Layos segurou a mão direita de Takeshi, sentindo o frio tomar conta dela. Seu coração acelerou. O selo estava lá, imóvel. A boca de Layos se abriu, sua voz saiu fraca, trêmula:
— Ele… morreu mesmo?
O peso da morte pairava no ar. Igris e as meninas não choraram, mas sentiram o impacto. Eles não conheciam Takeshi tão bem, mas sabiam que ele era importante.
Mark estava sem palavras. Seus olhos estavam fixos, paralisados pela cena diante dele. O choque o impedia de reagir, até que…
O monstro se ergueu do chão, seu corpo se contorcendo de maneira grotesca. Seu rosto estava deformado pelos ataques, com partes amassadas. De sua boca escorria um líquido vermelho e marrom, exalando um cheiro pútrido.
Todos se viraram imediatamente, encarando a criatura.
Igris evocou novas correntes ao redor dos braços, preparando-se para o confronto. Mark soltou o corpo de Takeshi com cuidado e agarrou sua adaga. Layos cerrou os punhos com força, os músculos tensos de raiva.
A garota de cabelos azuis encarou o monstro com olhos sérios, calculando cada movimento. Já a de cabelos pretos conjurou blocos de gelo em suas mãos, pronta para atacar.
Dessa vez, Mark e Layos não estavam apenas lutando para sobreviver. Eles estavam lutando para vingar alguém que havia caído.
Layos enxugou as lágrimas, seus olhos brilharam com determinação. Mark, envolto em uma aura negra com tons azul-escuro, deu um passo à frente.
Eles trocaram um olhar e, sem hesitar, gritaram em uníssono:
— Vamos com tudo!
...….
O vazio se estendia em todas as direções—um espaço infinito sem nada para preencher sua vastidão.
Um corpo flutuava ali, sem peso, sem destino. Sua forma translúcida brilhava em tons azulados, como se fosse feito de névoa.
De repente, os olhos da figura se abriram.
— Hã…? Onde eu tô?
Ele virou a cabeça para os lados.
O lugar era completamente escuro. Sem som. Sem cheiro. Sem ninguém além dele.
Tentou mover o braço direito. Seus movimentos eram lentos, quase hesitantes. Mesmo respirando, não sentia o ar entrar em seus pulmões.
"Então… esse é o lugar para quem morre?"
A confusão tomou conta de sua mente. Ele flutuava no vazio, sem peso, sem rumo.
Sem outra opção, começou a se mover para frente, voando por aquela imensidão sem limites. A cada instante, a mesma pergunta ecoava em sua mente:
"Esse é realmente o lugar dos mortos… ou algo completamente diferente?"
Ele continuou avançando por alguns minutos, até que, sem qualquer referência no ambiente, parou.
"Aqui não tem nada…"
O tédio começou a se instalar. O vazio absoluto o envolvia, sem som, sem movimento. Mas essa tranquilidade durou pouco.
De repente, uma voz ecoou em sua mente, espalhando-se por toda parte.
— Eu não esperava que você fosse morrer tão cedo.
Ele arregalou os olhos. Reconhecia aquela voz.
— Você…?
Seu peito apertou, e ele tentou localizar a origem do som, mas tudo ao redor continuava igual: apenas escuridão.
— Quem é você?! Por que está usando a voz da minha mãe?! — gritou, sua voz carregada de confusão e raiva.
A voz ficou em silêncio por alguns instantes. Então, sem qualquer emoção, voltou a falar:
— Sem lugar. Sem nada. Sem sentido. Agora você está aqui… no vazio.
Seus punhos se fecharam.
— Chega disso. Me diga quem você é. E por que está usando a voz dela? — perguntou, sua paciência se esgotando.
Atrás dele, surgiram duas mãos delicadas e incrivelmente bonitas, que tocaram sua bochecha com suavidade.
No instante em que sentiu o toque, um arrepio percorreu todo o seu corpo. Era uma sensação estranha—ao mesmo tempo reconfortante e perturbadora, como se aquelas mãos fossem tanto uma benção quanto uma maldição.
— Você não gosta da voz dela…? — a voz, agora mais doce, ainda carregava o timbre da mãe dele.
Takeshi, instintivamente, afastou as mãos com um movimento brusco, dando um passo para trás. Seu olhar estava afiado, carregado de desconfiança.
— Claro que não! E você não pode me tocar… seja lá o que você for!
As mãos desapareceram na escuridão, sumindo tão rápido quanto haviam surgido.
Por um breve momento, tudo ficou em silêncio. Então, o som de passos elegantes ecoou pelo vazio. O impacto ritmado de sapatos finos ressoava ao redor, como se alguém caminhasse lentamente em sua direção.
Ele franziu o cenho, tentando enxergar através da escuridão.
— Quem é agora? — murmurou, preparando-se para o que viesse a seguir.
Do meio do vazio, uma figura surgiu carregando uma pequena lamparina. O brilho amarelado era fraco, oscilando levemente, como se a qualquer momento pudesse se apagar.
O homem era alto—muito alto. Seu corpo magro se misturava à escuridão ao redor, tornando impossível distinguir seus contornos. A única coisa visível eram seus olhos, de um laranja intenso, ardendo como brasas no meio do nada.
Ele girou a lamparina entre os dedos, produzindo um som suave, quase como um sussurro no silêncio absoluto. Sua voz, elegante e serena, cortou o vazio.
— Você é aquele. Não esperava que fosse tão… pequeno aqui. Sei que a morte parece algo terrível, mas ela é tanto uma maldição quanto uma dádiva…
Takeshi franziu o cenho. Havia algo estranho naquela presença, algo que o fazia se sentir exposto, como se aquele homem pudesse enxergar além da própria alma.
Seus olhos caíram sobre a lamparina. Dentro do vidro envelhecido, uma esfera minúscula flutuava, irradiando luz. Pequenas partículas coloridas dançavam dentro dela, se dispersando e se recompondo como poeira estelar.
A cena era hipnotizante, mas a escolha de palavras daquele ser o incomodava.
— Pequeno…? — Takeshi estreitou os olhos — do que você está falando?
No meio do vazio, o homem girou a lamparina mais uma vez. Uma névoa dourada emergiu ao redor dela, ondulando suavemente no ar antes de se dissipar. Sua voz ressoou com calma, quase como se estivesse contando uma história já conhecida.
— Primeiro, vamos esclarecer algumas coisas. A primeira resposta é… sim, você está morto. Mas, ao mesmo tempo, não exatamente.
Takeshi franziu o cenho.
— O que isso significa?
O homem ignorou a pergunta e continuou, balançando levemente a lamparina enquanto falava.
— Segundo, o lugar onde você está… este vazio… é um reflexo do seu próprio ser. Vamos chamá-lo de um plano da sua alma. Ou seja, apenas sua alma está aqui. Seu corpo, por outro lado, pertence a outro lugar.
Takeshi sentiu um arrepio percorrer sua espinha, mesmo sem entender completamente o que aquilo significava. Algo naquela explicação parecia errado—ou talvez certo demais.
— Terceiro, você pode me fazer uma pergunta, e eu lhe darei uma resposta.
Takeshi franziu o cenho. Havia algo estranho na forma como aquele homem falava, como se estivesse se divertindo com a situação.
Ele engoliu em seco, hesitante, mas decidiu falar:
— Certo… Primeiro, eu quero saber sobre aquela mulher que fica falando comigo. Você sabe quem ela é, não sabe? Já que está aqui, deve ter alguma ideia — ele respirou fundo antes de continuar — a segunda pergunta: o que exatamente você é? E, por último… como eu posso estar morto e vivo ao mesmo tempo?
O homem, mesmo envolto na escuridão, pareceu expressar certa satisfação. Seus olhos laranja brilharam intensamente, e a lamparina em sua mão oscilou levemente, emitindo um brilho dourado mais forte por um instante.
— A mulher que fala com você… Ela é um completo mistério. Mesmo que eu quisesse lhe contar tudo sobre ela, você não conseguiria sobreviver ao saber.
Takeshi sentiu um arrepio percorrer seu corpo.
— E quanto a mim… — o homem inclinou levemente a cabeça, girando a lamparina entre os dedos — sou apenas um observador. Alguém que aprecia ver viajantes cruzando caminhos inesperados.
Ele fez uma breve pausa antes de concluir:
— E, por fim… Seu corpo morreu. Foi destruído pelo ataque. Mas sua alma, ela ainda persiste. É por isso que você está aqui.
As palavras dele ecoaram no vazio, deixando Takeshi com mais perguntas do que respostas.
— Mas por que eu morreria se você falasse sobre ela? E, além disso, você não explicou muito sobre si mesmo.
O homem girou a lamparina mais uma vez, e a névoa dourada ao seu redor pulsou levemente.
— Isso… Bem, você morreria pela punição do mundo. Você a conhece dessa forma, mas eu e ela chamamos de 'restrição'.
Takeshi franziu a testa.
— Restrição?
— Sim. Ela é algo que limita tanto seu corpo quanto sua alma. Vou resumir para que entenda melhor.
Com um leve movimento da mão, a névoa dourada começou a se moldar até formar a silhueta de um pequeno humano brilhante.
— Veja este corpo — ele disse, apontando para a figura dourada — ele tem um limite. Um limite de poder, de compreensão, de existência. A restrição impede que certas informações ultrapassem esse limite.
A pequena silhueta começou a tremer, e fissuras surgiram por todo seu corpo dourado.
— Se você tentasse absorver algo além da sua capacidade, sua alma entraria em colapso. A informação que você quer saber está muito além do que pode suportar. Para você, seria algo completamente alienígena… algo que o destruiria apenas por existir dentro de sua mente.
A silhueta dourada se despedaçou no ar como vidro quebrado, desaparecendo no vazio.
Takeshi permaneceu em silêncio, sentindo um peso incompreensível em suas palavras.
Takeshi permaneceu em silêncio por um momento, absorvendo aquelas informações. Então, finalmente, perguntou:
— Então a restrição significa que, se eu tentar usar uma habilidade muito forte, serei punido por isso?
O homem girou a lamparina lentamente, e a névoa dourada ao redor dela brilhou levemente.
— Sim, você entendeu bem. Mas a restrição não se aplica apenas às habilidades. Ela também influencia as tarefas que você já realizou.
Takeshi estreitou os olhos.
— Mas espere… existe alguém que controla essa restrição?
O homem parou de girar a lamparina. Sua voz soou levemente mais baixa e enigmática.
— Isso… eu não sei. A única certeza é que ela surgiu há muito, muito tempo. Nem mesmo o próprio sistema pode controlá-la.
A névoa dourada ao redor da lamparina pareceu vacilar por um instante, como se a própria existência da restrição fosse um mistério intocável.
— Então, espere… por que eles simplesmente não removeram essa restrição das tarefas, sabendo disso?
O homem girou lentamente a lamparina, sua névoa dourada oscilando no ar.
— Porque eles não podem removê-la. Como eu disse, a restrição é algo que já existia há muito tempo. Ela afeta a todos, sem exceção.
Takeshi sentiu um arrepio percorrer sua espinha. O fato de que ninguém tinha controle sobre esse fenômeno era perturbador.
— Mas… então significa que estamos presos a isso para sempre?
O homem não respondeu de imediato. Apenas girou a lamparina mais uma vez antes de mudar de assunto.
— Havia algo que aquele ser mencionou para você… algo sobre os níveis de poder. Percebi que ele não terminou de explicar tudo.
Takeshi franziu a testa.
— Como você sabe disso?
O homem ignorou a pergunta e continuou:
— Os últimos níveis são os mais complexos. O terceiro nível é a 'Alma', ou seja, aqueles que possuem poder suficiente para destruir seu corpo astral.
Takeshi engoliu em seco.
— E… o último nível?
O brilho dos olhos do homem pareceu se intensificar por um breve momento antes que ele respondesse com um tom mais profundo:
— O último nível pertence àqueles que podem afetar sua essência.
— E ele faz o quê? — Takeshi perguntou, ainda tentando entender a gravidade da situação.
O homem girou a lamparina mais uma vez, a névoa dourada se espalhando pelo vazio como uma presença palpável.
— Quando alguém afetada pela essência de outra pessoa, faz com que a dor seja sentida em todos os níveis: físico, mental e na própria alma. A diferença é que essa dor pode fazer com que a pessoa deixe de existir completamente no mundo. Sua essência é apagada.
Takeshi sentiu um calafrio atravessar sua espinha ao tentar imaginar o que isso significaria para ele. A ideia de uma dor que poderia extinguir sua própria existência o deixou completamente paralisado.
O homem, no entanto, parecia distante de suas emoções. Ele continuou a falar, sua voz suave, mas carregada de um mistério que Takeshi não conseguia decifrar.
— Mas, eu também estou com uma dúvida na minha mente. Você se importaria se eu fizesse uma pergunta a você?
Takeshi, irritado pela formalidade da situação, fez uma careta, mas respondeu sem hesitar.
— Está bem, pode fazer.
O homem parecia refletir por um momento antes de soltar sua pergunta com uma calma inquietante.
— Eu queria saber sobre a sua habilidade. Como você conseguiu ela?
Takeshi ficou surpreso, franzindo a testa.
— Como assim? Eu literalmente nem sei sobre ela. Não faço ideia.
O homem inclinou a cabeça, como se aquilo fosse exatamente o que ele esperava ouvir.
— Habilidades são normalmente adquiridas através de modificadores, títulos, itens ou autoridade. Mas, por algum motivo, você não conseguiu através dessas formas. E isso é o que me intriga.
Takeshi estava prestes a responder, mas a voz do homem cortou o silêncio, agora mais grave, como se uma revelação estivesse prestes a ser feita.
— Isso… é o que realmente me preocupa. Porque, de alguma forma, sua habilidade não foi apenas dada a você. Ela foi… imposta. E isso muda tudo.
Takeshi sentiu um frio no estômago. A sensação de que ele estava prestes a descobrir algo que poderia mudar o curso de sua existência o envolveu completamente.
— Não só isso — continuou o homem, sua voz agora mais suave, quase sussurrando, como se compartilhasse um segredo — a mulher que está com você... nem ela sabe como você conseguiu isso. E mais, ela também não conhece tudo sobre isso.
Takeshi sentiu um nó apertar em sua garganta. A revelação o atingiu com força. Ele sempre soubera que algo estava estranho, mas essa informação... isso mudava tudo. Ele olhou para o homem, sem saber o que mais perguntar, mas o vazio parecia engolir suas palavras.
Takeshi ficou em silêncio por um momento, processando as palavras que acabara de ouvir. Então, com a voz firme, ele disse:
— Eu agradeço pelas informações que você me deu... Mas o que você está escondendo?
O homem, que até então parecia calmo, franziu a testa em surpresa.
— Como assim? — ele respondeu, tentando disfarçar o desconforto.
— Nada vem de graça — Takeshi insistiu — o que você quer de verdade? Por que está me ajudando assim, do nada? Eu nunca vi você.
A pergunta pairou no ar, e o homem, no meio do vazio, revelou um sorriso largo, quase satisfeitos com a percepção de Takeshi. Ele parecia ter gostado de saber que o jovem havia notado algo que ele esperava que fosse ignorado.
...….
Layos e Mark estavam ofegantes, respirando pesadamente após a batalha. Seus corpos estavam exaustos, mas o monstro caído diante deles, com o sangue escorrendo de sua boca, indicava que haviam cumprido sua missão, ao menos por enquanto.
Layos, com as mãos trêmulas, segurava a espada de Takeshi, que agora parecia um símbolo de resistência mais do que uma arma. A tensão no ar ainda era palpável, mas a luta havia chegado ao fim.
Foi quando um cavalo branco surgiu, se aproximando com uma calma quase sobrenatural. A criatura, envolta em uma aura de mistério, parecia irradiante sob a luz fraca, mas a sua presença impunha respeito. Montado sobre ele, um ser de aparência imponente se aproximava lentamente.
Ele olhou para eles com uma expressão serena, mas seus olhos carregavam uma sabedoria profunda. Quando se aproximou o suficiente, sua voz cortou o silêncio:
— Eu vim para levá-los ao acampamento.
Layos e Mark trocaram um olhar, ainda atordoados com o que acabara de acontecer. O que aquele ser queria? O que mais estava à espera deles? O cavalo branco permaneceu parado, aguardando a decisão dos dois, enquanto o vento cortante da neve os envolvia.