A noite envolvia Lunaris em um manto frio e silencioso, interrompido apenas pelo estalar das fogueiras que queimavam nas muralhas. As defesas estavam reforçadas, patrulhas dobradas, e a tensão pairava no ar como um presságio do que estava por vir.
Eleonor caminhava pelos corredores do castelo, sentindo o peso da coroa mais do que nunca. O conselho havia sido dispersado, e as ordens haviam sido dadas, mas a incerteza ainda assombrava seus pensamentos.
Parou diante da grande janela que dava vista para a cidade. Daquela altura, via as tochas dos soldados espalhadas pelos muros e estradas. As marcas do ataque em Lorien ainda não haviam sido apagadas, mas a vila se reerguia aos poucos.
Cedrik aproximou-se silenciosamente.
— Está tarde, Majestade.
Eleonor não desviou o olhar da escuridão lá fora.
— Acha que eles virão de novo?
Cedrik suspirou.
— Se não agora, em algum momento. Eles não fizeram aquele ataque para desaparecer.
A rainha fechou os olhos por um instante.
— Então só nos resta esperar.
Cedrik hesitou.
— O tempo pode ser nosso maior inimigo... ou nosso maior aliado. Depende de como o usarmos.
Eleonor assentiu, finalmente virando-se para ele.
— Vamos usá-lo da melhor forma possível.
Do lado de fora, a noite seguia silenciosa. Mas ambos sabiam que aquela calmaria não duraria para sempre.
E assim os dias se tornaram semanas. As semanas, meses. Lunaris reconstruiu Lorien, fortaleceu seus muros e treinou seus soldados. O ataque de Thalgal ficou para trás, mas a ameaça nunca desapareceu completamente. A guerra ainda não havia chegado, mas estava cada vez mais próxima.
Os ventos do tempo sopraram sobre Lunaris e Thalgal, mas a tempestade esperada nunca chegou. O ataque a Lorien havia se tornado uma lembrança distante para alguns, mas para aqueles que governavam, era um aviso sempre presente.
As muralhas de Lunaris erguiam-se mais fortes, os soldados treinavam sem descanso, e a vigilância nunca diminuía. O inimigo estava lá fora, observando, esperando. Mas sem um novo ataque, a incerteza se tornou tão perigosa quanto a guerra.
Em Thalgal, a paciência se estendia como uma lâmina por afiar. Os guerreiros continuavam preparados, mas as ordens de avançar nunca vieram. O silêncio que se instalou não era de paz, mas de cálculo.
E agora, sob a luz bruxuleante das tochas, chegava o momento de decidir o próximo movimento.
A tenda de comando estava iluminada apenas pelo brilho das tochas. Mapas e pergaminhos espalhavam-se sobre a mesa no centro, traçando rotas, fronteiras e posições inimigas. O silêncio pesava no ar, quebrado apenas pelo som distante dos cascos de cavalos e do vento frio que soprava através do acampamento.
Nyx estava de pé ao lado da mesa, os braços cruzados, observando os detalhes do território de Lunaris. Seu olhar era afiado, analítico. Darius, sentado à sua frente, tamborilava os dedos sobre a madeira, pensativo.
— Já faz tempo desde o ataque a Lorien — murmurou Darius, quebrando o silêncio.
Nyx assentiu.
— Sim. E Lunaris usou esse tempo para se fortalecer. — Ela apontou para o mapa. — Eles reforçaram as defesas, dobraram a patrulha e agora estão preparados para um ataque real.
Darius soltou um suspiro curto, desviando o olhar para o fogo bruxuleante ao lado da tenda.
— Era esperado. Mas e agora? Não podemos simplesmente esperar enquanto eles se preparam mais.
— E não podemos atacar sem um motivo sólido. — Nyx o encarou. — O ataque a Lorien serviu para medir a reação deles. Se avançarmos agora sem estratégia, Lunaris terá vantagem. Eles estarão esperando por isso.
Darius passou a mão pelo rosto, pensativo
— Então devemos recuar?
Nyx negou com a cabeça.
— Não. Apenas esperar o momento certo. Se continuarmos atacando sem um plano definido, estaremos apenas desgastando nossas forças e preparando o inimigo para nos derrotar.
Darius ficou em silêncio por um momento. Havia um brilho de frustração em seus olhos, mas também um entendimento. Ele não gostava de esperar, mas sabia que Nyx tinha razão.
— Então o que sugere?
Ela olhou novamente para o mapa, os dedos deslizando sobre os pontos marcados.
— Precisamos descobrir se Lunaris tem um ponto fraco. Algo que possamos usar contra eles sem precisar entrar em guerra aberta.
Darius ergueu uma sobrancelha.
— Está falando de espionagem?
Nyx deu um pequeno sorriso.
— Estou falando de inteligência. Antes de dar o próximo golpe, precisamos saber exatamente onde acertar.
Darius recostou-se na cadeira, um brilho de interesse finalmente substituindo a frustração.
— Então que seja. Vamos encontrar essa fraqueza.
A chama da tocha oscilou na tenda, lançando sombras sobre os mapas. A guerra não havia começado ainda, mas Nyx e Darius sabiam que estavam apenas aguardando a oportunidade perfeita para iniciar o ataque definitivo.