofereço para morar aqui com vocês. Eu amo você, e quero proteger você e Isolde. Não posso deixar o destino de vocês nas mãos de mais ninguém.
Helena o olhou com um misto de surpresa e alívio. Ela sabia que Eduardo estava determinado, mas ouvir aquelas palavras fez seu coração se apertar. Ele realmente estava disposto a abandonar tudo para estar com ela. Ela segurou sua mão, apertando-a levemente.
— Eu... Eu não sei o que dizer, Eduardo. Eu também te amo, mas temos uma vida inteira pela frente para reconstruir. Você está certo, precisamos estar juntos, principalmente agora.
A vida na praia se desenrolava calmamente. Durante o dia, Helena e Isolde exploravam a costa e, às vezes, ficavam sentadas na areia, observando o horizonte. Isolde, com suas mãos pequenas, desenhava na areia, expressando-se de um modo que nem palavras poderiam descrever. Seus olhos, ainda cheios de medo, gradualmente passaram a refletir a paz do novo lar.
Eduardo sempre estava por perto, atento aos menores detalhes. Quando não estava ajudando a construir a casa ou caçando, ele estava ao lado de Helena, garantindo que ela e Isolde estivessem seguras. À noite, os três se sentavam ao redor da fogueira, compartilhando histórias, rindo e sonhando com o futuro, algo que Helena achava que nunca mais experimentaria.
Em uma dessas noites, enquanto observavam as estrelas juntos, Helena sentiu-se verdadeiramente em paz pela primeira vez em muito tempo.
— Você tem certeza de que isso é o que você quer? — Helena perguntou, sua voz suave, como o som das ondas ao fundo.
Ele a abraçou por trás, sentindo seu corpo relaxar contra o dele.
— Eu nunca estive tão certo de nada na minha vida, Helena. Eu quero você, quero sua irmã, quero a paz que estamos construindo aqui. Tudo o que eu quero é proteger vocês.
Ela fechou os olhos, permitindo-se um momento de paz. A guerra ainda a assombrava, mas ali, naquela pequena casa na praia, ela podia sentir a esperança renascendo. Ela sabia que ainda haveria desafios pela frente, mas, naquele momento, tudo o que importava era que, finalmente, ela tinha sua família segura.
Isolde brincava na areia, e Helena sentia a leveza no coração ao ver a irmã sorrir. Eduardo estava ao seu lado, e eles estavam juntos — não por força do destino, mas pela escolha de permanecerem unidos. Helena sabia que o mundo poderia ser implacável, mas, pelo menos agora, ela e sua família tinham um lugar para chamar de lar.
E isso, para ela, era tudo o que realmente importava.