Corpos de humanos estavam espalhados pelo chão. Mark, ofegante, mal conseguia se manter de pé.
"Eles são fortes... muito mais do que eu pensei que poderia enfrentar."
Seu corpo tremia de exaustão. As pernas falhavam, e, sem forças, ele caiu de joelhos, respirando de forma pesada e irregular.
Do outro lado, Layos rolava no chão, gemendo. Pequenos cortes cobriam seus braços e pernas, e o sangue escorria em fios finos.
A fumaça densa, resultado das habilidades usadas no combate, pairava no ar como um véu. Foi então que, emergindo daquela névoa cinzenta, surgiram os guardiões.
Zhin Tohm caminhava de espada em punho, a lâmina manchada de sangue ainda fresca. Ao seu lado, Leilani exibia um sorriso cruel, o coração verde no peito pulsando com energia viva.
Ela não resistiu e riu, olhando para os corpos caídos com desprezo.
— Tão fracos... imundos. Nem sei como ainda respiram — disse, zombando.
Sem pressa, Zhin se aproximou de Layos, que lutava para respirar. Sem piedade, ergueu a espada — e, num golpe preciso, desferiu um corte brutal no braço esquerdo dele.
— AAAAAAAH! — O grito de dor de Layos rasgou o campo silencioso.
O golpe não cortou o braço fora. Era pior: era um aviso, uma brincadeira cruel com a fraqueza deles.
Observando tudo, um jovem de cabelos azul-esverdeados tremia de medo e raiva. Engoliu em seco, os punhos cerrados, sentindo-se pequeno diante daquela cena horrível.
Mark, vendo seu amigo ser mutilado, perdeu todo o controle.
Tomado pela fúria, agarrou a adaga com força e, sem pensar nas consequências, correu para frente, com o coração batendo como um tambor de guerra.
Mark saltou para o alto, a adaga brilhando em sua mão. Num golpe desesperado, ele cravou a lâmina no olho de Zhin.
O guardião não gritou, mas cambaleou para trás, pressionando o rosto com dor.
Leilani, vendo isso, girou a capa com violência, pronta para proteger o companheiro. Mas, antes que pudesse agir —
— Eu odeio todos vocês! — Luna gritou, sua voz rasgando o ar.
Mesmo com as pernas feridas, ela invocou um vento forte que cortou a investida de Leilani, fazendo-a hesitar e olhar ao redor, surpresa.
Sem perder tempo, Luna avançou mancando e, com um soco direto no rosto, jogou Leilani para trás.
Ofegante, com sangue escorrendo de seus ferimentos, Luna sorriu, desafiadora, encarando a inimiga:
— Posso até morrer... mas pelo menos vou levar um de vocês comigo, desgraçados.
Leilani, furiosa, se lançou contra ela, pronta para o golpe final.
Foi então que, à distância, o jovem de cabelos azul-esverdeados agiu. Ele girou o braço, conjurando uma flor vermelha que disparou como um projétil, atingindo Leilani e a fazendo recuar.
Aproveitando a abertura, ele correu até Luna, estendendo a mão para ajudá-la a se levantar.
Com um sorriso leve, ele disse, admirado:
— Não sei como ainda está de pé... Você é uma guerreira. Qual é o seu nome?
Luna bufou, limpando o sangue da boca, e respondeu:
— Luna... E o seu?
O jovem sorriu de lado e respondeu:
— William.
Leilani cuspiu sangue no chão, ofegante.
Ao sentir os efeitos da flor vermelha em seu corpo, sua visão ficou turva e seu peito pesado, como se estivesse afundando em lama.
"Droga... Não quero isso..." — pensou, lutando para se manter de pé.
"Eu já acordei lutando nesse inferno... Zhin, me desculpe... ainda estou fraca..."
Ela apertou o coração verde no peito com força, sentindo-o pulsar com fúria e tristeza.
"A única memória que tenho... é a sua... Então, por que nos abandonou aqui? Tudo isso... é culpa sua."
Enquanto isso, Mark avançava. Ele forçou Zhin a recuar com golpes rápidos, mesmo com o corpo à beira do colapso.
— Igris, Tsukoku, cuidem do Layos pra mim! — gritou, sem desviar o olhar do inimigo.
Tsukiko piscou, confusa, estranhando a forma como seu nome foi pronunciado, mas logo correu junto de Igris para levantar Layos.
Mark respirou fundo, o suor escorrendo pela testa.
"Meu poder... já não consigo usar… estou no limite… mas vou lutar por nós. Aguente firme, Layos..."
Ele apertou a adaga com mais força e, mesmo com o corpo gritando de dor, se preparou para continuar.
Mark golpeou com força, cravando a adaga no abdômen de Zhin.
A lâmina encontrou resistência, mas ainda assim deixou uma pequena rachadura na armadura do guardião.
Leilani, ao ver aquilo, ficou paralisada. O desespero tomou conta de seu peito. Ela apertou o coração verde com força, sentindo a energia pulsar em agonia.
"Isso tudo é culpa sua... Você prometeu que nos tiraria desse lugar..." pensou, amarga.
Uma lágrima silenciosa deslizou pelo canto de seu olho, imperceptível em meio ao caos da batalha. Em sua mente, uma memória adormecida emergiu, trazendo uma dor antiga.
Ela se viu ainda pequena, encarando um homem de cabelos enrolados, coberto por um chapéu marrom. O rosto dele estava oculto pela luz difusa, assim como suas roupas, mas havia algo nele — algo seguro, algo que trazia calor.
— Ei, você ainda vai me contar aquelas histórias, né? — perguntou a pequena Leilani, com a voz carregada de esperança.
O homem sorriu de maneira gentil.
Pegando um pequeno livro azul, acariciou a cabeça dela com carinho.
— Claro — respondeu com um tom caloroso.
Ela riu, animada, e, tocando o braço dele, perguntou:
— Então... por que a gente não pode sair daqui? Por que não podemos deixar esse lugar frio?
O homem fechou o livro por um momento, como se ponderasse as palavras.
— Lá fora existem pessoas muito cruéis, Leilani.
— respondeu, a voz carregada de uma tristeza que a pequena não conseguiu entender na época. — É por isso que prefiro manter você aqui, onde pode proteger o castelo... e onde estará segura.
A visão de Leilani mudou. De repente, ela se via em um lugar diferente — um salão vasto, com grandes escadarias brancas que pareciam esculpidas em mármore, grossas e delicadas ao mesmo tempo.
Ela subiu os degraus lentamente, cada passo ecoando em meio ao silêncio. No topo, encontrou uma estátua magnífica, tão bela que parecia ter vindo da própria Grécia Antiga. Tinha cinco metros de altura e representava um homem ajoelhado, imponente e sereno.
Então, a estátua se moveu. O homem se levantou, ainda com expressão serena, e em sua mão surgiu um coração verde, pulsando com uma luz suave. Ele estendeu o coração para ela e disse com uma voz grave:
— Este coração é seu. Quero que cuide dele... até o dia em que a neve se torne vermelha.
— Depois disso — prometeu ele — você terá sua liberdade para deixar este lugar.
Leilani, confusa, apenas respondeu com um simples "sim". Naquela época, ela não fazia ideia... de que aquele presente seria, na verdade, a maior maldição da sua vida.
A visão se desfez. Ela voltou à realidade num sobressalto — e o horror tomou conta dela.
Em sua mão, escorria sangue verde.
O coração... estava rasgado.
A sua frente, Luna e William estavam ofegantes, lado a lado. William segurava uma espada de ferro — retirada de um corpo morto —, ainda manchada de sangue. Luna, mesmo ferida, havia usado seu vento para criar uma abertura, permitindo que William atingisse o coração.
A aliança improvisada dos dois tinha funcionado.
E agora, diante dos olhos de Leilani, a maldição começava a se desfazer.
Leilani soltou um grito desesperado ao ver o coração verde perdendo a cor e se rasgando diante de seus olhos.
— AAAAAAAAAA! MALDITOS!
O grito ecoou pelo campo de batalha, fazendo Luna e William estremecerem por um instante.
Sem hesitar, tomada pela raiva e desespero, Leilani avançou. Ela correu tão rápido que as próprias restrições de seu corpo começaram a cobrar um preço, causando ferimentos internos.
Num impulso selvagem, ela alcançou William e golpeou seu peito com toda a força que tinha.
O impacto foi brutal.
William não chegou a ser lançado para longe, mas cambaleou para trás, sangue jorrando de sua boca e escorrendo pela armadura improvisada. Ele caiu de joelhos, lutando para manter a consciência, enquanto Luna olhava, alarmada.
O ódio de Leilani queimava mais forte do que nunca. Mas, com o coração destruído... algo dentro dela também começava a se desfazer.
Antes que Leilani pudesse fazer qualquer coisa, Luna se aproximou, mancando levemente.
— Você realmente esqueceu, não é? — disse Luna, encarando-a.
— Há?! — Leilani respondeu, confusa.
Luna apertou o punho direito, e um vento começou a se formar ao redor dele, girando rapidamente como uma pequena tempestade.
"Merda. Vamos tentar algo novo."
Concentrando o vento ao redor do punho, ela golpeou o rosto de Leilani com toda a força.
O impacto, amplificado pela rajada de vento, lançou Leilani para longe — muito além do normal —, fazendo-a voar cerca de dez metros antes de atingir o chão com violência.
Luna sentiu uma dor aguda no peito e caiu no chão, exausta.
William se aproximou rapidamente e a ajudou a se levantar.
— Você foi ótima. Pode deixar o resto comigo — disse ele, com um leve sorriso.
Com cuidado, William a levou até Tsukiko e a deixou ali, para que descansasse. Enquanto isso, Mark usou seus olhos sagrados contra Zhin, forçando-o a recuar com um olhar intenso.
William piscou, animado, e falou:
— Você é bem forte, mesmo depois de tudo isso. Acho melhor atacarmos agora com tudo... parece que eles estão enfraquecidos.
Mark respirar pesado e disse:
— Já estamos atacando com tudo, não tem como ir mais.
Ele aperta a adaga com força e usando as poucas forças que tinha.
— Ei você pode ir no cavaleiro e eu vou na outra. — disse William.
William abriu a mão esquerda e, entre seus dedos, uma pequena flor vermelha se formou, vibrante e frágil.
Leilani, com os olhos vazios, cheios de tristeza, segurou a capa diante de si. O vento soprou forte, fazendo surgir pequenos reflexos laranja e azul ao seu redor, como se o próprio mundo chorasse com ela.
Uma dor profunda atravessou seu peito — perder aquilo que carregava tantas lembranças e conforto a deixava quebrada por dentro.
Seus olhos, antes apagados, agora brilhavam com uma determinação afiada.
Sem hesitar, ela rasgou a capa em quatro partes.
Duas pequenas partes voaram em direção a Zhin, enquanto as outras permaneceram com ela, como um símbolo de algo que jamais esqueceria.
Mark e William, dominados pelo medo do que Leilani poderia fazer, apenas observavam em silêncio, incapazes de intervir.
Zhin, com os olhos machucados e turvos de dor, pegou um dos pedaços da capa e o amarrou sobre os olhos como uma venda improvisada.
Com um sorriso cansado, murmurou:
— Foi culpa minha... me distrair um pouco.
Leilani não demonstrou nenhuma emoção. Sua resposta veio fria, como uma lâmina:
— Apenas vamos matá-los.
Ela avançou sem hesitação.
O vento, ainda dançando em laranja e azul ao redor dela, parecia vibrar a cada passo.
Zhin ajeitou a venda, ajustou a postura e a seguiu logo atrás, mesmo mancando levemente.
Mark e William, sentindo o peso da intenção assassina que irradiava deles, trocaram um olhar rápido. Sabiam que não tinham escolha: teriam que lutar com tudo o que tinham — ou seriam esmagados.
William fechou a mão, fazendo a flor vermelha em sua palma se desmanchar em pó. Seus olhos endureceram.
— Vamos terminar isso de uma vez — ele disse, sua voz firme, encarando o caos que se aproximava.
Tsukiko apenas observava tudo em silêncio, incapaz de fazer muita coisa naquele momento.
Acima, a lua falsa pairava imóvel no céu, como uma testemunha muda do caos.
Lutar para sobreviver ou lutar por alguém... Qual dessas escolhas seria a verdadeira maldição?
Mark e William estavam exaustos, seus corpos pesados e suas energias quase esgotadas.
Do outro lado, Leilani e Zhin também demonstravam sinais de cansaço, mesmo escondendo a dor atrás de seus olhares determinados.
O campo de batalha, iluminado por fragmentos de luz alaranjada e azul espalhados pelo vento, parecia respirar junto com eles — ofegante, prestes a desabar.
Ninguém podia recuar agora. Era a luta final entre a vontade de proteger... e a necessidade de destruir.
Enquanto isso, lá no céu, pequenas estrelas falsas tremeluziam como se rissem da cena diante delas, divertindo-se com o espetáculo sangrento que se desenrolava abaixo.
Era como se o próprio céu estivesse zombando da luta desesperada, apreciando cada segundo daquele "filme" macabro.
E, em meio a esse cenário distorcido, uma nova presença começava a se formar... algo que ainda não havia revelado sua verdadeira face.
O pior ainda estava por vir.