Capítulo 11 – Sombras do Passado
Helena permaneceu imóvel por alguns segundos, com o papel tremendo entre os dedos. Sentia como se o chão tivesse sumido sob seus pés. A caligrafia elegante e ameaçadora dançava em sua mente, repetindo aquelas palavras como um eco sombrio: "Ele nunca deveria ter voltado."
Tentou controlar a respiração. Olhou ao redor — a cozinha estava silenciosa, exceto pelo tilintar da água pingando da torneira mal fechada. A vela ainda lutava contra o vento que parecia vir do nada.
Guardou a carta no avental, respirou fundo e foi até o quarto de Isolde. Levítio ainda estava lá, terminando de contar uma história. A menina dormia com um sorriso calmo, alheia ao peso da realidade ao redor.
— Preciso de um pouco de ar — disse Helena, tentando parecer natural.
— Está tudo bem? — Levítio perguntou, olhando-a com atenção.
Ela forçou um sorriso. — Só... uma dor de cabeça. Volto já.
Saiu antes que ele pudesse fazer mais perguntas.
Do lado de fora, no quintal escuro da casa, Helena caminhava de um lado para o outro com a carta nas mãos. O que aquilo significava? "Você não sabe toda a verdade sobre o que aconteceu com Eduardo." Ela se lembrava bem do momento em que recebeu a primeira carta, aquela que ordenava a morte dele. Nunca contou a ninguém — nem mesmo a Levítio.
Na época, acreditava estar cumprindo ordens para proteger Isolde e sobreviver. Hoje, sentia o peso da culpa esmagando seus ombros.
Mas agora, com essa nova carta, algo estava claro: ela também havia sido manipulada. Alguém orquestrava tudo nos bastidores.
Voltou para dentro e escondeu o envelope sob uma tábua solta do assoalho em seu quarto. Só depois disso conseguiu respirar com mais calma.
Enquanto isso, em Yuna, Eduardo andava pelos corredores do palácio como um fantasma. Sentia-se deslocado, como se tivesse deixado o coração para trás. A carta de Helena ainda queimava em sua mente, embora ele tentasse não pensar mais nela.
Ao passar pela biblioteca, avistou seu pai conversando com um dos conselheiros. Ao ver Eduardo, o rei Edgar forçou um sorriso.
— Está se sentindo melhor, filho?
Eduardo não respondeu de imediato. Algo na expressão de Edgar o incomodava. Sempre o incomodou. Mas agora... mais do que nunca.
— Estou tentando — respondeu, seco.
O rei deu de ombros. — Espero que consiga. O reino precisa de você. Logo terá novas responsabilidades, principalmente agora que... certos laços ficaram para trás.
Eduardo o encarou, sentindo uma pontada de desconfiança. Como Edgar sabia que ele e Helena haviam se afastado?
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Naquela mesma noite, Helena decidiu agir. Pegou o envelope escondido e foi até um antigo contato do rei Ragnar — um espião aposentado que vivia nos arredores da cidade. Seu nome era Darion.
— Helena de Harville — ele disse ao vê-la, arregalando os olhos. — Está viva... e mais ousada do que nunca.
— Preciso da sua ajuda. Quero saber quem está por trás disso — ela mostrou a nova carta. — Essa caligrafia é a mesma da pessoa que me mandou matar Eduardo.
Darion estreitou os olhos.
— Eu conheço essa escrita... e essa tinta. Só existe um lugar onde ela é feita: no palácio de Yuna.
Helena sentiu o estômago revirar.
— Está dizendo que alguém dentro do palácio mandou tudo aquilo?
Darion assentiu.
— Alguém poderoso. Alguém que está há muito tempo observando de longe… puxando as cordas.
Helena fechou os punhos. Aquilo não era só sobre ela e Eduardo. Era sobre todo o jogo de poder que cercava os dois reinos.
E se ela não descobrisse logo quem estava por trás disso… Eduardo corria mais perigo do que jamais imaginou.