O PRIMEIRO "AMOR"

Ah, o amor... O sentimento mais cativante que existe, puro e verdadeiro. Na infância, ele é a coisa mais simples e inocente que podemos sentir.

Comigo, esse tal sentimento chamado "amor" me ensinou a primeira lição que até hoje não esqueci. Certo dia, eu estava batendo no gordinho da escola porque ele havia pisado no pé de uma menina. Na minha época, machucar uma menina era algo extremamente proibido, já que todos os meninos se juntavam para te pegar na saída da escola. A violência, de certa forma, separava os mais fortes dos mais fracos. Bem, não era exatamente assim, mas funcionava assim na minha escola.

Até que, um dia, chegou a garota mais linda que eu já tinha visto. Ela tinha uma franja e parecia ser muito legal de se conhecer. No instante em que a vi, meu coração explodiu em sentimentos. Senti um nervosismo tão grande que até parei de bater no gordinho por causa dela. Fui logo me apresentando. Ela sorriu e, a partir dali, uma linda amizade começou.

Meu pai sempre acreditou que deveria me ensinar as realidades da vida de forma simples. Ele dizia:

— Esse ano, você vai ganhar um cofre e com isso vai guardar dinheiro.

De primeira, isso não parecia um problema para mim, já que eu ganhava muitas moedas da minha mãe por ir ao mercado ou fazer favores para ela. Logo pensei: "Vou ficar rico!"

Empolgado, todos os dias guardava uma moeda no cofre. Em dois meses, ele estava cheio de moedas e algumas notas de dois e cinco reais. Meu plano era fazer a festa de aniversário mais top do mundo.

Mas então, aquela garota chegou.

A partir desse momento, todos os dias eu pegava uma moeda do cofre para comprar algo para ela – um doce, uma bala, qualquer coisa. Por incrível que pareça, sempre me senti bem ao ver a felicidade estampada no rosto dos outros. Mas isso não justificava minha impulsividade. Cada moeda que eu tirava me afastava mais do meu objetivo.

Meu pai, esperto como sempre, já havia percebido. Todos os dias, ele avaliava o peso do cofre para ver se eu estava progredindo. Mas ele não disse nada.

O tempo foi passando, e minha "então amor da minha vida" me adorava. Me abraçava todos os dias, feliz pelos pequenos presentes que eu dava. Até que chegou o dia que me ensinaria minha primeira grande lição de vida.

Olhei para o cofre e percebi que todas as moedas tinham acabado. Meu aniversário estava próximo, e eu não tinha mais dinheiro.

Naquele dia, meu pai chegou e disse:

— Mal posso esperar pelo grande aniversário, não é, João?

Fiquei sem jeito, concordei com a cabeça e fui para a escola. Mas, dessa vez, não levei nada para o "amor da minha vida".

Quando ela percebeu, seu olhar foi de puro desapontamento. "Como assim, não tem nada?" parecia ser a pergunta silenciosa que seus olhos me faziam. Expliquei que meu dinheiro havia acabado. No mesmo instante, ela foi para o lado do garoto mais popular da escola.

Fiquei ali, de longe, observando. Durante aquele período, lembro de ter me sentido super mal, sem vontade de fazer mais nada. Para piorar, meus dentes começaram a desenvolver umas cáries enormes. E, no fim de tudo, sabe o que ganhei dela? Uma régua.

Fiquei perplexo. Não fiz minha festa de aniversário. Não conquistei minha "amada". E terminei apenas com uma régua... que, no final, ela deu para todo mundo.

Kkkkk... enfim, a vida triste do protagonista.