Quando correram em direção à nave vermelha, o céu escureceu, e brilhos avermelhados surgiram com tanta intensidade que pareciam um segundo sol. Era a lua falsa que causava aquele fenômeno.
Mesmo distante, a lua parecia reagir às decisões tomadas. Um sorriso estranho se formava nela, e logo começou a emitir um som tão alto que podia ser ouvido por todos lá embaixo.
O som lembrava uma canção distorcida e bizarra, com palavras incompreensíveis. A voz era, ao mesmo tempo, masculina e feminina — grave, rouca e carregada de um tom opressor.
Takeshi sentiu um arrepio só de imaginar do que aquela coisa era capaz. Ainda assim, seguiu em frente, determinado, sem perder tempo.
Anika mantinha-se séria o tempo todo. Apesar de tudo o que Takeshi havia feito para mostrar suas intenções, ela ainda desconfiava dele. Não conseguia confiar, mesmo com a ajuda que ele oferecia.
As pequenas esferas à frente continuavam seguindo em linha reta, como se algo as estivesse chamando.
Takeshi olhou para o céu e pensou:
“Droga... preciso ser rápido. Tudo agora depende daquela árvore.”
Ele continuou caminhando até tropeçar em algo.
Era grosso e firme, semelhante a um tronco de árvore. No entanto, era translúcido, e dentro dele era possível ver pequenas formas se movendo — uma energia fluida de cor vinho.
Takeshi caiu de cabeça na neve vermelha, sentindo o frio penetrar, mas logo se levantou, limpando o rosto coberto.
Ao abrir os olhos, ele e Anika perceberam que havia várias daquelas estruturas dispostas em um pequeno círculo.
No centro, as esferas flutuavam em torno de uma forte aura alaranjada.
Os dois arregalaram os olhos ao verem aquilo que estavam procurando…
Diante deles, no centro do círculo de estruturas translúcidas, estava uma árvore única. Tinha cerca de 1,80 metro de altura, mas não era reta — seu tronco era torto, como se estivesse curvado por um peso invisível.
Em vez de folhas, do tronco brotavam filamentos laranjas e luminosos, retorcidos como cachos de cabelo. Eles pareciam pulsar com uma energia viva e vibrante.
As pequenas esferas brilhantes giravam em torno dela como satélites encantados, emitindo um leve zumbido.
A presença daquela árvore ali transmitia uma sensação de algo sagrado, quase onírico — como se estivessem diante de um milagre em forma física.
Era impossível ignorar a sensação de admiração que tomava o ar.
Anika observou tudo em silêncio, maravilhada, mas sem perder a postura. Ela respirou fundo e, com relutância, falou:
— Bem… você conseguiu. Mas da próxima vez, tenta não tropeçar— sua voz carregava sarcasmo, mas também um reconhecimento involuntário.
Então, passou na frente de Takeshi com elegância, desviando dos troncos com facilidade.
No instante seguinte, algo se mexeu atrás da árvore.
Uma sombra alta se projetou, e uma voz grossa ecoou do outro lado, carregada de ameaça:
— Então alguém realmente descobriu esse lugar... Eu ainda estou sendo pacífico. Melhor irem embora agora, ou vão morrer aqui.
De dentro da névoa leve, uma figura imponente emergiu. Tinha aproximadamente 1,92 metro de altura, e seus olhos castanhos brilhavam com um brilho soturno, como brasas adormecidas. Apesar de humanos em aparência, havia algo notoriamente errado nele.
Seu corpo era musculoso e definido, mas entre os ombros e os braços havia penas brancas e macias que se moviam levemente ao toque do vento, dando-lhe um ar quase angelical — e, ao mesmo tempo, profundamente estranho.
De suas costas descia um longo rabo coberto por espinhos, que se arrastava atrás dele. Era tão grande que chegava quase à altura da própria árvore dourada.
Ele abriu um sorriso largo, revelando dentes afiados como os de um predador, contrastando com sua aparência serena. A ameaça em sua presença era palpável — um ser que não precisava se mover para inspirar medo.
Takeshi engoliu em seco ao ver aquela criatura diante deles. Algo naquele ser fazia seus instintos gritarem para correr — mas seus pés não se moviam.
Antes que qualquer um pudesse reagir, algo brilhou no ar à frente deles. Os sistemas de ambos, Takeshi e Anika, surgiram em projeções translúcidas. As palavras pairaram no ar com um brilho sutil:
『Guardiões: 2 | 5』
Por um momento, tudo parecia sob controle. Takeshi observou o sistema de Anika — seus tons eram uma fusão entre roxo e azul-marinho, pulsando com uma aura firme e serena.
Mas então, uma nova mensagem apareceu. E ela congelou o sangue dos dois:
『Guardião Ethan apareceu.』
Os olhos de Takeshi se arregalaram. Ele sentiu um frio na espinha, e Anika deu um passo para trás, instintivamente.
Diante deles, Ethan sorriu com um prazer quase cruel, como se alimentasse do medo.
— Oh? Vocês viram um fantasma, é isso? — disse ele, soltando uma gargalhada rouca e arrepiante. — Hahahaha!
Cabelos marrons começaram a crescer em sua cabeça, surgindo em fios finos até ganharem forma.
Quando pararam, estavam espetados para cima, como se tivessem sido moldados por energia pura.
Mais uma notificação apareceu, desta vez com uma cor mais forte que parecia brilhar com autoridade:
『Caminho Nível 11. Cavaleiro Ethan está profundamente satisfeito por alguém ter descoberto este lugar.』
O ar parecia pesar ao redor deles. Ethan já não era apenas uma ameaça — era um dos Guardiões. E pior: estava satisfeito em vê-los ali.
Os espinhos da cauda de Ethan começaram a crescer, se alongando como lâminas vivas. Suas penas se expandiam em ritmo acelerado, cobrindo seu corpo com uma espécie de manto elegante e chamativo — algo que mais parecia feito para se exibir do que proteger.
A roupa que se formava lembrava um casaco aberto, revelando seu abdômen definido, e a calça, rasgada em pontos estratégicos, dava um ar selvagem e provocador.
Ethan abriu a boca lentamente. Seus olhos brilharam em um tom âmbar ameaçador enquanto dizia com desdém:
— E aí... vão mesmo lutar por isso? Ou vão sair vivos enquanto ainda têm pernas?
A ameaça pairou no ar como uma lâmina. Anika hesitou. Sabia que um movimento errado poderia significar a morte — não só dela, mas da própria mestra. E esse pensamento a corroía por dentro.
Foi então que Takeshi deu um passo à frente. Seu sorriso tentava mascarar o medo evidente, mas era o bastante para surpreender Anika. Ela não esperava que ele assumisse a frente sem titubear.
Takeshi ergueu o dedo indicador, apontando direto para o rosto de Ethan.
— Não. Você tá se achando demais — disse com firmeza. — E outra coisa: aquela árvore dourada vai ser minha.
O coração dele batia acelerado, o medo era real, mas sua decisão era inabalável.
Ethan soltou uma risada abafada. Colocou a mão esquerda sobre o rosto, cobrindo metade dos olhos, e quando a retirou, seu olhar estava carregado de algo sombrio.
— Você vai se arrepender dessa escolha.
Num instante, Ethan desapareceu da frente deles. O ar ao redor vibrou. Quando perceberam, ele já estava ao lado de Takeshi, a cauda espinhosa vindo como uma serpente em direção ao pescoço do garoto.
Mas Takeshi, num reflexo instintivo, se jogou para o chão, rolando para o lado. A cauda passou rente, cortando apenas o ar.
Sem hesitar, ele se levantou e impulsionou o corpo para frente, desferindo um soco de esquerda direto no abdômen de Ethan.
O impacto foi brutal.
Ethan foi arremessado para trás, colidindo com o chão e escorregando por alguns metros. Ele tossiu e caiu de joelhos, tentando recuperar o fôlego, surpreso com a força inesperada.
“Mas que merda foi essa...?”murmurou, colocando a mão na cabeça, atordoado.
“Como esse humano conseguiu isso...?”
Anika observava tudo com os olhos arregalados. Até ela ficou sem palavras.
Takeshi, por sua vez, parecia tão surpreso quanto eles. Ele olhou para a própria mão, tentando entender de onde viera tanta força.
E então Ethan percebeu. Atrás de Takeshi, projetada pela luz da árvore dourada, uma sombra se formava. A silhueta era de um jovem — cabelos lisos e bem cuidados, rosto calmo, mas com olhos que pareciam carregar algo triste.
Era o garoto que Takeshi havia devorado.
O que Takeshi ainda não sabia... Era que parte da força daquele garoto agora pulsava dentro dele.
Ethan se levantou do chão devagar, limpando a poeira da calça rasgada. Um sorriso largo surgiu em seu rosto — não de raiva, mas de pura empolgação. Ele estava se divertindo.
— Isso vai ser interessante.
Anika, ainda alerta, não perdeu tempo. Ela canalizou energia em sua palma direita, formando uma esfera pulsante de luz azulada misturada com roxo — o mesmo tom de seu sistema. Seus olhos brilharam com determinação.
Ethan, no entanto, apenas estalou o pescoço, como quem se preparava para algo simples e rotineiro. Num piscar de olhos, ele desapareceu.
A energia colidiu com o nada, explodindo no ar como um trovão abafado.
Takeshi arregalou os olhos.
— Cadê ele?
Mas era tarde demais.
Um corte fino surgiu em sua bochecha. O sangue escorreu devagar, quente contra o frio da neve carmesim ao redor. Takeshi só sentiu o ardor segundos depois.
Ele levou a mão ao rosto, sentindo a ferida, e olhou em volta, tentando entender o que havia acontecido.
Ethan reapareceu atrás dele, com um sorriso cruel.
— Vocês ainda são lentos… — disse, lambeu o dedo manchado com o sangue de Takeshi e completou com um olhar faminto.
A tensão no ar se intensificou.
Ethan girou o braço esquerdo com força, o ar assobiando ao redor de sua mão como se o próprio espaço estivesse sendo rasgado. Ele avançou como um furacão, mirando um golpe direto na cabeça de Takeshi.
Takeshi mal teve tempo de reagir.
Num reflexo instintivo, ergueu o braço para bloquear o golpe. O impacto foi tão forte que seu corpo quase saiu do chão, seus pés afundando na neve vermelha ao redor.
— Tch… rápido demais…! — grunhiu, sentindo o braço tremer com a força.
Mas Ethan não parou.
Em seguida, desferiu um soco brutal no estômago de Takeshi, forçando-o a curvar o corpo e perder o fôlego. Antes mesmo que ele pudesse recuperar o equilíbrio, Ethan deu um salto ágil e girou no ar.
Com a perna direita, desceu como um raio sobre o rosto de Takeshi com um chute devastador.
— HAAAAH! — gritou Ethan, com um brilho selvagem nos olhos.
O golpe foi tão violento que Takeshi foi lançado para trás como um míssil e rolando pela neve manchada de vermelho.
Anika arregalou os olhos, engolindo o susto.
Takeshi tossiu, o sangue escorrendo pelo canto da boca. Mesmo com dor, ele cravou os dedos no chão e se levantou, os olhos cheios de determinação.
Ethan riu alto, o som ecoando como um trovão pelo campo manchado de vermelho. Passou a mão nos cabelos castanhos espetados com um sorriso provocador.
— E você, garota… vai querer lutar também? Posso até deixar você viva… mas, claro, com algumas condições — disse, com um olhar malicioso.
Anika estreitou os olhos, demonstrando desprezo.
— Nem ferrando. Pode vir. Você é irritante demais pra viver falando.
— Ah, sua…! AAAARGH!
Tomado pela raiva, Ethan avançou como uma fera descontrolada, tentando arrancar a cabeça dela com um golpe da mão esquerda. Mas Anika foi mais rápida.
Ela se abaixou num movimento preciso e, num segundo, agarrou o pulso dele com força. Ethan ficou surpreso, não esperava que ela fosse enfrentá-lo diretamente.
— O quê…?
Sem hesitar, Anika concentrou energia na mão esquerda — uma chama azulada envolveu sua palma.
— Queime. — sua voz saiu fria.
Ela encostou a chama na mão de Ethan, queimando sua pele coberta de penas.
Um grito de dor ecoou pelos céus enquanto ele tentava se afastar, mas Anika já havia girado o corpo e desferido um chute brutal com a perna direita direto no abdômen dele.
— HAAAAH!
O impacto lançou Ethan alguns metros para trás. Ele caiu de joelhos, rangendo os dentes. As penas em seu corpo começaram a pegar fogo, mas ele rapidamente bateu nelas com as mãos, apagando as chamas.
Takeshi se levantou lentamente, o corpo ainda dolorido dos golpes, mas algo dentro dele começava a despertar. Sentiu uma onda quente percorrer o peito — não era dor… era outra coisa. Uma energia suave, pulsante, viva.
Olhou para Anika, que mantinha a postura firme, pronta para encarar Ethan novamente. A forma como ela lutava, decidida, sem hesitar, fez algo acender dentro dele.
"Ela é boa… muito boa. Talvez… talvez a gente realmente consiga ganhar isso juntos."
Um sorriso leve surgiu em seus lábios, quase involuntário. Ele respirou fundo, fechou os punhos e deu um passo firme à frente..
E então… Ethan se ergueu com um olhar sombrio e selvagem, envolto por uma aura negra misturada com brasas vermelhas. Seus olhos ardiam como brasas vivas.
— Realmente isso está ficando interessante!