A manhã estava fria e enevoada quando o primeiro estrondo ecoou pelo vilarejo de Lorien. As pessoas saíram de suas casas assustadas, algumas ainda sonolentas, sem entender o que estava acontecendo. Foi então que viram as colunas de fumaça subindo ao céu.
Flechas cravavam-se nos telhados de palha, incendiando algumas casas. Portões eram derrubados e carroças tombavam, espalhando mercadorias pelo chão. O ataque não foi uma invasão brutal, mas sim um golpe calculado. Não estavam ali para destruir tudo, apenas para deixar um recado.
Os soldados de Lunaris tentaram organizar uma defesa, mas foram rapidamente neutralizados—não mortos, apenas desarmados e incapacitados. Os guerreiros de Thalgal eram rápidos e eficientes. Lançaram tochas sobre os barris de suprimentos, quebraram rodas de carroças e derrubaram estruturas de madeira. O caos se espalhava, mas as mortes foram mínimas.
No centro da vila, Nyx observava o cenário, os olhos atentos a cada detalhe. Sua missão era clara: causar pânico, mostrar o poder de Thalgal, mas sem um banho de sangue desnecessário.
Ela deu um passo à frente, encarando um dos soldados de Lunaris caído no chão, ferido, mas consciente.
— Levante-se — ordenou, sua voz firme, mas sem crueldade. — E leve uma mensagem para sua rainha.
O homem hesitou antes de se erguer, pressionando o ombro ferido. Nyx se aproximou, suas palavras cortantes como lâminas.
— Isso foi apenas um aviso. Da próxima vez, não pouparemos ninguém.
Ela se virou, sinalizando para os guerreiros recuarem. Assim como chegaram, desapareceram na névoa, deixando para trás apenas a fumaça, os destroços e o aviso claro de que Thalgal estava pronto para atacar quando quisesse.
A notícia chegou ao castelo antes do pôr do sol. O mensageiro, ainda ofegante e com a armadura suja e arranjada, ajoelhou-se diante da rainha Eleonor.
— Lorien foi atacado, Majestade. Não destruído… mas atingido o suficiente para servir de aviso.
Cedrik, ao lado da rainha, franziu a testa.
— Mortos?
— Poucos — respondeu o mensageiro. — Mas os danos são grandes. O inimigo não quis acabar conosco… apenas mostrar que pode.
Eleonor respirou fundo, mantendo a expressão firme, mas Cedrik percebeu a tensão em seus olhos.
— Eles nos testaram — murmurou ela, encarando o vazio por um instante. Então, ergueu o olhar e disse com convicção: — E agora sabem que ainda não estamos prontos.
Cedrik assentiu lentamente.
— Precisamos agir antes que decidam atacar de verdade.
Eleonor não respondeu de imediato. Caminhou até a janela, observando o horizonte.
— Reúna o conselho. A guerra ainda não começou… mas está cada vez mais próxima.
Enquanto a névoa se dissipava sobre Lorien e os sobreviventes começavam a juntar os destroços, a notícia do ataque já havia partido rumo ao castelo. Cavaleiros foram enviados com urgência para avaliar os danos e ajudar os feridos, mas todos sabiam que o verdadeiro impacto daquele ataque não estava nas casas destruídas ou nas chamas apagadas.
Thalgal não queria conquistar Lorien. Eles queriam mandar uma mensagem.
E quando o mensageiro entrou apressado na sala do trono, trazendo poeira nos trajes e urgência no olhar, Eleonor já sabia que a resposta ao ataque definiria o futuro de Lunaris.
Sem hesitar, ordenou que o conselho fosse reunido. Caminhou pelo corredor principal do castelo com passos firmes, acompanhada por Cedrik, que a observava em silêncio. O ataque ainda ecoava em sua mente, e o peso da decisão recaía sobre seus ombros.
— Eles testaram nossas forças — murmurou ela, mais para si mesma do que para seu conselheiro. — E agora sabem o que podem ou não enfrentar.
— E o que faremos a respeito? — Cedrik perguntou, a expressão séria.
Eleonor não respondeu de imediato. Parou diante das grandes portas da sala do conselho, respirou fundo e ergueu o queixo.
— Vamos decidir agora.
Com um aceno, os guardas abriram as portas, e os murmúrios dos conselheiros cessaram quando a rainha entrou. Todos sabiam que aquela reunião poderia ser o primeiro passo para uma guerra inevitável.
A sala do conselho estava silenciosa quando Eleonor entrou. Os rostos dos membros do conselho refletiam preocupação, alguns murmurando entre si enquanto Cedrik tomava seu lugar ao lado da rainha. A notícia do ataque a Lorien havia se espalhado rapidamente, e todos ali sabiam o que isso significava.
— Fale, Cedrik — ordenou Eleonor, sua voz firme. — O que sabemos até agora?
O conselheiro se adiantou, apoiando as mãos sobre a mesa de madeira maciça.
— Thalgal não atacou para conquistar, mas para testar nossas forças. Eles queriam medir nossa reação, ver se ainda estamos vulneráveis sem o rei. — Ele fez uma pausa, olhando para cada um dos presentes. — E a verdade é que estamos.
O murmúrio se intensificou. Alguns concordavam, outros pareciam relutantes em admitir aquilo em voz alta.
— Nossos soldados foram facilmente desarmados — continuou Cedrik. — Se Thalgal decidir atacar para valer, não temos como resistir por muito tempo.
— Então devemos revidar! — Um dos nobres se levantou bruscamente, batendo a mão na mesa. — Mostrar que não somos fracos!
Eleonor estreitou os olhos para ele.
— Você sugere que enviemos nossos soldados para atacar Thalgal sem estratégia, apenas para satisfazer o orgulho ferido de Lunaris?
O homem hesitou antes de sentar-se novamente, murmurando algo inaudível.
Cedrik respirou fundo.
— Contra-atacar agora seria perigoso. Mas se não fizermos nada, estaremos apenas esperando pelo próximo golpe.
Eleonor ficou em silêncio por um instante, o olhar fixo no mapa aberto sobre a mesa. Lorien havia sido atingida, e quem garantia que Thalgal não atacaria mais vilas antes de marchar para a capital?
Ela finalmente ergueu os olhos.
— Vamos reforçar as defesas ao redor de Lunaris e de todas as vilas vulneráveis. Enviaremos soldados para patrulhar as estradas e manteremos nossos espiões atentos a qualquer movimento do inimigo. Não vamos atacar, mas também não ficaremos esperando que Thalgal decida quando a guerra começa.
Os conselheiros assentiram, alguns aliviados por não entrar em combate imediato, outros frustrados por não tomarem uma postura mais agressiva.
Cedrik inclinou levemente a cabeça para a rainha, aprovando sua decisão.
— Começaremos os preparativos imediatamente.
Eleonor permaneceu olhando para o mapa, seus dedos traçando o território de Lunaris. O rei continuava prisioneiro, o inimigo estava à espreita, e um príncipe perdido poderia ser a chave de tudo.
A guerra ainda não havia começado, mas a contagem regressiva havia sido iniciada.